Neste nosso espaço
lusíada, reduzido a confronto oral, com puros ataques directos malandros, a
realçar “nobrezas pessoais em sentimentos”, reveladores, sim, de interesses próprios,
os motivos “ocultos” bem “salientes” nas discussões da nossa ágora, não de
interesse pátrio, mas ávidas de bolo próprio. Foi no que deu o interesse pátrio
abrilino, nas temáticas destrutivas das deselegantes discussões partidárias dos
nossos tempos calamitosos, quando, mais longe, alguns defendem corajosamente as
suas pátrias contra inimigos alheios.
A mentira pega-se e o resto também
Todos vemos que estão a mentir e a
alimentar um mero jogo de palavras, feitas puro palavreado. Mas ambos
continuarão a alimentar um assunto que não existe. Não haverá adultos na sala
do Chega e do PS?
JOSÉ RIBEIRO E
CASTRO Advogado
OBSERVADOR, 14 out. 2024, 00:1812
Depois das últimas eleições de Março,
uma das dúvidas que ficara era saber se o Chega, que elegeu 50 deputados, estaria
à altura deste resultado e seria capaz de o consolidar. Para isso, dependeria
apenas de si próprio, porque, na verdade, ninguém o desafiou ao que quer que se
fosse.
A primeira prova foi rápida: a
eleição do Presidente da Assembleia da República mostrou absoluta falta de
vontade em jogar o jogo democrático com decência e sentido de Estado. Podia ter
corrigido a rota, nos meses seguintes, mas escolheu não o fazer. As
intervenções do líder, que marcam a pauta do partido, primam pelo exagero, pelo
estrambólico, pelo desconchavo, pela gritaria e, quando necessário, pela
mentira. Eu sei que a forma como o regime democrático
se tem desprestigiado foi fazendo crescer um magote de pessoas ciosas de quem “parta a loiça”, “não tenha medo” e “as
diga todas”. Mas até
esses cidadãos, creio, começam a estar fartos do filme “Oficial e Trauliteiro”,
em que o estilo berreiro- e-inconsequência consome meses, semanas e dias.
Ao votar demasiadas vezes
significativas ao lado do PS – não escondendo que o faz para incomodar PSD e
CDS – e ao escolher como inimigo principal o governo AD, o Chega tem conseguido
a proeza de ter transformado em quase completa inutilidade o crédito de 50
deputados que o eleitorado lhe deu em 10 de Março. Nem é preciso ver as
sondagens. Sente-se no ar. Cheira-se.
Também não é por causa de qualquer
“cordão sanitário”. Quem se cerca a si
próprio com cordão grosso é o líder do Chega e a sua actuação política em
constante “enormismo”, extravagantíssimo método e sistemático desconcerto. Quem
consegue acompanhar tamanha alucinação? Creio que ninguém – a começar por
muitos membros da sua bancada parlamentar, quanto mais os parceiros que
desejasse. Eu creio,
aliás, que André Ventura não deseja propriamente ter parceiros. Deseja
suplantar toda a gente e submetê-los. Ele quer ser sempre o número um, o único
número um: é este o seu cordão sanitário.
A abordagem ao Orçamento de
Estado pelo deputado André Ventura percorreu, desde o primeiro dia, um processo
político completamente errático, sempre em montanha-russa. Nunca pode esquecer-se que arrancou com
aquela ideia do referendo sobre a imigração. E, se a ideia em si já é de grande atrevimento, cruzar o referendo com o OE e a votação deste
foi bater o record mundial do absurdo e da incongruência. A política é uma
brincadeira, não há assuntos de Estado. Nunca se vira tal coisa em qualquer
país.
Com o chão a fugir-lhe debaixo dos
pés depois de tanta pirueta, o líder do Chega recorreu à mentira, para tentar
ainda subir a parada. E inventou aquela mentira de o primeiro-ministro lhe ter
proposto um acordo e o convidara para o governo. Montenegro desmentiu-o de
forma pronta e peremptória. Aqui, André Ventura tem pouca sorte. Há alguns
grandes mentirosos na vida portuguesa. Mas ele não é desses: quando mente,
percebe-se logo, vê-se bem que está a mentir e até se percebe porquê e para
quê. Por isso, a mentira não pegou, nem pega. Voltemos ao “cordão sanitário”:
quem, depois disto, quererá conversa com André Ventura?
Valeu-lhe, porém, o socorro
oportuno do seu partenaire de legislatura, o seu fiel compagnon
de route: Pedro Nuno Santos. Foi o líder
socialista, talvez também em desespero, que saiu a prestar assistência a
Ventura, colocando-o ao mesmo nível de Montenegro: “Aquilo a que temos assistido nos últimos
dias é preocupante, digo mais, é uma vergonha para a nossa democracia, com dois
líderes partidários a acusarem-se mutuamente na praça pública de mentira.” E,
logo a seguir: “Não
sabemos quem mente, não vamos dirimir essa disputa.” Como
já vimos tantas vezes, o Chega dá jeito a esta liderança do PS. Não o
quer perder. E, como a mentira é contagiosa, eis que se pegou a Pedro Nuno
Santos.
Ventura mente ao dizer que Montenegro lhe propôs um acordo ou que o
fez mesmo. Pedro
Nuno mente ao dizer que tem dúvidas sobre se esse acordo existiu, ou não. Todos
vemos que ambos estão a mentir e a alimentar um mero jogo de palavras, feitas
puro palavreado. Mas ambos continuarão a alimentar um assunto que não
existe. Não haverá adultos na sala do Chega e do PS? Seria boa ideia acabar com
criancices, para irmos às coisas sérias.
É mau que, nesta legislatura, o Chega
não conseguisse ascender à maturidade própria de um partido parlamentar com 50
deputados. É ainda pior que esta liderança do PS esteja a conduzir um
partido histórico para o nível de irresponsabilidade do Chega.
ORÇAMENTO DO
ESTADO ECONOMIA PS POLÍTICA PARTIDO CHEGA
COMENTÁRIOS (de 12):
José Alves: Caro Ribeiro e Castro tenho
por si a consideração e o respeito que guardo aos homens bons, de recta
intenção e de nobre carácter. Efectivamente leio e ouço as suas opiniões com
especial atenção e normalmente concordo com elas ou reconheço-lhes elevação e
recta intenção. No entanto nesta questão não estou de acordo com o meu caro
pelas seguintes razões: - Obviamente que nenhum de nós que não assistiu às
reuniões pode saber ou declarar com inteira certeza o que lá se passou. - Não
tenho razões para considerar, como está na moda que André Ventura é mentiroso
ou menos honesto do que qualquer outro líder partidário, com efeito André
Ventura tem dito verdades incómodas (até para ele) enquanto o resto da classe
política faz de conta que não vê o que se passa e assobia para o lado. - Não
posso afirmar que Luís Montenegro está a faltar à verdade mas vejo-o a governar
como António Costa, a distribuir o dinheiro dos contribuintes pelas diferentes
clientelas e a comprar votos exactamente como fez Costa e Luís Montenegro na altura
criticou e bem mas agora esqueceu-se do que afirmou o que não é de uma grande
honestidade para não dizer mais. - Devo acrescentar o seguinte, se André
Ventura quisesse uma carreira tranquila com acesso a cargos cada vez mais
elevados tinha ficado no PSD e seguia uma carreira mais segura e tranquila. No
entanto Ventura saiu do PSD e arriscou criar um partido do 0 com todos os
riscos inerentes o que revela um homem de convicções e frontalidade. Nota 1: não estou a dizer que há
homens Santos e sem mácula, homens são homens com qualidades e defeitos. Nota 2: é estranho terem sido
necessárias 5 ou 6 reuniões (pelo menos uma com 2 horas) para dizer “não é
não”. Cumprimentos.
RUÇO, CASCAIS h: Continuo sem perceber muito bem toda esta indignação. Estamos a falar de política, certo?
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