É o que faz o Dr. Salles, com o seu
humor talvez entristecido pelo sentimento de humilhação que nos persegue, perante
a escalada pedinchona de auxílio exterior, prova da reduzida dimensão do nosso
enquadramento no mundo livre, em termos de recursos de vária ordem… Mas como “O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)
visa implementar reformas e investimentos destinados a repor o crescimento
económico sustentado”, segundo transcrevo da Internet, a esperança nos colhe
de que a tal reposição do crescimento económico – e não só - se torne um dia
concretizável, em seguimento menos humilhante para a nossa descendência.
HENRIQUE
SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 28.10.24
Há séculos que Portugal se debate com
problemas de desenvolvimento; há séculos que o diagnóstico é a escassez de
recursos internos; há séculos que a terapêutica aponta para a mobilização de
recursos externos.
E os problemas continuam…
* * *
Tudo começou com a forasteira D. Filipa
de Lencastre que se viu Rainha de um país pobre, mas com nobreza de pergaminho
e de uma Nação aguerrida, mas boçal. Depois do susto Aljubarrota, convenceu o
marido, D. João I, de que seria necessário avançar para conquistas ultramarinas
a fim de ganhar corpo lá fora para poder resistir cá dentro à cobiça
castelhana. Contrariando a boçalidade
geral, deu o exemplo educando os próprios filhos – a Ínclita Geração.
Por
ironia do destino, a «Mãe do Império» morreu nas vésperas da conquista de
Ceuta.
Mas a ideia ultramarina frutificou, a da educação murchou. E, com
virtudes e defeitos como em toda a obra humana, inaugurámos o eurocentrismo
global. Foi disso
personalidade principal, o Infante D. Henrique deixando para trás a integração
europeia que era a preferida do Infante D. Pedro. O europeísmo
definhou na batalha de Alfarrobeira; o Império foi o modelo da nossa
sustentação até 1975.
Da Ínclita Geração constou também o
melancólico D. Duarte que ficou agarrado ao trono, mas foi determinante na
opção expansionista enquanto o Infante D. Fernando, que ficando cativo em
Marrocos, tanto pode ter sido mártir como não, eventualmente com outro nome e rodeado de odaliscas.
A
opção europeia de D. Pedro teve expressão poética no Velho do Restelo e acabou
por tomar corpo com a nossa entrada para a CEE.
Assim acabou o modelo mercantilista e entrou em funcionamento o da
permissividade, ou seja, aquele em que nos é permitido o que os demais europeus
autorizam.
Do
Império, resta a TAP enquanto
não for liquidada, por mais que sejam as declarações e juras em contrário.
COMENTÁRIOS:
APMACHADO 28.10.2024 15:24: M/ Caro Dr. Salles da Fonseca. Muito se tem
escrito sobre as razões (e terão sido mais razões do que causas) que levaram D.
João I a meter lança em África. Uma dessas razões até tem passado despercebida.
Não terá passado a Fernão Lopes, mas o cronista tudo fez para manter na sombra
a má nascença do Mestre de Aviz. D. João I Rei estava maculado com o ferrete de
filho ilegítimo - e essa mácula ameaçava a estabilidade do seu reinado, quer
internamente (os Reis seus antepassados, desde logo, seu pai, D. Pedro, tinham
sido prolíficos em filhos legítimos com descendência à época), quer no
relacionamento diplomático com os outros Reinos cristãos. A própria D. Filipa,
descendente de Reis, não era filha de Rei. O
espírito de Cruzada nos territórios vizinhos dar-lhe-ia a legitimidade aos
olhos do Papa que abriria caminho para os tratados indispensáveis à
solidificação da sua posição face à poderosa Castela. Quanto ao
espírito mercantilista da governação, era ainda assim na 2ª metade do séc. XIX,
assim continuou por desleixo na 1ª República e assim foi acolhido de braços
abertos durante o Estado Novo. Livre
cambismo, só mesmo após a adesão à CEE e sempre com muitos a resmungar.
Convenhamos, 40 anos é curto tempo para mudar mentalidades.
Anónimo 28.10.2024 16:26: Ínclito e brilhante futuro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário