Entre um e outro…
Acalmem-se, não é Hitler contra Estaline
Nos EUA, Hitler não defronta
Estaline. Qualquer conservador, sem medo do que dele pode dizer a esquerda,
encontra razões para votar em Trump, como qualquer esquerdista para votar em
Harris.
RUI RAMOS Colunista do Observador
OBSERVADOR, 11
out. 2024, 00:22109
Talvez não acreditem, mas nas eleições
americanas, Hitler não concorre com Estaline. Sim, Kamala Harris diz que
Donald Trump é uma “ameaça à democracia”, e Trump que Harris é “comunista”.
Em eleições anteriores, o nível de exagero
era mais baixo. Mas só por ter subido, não quer dizer que seja mais credível.
Trump
e Harris já governaram os EUA, cada um por quatro anos. Nem por isso os EUA são
hoje o III Reich ou a URSS. O que vemos, quando levantamos o véu da
polarização, é outra coisa. Os candidatos dramatizam, mas também se amaciam:
Trump está mais indulgente com o aborto, e Harris com as armas. No debate
dos vices, J.D. Vance e Tim Walz passaram o tempo a concordar (infelizmente,
também sobre o proteccionismo). A
probabilidade de o governo continuar “dividido” – um partido a controlar a
presidência, outro o Congresso – não augura grandes transformações, ganhe quem
ganhar.
Quando têm de demonstrar que Trump ameaça
a democracia, os Democratas não citam nada que ele tenha feito no governo. Trump não foi um Richard Nixon. Contra
ele, vale apenas a recusa de reconhecer que perdeu as eleições de 2020. É péssimo, mas não o singulariza: os
Democratas também não admitiram que tinham sido vencidos em 2016. Há
dois factos aqui. O primeiro é que não aceitar a derrota passou a ser um
hábito na política americana, como já é no futebol europeu. O segundo é que, apesar desse feio
costume futebolístico, Barack Obama cedeu o lugar a Trump em 2017, e Trump a
Joe Biden em 2021. O segundo
facto é, apesar de tudo, mais importante do que o primeiro. A invasão
do Capitólio por umas centenas de manifestantes descomandados em 2021 foi
lamentável, mas não foi um golpe de Estado. E a esse respeito, os
Republicanos poderiam citar a benevolência dos Democratas com a violência
política nas ruas em 2020.
Kamala
Harris é uma candidata imposta ao eleitorado pela oligarquia do Partido
Democrata, que em 2024 arredou Biden tal como em 2020 tinha afastado Bernie
Sanders. Não tem
força própria. Donald
Trump é o contrário: um candidato imposto pelo eleitorado à oligarquia do
Partido Republicano. É um excêntrico que o establishment nunca
domou. O seu estilo, entre a demagogia e o desleixo, e o seu nacionalismo não
foram feitos para agradar aos conservadores que dirigiam o Partido Republicano. Alguns, como Dick Cheney e a filha, nunca
lhe perdoarão tê-los tornado irrelevantes. Os activistas evangélicos, porém,
reconciliaram-se com Trump, apesar da sua pouca santidade. Não é inesperado.
Trump está mais próximo do conservadorismo, do que uma Harris que ainda há quatro anos papagueava os
lugares-comuns da extrema-esquerda. E mobiliza um eleitorado que não
está ao alcance de outro republicano neste momento.
Quem gosta de responsabilidade
orçamental, não terá razão para se entusiasmar com Trump (nem com Harris). Mas
para quem se inquieta com o modo como o wokismo restringe a liberdade ou como a
imigração descontrolada subverte a coesão social, Trump é uma opção mais
razoável do que Harris. Tal como para aqueles que acham importante a direita
não se deixar intimidar por uma campanha de demonização que não é muito
diferente das que a esquerda conduziu contra Ronald Reagan ou George W. Bush. Qualquer conservador sem medo do
que dele pode dizer a esquerda encontra razões para votar em Trump, como
qualquer esquerdista para votar em Harris.
Resta o grande tema: a defesa do Ocidente. Foi Trump quem suspendeu
a indulgência ocidental com a China e o Irão. Sobre a Ucrânia, tem alimentado a
incerteza. Mas a sua imprevisibilidade pode também criar dúvidas a Putin. O facto é este: foi com Obama e Biden que Putin se
sentiu à vontade para invadir a Ucrânia, e não com Trump.
ELEIÇÕES
EUA ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO DONALD
TRUMP ISRAEL MÉDIO
ORIENTE UCRÂNIA EUROPA
COMENTÁRIOS (de 125)
José B Dias: Aleluia! Finalmente uma opinião que se suporta em factos e não nas
narrativas da maior parte dos midia. Manuel
Gonçalves: Complemento, para evitar
equívocos: o wokismo deve ser combatido sem medo. Tim do A: Artigo com bom senso. Pedro Carlos Real: Vale a pena aprofundar o tema
do Capitólio, nomeadamente vendo as audições no congresso e analisando as
manipulações dos vídeos quanto ao que Trump efectivamente disse. A realidade é
bem diferente daquela que os media tradicionais tentam passar. José
Bento > Filipe Paes de Vasconcellos: Tão perigoso que, em 4 anos
como presidente do país mais poderoso do mundo, não acabou com o dito mundo,
nem com a dita democracia americana! Deve ser um perigoso muito leeeeeento! O
da barbearia foi muito mais rápido! Já com a Meloni
vinha aí o fascismo! Ainda ninguém o viu... E hoje a Ursula é BFF com a
Meloni! Com o Milei vinha o fim da Argentina! Ainda está no mapa.
Confirmei... O verdadeiro perigo é passar a vida a gritar LOBO, e depois
o lobo não aparece. Isso sim, é perigoso, porque quando ele vier ninguém vai
ligar. Já agora, onde é que o cronista "alinhou' com o Trump? Não consegui
encontrar nenhum alinhamento... Coxinho: Pois. Quando escasseiam ideias é difícil despir a camisola do clube, compreendo. Por
isso me parece o artigo do RR impregnado de bom senso -- o bom senso comum que
se esforça por analisar os factos sem os exacerbar nem atenuar sob a pressão de
uma ideologia a defender. Obrigado, RR, o seu artigo tem
pelo menos a enorme virtude de não ser politicamente correcto. Coxinho
> Filipe Paes de Vasconcellos: Pode, por favor, esclarecer por
que razão é Trump tão perigoso para nós ? E, já agora, tão
quanto?Obrigado. Filipe Paes de Vasconcellos: Eu estou calmo, mas muito
preocupado quando vejo pessoas do nível intelectual de Rui Ramos alinhar com um
tipo tão perigoso para todos nós. Manuel Gonçalves: Outro ângulo, sinteticamente:
Trump vai negociar uma paz à Lenine. Entrega a Ucrânia, para obter o
beneplácito da Rússia e da China e se consolidar no poder como verdadeiro
autocrata que é. No início vai parecer delicodoce e até engana os tontos, mas
tem um objetivo muito concreto de iniciar uma dinastia Trump e fragmentar a
Europa- pode ou não ser bem-sucedido; aparecerá um Churchill? Acerca do seu
mandato, escrever com ligeireza acerca do 6/1, mas esquecer as opiniões dos
seus anteriores e mais próximos colaboradores, que em uníssono o descrevem como
um indivíduo incapaz de se concentrar e com atitudes muito perigosas, para além
de todas as alarvidades que vimos publicamente, não é uma boa ideia. Kamala até
poderá vir a ser um Jimmy Carter ou, pelo contrário, um presidente bastante
mais relevante - ninguém sabe - mas todos, sem exceção, sabemos que não tem um
projeto autoritário/totalitário. Parem de morrer de medo com o wokismo: é
uma imbecilidade que se está a evaporar, como o nudismo dos anos 60/70 - na
altura também se temia que íamos andar todos “pelados e a roupa ía acabar -
pelo simples e elementar motivo de que as práticas de costumes muito
artificiais nunca vingam. Nuno
Borges > José Vilaça: Biden foi um presidente fraco e
a fraqueza é um convite à agressão. Kamala seria ainda pior. bento
guerra: O que está em
escolha são pessoas e suas capacidades. Como os tempos internacionais vão
complexos, Trp já conhece a função ,ao contrário da Kamala que parece uma
barata tonta, a escolha "nossa" é fácil. Contudo... José
B Dias > Pedro: Mas a realidade não interessa
aos que preferem as narrativas que constroem os seus preconceitos. Glorioso
SLB > Manuel Gonçalves: Pois eu nasci 15 anos depois e nunca senti tanta
tentativa de disrupção social como agora. As pessoas ñ votam no Trump por causa
do Trump. Votam no Trump, apesar do Trump ou seja, apesar do q Trump diz. Pq do
outro lado, têm o wokismo. José B Dias > Coxinho: Subscrevo! E basta ler alguns
dos comentários aqui apostos para se confirmar a tendência para o achismo
suportado em manipulação, desinformação e mentiras muitas vezes repetidas ... José B
Dias > João Angolano: Pelo nível intelectual ... José B
Dias > Ruço Cascais: Trump did mention bringing UV
rays and disinfectants into the body, but let's remember what Biden said. He
said his predecessor, quote, "told Americans all they had to do was inject
bleach in themselves, just take a shot of UV light." That is not what
Trump said. It was by no means a demand, an instruction, a recommendation.
Trump was speaking off the cuff. And then, scientists say, in an ill-advised
way. He was not telling anyone to do anything. He was floating ideas for
potential treatments to be tested. That's why we rated Biden's claim that Trump
told people to inject bleach mostly false. Paulo Machado > Eduardo Costa: E come crianças ao pequeno
almoço! Já do outro lado é só violinos, tudo gente pura e casta. Nuno
Abreu: Boa crónica. Concordo com muitas das ideias que Trump aplicou enquanto
presidente. Penso que devemos derrotar o wokismo. Mas não suporto a sua
incivilizada linguagem. vitor
gonçalves > José B Dias: Há que separar a personalidade
de Trump das suas políticas e aqui, no seu consulado, foi bastante eficaz,
nomeadamente em política externa. Agora no caso Europeu ninguém gostou que
Trump fosse bastante insistente na regra
da contribuição dos 2 por cento de cada país para a NATO. E aqui tem toda a
razão. Os USA não têm obrigação interna de defender uma Europa que prefere
alimentar os seus eleitorados a defender-se. Ruço Cascais: Então Rui Ramos, em vez de
acertar nos submarinos anda a atirar aos patos de borracha. Harris and Trump are nice guys,
blá blá pardais no ninho e no final um parágrafo em jeito de rodapé sobre a
guerra da Ucrânia e o perigo para a Europa com uma vitória de Putin. Fez-me
lembrar aqueles contratos habitualmente de seguros e empréstimos à banca onde
no final, nas costas das folhas, aparecem uma data de letras muito pequeninas
que ninguém consegue ler. A invasão do Capitólio em 2020
não foi um golpe de estado, foi apenas uma birra de mau perder idêntica à dos
democratas em 2016. É comparável? Fonix: Rui Ramos, o Hitler também não era mau se
comparável com António Costa, e eu detestei António Costa enquanto governante,
mas, há coisas que não são comparáveis. Faz-me confusão, faz-me mesmo muita confusão como é
que Rui Ramos um dos melhores espíritos a escrever aqui do Observador consegue
ter admiração - já nem falo das políticas - por um narcisista que despediu e
zangou-se com mais de metade da sua administração enquanto foi presidente.
Lembro-me de Trump quando participou numa reunião dos G8 ou G9, que ao
aproximar-se do grupo entra de rompante empurrando os outros membros para o
lado de forma grosseira para se chegar â frente. Uma atitude do piorio.
Infelizmente não houve ninguém com coragem para também lhe ter dado um empurrão
forte que o derrubasse no chão. Nota: o Rui Ramos esqueceu-se de um
pormenor muito importante que deveria ter dado um Prémio Nobel a Trump na
ciência, que foi curar os vírus com lixívia. Provavelmente se Trump fosse português,
muita malta daqui tinha-se matado com injeções de desinfectante. Esperava que
Rui Ramos não fosse um deles, Americo
Magalhaes: Um bom texto de RR sem dúvida alguma . Revejo-me perfeitamente nesta análise, feita com
distanciamento histórico , mas com equidistância em relação aos 2
candidatos . Parabéns RR , por favor não abandone o Observador . José B
Dias > vitor gonçalves: O que as pessoas
"sabem" sobre Trump é, basicamente, o que lhes é rotineiramente
"vendido" por activistas travestidos de jornalistas/comentadores e
órgãos ditos de informação ao serviço de interesses. Se se perguntar aos que por
aqui desdenham de Trump o que fez este de tão errado nos seus 4 anos de
presidência, iremos ter como respostas as tradicionais conversas do "very
fine people, do "bleach" ou da retirada dos USA de determinados
Tratados/Organizações da moda. E a falácia da sujeição a Putin e do abandono da
NATO ... Se se perguntar o que fez a "fantástica" candidata Democrata ...
será divertido constatar a dificuldade nas respostas. PS: não deixa de ser sintomático
da ignorância e da "opinião" sem suporte o olímpico ignorar do mandar
às urtigas a vontade dos eleitores que andaram a votar nas primárias Democratas
... a lógica é hoje a de poderem escolher quem quiserem, desde que no fim o
candidato seja o escolhido pelas elites. E depois chamam-lhe Democracia! joaquim
Pocinho: E depois, Rui Ramos, Trump é o primeiro candidato vencido que, depois da
certificação das eleições, continua a não as reconhecer. Em tudo o resto pode
ter razão, mas Trump tornou-se inelegível após a invasão do capitólio. Foi o
único vencido a não comparecer na tomada de posse do vencedor. E isso é muito,
muito mais do que se pensa, grave para o equilíbrio da democracia. joaquim Pocinho: Hoje não concordo com o Rui
Ramos! Para tudo há uma primeira vez. Fez-me impressão a desvalorização da
invasão do capitólio vindo de uma das mais Lúcidas mentes em Portugal.
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