A timidez dos sem urna ainda, traduz a
sua apetência pela dita e assim se lançam no seu apoio aos que, com direito a
urna, lhes poderão talvez vir um dia a devolver o favor, com urna choruda. Urna
por urna, pois, a Greta até foi caso precoce.
A urna de Taylor Swift
Quase todas as “celebridades” repetem
as mesmas ofensivas trivialidades a propósito, ou a despropósito, dos mesmos
temas. A dissidência, que poucos arriscam, é sumariamente punida com a
excomunhão.
ALBERTO GONÇALVES Colunista
do Observador
OBSERVADOR, 12 out. 2024, 00:221
Há dias, a emissão da CNN
original foi interrompida por uma notícia de última hora: “Bruce Springsteen declara apoio a Kamala
Harris”. “Breaking News”, de
facto. Há pelo menos quarenta anos que Springsteen apoia candidatos
democratas, e deve ter sido um dos dezassete ou dezoito americanos que, em
1984, não votaram em Reagan. Não
vale a pena notar que as suas melhores canções, anteriores a 1983 e habitadas
pelos operários brancos que hoje votam principalmente em Donald Trump, serem
agora cantadas para uma audiência capaz de pagar dois mil dólares por um
bilhete (por exemplo na série de concertos na Broadway, em 2017). Com ou sem declaração, era óbvio – e não
notícia – que Springsteen apoiaria a dona Kamala. Ainda que
não fosse óbvio, isso seria notícia porquê?
Ora
essa: porque na América e não só na América se convencionou que as
“celebridades” têm uma palavra “especial” a dizer sobre a actualidade e, em
particular, sobre eleições. Por algum motivo que escapa ao bom senso, há a
crença de que a circunstância de alguém conseguir decorar uns diálogos, entoar
umas cantilenas ou participar num “reality show” lhe confere uma
autoridade superior à dos mortais na discussão do clima, do sistema de saúde ou
dos inquilinos ideais da Casa Branca. Fechadas na redoma do dinheiro fácil e da adulação facílima, inúmeras
“celebridades” convencem-se de que vêem até onde o olhar turvo dos anónimos não
alcança. Eles e elas, sentem-se ungidos.
Ricky Gervais,
uma rara “celebridade” com os pés no chão e a cabeça no lugar, resumiu o
distúrbio na última vez em que o chamaram para apresentar os Globos de Ouro ou
similar entrega de quinquilharias: “Peço
a quem ganhar um prémio esta noite que não o aproveite para fazer discursos
políticos. Vocês não têm capacidade de ensinar nada ao público. A maioria
passou menos tempo na escola que Greta Thumberg. Então, se ganharem, aceitem lá
o premiozinho, agradeçam ao vosso agente e ao vosso Deus e ponham-se a andar, está
bem?” Na ocasião, viu-se na plateia o espanto ou a repulsa de
criaturas habituadas ao privilégio, e desabituadas a que lhes falem assim.
Mas não é apenas uma perturbação
egocêntrica que leva as “celebridades” a divagar acerca do que largamente as
ultrapassa. O
interesse material também pesa. É por isso que, além de nos abençoarem com
as respectivas opiniões, em geral as opiniões tendem a ser idênticas. Quase todas as “celebridades” repetem as
mesmas ofensivas trivialidades a propósito, ou a despropósito, dos mesmos temas.
A dissidência, que poucos arriscam, é sumariamente punida com a excomunhão,
leia-se uma carreira arruinada ou lançada às margens. O “Macarthismo” do século XXI dispensa formalidades. Aconteceu na
Covid, acontece nas questões “identitárias” e raciais, tem acontecido nas
sucessivas “presidenciais”, em que do lado republicano concorre inevitavelmente
o pior ser humano desde Vlad, o
Empalador, e
do lado democrata um portento qualquer. Em 2024, como em 2020 e em 2016, o pior ser humano desde Vlad, o Empalador é Trump, o Pantomineiro. E o portento é a
dona Kamala,
que de finais de Julho para cá angariou a veneração súbita e explícita de
99,97% das figuras do espectáculo, receosas de que a sua virtude não ficasse
devidamente assinalada.
Em nome do rigor, informo que a
“celebridade” alegadamente decisiva nas eleições do mês que vem não é
Springsteen nem nenhum vulto de Hollywood, e sim Taylor Swift, cançonetista
que possui quatrocentos triliões de devotos nas “redes sociais”. Por sorte, e alguma habilidade, nunca a ouvi
cantar. Parece-me, e é mera impressão, que o devoto médio da moça ronda, física ou mentalmente, os sete anos,
pormenor que não impede o frenesim em volta do apoio da menina Swift à dona
Kamala. Exacto: após “pesquisar” (sic) imenso, talvez no TikTok, a
popular artista resolveu doar o seu cobiçado voto à “guerreira” (sic outra vez) que substituiu o pobre
Joe Biden. As empresas de sondagens, atentas, andam a medir com afinco
o peso de semelhante opção nos resultados de Novembro. Será que
a menina Swift pode escolher o próximo presidente dos EUA?
À primeira vista, a hipótese
assusta. À segunda, nem tanto. Por muito que muitos estudem o assunto, a
verdade é que as conclusões são contraditórias ou nulas. Para não recuar até
Sinatra ou Streisand, o caso “clássico” contemporâneo é o de Oprah
Winfrey, cuja recomendação teoricamente ajudou à vitória de Obama em 2008.
Porém, na prática não ajudou Hillary
em 2016. O mais provável é que
o apoio das “celebridades” favoreça o candidato que a maioria dos eleitores
obscuros já pretendia eleger – ou seja, que não sirva para nada, excepto para
as “celebridades” recordarem às massas que existem, afagarem o próprio ego e
exibirem um bom e terno coração. Perversões à parte, convém puxarmos
do optimismo e acreditar que o cidadão anónimo despreza os esforços de
“celebridades” tontinhas e acaba por votar em liberdade e consciência no
tontinho que entender. Ou na tontinha.
TAYLOR
SWIFT CELEBRIDADES LIFESTYLE ELEIÇÕES
EUA ESTADOS
UNIDOS DA AMÉRICA AMÉRICA MUNDO
COMENTÁRIOS:
Pedra
Nussapato: Huuhhh...Alberto, o Ricky
Gervais estava a fazer humor à Ricky Gervais! Humor: conhece a sensação?!
Alguém me indica onde posso encontrar o artigo equivalente que AG escreveu
quando Elon Musk anunciou o seu apoio a Trump? Entretanto fui procurar que
outras pessoas "super-conhecidas" manifestaram o seu
"endorsement" a Trump; reconheci o nome do pai da Angelina Jolie. O
resto eram jogadores de um ou outro desporto de que só os americanos gostam e
umas quantas "estrelas" do TikTok. Percebo a azia do Dr AG... Manuel Martins: Caro cronista, infelizmente o apoio dos " artistas " não é
tão inócuo como indica. Para uma parte de cidadãos, que não se
interessam ou percebem de política, o voto vale pouco, e oferecem-no
facilmente ao seu ídolo, como sinal de devoção e comunhão. Mas atenção
que, na maioria das vezes, se trata de um apoio não ideológico mas
interessado: em Portugal, apoiar um certo partido garante trabalho nas
festas municipais... Alexandre
Barreira: Ah grande AG, Agora fez lembrar o outro: - É pá vem aí
um grande filme. - Qual é? - Brevemente....!!! José B Dias: Vi recentemente declarações do escritor argentino
Agustin Laje quanto ao hábito da tribo da "cultura" alinhar
maioritariamente à canhota. Fizeram-me sentido tal como me fez agora Alberto
Gonçalves. PS: Sem
surpresa o texto despoletou de imediato surtos de TDS ... F. Mendes: Interessante, e bem escrito. Mas, mais uma vez
parece-me haver aqui algum desperdício do talento do articulista. Não penso
que este seja um tema que interesse a mais de 17 ou 18 pessoas, curiosamente o
mesmo número citado pelo AG neste artigo. Já nos chega tropeçar nestas
celebridades quando temos o azar de não mudar de canal a tempo. Agora, tropeçar
neste tema aqui, já é azar a mais! Antonio
Serrano: Que texto
mais sem pés nem cabeça! De vez em
quando o extremismo de AG vai além do razoável. Hoje, conduziu sem travões?! Ruço Cascais: Fonix, piraste de vez Oh Gonçalves. “Atão” agora
mandaste-te com unhas e dentes ao Bruce Springsteen e a Hollywood de um modo
geral só porque eles apoiam a Harris. Já percebi que não ouves o teu
conterrâneo Pedro Abrunhosa só porque ele é comuna. Nem vês o RAP aos domingos
à noite nem telenovelas venezuelanas ou cubanas. O trumpismo está a deixar-te maluko e cegueta. Tendo
em conta outras boas crónicas para não ofender o caro Alberto, digo antes que
está a ficar naturalista de tanto conservadorismo. Não tardará muito para se
tornar um eremita perdido numa caverna do Gerês a comer pinhão e peixe cru
durante o dia para à noite uivar juntamente com os lobos e as corujas. Nota: esta semana comprei um LP da Lady Gaga. Foi a
primeira vez que comprei música dela. Surpreendente gostei bastante das faixas.
Tanto se me dá que ela vote Trump ou Kamala. Por acaso até vota Harris, mas foi
apenas coincidência. Também gosto bastante dos Simply Red e esses não votam
Harris só para verem que não sou faccioso. Maria Paula Silva: uma parte será tudo isso, outra parte será as
celebridades serem "seduzidas e induzidas"
a apoiarem determinados candidatos. Os fãs seguirão a vontade do artista, é uma
influência do caraças. Cá faz-se o mesmo. Conheço pessoalmente casos, os
artistas recebem uns telefonemas convites para
apoiarem determinado candidato, sobretudo à CML. Normalmente, fica difícil
dizer que não (mesmo que interiormente não apoiem coisíssima nenhuma). Seja cá
ou lá o que enjoa é que a política actual (pré campanhas, campanhas e pós-campanhas)
não passa de entretenimento puro e simples, muito simples, muito básico.
O que revela que o nível geral de cultura de quem vota é muito baixo. E faz-se
tudo para o manter assim, como é óbvio. Algumas celebridades também não
primam por grande nível cultural e são essas que se sentem ungidas, as outras
não. E, no meio disso tudo, há as que recusam. Às vezes, arriscando ficar
sem trabalho. Quanto à Taylor Swift olhe que ela não canta nada mal e tem
algumas músicas bem giras e eu não tenho 7 anos de idade:) AG devia informar-se
melhor antes de se pronunciar sobre certas coisas, já não é a primeira vez,
quando desconhece um assunto salta-lhe o lado arrogante (ninguém é
perfeito), TSwift reconheço-lhe valor e uma vida de trabalho sério (não começou
ontem e trabalhou muito para chegar onde chegou), mas já não tenho a mesma
opinião da candidata que ela "resolveu" (foi convidada) apoiar. Essa,
sim, é muito medíocre. Maria
Paula Silva > Maria Paula Silva: De repente aparece Obama a apelar "aos
homens" que votem na KHarris, agora a TSwift é "convidada" a
apoiar (são milhões de fãs), isto só mostra que KHarris está à rasca e com medo
de perder. Meio
Vazio: Isso!
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