Cada vida é um caso sui generis,
dependendo de imposições ou disponibilidades, deixando recordações de maior ou
menor vínculo pessoal. Daí o surgimento de memórias e de histórias, nem sempre
resultantes da capacidade apenas criativa, mas tendo como pano de fundo vivências
de tristezas ou alegrias ou conceitos pessoais, segundo a educação recebida ou a
psicologia própria e a capacidade de transpor isso muitas vezes em arte. Os
costumes evoluem, cada espaço mundano difere nos hábitos e nas pessoas e nos comportamentos,
o hoje distante do ontem, e não necessariamente em termos de positividade. Mas os
sucessores saberão adaptar-se, como em todo o sempre, as dificuldades de cada
geração sendo talvez amenizadas pelas descobertas tecnológicas da evolução
contínua.
Mas de facto, jamais me lembraria de
chamar vil a um programa escolar. cujo objectivo é contribuir para a própria
realização pessoal dos filhos do nosso amor, a que, naturalmente, o estudo, e
não só o brinquedo, traz a possibilidade de o vir a desempenhar com maior
domínio próprio.
Vivências de uma sociedade actual… desactualizada
O desafio das gerações futuras será
equilibrar todo este circuito que nunca pára. Como tomar as rédeas da nossa
vida sem que a sociedade nos imponha os seus estereótipos, vieses e
julgamentos.
GISELA FERREIRA Mestre
em Engenharia Biomédica pela FEUP, mestre em gestão pela UCP
OBSERVADOR, 01 out. 2024, 00:08
No
tempo da minha avó a sua função era cuidar da casa, do campo e da educação da
filha e crianças da família. A minha mãe teve outro rumo, e só após o casamento
teve possibilidades financeiras de frequentar um curso superior. Eu fui uma
privilegiada, apesar da ausência da mãe que por virtude da profissão era
“colocada” longe de casa, fui criada pela minha avó, e pela natureza de um
campo feliz e ávido de coisas para descobrir.
A minha filha não tem a mesma sorte,
apesar de viver no campo a carga horária da escola ocupa todo o dia, e a avó
ainda trabalha pelo que ninguém tem a disponibilidade necessária para as suas
vivências de uma criança livre e exploradora. Será o vil programa escolar, que tem de ser cumprido, a maior das
prioridades? Será a carga horária a adequada? Se a Inteligência artificial vai
realizar muitas das nossas tarefas, não deveríamos investir noutro tipo de
valências? Não serão as componentes sociais que nos farão distinguir
da tecnologia e acrescentar valor no futuro das organizações? Que atenção damos
a estas competências nas escolas e nos lares de Portugal? Porque se ensina empatia nas escolas da
Dinamarca há mais de 20 anos? Porque é que a Dinamarca é um dos países mais
felizes do mundo?
Como serão as próximas gerações de
mulheres portuguesas? E as próximas gerações de homens portugueses? De acordo
com o estado da arte, e em concordância com minha experiência, somos aquilo que
trazemos nos nossos genes (genética), mas sobretudo o contexto onde nos
encontramos (epigenética): a forma
como somos educados, as regras, os sentimentos, os valores que nos incutem…
E será esse contexto a levar-nos ao abismo ou ao sucesso. Actualmente, segundo
o último relatório global da Gallup, na Europa apenas 13% dos
colaboradores estão comprometidos com o seu trabalho, e avaliando a sua vida de forma geral,
mais de metade das pessoas empregadas estão com dificuldades em geri-la ou
estão mesmo em sofrimento. De facto, e comparando a vida da minha avó e a
minha, tenho a sensação que os meus níveis de cortisol (hormona do stress)
estabilizaram nos píncaros. Desde que abro os olhos que estou/estamos
em contra-relógio para o trabalho, para ir buscar os miúdos, para os levar à
piscina, para lhes dar banho, para fazer o jantar, para engolirem o jantar e
rapidamente irem descansar! (Ufa! Até escrever isto cansou!) Quando era criança
lembro-me de a minha avó andar de pijama e estava tudo bem.
Penso que este será o desafio das
gerações futuras, como equilibrar todo este circuito que parece nunca parar?
Como tomarmos as rédeas da nossa vida sem que a sociedade nos imponha os seus
estereótipos, vieses e julgamentos?
Antes de mais, cada um de nós deve
encontrar um propósito na sua vida e no seu trabalho, uma vez que metade do
nosso tempo, acordados, é passado a trabalhar: ser feliz no local de trabalho
deve ser algo disseminado e aclamado por todos. Um dos principais factores da
longevidade e, longevidade com saúde, é o denominado “ikigai”, ou seja, termos
um propósito, sabermos exactamente o que estamos a fazer e para o que
contribuímos como membros da sociedade! Acho muitas vezes, que uma vez mais
falhamos no planeamento, naquilo que queremos, como queremos e como vamos
chegar lá, e para isso é preciso parar e utilizar o tempo! Aquele
recurso que é o mais justo e democrático, aquele que é igual para todos, e
aquele que usamos como bem entendemos! Citando Tolentino de Mendonça: “Os
nossos relógios nunca dormem. Quantas vezes o tempo é a nossa desculpa para
desinvestir da vida, para perpetuar o desencontro que mantemos com ela? Como não temos diante de nós os séculos,
renunciamos à audácia de viver plenamente o breve instante”. E
consumimos desenfreadamente um recurso único, do qual poderíamos ter pleno
controlo!
O Observador associa-se à
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dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo
representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.
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