Na senda crítica, sempre engalfinhados uns contra os
outros, exibicionistas de trampolim.
Pirómanos políticos
O Chega alinha com o corporativismo e
nacional-sindicalismo da Itália de 1920, O Bloco de Esquerda procura o seu
George Floyd português, e cujo único auto de fé possível passa pela revolução
redentora
MÁRIO AMORIM LOPES Professor universitário e investigador. Membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal e deputado na Assembleia da República
OBSERVADOR, 30
out. 2024, 00:1729
Ainda o corpo de Odair Moniz não havia
chegado à morgue e já as redes sociais serviam de antecâmara para o triste
espetáculo que teria lugar nos dias seguintes na câmara da Assembleia da
República. Uma tragédia pronta a ser
explorada politicamente, onde não se procura o rigor dos factos, apenas
incendiar paixões e ódios. Uma morte pronta a ser cavalgada por quem vive única
e exclusivamente de terra queimada.
O pouco que realmente sabemos: sabemos
que Odair Moniz fugiu de uma rusga e abalroou carros, que isto ocorreu num
bairro onde armas e drogas abundam e o crime é uma realidade, não uma
estatística — bairros que os bem-pensantes visitam apenas em peregrinações
eleitorais. Sabemos ainda que
Odair era negro e o agente que o abateu é branco, mas desconhecemos o que se
passou ao certo: faltam-nos detalhes, os testemunhos são vagos e os
julgamentos, por enquanto, incertos. Pergunta o leitor ponderado:
foi o acto do polícia excessivo ou inevitável? Havia alternativa a deixar três
filhos e uma mulher sem pai? O que o Odair fez justificou a sua morte?
Perguntas ponderadas que não têm lugar no palanque, lança-chamas
retórico para partidos extremistas. O veredicto já foi tomado. O Chega aplaude o polícia como herói e propõe condecoração
profilática. Solução para a criminalidade? “É disparar mais a
matar”, brada o parlamentar. No outro extremo, distante na geometria parlamentar mas justaposto
no radicalismo, o Bloco de Esquerda verte querosene na luta racial, conclui que
se trata de mais uma vítima de racismo e abuso, que mais não são do que
excrescências do capitalismo. Em cada evento um opressor e um oprimido.
Tocam ambos a mesma música
fúnebre. O Chega alinha com o corporativismo e nacional-sindicalismo da Itália
de 1920, patente na Carta de Carnaro, procurando cativar classes profissionais.
O Bloco de Esquerda procura o seu
George Floyd português, defunto a ser usado para expor a estrutural social que
enreda e apouca, e cujo único auto de fé possível passa pela revolução redentora
que vergará o racismo e, mais importante ainda para os próprios, o capitalismo.
Enfim. Estes dois inflamadores de paixões, de diferentes formas,
cometem o mesmo pecado capital: ignoram o Homem enquanto agente, falível e singular,
reduzindo-o a uma peça no quadro sociológico ora da opressão e do poder
vigente, ora da decadência moderna e liberal. Para
uns, porque o criminoso mais não é do que uma vítima da classe dominante,
classe esta que usa o apparatus do Estado, a lei e as forças
policiais, para assegurar a sua propriedade e para oprimir os restantes.
Para outros, porque o criminoso é um
produto da sociedade moderna decadente, e só a firmeza da autoridade e da
disciplina do Estado, mesmo que a custo dos direitos individuais, pode
reestabelecer a ordem colectiva.
Uma voz menos extremada, esquecida na
algazarra, deverá propor três pontos de reflexão sobre o
tema. Primeiro, que
se evitem os discursos inflamados que apenas agravam o que já é
grave e que despoletam ainda mais revolta social (assumindo que essa não é uma
intenção deliberada, hipótese que não pode ser descartada). Segundo, que o Estado mantenha a ordem e a paz,
defendendo as forças de autoridade, sim, mas nunca subjugando as liberdades
individuais. Um Estado que ignora o cidadão trai-o, mas um
Estado que ignora o crime trai todos os cidadãos. Em terceiro lugar, que o Estado acuda àqueles que nasceram
num contexto difícil, dando-lhes a oportunidade e a esperança de escaparem à
sua sina socioeconómica.
Parafraseando Ortega y Gasset, nós somos nós e as nossas circunstâncias
– nem o crime é apenas resultado das estruturas existentes e da sociedade, nem
é só opção do indivíduo. Há sempre opção, mas há que a facilitar.
EXTREMISMO SOCIEDADE PROTESTOS
COMENTÁRIOS (de 29)
Tim do A: A IL é mais um partido Woke,
por isso não descola nas sondagens. Na economia é melhor. Mas desiludiu ao ser
favorável à expansão brutal do número de freguesias. E extremista é o mundo
Woke da IL que está na destruir a família, a cultura, os valores, a sociedade e
as nações. observador censurado: Terceira Lei de Newton (LN): “A toda a acção há sempre
uma reacção oposta e de igual intensidade: as acções mútuas de dois corpos
um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos.” 1. O papel do
Chega na LN O Chega, como o próprio nome indica, é uma reacção ao plano
inclinado para a "esquerda" em que se tornou a política portuguesa,
ao ponto de deputados do CDS e do PSD se sentirem felizes por serem aplaudidos
pela UDP/PSR. Salvo melhor opinião, no universo, os vazios são sempre preenchidos.
Assim, cerca de 1.5 milhões de cidadãos já vieram responder a esse vazio, de
forma suave, através do voto. No passado, quando a UDP/PSR agiu no sentido de
promover manifestações para atacar os valores do ocidente, ninguém se dignava reagir
para preencher o vazio. Adiar o preenchimento dos vazios é má política porque,
futuramente, a reacção será mais violenta. 2. O papel da IL na LN O que
teria acontecido se o Chega não tivesse reagido agora à UDP/PSR? Teria vindo a
IL "socorrer" a LN e preencher o vazio? Infelizmente, parece que a
IL reservou para si um papel mais secundário, o de reagir às reacções do Chega. Ruço
Cascais: Uma opinião muito mainstream que não traz nada de novo. Todos os
comentadores das televisões têm dito a mesma coisa. Essa ladainha já foi
repetida nos últimos dias mais de mil vezes. Faz-me lembrar as corridas de ciclismo,
quando, já todos pensávamos que o pelotão tinha passado e aparece mais um
ciclista lá ao fundo que tinha ficado para trás. Podias ser o tal ciclista
vassoura, mas, fazias umas macacadas para animar a malta, uns cavalinhos com a
bicicleta, um esgare como se estivesses a ter um ataque de coração, algo que
trouxesse alguma coisa de novo e atraísse as simpatias do público. Por exemplo:
os pirómanos aproveitaram o estado sujo da floresta para atearem os fogos. Era
previsível que os pirómanos aparecessem porque os guardas da floresta diziam
que ela estava limpa. A geringonça deixou ou não quis ver crescer o lixo na
floresta e o PSD prefere também não ver a sujidade. Também podias falar
sobre a manifestação do Vida Justa e dissertares sobre a evidente mensagem do
ELES e NÓS. Ninguém pega neste novo apartheid que se começou a instalar. O que
é isto de ELES e NÓS? Isto tem cabimento na sociedade portuguesa? Isto
interessa a alguém? Sim, interessa. Infelizmente existem forças
políticas em Portugal da esquerda radical e novas associações ligadas às
diferenças de raças que precisam do racismo como do pão para a boca. Há
muito por onde pegar, preferiste o copypast. João
Floriano: O texto é muito interessante. Analisa as reacções dos extremos: BE e CHEGA.
Omite completamente o que PSD, CDS e PS como partidos fizeram. E tem mesmo de
omitir porque o centrão não fez rigorosamente nada. Calaram-se. O PS porque
está cheio de culpas até ao pescoço, sobretudo por ser responsável pela
geringonça e por políticas erradas e lachistas sobre prevenção do crime.
Venderam e ainda vendem até à exaustão a ideia que somos dos paises
mais seguros do mundo, o que até pode ser provado estatisticamente, mas já não
somos um país seguro. O PSD ficou tolhido porque é o partido do governo
e qualquer passo em falso pode prejudicar um governo minoritário e isolado. Se
age de forma musculada e impõe autoridade é associado ao CHEGA. Se vacila,
então é colado à esquerda. Restam portanto as franjas. Carlos
Guimarães fez um discurso bonito, mereceu até grande destaque da cronista
Helena Garrido, mas não passa mesmo disso: um discurso bonito que não vai
impedir que os moradores de Benfica tenham insónias a pensar se de manhã
ainda terão carro. Esta crónica é interessante também pela
intenção do seu autor: de mansinho está a procurar aliciar o eleitorado do
Bloco, já que a IL é woke nos costumes e ao mesmo tempo mostrar-se aos
eleitores do CHEGA, já que sendo liberal na economia, é supostamente de direita
nessa área. Parece-me que a mensagem da IL não está a chegar aos
eleitores. A mais recente sondagem feita pela Universidade Católica ainda antes
dos distúrbios e cujos resultados foram publicados neste jornal a 28 de
outubro, mostra que a IL desceu de 7 para 6% nas intenções de voto. João Das
Regras: E por tudo o
que dizes, a IL apoia e até incentiva a imigração desregulada dos PALOPS
através dessa ficção que é a "Livre circulação CPLP” que na verdade só
funciona num sentido a entrada facilitada de mais de 280 milhões de pessoas na
Europa através de Portugal. Teremos cada vez mais episódios destes e africanos
e brasileiros a reclamarem mais apoios, mais casas, mais subsídios, e uma
minoria a ser afogada em impostos para pagar a festa. Parabéns. Rui Lima: O bairro é o local perfeito para o negócio e o
negócio é a segurança das autoridades, acontece em Portugal o que já aconteceu
em França os confrontos terminaram por ordem dos traficantes de droga, porque
deixaram de fazer negócio, ou seja eles têm também o estado na mão na prática
há um acordo tácito eles garantem a paz e em troca não são incomodados. bento
guerra: Mais um "analista"
a atacar o Chega, deturpando factos e em conversa histérica. Ficou, mais uma
vez, provado que o Chega é necessário como crítico e contraditório da missa
política dos que mamam do "sistema" Tim do A Tim do A: Na
verdade, como é que a IL, o partido melhor de todos na economia, alinha no
aumento brutal do Estado ao ser favorável ao brutal aumento do número de
freguesias? Até a IL! Dá vontade de dizer: até tu, Brutus! Realmente Portugal é
mesmo um país socialista. Disso parece que não se safa nenhum partido. Uma
tristeza. Vamos continuar a ser pobres. V M
Batista: Este tipo do
Príncipe Real dá razão ao Chega nesta sua oração, tem que olhar mais para
aquilo que diz, porque os problemas são bem reais e não se compadecem com
exercícios wokistas de retórica.
afonso moreira: Houve
pirómanos políticos, sim, e muitos pirómanos comentadores e jornalistas. E
aqueles (quem? - aqueles que terão alguma guerrinha surda com a PSP) e que
"largaram" aquela informação, no pior momento, de que o cidadão não
tinha nenhuma arma. Pelos vistos, informação ainda não confirmada, mas que foi
gasolina no incêndio.
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