É a leviandade com que Trump fala da
guerra da Ucrânia, num patético respeito ou falsa camaradagem por um celerado
Putin.
Trump: Uma explicação
parcimoniosa
52% dos Americanos dizem estar
economicamente pior hoje do que há quatro anos. Este valor só tem paralelo com
1992 quando Clinton venceu o incumbente Bush celebrizando a frase “É a
economia, estúpido”
JORGE FERNANDES Doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário
Europeu, Florença, Investigador Ramón y Cajal no Conselho Superior de
Investigação Científica, Madrid
OBSERVADOR, 23
out. 2024, 00:2016
Nos
últimos meses, nos círculos liberais e intelectuais, a discussão sobre a
potencial vitória de Trump tem vindo a aumentar de tom com uma crescente nota
de incredulidade. Desde que Trump desceu as escadas rolantes em 2015 para
apresentar a sua candidatura à presidência que toda a sua carreira política se
tem revestido de implausibilidade. No início, ninguém acreditava que um
empresário que havia ganho notoriedade a construir prédios enquanto fazia
anúncios a bifes, à Pizza Hut, ou participava no Sozinho em Casa pudesse ser
levado a sério. Depois de uma vitória inesperada em 2016, especialmente depois
da cassete do Access Hollywood, que teria sido fatal para qualquer outro
candidato, a sua presidência errática e histriónica, que terminou de maneira
trágica nos acontecimentos de 6 de Janeiro, parecia indiciar que Trump estava
terminado politicamente.
A duas semanas das eleições, Trump está
não só politicamente vivo, mas num combate feroz para a vitória que, olhando
para os últimos dados, será menos surpreendente do que 2016. Nos círculos
liberais reina a incredulidade. Estarão os eleitores a ser enganados? Como é
possível alguém ainda apoiar “aquilo”? Chegados a este ponto, é preciso assumir
definitivamente que Trump não engana ninguém. Durante anos, houve
explicações que, infantilizando os eleitores, procuravam mostrar que, no fundo,
estes tinham sido enganados. Estou em total descordo com esta visão. Os últimos
dez anos deram informação mais do que suficiente a todos os eleitores
Americanos para decidirem sem enviesamentos cognitivos se pretendem ou não
repetir a presidência Trump. Se Trump ganhar, não será fruto de aleatoriedade
ou quaisquer enganos, mas, pelo contrário, confirmará que uma parte substancial do país tem preferências
alinhadas com as políticas e os políticos que a sua candidatura propõe.
A maioria das explicações para o
fenómeno Trump situam-se algures entre a geografia das desigualdades, o racismo
latente em camadas da sociedade Americana, ou ainda um cruzamento tóxico entre
a misoginia e o conservadorismo de valores. Como em todos os fenómenos políticos e
sociais, a explicação para Trump é multicausal. No entanto, em 2024, existe
uma explicação canónica na ciência política que tem sido largamente ignorada: o
voto económico. Esta explicação tem um lastro grande na disciplina e
é, na verdade, muito intuitiva. Quando vão às urnas, os eleitores fazem uma
leitura retrospectiva do mandato que termina e determinam o seu voto, em grande
medida, através da resposta a uma simples pergunta: a minha situação económica está melhor ou pior do que há quatro anos?
Na sua última edição, de resto, a revista Economist,
com a sua habitual capacidade de captar de forma parcimoniosa o espírito do
tempo numa capa, dizia que a economia Americana é a inveja do mundo. Se
é verdade que a economia Americana tem tido um desempenho que faz a Europa ou o
Japão corar de vergonha, a maioria dos eleitores não faz uma comparação entre o
seu país e os outros países. Pelo contrário, os eleitores comparam a
economia dos anos Biden com a economia dos anos Trump.
Dados
recentes da Gallup mostram que 52% dos Americanos afirmam estar
economicamente pior hoje do que há quatro anos. Tal como a
própria Gallup assinala, este valor só tem paralelo com 1992, quando Clinton conseguiu derrotar o
incumbente Bush celebrizando a frase “É a economia, estúpido”. Apesar
do desemprego estar em níveis historicamente baixos, a inflação é a grande
culpada pelo clima cinzento nas percepções sobre a economia. Ao contrário do
desemprego, cujos efeitos negativos são maioritariamente sentidos pelos
indivíduos que estão nessa situação, a inflação acaba por afectar toda a
população, em particular aqueles que têm menos rendimento disponível.
A sondagem da Gallup contém ainda mais
dados interessantes sobre os temas mais salientes nesta campanha eleitoral.
Quando questionados sobre quais são as matérias mais problemáticas que o país
enfrenta 21% dos eleitores apontam a economia, enquanto 14% sublinham o
problema da inflação. Para além disso, 21% apontam a imigração como o
principal problema dos Estados Unidos. Independentemente daquilo que
possamos pensar sobre as soluções políticas que propõe, Trump é também
percepcionado como o mais eficaz a lidar com estes três problemas.
Apesar da sua tentativa de
distanciamento de Biden, Kamala concorre, para todos os efeitos, como
incumbente. Os eleitores co-responsabilizam-na pelo estado actual do país.
Neste contexto, em que a economia pesa tanto enquanto determinante do voto, o
voto económico é uma potencial explicação parcimoniosa para a corrida taco a
taco a que estamos a assistir. De resto, muito provavelmente, o que mantém
ainda Kamala na corrida para as eleições é o candidato ser Trump. Face ao cenário agreste para o
incumbente, um candidato Republicano menos polarizador e mais moderado do que
Trump ganharia as eleições de forma relativamente fácil.
ELEIÇÕES EUA ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO
COMENTÁRIOS (de 16)
bento guerra: Trump já deu provas como presidente durante um mandato. Kamala é uma barata
tonta de cuja intervenção não há notícia, para além do riso alvar Americo
Magalhaes: Vejo tantos "filósofos e
intelectuais" a escrever sobre as eleições nos USA .......mas
é só teoria e opinião, que valerá sempre como a minha. Não seria melhor ir viver durante 1 ano nos USA em
diferentes estados por exemplo New York, Califórnia, South Dakota e Texas, e
então começarem a escrever sobre a realidade nos USA duma forma pragmática? Estas eleições são nos USA e para os USA, só a
eles dizem respeito. Trump ama o país dele, luta e
lutará pelo país dele (quem nos dera que os nossos políticos aqui da província
fizessem o mesmo). Para além disso é um
gestor, é um homem que "faz" e não se limita a falar. A oponente Kamala foi colocada sem fazer as primárias,
contra as regras da democracia nos USA.....e estes intelectuais nunca criticam
isto. Para além disso é uma
nulidade completa, um vazio de ideias, não consegue construir uma frase
coerente do principio ao fim, apenas umas gargalhadas irritantes e sem nexo.......mas
estes " intelectuais " já viram alguma entrevista dela? É
arrepiante e deprimente, parece uma barata tonta........e disto que vocês na CS
gostam e aplaudem? Por amor de Deus, pratiquem a
democracia com normalidade e naturalidade. Luis Carlos Marques: Sr Jorge Fernandes, a explicação não está apenas na
fé que muitos americanos colocam no Trump. Está na escolha atabalhoada (e de
duvidosa legitimidade política) de uma candidata má, fraca, sem condições, sem
ideias e tonta. O Partido Democrata tornou-se o partido do sistema (e das
elites) e muitos americanos agarram-se a Trump como a alternativa, pois o que
tiveram (note-se a mentira que andaram a contar sobre o estado de saúde mental
de Biden) foi muito mau e uma sensação de orfandade. Glorioso
SLB: Então com essa conclusão a pergunta q se impõe é: e pq é q nas primárias
foi Trump q ganhou. Se calhar tb pq ele é o mais capacitado para resolver esses
três problemas mais travar o wokismo extremo e agressivo que grassa no Mundo. M Vicente: O pânico, é que vencendo
Trump, ponha em causa a Agenda 2030, dos globalistas, de um novo e único
Governo mundial.
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