quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Continuando


Na senda crítica, sempre engalfinhados uns contra os outros, exibicionistas de trampolim.

Pirómanos políticos

O Chega alinha com o corporativismo e nacional-sindicalismo da Itália de 1920, O Bloco de Esquerda procura o seu George Floyd português, e cujo único auto de fé possível passa pela revolução redentora

MÁRIO AMORIM LOPES Professor universitário e investigador. Membro da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal e deputado na Assembleia da República

OBSERVADOR, 30 out. 2024, 00:1729

Ainda o corpo de Odair Moniz não havia chegado à morgue e já as redes sociais serviam de antecâmara para o triste espetáculo que teria lugar nos dias seguintes na câmara da Assembleia da República. Uma tragédia pronta a ser explorada politicamente, onde não se procura o rigor dos factos, apenas incendiar paixões e ódios. Uma morte pronta a ser cavalgada por quem vive única e exclusivamente de terra queimada.

O pouco que realmente sabemos: sabemos que Odair Moniz fugiu de uma rusga e abalroou carros, que isto ocorreu num bairro onde armas e drogas abundam e o crime é uma realidade, não uma estatística — bairros que os bem-pensantes visitam apenas em peregrinações eleitorais. Sabemos ainda que Odair era negro e o agente que o abateu é branco, mas desconhecemos o que se passou ao certo: faltam-nos detalhes, os testemunhos são vagos e os julgamentos, por enquanto, incertos. Pergunta o leitor ponderado: foi o acto do polícia excessivo ou inevitável? Havia alternativa a deixar três filhos e uma mulher sem pai? O que o Odair fez justificou a sua morte?

Perguntas ponderadas que não têm lugar no palanque, lança-chamas retórico para partidos extremistas. O veredicto já foi tomado. O Chega aplaude o polícia como herói e propõe condecoração profilática. Solução para a criminalidade? “É disparar mais a matar”, brada o parlamentar. No outro extremo, distante na geometria parlamentar mas justaposto no radicalismo, o Bloco de Esquerda verte querosene na luta racial, conclui que se trata de mais uma vítima de racismo e abuso, que mais não são do que excrescências do capitalismo. Em cada evento um opressor e um oprimido.

Tocam ambos a mesma música fúnebre. O Chega alinha com o corporativismo e nacional-sindicalismo da Itália de 1920, patente na Carta de Carnaro, procurando cativar classes profissionais. O Bloco de Esquerda procura o seu George Floyd português, defunto a ser usado para expor a estrutural social que enreda e apouca, e cujo único auto de fé possível passa pela revolução redentora que vergará o racismo e, mais importante ainda para os próprios, o capitalismo.

Enfim. Estes dois inflamadores de paixões, de diferentes formas, cometem o mesmo pecado capital: ignoram o Homem enquanto agente, falível e singular, reduzindo-o a uma peça no quadro sociológico ora da opressão e do poder vigente, ora da decadência moderna e liberal. Para uns, porque o criminoso mais não é do que uma vítima da classe dominante, classe esta que usa o apparatus do Estado, a lei e as forças policiais, para assegurar a sua propriedade e para oprimir os restantes. Para outros, porque o criminoso é um produto da sociedade moderna decadente, e só a firmeza da autoridade e da disciplina do Estado, mesmo que a custo dos direitos individuais, pode reestabelecer a ordem colectiva.

Uma voz menos extremada, esquecida na algazarra, deverá propor três pontos de reflexão sobre o tema. Primeiro, que se evitem os discursos inflamados que apenas agravam o que já é grave e que despoletam ainda mais revolta social (assumindo que essa não é uma intenção deliberada, hipótese que não pode ser descartada). Segundo, que o Estado mantenha a ordem e a paz, defendendo as forças de autoridade, sim, mas nunca subjugando as liberdades individuais. Um Estado que ignora o cidadão trai-o, mas um Estado que ignora o crime trai todos os cidadãos. Em terceiro lugar, que o Estado acuda àqueles que nasceram num contexto difícil, dando-lhes a oportunidade e a esperança de escaparem à sua sina socioeconómica.

Parafraseando Ortega y Gasset, nós somos nós e as nossas circunstâncias – nem o crime é apenas resultado das estruturas existentes e da sociedade, nem é só opção do indivíduo. Há sempre opção, mas há que a facilitar.

EXTREMISMO     SOCIEDADE     PROTESTOS

COMENTÁRIOS (de 29)

Tim do A: A IL é mais um partido Woke, por isso não descola nas sondagens. Na economia é melhor. Mas desiludiu ao ser favorável à expansão brutal do número de freguesias. E extremista é o mundo Woke da IL que está na destruir a família, a cultura, os valores, a sociedade e as nações.     observador censurado: Terceira Lei de Newton (LN): “A toda a acção há sempre uma reacção oposta e de igual intensidade: as acções mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas em sentidos opostos.1. O papel do Chega na LN O Chega, como o próprio nome indica, é uma reacção ao plano inclinado para a "esquerda" em que se tornou a política portuguesa, ao ponto de deputados do CDS e do PSD se sentirem felizes por serem aplaudidos pela UDP/PSR. Salvo melhor opinião, no universo, os vazios são sempre preenchidos. Assim, cerca de 1.5 milhões de cidadãos já vieram responder a esse vazio, de forma suave, através do voto. No passado, quando a UDP/PSR agiu no sentido de promover manifestações para atacar os valores do ocidente, ninguém se dignava reagir para preencher o vazio. Adiar o preenchimento dos vazios é má política porque, futuramente, a reacção será mais violenta. 2. O papel da IL na LN O que teria acontecido se o Chega não tivesse reagido agora à UDP/PSR? Teria vindo a IL "socorrer" a LN e preencher o vazio? Infelizmente, parece que a IL reservou para si um papel mais secundário, o de reagir às reacções do Chega.                   Ruço Cascais: Uma opinião muito mainstream que não traz nada de novo. Todos os comentadores das televisões têm dito a mesma coisa. Essa ladainha já foi repetida nos últimos dias mais de mil vezes. Faz-me lembrar as corridas de ciclismo, quando, já todos pensávamos que o pelotão tinha passado e aparece mais um ciclista lá ao fundo que tinha ficado para trás. Podias ser o tal ciclista vassoura, mas, fazias umas macacadas para animar a malta, uns cavalinhos com a bicicleta, um esgare como se estivesses a ter um ataque de coração, algo que trouxesse alguma coisa de novo e atraísse as simpatias do público. Por exemplo: os pirómanos aproveitaram o estado sujo da floresta para atearem os fogos. Era previsível que os pirómanos aparecessem porque os guardas da floresta diziam que ela estava limpa. A geringonça deixou ou não quis ver crescer o lixo na floresta e o PSD prefere também não ver a sujidade. Também podias falar sobre a manifestação do Vida Justa e dissertares sobre a evidente mensagem do ELES e NÓS. Ninguém pega neste novo apartheid que se começou a instalar. O que é isto de ELES e NÓS? Isto tem cabimento na sociedade portuguesa? Isto interessa a alguém?  Sim, interessa. Infelizmente existem forças políticas em Portugal da esquerda radical e novas associações ligadas às diferenças de raças que precisam do racismo como do pão para a boca.  Há muito por onde pegar, preferiste o copypast.                       João Floriano: O texto é muito interessante. Analisa as reacções dos extremos: BE e CHEGA. Omite completamente o que PSD, CDS e PS como partidos fizeram. E tem mesmo de omitir porque o centrão não fez rigorosamente nada. Calaram-se. O PS porque está cheio de culpas até ao pescoço, sobretudo por ser responsável pela geringonça e por políticas erradas e lachistas sobre prevenção do crime. Venderam e ainda  vendem até à exaustão  a ideia que somos dos paises mais seguros do mundo, o que até pode ser provado estatisticamente, mas já não somos um país seguro. O PSD ficou tolhido porque é o partido do governo e qualquer passo em falso pode prejudicar um governo minoritário e isolado. Se age de forma musculada e impõe autoridade é associado ao CHEGA. Se vacila, então é colado à  esquerda. Restam portanto as franjas. Carlos Guimarães fez um discurso bonito, mereceu até grande destaque da cronista Helena Garrido, mas não passa mesmo disso: um discurso bonito que não vai impedir que os moradores de Benfica tenham insónias  a pensar se de manhã ainda terão carro.  Esta crónica é interessante também pela intenção do seu autor: de mansinho está a procurar aliciar o eleitorado do Bloco, já que a IL é woke nos costumes e ao mesmo tempo mostrar-se aos eleitores do CHEGA, já que sendo liberal na economia, é supostamente de direita nessa área. Parece-me que  a mensagem da IL não está  a chegar aos eleitores. A mais recente sondagem feita pela Universidade Católica ainda antes dos distúrbios e cujos resultados foram publicados neste jornal a 28 de outubro, mostra que a IL desceu de 7 para 6% nas intenções de voto                  João Das Regras: E por tudo o que dizes, a IL apoia e até incentiva a imigração desregulada dos PALOPS através dessa ficção que é a "Livre circulação CPLP” que na verdade só funciona num sentido a entrada facilitada de mais de 280 milhões de pessoas na Europa através de Portugal. Teremos cada vez mais episódios destes e africanos e brasileiros a reclamarem mais apoios, mais casas, mais subsídios, e uma minoria a ser afogada em impostos para pagar a festa. Parabéns.                      Rui Lima: O bairro é o local perfeito para o negócio e o negócio é a segurança das autoridades, acontece em Portugal o que já aconteceu em França os confrontos terminaram por ordem dos traficantes de droga, porque deixaram de fazer negócio, ou seja eles têm também o estado na mão na prática há um acordo tácito eles garantem a paz e em troca não são incomodados.                    bento guerra: Mais um "analista" a atacar o Chega, deturpando factos e em conversa histérica. Ficou, mais uma vez, provado que o Chega é necessário como crítico e contraditório da missa política dos que mamam do "sistema"             Tim do A Tim do A: Na verdade, como é que a IL, o partido melhor de todos na economia, alinha no aumento brutal do Estado ao ser favorável ao brutal aumento do número de freguesias? Até a IL! Dá vontade de dizer: até tu, Brutus! Realmente Portugal é mesmo um país socialista. Disso parece que não se safa nenhum partido. Uma tristeza. Vamos continuar a ser pobres.                    V M Batista: Este tipo do Príncipe Real dá razão ao Chega nesta sua oração, tem que olhar mais para aquilo que diz, porque os problemas são bem reais e não se compadecem com exercícios wokistas de retórica.    afonso moreira: Houve pirómanos políticos, sim, e muitos pirómanos comentadores e jornalistas. E aqueles (quem? - aqueles que terão alguma guerrinha surda com a PSP) e que "largaram" aquela informação, no pior momento, de que o cidadão não tinha nenhuma arma. Pelos vistos, informação ainda não confirmada, mas que foi gasolina no incêndio. 

 

Nenhum comentário: