A respeito dos governantes precedentes,
que distribuíam o dinheiro de fora e de dentro sem cuidar de desenvolver as
estruturas funcionais do país, que uma esquerda daninha fez quebrar, por via do
conceito sobre capitalismo explorador de má memória – para ela, esquerda, embora
agora pareça já ter-se afeito mais a esses prazeres do capital, graças aos seus
actuais cargos salientes - e uma das primeiras medidas tomadas pelo novo governo,
crítico do anterior, é dar um pontapé na RTP, como indica HELENA GARRIDO. A
gente afeiçoa-se às coisas e às pessoas, mas pela leitura dos textos seguintes,
parece que só o José Rodrigues dos Santos escapa, na RTP, quando há tantos
elementos de lá que gosto de ouvir, nem que seja só de vez em quando – por defeito
meu, contudo, que vario nas opções e obrigações de vida. Os comentadores do
texto alargam-se em razões, muito plenos de saber, muito críticos do saber
alheio. Discordo de muitos, como discordo da opção de Montenegro de mexer na
RTP, quando prometeu debruçar-se mais sobre a produção económica, parece que
descurada pelo Governo anterior. Será que estas notícias farfalhudas, que também
incluem aeroportos, servem apenas para dar nas vistas, ou encher as medidas de
alguns para deixar escorregar o tal desenvolvimento económico prometido para o
rol dos esquecidos?
Erros e ilusões no plano para a RTP
Antes do plano para os media, o
Governo devia ter-se informado melhor em vez de cair na superficialidade. O
plano para a RTP é um erro e alimentou o populismo e o desconhecimento.
HELENA GARRIDO,
Colunista
OBSERVADOR, 15
out. 2024, 00:2245
O Governo resolveu apresentar um plano
de acção para os media ao mesmo que anunciava os seus projectos
para a RTP e a Lusa. Começou logo aqui o seu primeiro erro, como um erro é reduzir e, a prazo, acabar
com a publicidade na RTP. Misturou
o seu papel de accionista com o de actor de políticas públicas, contribuiu para
a desinformação e o populismo sobre o papel multifacetado do canal público de
televisão e rádio e, em última instância, divulgou medidas para o sector
público de media que, em vez de ajudarem, agravam a situação,
especialmente no que diz respeito ao papel determinante da informação, num
tempo em que as democracias enfrentam enormes desafios e o modelo de negócio
dos media colapsou. Tudo isto, contrariamente ao que podem pensar os
grupos privados.
Permitam-me que escreva na primeira
pessoa para fazer uma declaração de interesses. Sou
jornalista, também colaboradora da RTP, na rádio e na televisão. Podem certamente acusar-me de ser parcial
nesta análise, ainda que, obviamente não seja essa a minha perspectiva. O
que apresento aqui são raciocínios lógicos, que permitem chegar à conclusão de
que é um erro acabar com a publicidade na RTP. E com um
esforço activo de distanciamento e isenção que nós, jornalistas,
que optamos por critérios de objectividade, temos sempre de fazer
quando olhamos para a realidade. Claro que seremos sempre marcados pela nossa
história e a forma como vemos o mundo. E quem ache que o Estado deve ser
mínimo ou máximo dificilmente encontrará uma lógica nesta minha análise.
O problema da mistura que o Governo fez
entre o seu papel na definição de políticas públicas e o de accionista
percebe-se bem com um exemplo. Imagine-se que o Governo anunciava um
conjunto de medidas para a banca e, ao mesmo tempo, o seu projecto para a CGD.
Sim, felizmente hoje não é possível porque o poder está na União Europeia. Mas
mesmo que fosse possível, ninguém acharia isso normal. E agora imaginem que, entre essas
medidas, obrigava o banco público a reduzir as suas receitas, a ser menos competitivo
e a conceder crédito a empresas ditas “estratégicas”. Nada que não tenha sido
tentado no passado e até concretizado com péssimos resultados.
O Estado accionista deve criar um
ambiente, no sector em que está a actuar, que não distorça a concorrência mas
também que também sem prejudicar a empresa que é sua, ou seja, de todos os
contribuintes, para, pelo menos teoricamente, beneficiar os outros
participantes no mercado.
Lamentavelmente, o fim da publicidade
na RTP, há muito reivindicada por alguns grupos privados, alimenta a ilusão de
que haverá mais receita para o sector privado. Quem assim
pensa imagina certamente que Portugal é um retângulo, fechado sobre si mesmo, e continua contaminado pelas políticas do
passado, de condicionamento industrial, quando no Estado Novo protegia quem já
estava instalado. Hoje o país
é aberto e a era digital removeu ainda mais as fronteiras, como é óbvio. E uma
decisão destas tem efeitos nefastos em várias frentes.
Primeiro, é
altamente improvável que a publicidade retirada da RTP se dirija para os outros
canais. Com maior
probabilidade vai directamente para o digital. Além disso, havendo menos espaço de publicidade, os preços aumentam, e
se o mercado funcionar a publicidade na RTP até deveria passar a ser mais cara
do que nos outros canais, uma vez que estamos perante uma situação de
racionamento. Além disso, todos sabem que os telespectadores fogem nos
intervalos – não é por acaso que as televisões se fiscalizam umas
às outras, por exemplo, nos jornais da noite, entrando em intervalo
praticamente ao mesmo tempo, anulando assim a potencial vantagem do concorrente. Com menos publicidade, a RTP tem
condições para captar mais audiência e, se a deixarem, cobrar mais pela
publicidade. Claro que, mesmo com isso, a receita, com elevada probabilidade,
cairá.
A
Associação Portuguesa de Anunciantes (APAN) alerta aliás para o risco não só de
vermos esvair esses anúncios para o digital como de assistirmos a uma espiral
de preços num mercado já de si saturado. Representando 80% do mercado
publicitário em Portugal, o secretário-geral da
APAN, Ricardo Torres Assunção,
chama ainda a atenção para outro aspecto especialmente interessante: “As marcas
têm também um papel fundamental na sociedade, porque são elas que, por vezes,
começam a abordar questões ‘tabu’, como, por exemplo, saúde mental, ou a
menopausa”. E a RTP, que queremos que tem como principal função o serviço
público, deixaria de ter esses conteúdos.
Olhemos agora para o argumento de que
a RTP, rádio e televisão, já têm muito dinheiro através da Contribuição para o
Audiovisual (CAV) e também muitos recursos humanos. Além disso, argumenta-se, o
sector privado também presta serviço público. Quem assim argumenta pode não
estar a ter a fotografia completa do que faz a televisão e a radiodifusão
portuguesa.
Vamos aos canais. Na televisão, além
dos três em geral mais referidos, existem mais cinco canais: a RTP Açores e Madeira, a RTP Internacional
e a África e a RTP Memória. Além disso, no mundo digital
tem a RTP Play com conteúdos gratuitos e onde se
juntam a RTP Arquivos,
a RTP
Ensina, a RTP
Palco muito importante no tempo da pandemia, a RTP Desporto e
a RTP Europa. No caso da rádio, temos sete canais, as
Antenas 1 a 3, a África e Internacional e a Madeira e Açores.
Entremos agora no argumento de que
também o sector privado presta serviço público e, por isso, afirmam alguns,
também devia receber uma contribuição. Sendo certo que também prestam serviço
público, no sentido em que a informação jornalística é isso mesmo, também é
verdade que, nesse menu, podem escolher o mais rentável. Por exemplo,
quem faz a cobertura de eventos desportivos, nalguns casos de nicho? E quem fez
a cobertura dos jogos olímpicos? E quem dá espaço para direitos de antena?
Por último, sem que seja menos
relevante, o grupo RTP é uma
importante ferramenta de política cultural e podia até sê-lo mais, soubesse o
seu accionista aproveitar essa potencialidade. A RTP Palco é um exemplo de como soube reagir e apoiar as actividades
culturais em tempo de pandemia, mas temos os apoios ao cinema, aos
documentários e à música portuguesas – que tem no Festival da Canção um dos
seus exemplos.
Tinha uma empresa privada atracção
por todas estas funções, boa parte delas sem rentabilidade? Obviamente que não. E devia
o país desistir dessas funções? Claro que não. Daí que faça todo o sentido ter
um grupo público de media. Daí que faça todo o sentido todos
contribuirmos, enquanto comunidade, para os multifacetados serviços públicos
que a RTP presta através da Contribuição para o Audiovisual (CAV) e para o
jornalismo. Mas é igualmente racional que se alivie os bolsos dos
contribuintes, através da publicidade, ou corremos o risco de termos o grupo
público ainda mais depauperado, especialmente em tempos de apertos orçamentais
no Estado. Dizer que há outros
canais públicos na Europa que também não têm publicidade não é um argumento.
Cada caso é um caso e não devemos imitar os outros só porque são estrangeiros.
Fazendo tudo isto, que muitas vezes é
esquecido nas análises mais precipitadas sobre recursos, a RTP sofreu, como
todas as empresas do Estado, com o aperto orçamental do Estado e as cativações,
que levaram a défice de investimento, à falta de aumentos do capital que lhe
era devido e à ausência de autonomia da gestão.
Quer isto dizer que a RTP é perfeita?
Claro que não. A gestão precisa de mais autonomia, o Governo tem de cumprir os
seus compromissos financeiros, provavelmente o grupo precisa de ser
racionalizado e, no domínio da informação, é necessário investir mais em todo o
país, com mais delegações e com o reforço das que existem, como já aconteceu no
passado, um pilar fundamental da coesão territorial.
O
modelo de governação, concretizado por Miguel Poiares Maduro, no governo de
Pedro Passos Coelho, com a criação do Conselho Geral Independente contribuiu de
forma muito importante para os objectivos que o então ministro
definiu: “Diminuir o risco de governamentalização
da RTP”. Agora, era preciso dar um
novo salto em frente e isso não se faz, seguramente, com o que o Governo
pretende fazer em matéria de redução da publicidade.
O sector dos media vive, em
termos globais, um problema grave, depois de o seu modelo de negócio ter
colapsado com a internet e especialmente com a Google e a Meta. Contrariamente ao que parece pensar o
Governo, todos os grupos, não apenas em Portugal, têm procurado alternativas de
rentabilização, sem ameaçar a independência do jornalismo, em equilíbrios
difíceis e desafiantes para todos, especialmente para os jornalistas.
Ninguém ganha quando o
primeiro-ministro, por ignorância ou leviandade, faz as criticas aos
jornalistas baseado em auriculares e olhares para o telemóvel.
Podem sempre dizer que falamos em causa própria, mas hoje é muito mais
desafiante fazer jornalismo em redações com equipas mínimas e poucos seniores,
com uma concorrência feroz, a exigir actualizações ao minuto e grande espírito
de sacrifício de profissionais mal pagos. Sendo a informação um pilar
fundamental para o exercício da cidadania em democracia, é claro que o sector
precisa de apoios e igualmente claro que é má ideia fragilizar o grupo público
que pode desempenhar, nesta batalha contra a desinformação e ao lado do sector
privado, um papel importante.
Antes de apresentar o seu plano para
os media, o Governo devia ter-se informado melhor em vez de cair na tentação
das medidas ilusórias e de afirmações dignas das precipitações e
superficialidades das redes sociais. O plano para a RTP, mais grave do
que ter sido anunciado no lugar errado, alimentou o desconhecimento sobre a
importância para o jornalismo, para a cultura e para a coesão territorial de um
grupo público de comunicação social nos tempos conturbados em que vivemos.
RTP TELEVISÃO ECONOMIA GOVERNO POLÍTICA
COMENTÁRIOS (de 45)
Carlos Chaves: Estou em
completo desacordo com a opinião da Helena Garrido. Um canal público financiado
por todos nós consumidores de electricidade, e ainda por cima triplamente
financiado se juntarmos as transferências dos diversos governos para a RTP e o
que pagamos no “cabo”, não deve estar em concorrência desleal com os canais do
sector privado! Até porque não deve ser esse o papel do canal público. Os
diversos governos do Reino Unido e a BBC devem estar enganados há décadas! Depois
fala do Estado Novo que “(…) protegia quem já estava instalado”, ó senhora
jornalista, mas afinal, o que é que a esquerda (que por vezes defende com afinco,
basta lembrar o apoio descarado aos governos do sr. que está agora sentado em
Bruxelas a rir-se de nós) tem andado a fazer neste pobre país desde o 25 de
Abril de 1974? Nunca lhe ouvi uma voz a denunciar este comportamento impróprio
quando a esquerda esteve no poder. “Além disso, no mundo digital
tem a RTP Play com conteúdos gratuitos (…)” A sério? Conteúdos
gratuitos??? Então acabou de escrever no parágrafo anterior que todos pagamos o
CAV e logo a seguir fala em gratuitidade??? A senhora está bem? “Ninguém
ganha quando o primeiro-ministro, por ignorância ou leviandade, faz as críticas
aos jornalistas baseado em auriculares e olhares para o telemóvel.” Não
esperava desta jornalista esta “ignorância” ou “leviandade”, isto é a forma
tradicional de reagir dos grupos protegidos, quando alguém decide mexer no
vosso “queijo”! A ofensa gratuita é sinal de desespero! Neste país não
se consegue fazer absolutamente nada, só a esquerda é que parece conseguir
fazer alguma coisa, manter os lobbies dependentes do Estado (leia-se nós os
contribuintes) mesmo que isso signifique destruição! Este artigo não tem pés
nem cabeça! Joao
Cadete: Incrível como há pessoas que continuam a defender que com aproximadamente
200 milhões por ano a RTP não sobrevive... vão pastar. francisco
ornelas: Toda a
argumentação cai por terra com a taxa. Desleal é a concorrência da RTP que além
da publicidade ainda recebe a taxa da EDP. E se fizesse um serviço como a PBS,
BBC ou ARTE ainda vá, agora ando a pagar para que Jorge Gabriel e afins andem
nas feiras. Não 🚫 José B
Dias: Melhor teria sido a manutenção da
publicidade com a abolição da servidão da taxa que todos pagamos por
simplesmente contratarmos fornecimento de energia eléctrica ... Augusto
vaz serra sousa: A HG apresenta um artigo de opinião com os seus fundamentos que são
pertinentes e de quem conhece o assunto . Mas a inoportunidade do
assunto com tantas outras questões a exigirem atenção e a forma desastrada como
foi apresentado , deixa dúvidas sobre a "bondade" o que está por
detrás deste anúncio atabalhoado. Mande ver a estrutura interna da
RTP, os desmandos clamorosos nos vencimentos pagos a colaboradores medíocres, a
rede de compadrio aí instalada e depois pense no resto! Eduardo
Cunha: é por artigos como este que a rtp é uma vaca sagrada. tem uma audiência
residual mas é intocável.
Lápis Afiado: Com o valor da taxa que nos chulam deveria dar para fazer um grupo de média
com muita qualidade.
paulo mariano: Não precisamos de televisão paga pelos contribuintes
para nada. A esquerda conseguiu empoleirar a TV pública de militantes do
estatismo, que defendem este modelo. Não precisamos da "verdade"
teleguiada duma pretensa empresa pública, que serve acima de tudo os interesses
partidários e políticos duma faixa da população com quem não me identifico e
para a qual estou obrigado a pagar. Americo Magalhaes: Sim HG concordo....é um ERRO há muitos anos. RTP já deveria ter fechado há
muito, é um ninho dos governos, infestada de incompetentes, medíocres e
tendenciosos socialistas, marxistas e agora também wokistas. Na RTP
aproveitava apenas um, José Rodrigues dos Santos, uma excelência do jornalismo
e de imparcialidade. Já agora, por que raio a CS tem de ser subsidiada? Como
toda e qualquer empresa têm de aprender a sobreviver pela qualidade do
produto. Não têm nem devem viver à custa dos Impostos dos portugueses. bento guerra: A RTP não presta, custa muito
dinheiro, é uma coutada de incapazes, faz propaganda do poder e ninguém tem mão
naquilo. O resto é convosco...
Nelson Goncalves: A
RTP Play não funciona fora do rectângulo. Para um país que tem quase 1/4 da
população emigrada, a RTP Play poderia ser uma cola cultural. Mas... não
funciona..... O que em si não é
novidade. Quem quiser ver um filme ou uma série portuguesa, que se dirija a
Portugal. E depois queixem-se da pirataria.
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