Não há que
escapar. A menos que se seja firme. E honesto. E disso nem todos se podem gabar,
claro, embora estes últimos honestos usem o seu celestial “deixai vir a mim” democrático
e enfático, de mão no peito, mas vociferando no ardor empático. E o actual
governo, sobretudo na pessoa do seu presidente, tenha adoptado uma atitude virtuosa,
maneirinha e ambígua, de Tartufo pedante, esquecido de que os Tartufos são
sempre desmascarados.
Imigração, wokismo e o centro temoroso
Declarações como as de Leitão Amaro e
Carlos Moedas são positivas e devem ser elogiadas mas precisam de ser
concretizadas em acções concretas e eficazes para que o centro recupere a sua
vitalidade.
ANDRÉ AZEVEDO ALVES Professor do
Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa
OBSERVADOR, 09 out. 2024, 00:1735
A actualidade recente fica marcada
por dois anúncios de destacadas figuras do PSD que visam sinalizar uma aparente
viragem à direita em matéria de políticas de imigração. O Ministro da Presidência, António Leitão Amaro, anunciou a criação de uma unidade especificamente
dedicada ao controlo de fronteiras e expulsão de imigrantes em situação
irregular, fazendo da deportação de imigrantes ilegais uma prioridade da acção
governativa. Em entrevista ao Observador, António Leitão Amaro acusa
mesmo o governo de António Costa de ter deixado um grave problema por resolver
na imigração em Portugal.
Por seu lado, e na mesma linha, Carlos Moedas aproveitou o seu discurso nas
cerimónias oficiais que assinalaram mais um 5 de Outubro para dirigir um alerta
vincado sobre os problemas da imigração, frisando que Portugal não pode “aceitar uma política
de portas escancaradas que conduz à desordem”. Foi
quanto bastou para, sem surpresa, os sectores mais radicais da esquerda
criticarem duramente o Presidente da Câmara de Lisboa: o BE, por exemplo,
acusou Carlos Moedas de ser um “pequeno Napoleão” enquanto o Livre associou o
mesmo Moedas ao discurso da “extrema-direita” sobre imigração.
Se corresponderão ou não a mudanças
efectivas nas políticas de imigração é uma questão que só no futuro terá
resposta mas a verdade é que, fora da bolha da esquerda radical, tanto
as posições expressas por António Leitão Amaro como por Carlos Moedas parecerão
de elementar bom senso. Mas
não é menos verdade que até muito recentemente poucos se atreveriam a
enunciá-las publicamente na forma como foram agora apresentadas, em parte pelo
risco de serem vistos como politicamente incorretos e acusados de serem de
“extrema-direita”.
Algo mudou para possibilitar este tipo de discurso e essa mudança
não veio do centro mas precisamente das margens, nomeadamente da pressão
exercida nesta matéria pelo Chega
e por movimentos mais ou menos orgânicos de protesto que se têm vindo a formar
no âmbito da sociedade civil.
Janan Ganesh, num muito
recomendável artigo publicado no Financial
Times (“Can liberals be trusted with liberalism? If
the woke movement is now fading, it wasn’t the sensible centre that beat it
back”) assinala um fenómeno similar relativamente ao
recuo do movimento woke. O wokismo parece
finalmente — e felizmente — estar em perda, mas a resistência ao fenómeno não
veio do centro temoroso mas sim de outras esferas. Como explica Ganesh:
“There
is now some data to support the anecdotal impression that woke-ism at its most
censorious peaked a few years ago. I wish those of us in the liberal centre
could take a bow. But who led the resistance when it was hardest? Single-issue
feminists. Rightwing free speech zealots. Political casuals with a radar for
humbug.”
O tema do wokismo tem sido
brilhantemente analisado entre nós por uma outra colunista do Observador – Patrícia Fernandes – e
não tenciono neste espaço desenvolver uma análise aprofundada do tema. Mas importa assinalar que no wokismo –
tal como na imigração – a resistência aos piores excessos de políticas
orientadas pela esquerda radical no momento em que essa resistência era mais
difícil e custosa não veio do centro temoroso mas sim de quem teve a coragem
suficiente para não recear ser acusado de radicalismo por defender políticas de
bom senso.
A
verdade é que tanto os temas da imigração descontrolada como o do wokismo
demonstram que o centro tem, infelizmente falhado, deixando caminho aberto à
formação e crescimento de movimentos de direita radical como única alternativa
de protesto e resistência. Como escrevi a propósito do resultado das recentes
eleições na Turíngia e na Saxónia (“As
eleições na Alemanha e o centro moribundo”):
“Não será certamente através de proclamações vazias das virtudes do
centro político e de denúncias de papões de “extrema-direita” que o crescimento
das novas forças populistas poderá ser travado. Especialmente quando essas
denúncias têm frequentemente origem em figuras decrépitas e desacreditadas do
regime que se agarram aos seus privilégios (frequentemente obtidos de forma
ilegítima) ao mesmo tempo que pregam as virtudes da moderação, da sobriedade e
da austeridade (para os outros).”
Declarações como as de António
Leitão Amaro e Carlos Moedas são positivas e devem ser elogiadas mas precisam
de ser concretizadas em acções concretas e eficazes para que o centro recupere
a sua vitalidade. Enquanto os
protagonistas do centro político continuarem reféns do politicamente correcto
erigido pela esquerda radical e temorosos de serem acusados de ser de
“extrema-direita”, o campo continuará aberto para que os movimentos de direita
radical e populista cresçam. Só oferecendo respostas concretas e eficazes para
os problemas reais das pessoas — e sem temor das estratégias de intimidação da
esquerda radical — será possível travar esse crescimento.
COMENTÁRIOS (de 35)
observador censurado: "Enquanto os protagonistas do centro político
continuarem ... Só oferecendo respostas concretas e eficazes para os problemas
reais das pessoas — e sem temor das estratégias de intimidação da esquerda
radical — será possível travar esse crescimento." Os quatro factos seguintes resumem as "respostas
concretas e eficazes para os problemas reais das pessoas" dos
"protagonistas do centro político" nos últimos 50 anos: Facto 1: Nos últimos 50 anos, Portugal foi governado ou pelo
Partido Socialista (PS) ou pela sua filial, Partido Socialista Dois (PSD). Facto 2: Nos últimos 50 anos, PS e PSD tiveram sempre a
esmagadora maioria dos 230 deputados, cerca de 100 deputados cada. Facto 3: Há 38
anos, suecos e holandeses despejam, ininterruptamente, biliões de Euros em
Portugal. Facto 4:
Cerca de 50 por cento dos portugueses são pobres. O "centro político" criou um Estado
fantasma para os contribuintes pagarem,
constituído por centenas de entidades que não prestam qualquer serviço aos
contribuintes. O Estado
fantasma foi a forma que o "centro político" engendrou para
enriquecer à custa dos contribuintes e perpectuar-se no poder, devido à
distribuição de empregos no Estado fantasma. Após 50 anos,
o autor vai continuar sentado à espera de "respostas" do
"centro político" ou vai pegar numa marreta e começar a demolir o
Estado fantasma que o "centro político" criou? João Floriano: Uma coisa é constatar o óbvio, outra coisa é
concretizar os resultados dessa constatação. Neste momento estamos na
primeira fase: constatamos o óbvio mas ainda são muito tímidas as
iniciativas para limpar o wokismo da nossa sociedade. A CS continua
dominada por tristes figuras que defendem por vezes de forma ridícula o
politicamente correcto, o mesmo acontecendo com os políticos. Visto à
distância o facto de a ministra da Juventude aqui há semanas ter estado no
centro da polémica das «pessoas que menstruam» parece agora cada vez mais
ridículo. Mas prova-se que o wokismo está instalado nos gabinetes
governamentais e assusta muita gente. As coisas chegam muito atrasadas a
Portugal, como quando nas aldeias mais remotas, os jornais chegavam com uma
semana de atraso. Há motivos para pensar que entre nós o wokismo ainda
vai resistir. Mas certamente lá chegará o tempo em que se falará dos que agora
o defendem como de quem há anos pertencia ao MRPP: velhas relíquias
esquecidas na memória colectiva e alvo de anedotas. Mas até lá os estragos
ainda vão ser muitos. O próximo golpe wokista vai ter a ver com o prolongamento dos
prazos para o aborto a pedido. Espere-se até passar esta trapalhada
absurda do orçamento e aí teremos as bloquistas e Isabel Moreira nos Primetimes a convencer-nos que
os direitos das mulheres são o mais importante. Os direitos e os votos, porque
os fetos não votam.
João Floriano > Fernando ce: E pode dizer-nos quem é o centro-direita em Portugal neste momento?
Parece-me que o espaço está vazio. O PSD é neste momento um partido de
centro-esquerda e o CHEGA é de direita. Quem está no centro-direita? Manuel Lisboa: A propósito: note-se o
desplante das críticas da esquerda à Câmara Municipal de Lisboa por ter dado
condições de vida mais adequadas e salubres a pessoas que viviam em tendas, há
bastante tempo, num largo lisboeta. De repente, gente que vivia da denúncia da
miséria ficou desempregada. Chocante o miserabilismo de socialistas,
bloquistas, comunistas e outros. E, evidentemente, a imigração desordenada é perigosa. Insiste-se: os
estados têm todo o direito de não querer toda a gente que pretenda,
eventualmente, entrar nos respectivos territórios. A humanidade obriga respeito
pelas pessoas, quer dos naturais quer dos imigrantes, implicando equilíbrio, leis,
regulamentações claras e serviços eficientes a aplicá-las, tendo sempre
presente que os imigrantes são pessoas, merecedoras de respeito. M Vicente: Nada como, finalmente, arrancar
a construção da mesquita na Mouraria, bem no centro da praça e executada com
dinheiro público -SEIS MILHÕES de eurinhos- para revitalizar ao centro de
Lisboa! Força nisso de revitalizar a cidade, rumo ao Islão. E não
deixa de ser irónico, mesmo "nas barbas" do castelo de S. Jorge. António Fernandes: Esse partidos da extrema
esquerda representam 694 mil votantes num universo de 6 milhões ... e QUEREM
impor regras( para alimentar associações xulas do sistema comunó-esquerdalho
fascistas). bento
guerra: A questão é a de que, se essas posições viessem do Chega, não faltaria o
coro de papagaios, ditos jornalistas, a clamar contra o racismo e e xenofobia. A
questão da imigração é central em toda a Europa, excepto na cabecinha da
esquerda portuguesa
Meio Vazio: Curiosa posição, a deste croneiro. As mesmíssimas cautelas/alertas/reservas
serão "sensatas", se vindas do centro, mas "extremistas",
se sugeridas pela direita. Para ilustração de "ad hitlerum" nem está
mal.
Carminda Damiao: As pessoas estão a ficar fartas do politicamente correto e do wokismo.
Finalmente veio o partido Chega dar voz a essas pessoas e por isso o apelidaram
de racista, xenófobo, etc. Finalmente estão a abrir os olhos e ver que esses
problemas existem mesmo e já não dá mais para esconder. Na hora de votar é bom que as pessoas vejam de que
lado está a razão. O partido Chega é um partido de
direita e não de extrema-direita.
João Ramos: O wokismo é a prova provada da
decadência e da falta de temas da extrema- esquerda que por estranho que pareça
tem vindo a contaminar a esquerda moderada possivelmente pelas mesmas razões e também
grande parte do chamado centro-direita que por complexos de esquerda e falta de
coragem também têm vindo estupidamente a ceder nesse sentido, o resultado é
como muito bem diz o articulista o crescimento de partidos mais à direita e com
coragem para enfrentar essa decadência… o último parágrafo deste artigo é uma
réstia de esperança, assim haja coragem e discernimento para o centro direita
começar a actuar, tenho infelizmente dúvidas!!! John Doe: A berraria da Esquerda Radical
e das ONG's parasitárias do costume já era esperada e deve ser ignorada. Agora
não basta apontar o caminho a seguir: é preciso começar a trilhá-lo, mesmo. Maria Gomes: Infelizmente a IL, após a saída de Cotrim, meteu a pata na poça quando
decidiu afirmar-se tão de esquerda como o BE em matéria de costumes. Desperdiçou uma
oportunidade de mostrar que se pode ser liberal nos costumes e manter-se
afastado do fanatismo e estatismo deste partido. Está a pagar caro a
desconfiança que criou nos eleitores. Rui Rocha parece ter-se afastado desses
delírios wokistas mas nunca fez mea culpa. O partido precisa de
clarificar/corrigir a sua posição nessa matéria. O wokismo é uma ameaça que põe
em causa a nossa cultura e o liberalismo. Paulo Almeida > observador censurado: Pois claro. É uma utopia
fazer-se crónicas sobre o péssimo estado do país e querer que sejam os mesmos
que o estragaram a compô-lo. Quando não sabes, sai da frente e deixa os outros.
Simples. E estas medidas do PSD é só para dar nas vistas e tentar ir buscar
eleitorado ao Chega, começando a fazer o que deviam ter feito na imigração. Recordo
que há vários meses houveram vários projetos-lei do Chega para conter a
imigração. PSD não votou a favor de nenhum. Seguindo a mesma lógica do PCP. Se
é do Chega vota contra.
Inclusivé o mais surreal foi o projecto-lei para
limitar o nº de atestados de residência para uma casa. Chumbado. Fernando ce: Muito bem. Ou o centro direita
assume as bandeiras anti imigração descontrolada e do anti wokismo ou será tragado
pela direita radical. I G: Mérito ao André Ventura. Antonio Bentes: Não concordo com este artigo. O que está a mudar na Europa é os Governos
estarem mesmo a começar a ficar assustados com o descontrolo verificado
em muitos países, principalmente da Europa Ocidental. O escancarar de portas
feito por Angela Merkel foi catastrófico. Lembro-me perfeitamente que
Merkel, obrigou todos os países a receberem centenas de milhares ou mesmo
milhões de emigrantes vindos da Síria e arredores. A Europa há já muito tempo
estava a rebentar pelas costuras e depois de 2015 foi o que se viu. Violência,
atentados diários, violações, recusa a aderir à civilização judaico/cristã,
etc, etc. As populações começam agora a contestar e a estar realmente
preocupadas. Até agora governos e comunicação social minimizaram as situações
de violência. Mas já não dá para disfarçar. Assim, os governos finalmente estão
a começar a tentar resolver alguma coisa. Assim, não concordo mesmo que as
posições do Governo Português e de Moedas estejam de alguma forma ligadas a
movimentos radicais como o Chega, mas sim porque realmente a Europa está em
perigo. PS: ainda muito irá ser dito sobre a governação de Merkel. A sua
ligação à Rússia, a sua falta de apoio à Ucrânia e esta história dos
refugiados. Até agora apenas um silêncio sepulcral. Nuno Abreu: Só uma nota. Como pode o articulista
esquecer o papel de João
Pedro Marques no combate ao wokismo ao referir isto: O tema do wokismo tem sido brilhantemente analisado entre nós por uma outra
colunista do Observador – Patrícia
Fernandes – e não tenciono neste espaço desenvolver uma análise aprofundada do
tema. Carlos Chaves: Caro André Azevedo Alves,
receio que o problema da imigração descontrolada e de portas abertas que o
“António Leitão Amaro acusa mesmo o governo de António Costa de ter deixado um
grave problema por resolver na imigração em Portugal”, se tornou tão grave, que
já não vai lá com paninhos quentes!
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