terça-feira, 1 de outubro de 2024

Não resisto

 

A transcrever, via Internet, a biografia que um homem que nos habituámos a considerar como chefe resistente maior, naqueles tempos assustadores do nazismo. Como é possível tal apodo de “vilão”, nos tempos de hoje, a necessitar de tantos Churchill(s) contra os vilões comprovados que assolam o mundo impunemente, neste vigésimo primeiro século da era cristã?

O último parágrafo do texto da Internet, contudo, justifica a proveniência da tal “vilania”, não há, pois, que estranhar, nestes tempos de inúmeras almas boas e modernas condenatórias das más, mais antigas…

(Da INTERNET):

Sir Winston Leonard Spencer Churchill (30 de novembro de 1874 - 24 de janeiro de 1965) foi um militarestadista e escritor britânico que serviu como primeiro-ministro do Reino Unido de 1940 a 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, e novamente de 1951 a 1955. Além de dois anos entre 1922 e 1924, foi membro do Parlamento (MP) de 1900 a 1964 e representou um total de cinco círculos eleitorais. Ideologicamente liberal económico e imperialista, foi durante a maior parte de sua carreira um membro do Partido Conservador, que liderou de 1940 a 1955. Também foi membro do Partido Liberal de 1904 a 1924.

De ascendência inglesa e americana mista, Churchill nasceu em Oxfordshire em uma família rica e aristocrática. Juntou-se ao Exército Britânico em 1895 e viu acção na Índia britânica, a Guerra Madista e a Segunda Guerra dos Bôeres, ganhando fama como correspondente de guerra e escrevendo livros sobre suas campanhas. Eleito deputado conservador em 1900, desertou para os liberais em 1904. No governo liberal de Herbert Henry Asquith, Churchill serviu como presidente da Junta de Comércio e Secretário de Assuntos Internos, defendendo a reforma prisional e a previdência social dos trabalhadores. Como Primeiro Lorde do Almirantado durante a Primeira Guerra Mundial supervisionou a Campanha de Galípoli, mas depois que se provou um desastre, foi rebaixado a Chanceler do Ducado de Lancaster. Renunciou em novembro de 1915 e juntou-se aos Fuzileiros Escoceses Reais na Frente Ocidental por seis meses. Em 1917 retornou sob o governo de David Lloyd George e serviu sucessivamente como Ministro de Munições, Secretário de Estado da Guerra, Estado do Ar e Estado das Colónias, supervisionando o Tratado Anglo-Irlandês e política externa britânica no Oriente Médio. Depois de dois anos fora do Parlamento, serviu como Chanceler do Tesouro no governo conservador de Stanley Baldwin, retornando a libra esterlina em 1925 ao padrão-ouro em sua paridade pré-guerra, um movimento amplamente visto como criando pressão deflacionária e deprimindo a economia do Reino Unido.

Fora do governo durante seus chamados "anos selvagens" na década de 1930, Churchill assumiu a liderança ao pedir o rearmamento britânico para combater a crescente ameaça do militarismo na Alemanha Nazista. Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, ele foi renomeado Primeiro Lorde do Almirantado. Em maio de 1940, tornou-se primeiro-ministro, substituindo Neville Chamberlain. Churchill formou um governo nacional e supervisionou o envolvimento britânico no esforço de guerra dos Aliados contra as Potências do Eixo, resultando na vitória de 1945. Após a derrota dos conservadores nas eleições gerais de 1945, tornou-se líder da oposição. Em meio ao desenvolvimento da Guerra Fria com a União Soviética, alertou publicamente sobre uma "Cortina de Ferro" da influência soviética na Europa e promoveu a unidade europeia. Entre os seus mandatos como primeiro-ministro, ele escreveu vários livros contando sua experiência durante a guerra pela qual foi premiado com o Prêmio Nobel de Literatura em 1953. Perdeu a eleição de 1950, mas voltou ao cargo em 1951. No seu segundo mandato preocupou-se com as relações exteriores, especialmente as relações anglo-americanas e a preservação do Império Britânico. Internamente, seu governo enfatizou a construção de casas e completou o desenvolvimento de uma arma nuclear iniciada por seu antecessor. Com a saúde em declínio, Churchill renunciou ao cargo de primeiro-ministro em 1955, embora permanecesse como deputado até 1964. Após sua morte em 1965, recebeu um funeral de estado.

Amplamente considerado uma das figuras mais significativas do século XX, Churchill continua popular na anglosfera, onde é visto como um líder vitorioso em tempos de guerra que desempenhou um papel importante na defesa da democracia liberal da Europa contra a disseminação do fascismo. Por outro lado, foi criticado por alguns eventos de guerra e também por suas visões imperialistas, comentários racistas e a sua alegada aprovação de violações de direitos humanos, nomeadamente na Índia.

 

Churchill foi o “maior vilão da II Guerra Mundial”?!

Sobre uma chocante entrevista na América que ataca os fundamentos da democracia liberal e da ordem internacional pós-II Guerra.

JOÃO CARLOS ESPADA Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa

OBSERVADOR, 30 SET. 2024, 00:1719

1Churchill foi o maior vilão (“chief villain”) da II Guerra Mundial” — esta foi a tese central apresentada por um tal Darryl Cooper numa entrevista com Tucker Carlson (o famoso apoiante de Donald Trump e J.D. Vance) no início do corrente mês de Setembro, no agora chamado X.

O assunto parece ter passado inteiramente despercebido entre nós. Mas foi noticiado pela imprensa internacional e gerou enérgica reacção de vários historiadores de renome — como, entre outros, os Professores Andrew Roberts e Victor Davis Hanson, que citarei mais à frente.

2O entrevistador Tucker Carlson — que foi orador na Convenção Republicana de Julho passado e aí teve assento na primeira fila com Donald Trump — apresentou o entrevistado, Darryl Cooper, como “o melhor e mais honesto historiador trabalhando hoje em dia nos EUA”.

E alegremente acolheu a chocante tese do seu entrevistado, segundo a qual “Churchill foi o responsável por transformar a invasão da Polónia na II Guerra Mundial”, por não ter aceitado a proposta de Hitler de “devolver as partes da Polónia que não eram maioritariamente alemãs e de encontrar com as outras potências uma solução aceitável para o problema judeu.”

3Estes chocantes disparates foram, como já referi, alegremente aceites por Tucker Carlson — e não foram sequer mencionados por J.D. Vance, o candidato republicano a vice-presidente, que compareceu ao lado de Tucker Carlson no passado dia 21 de Setembro, no chamado “Tucker Carlson Live”, como recorda The Economist de 28 de Setembro (p. 43).

Mas geraram uma muito enérgica indignação na imprensa americana e britânica, bem como entre historiadores de renome internacional — que, em uníssono, disseram nem sequer conhecer o currículo académico do alegado historiador Darryl Cooper.

4Não é possível resumir aqui todas as vigorosas reacções dos historiadores que condenaram enfaticamente os disparates de Darryl Cooper. Mas é incontornável recordar a básica observação do Professor Andrew Roberts [biógrafo de Churchill, traduzido entre nós pela LeYa em 2019, Fellow da Hoover Institution da Universidade de Stanford e agora (desde 2022) também membro da Casa dos Lordes, na bancada conservadora]:

“O primeiro argumento de Cooper é que Churchill ‘foi primariamente responsável pela transformação da invasão da Polónia numa Guerra Mundial.’ Acontece que, no momento em que Adolf Hitler invadiu a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo, na madrugada de 10 de Maio de 1940, Winston Churchill não era ainda sequer Primeiro-Ministro, tendo sido nomeado nesse mesmo dia.”

Andrew Roberts recorda em seguida que Churchill tinha sido até essa data “First Lord of the Admiralty” e enfático crítico da política de apaziguamento da Alemanha nazi — que, em Agosto/Setembro de 1939, em aliança com a Rússia comunista, invadira a Polónia, quando Churchill nem sequer fazia ainda parte do Governo britânico.

5Em suma, como resumiu Victor Davis Hanson, professor na Universidade da Califórnia e também Fellow da Hoover Institution da Universidade de Stanford:

A Alemanha e os seus aliados fascistas começaram a guerra. Sentiram-se com poder para o fazer, não devido a uma suposta agressão Aliada, mas devido à política de apaziguamento e isolacionismo do Ocidente” (The Free Press, 5 de Setembro).

Por outras palavras, como sublinhou The Washington Post em Editorial (5 de Setembro), a propósito da mesma entrevista:

O Ocidente democrático retirou lições desses horríveis eventos de meados do século XX — a necessidade de resistir, não de apaziguar a tirania e de sustentar um vital centro político — que foram fundacionais para a ordem política do pós-guerra.”

6Resta saber se esse “vital centro político” ainda existe e se o Ocidente está hoje preparado para enfrentar “este novo, pragmático eixo do mal”, como lhe chamou a cronista conservadora-liberal Janet Daley no conservador The Sunday Telegraph de 22 de Setembro (p. 22), referindo-se à Rússia, China, Irão e Coreia do Norte. A mesma pergunta foi deixada pela The Economist de 28 de Setembro

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COMENTÁRIOS (de 19)
Manuel Gonçalves: Há todo um conjunto de colaboracionistas com o novo Eixo do Mal.

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