terça-feira, 29 de outubro de 2024

Levar a nossa História a rir…


É o que faz o Dr. Salles, com o seu humor talvez entristecido pelo sentimento de humilhação que nos persegue, perante a escalada pedinchona de auxílio exterior, prova da reduzida dimensão do nosso enquadramento no mundo livre, em termos de recursos de vária ordem… Mas como “O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) visa implementar reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado”, segundo transcrevo da Internet, a esperança nos colhe de que a tal reposição do crescimento económico – e não só - se torne um dia concretizável, em seguimento menos humilhante para a nossa descendência.

«PRR & Cª Ldª» - 1

 HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO,  28.10.24

Há séculos que Portugal se debate com problemas de desenvolvimento; há séculos que o diagnóstico é a escassez de recursos internos; há séculos que a terapêutica aponta para a mobilização de recursos externos.

E os problemas continuam…

* * *

Tudo começou com a forasteira D. Filipa de Lencastre que se viu Rainha de um país pobre, mas com nobreza de pergaminho e de uma Nação aguerrida, mas boçal. Depois do susto Aljubarrota, convenceu o marido, D. João I, de que seria necessário avançar para conquistas ultramarinas a fim de ganhar corpo lá fora para poder resistir cá dentro à cobiça castelhana. Contrariando a boçalidade geral, deu o exemplo educando os próprios filhos – a Ínclita Geração.

Por ironia do destino, a «Mãe do Império» morreu nas vésperas da conquista de Ceuta.

 Mas a ideia ultramarina frutificou, a da educação murchou. E, com virtudes e defeitos como em toda a obra humana, inaugurámos o eurocentrismo global. Foi disso personalidade principal, o Infante D. Henrique deixando para trás a integração europeia que era a preferida do Infante D. Pedro. O europeísmo definhou na batalha de Alfarrobeira; o Império foi o modelo da nossa sustentação até 1975.

Da Ínclita Geração constou também o melancólico D. Duarte que ficou agarrado ao trono, mas foi determinante na opção expansionista enquanto o Infante D. Fernando, que ficando cativo em Marrocos, tanto pode ter sido mártir como não, eventualmente com outro nome e rodeado de odaliscas.

A opção europeia de D. Pedro teve expressão poética no Velho do Restelo e acabou por tomar corpo com a nossa entrada para a CEE.

Assim acabou o modelo mercantilista e entrou em funcionamento o da permissividade, ou seja, aquele em que nos é permitido o que os demais europeus autorizam.

Do Império, resta a TAP enquanto não for liquidada, por mais que sejam as declarações e juras em contrário.

COMENTÁRIOS:

 APMACHADO  28.10.2024  15:24: M/ Caro Dr. Salles da Fonseca. Muito se tem escrito sobre as razões (e terão sido mais razões do que causas) que levaram D. João I a meter lança em África. Uma dessas razões até tem passado despercebida. Não terá passado a Fernão Lopes, mas o cronista tudo fez para manter na sombra a má nascença do Mestre de Aviz. D. João I Rei estava maculado com o ferrete de filho ilegítimo - e essa mácula ameaçava a estabilidade do seu reinado, quer internamente (os Reis seus antepassados, desde logo, seu pai, D. Pedro, tinham sido prolíficos em filhos legítimos com descendência à época), quer no relacionamento diplomático com os outros Reinos cristãos. A própria D. Filipa, descendente de Reis, não era filha de Rei. O espírito de Cruzada nos territórios vizinhos dar-lhe-ia a legitimidade aos olhos do Papa que abriria caminho para os tratados indispensáveis à solidificação da sua posição face à poderosa Castela. Quanto ao espírito mercantilista da governação, era ainda assim na 2ª metade do séc. XIX, assim continuou por desleixo na 1ª República e assim foi acolhido de braços abertos durante o Estado Novo. Livre cambismo, só mesmo após a adesão à CEE e sempre com muitos a resmungar. Convenhamos, 40 anos é curto tempo para mudar mentalidades.

 Anónimo  28.10.2024  16:26: Ínclito e brilhante futuro!

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