Não esta em que nos debruçamos de
poupança e investimentos que por serem instrumentos da nossa felicidade devíamos
tratar sempre com amor e devoção para
melhor protestarmos contra quem nos trapaceia no país
que só esperneia por não saber contestar ou
para melhor disfarçar as suas próprias fraquezas de querer
participar à mesa desses repastos de
estranhos gastos…
Bem alerta o Dr Salles e os
seus amigos letrados que nos dão nobres lições De Economia
e Finanças mas ficam no cano roto da
indisciplina geral que não leva a marcha ou greve e nem
sequer a debates de protesto ou manifesto que
esclareçam bem as gentes, como fazem
todos estes que participam
contentes no seu A BEM DA NAÇÃO.
Mas é melhor situar os
versos de José Régio na Toada de Portalegre que Villaret recitou e serviram de título airoso a uma opinião de apreço embora sem grande rima por quem tão bem nos ensina:
… Toda aberta
ao sol que abrasa,
Ao frio que
tosse e gela
E ao vento
que anda, desanda,
E sarabanda, e ciranda
De redor da minha casa,
Em
Portalegre, cidade
Do Alto
Alentejo, cercada
De serras,
ventos, penhascos
Oliveiras e
sobreiros
Era uma bela
varanda,
Naquela bela
janela! ...
HENRIQUE SALLES DA FONSECA A BEM
DA NAÇÃO, 05.11.19
A
sequência é mais longa do que o título
pois, mesmo num esquema super-simplificado, começa em receitas e despesas
cujo saldo, sendo positivo, gera poupanças e é destas que saem os investimentos.
E são os investimentos que geram novas receitas e assim sucessivamente num
acumular de poupanças e investimentos…[i] Quando a série é truncada
pelos impostos, a acumulação de riqueza, de poupanças e de investimentos é
directamente reduzida e a pergunta que fica é a de saber se o uso público
dessas reduções é mais proveitoso para o conjunto da sociedade do que a
hipótese de a série cumulativa de riqueza se manter intocada.
A resposta nunca será dada com
rigor matemático pois é hoje para nós óbvio que as funções de soberania,
nomeadamente as Forças Armadas, têm que ser financiadas e elas são improdutivas
no sentido da acumulação de riqueza na série com que abro este escrito[ii].
A
imprescindibilidade dos gastos públicos financiados pelos impostos é, contudo,
discutível e também aí se deveria situar a fronteira entre os vários Partidos. Rareiam
as discussões políticas em torno dos custos de contexto, da análise comparativa
dos benefícios sociais (globais, claro!) entre a gestão pública e a privada na
Instrução (educação é a família que a ministra, não a escola) e na Saúde, os dois sectores de gestão mais sovietizada que por cá
temos.
Os
temas têm muito de discutível e não colhe a atitude de pré-vencidos dos
Partidos que se renderam à derrota eleitoral a qual, eventualmente, resultou de
não terem anunciado propostas inovadoras nestes e noutros tópicos que agora
não me ocorrem. Os vencidos deixaram-se conduzir para temas que não os
distinguiam dos que ganharam e sofreram as consequências que as urnas lhes
ditaram por falta de imaginação ou por concordarem com o statu quo que o seu eleitorado
tradicional queria ver modificado.
Não faltará numa putativa
discussão desta temática quem se assanhe nas políticas de redistribuição da
riqueza e na protecção dos mais desfavorecidos mas certamente também haverá
quem considere importante não se continuar a hostilizar os que criam essa
riqueza, os que criam postos de trabalho, ou seja, os que financiam todos os
custos públicos.
É hora de falar de ideias, não
mais de factos e muito menos de pessoas.
Novembro de 2019
Henrique Salles da Fonseca
[i] - Os
comunistas, ao combaterem o lucro, impediram a constituição de poupanças e
disponibilidades para investimentos donde resultou a «glória» de Novembro de
1989
[ii] - Há, como
é sabido, modos de redução da dita truncagem mas a chamada «indústria de guerra»
só pode ser lucrativa por via do comércio internacional, não na dimensão
doméstica. Se os lucros gerados pelas exportações de material de guerra
superarem os custos internos dessa função de soberania, a minha conjectura
negativa deixa de fazer sentido.
COMENTÁRIOS:
Adriano Lima 05.11.2019: Interessante reflexão, Senhor Doutor. Ela
é útil nesta altura em que, como bem diz, os partidos da oposição perderam as
eleições por não terem apresentado ao eleitorado uma alternativa credível. Esta
teria consistido em demonstrar que, com uma carga fiscal mais reduzida, o país
teria gerado mais riqueza nos últimos quatro anos. Creio que esta é a
ideia-força da sua exposição. Não estou em condições mínimas para discutir
a validade dessa tese, ou pelo menos o grau de possibilidade do seu sucesso. De
facto, não tenho conhecimentos académicos de economia, mas ouço ou leio
amiudadas vezes que a economia, por ser ciência social, está sujeita a
variáveis que nem sempre controla ou consegue prever nas suas oscilações, dado
que elas resultam do comportamento humano e das sociedades, no fundo, da
complexa natureza do ser humano. É um facto que a economia evoluiu bastante
no apuramento dos seus modelos e técnicas, usando métodos mais empíricos de
modo a equiparar-se às ciências naturais. No entanto, parece
ainda pesar muito a dificuldade de prever factores como a falência do sistema
bancário, o comportamento dos mercados e do consumidor, além da instabilidade
política de vária ordem de incidência local ou regional, como está a acontecer
com o Brexit, com o caso da Catalunha ou com lideranças políticas erráticas,
conflituosas ou ameaçadoras da estabilidade geopolítica. Aliás, é um pouco disto tudo que prevê uma queda do
crescimento em todo o mundo, contrariando a tendência verificada nos últimos
quatro anos, levando a que os opositores ao anterior governo atribuam
unicamente o seu sucesso à excepcionalidade das condições de que beneficiou, do
que discordo. No entanto, o que fica por saber ao certo é se nos últimos
quatro anos, outra tivesse sido a política fiscal, teríamos obtido os mesmos
resultados na política financeira, dado que também não é
despiciendo o clima de confiança que se cria com esta ou aquela diferente liderança política. Por outro lado, parece-me que um pouco mais de
rigor nos levará a considerar que despesas do Estado em áreas soberanas como a
Defesa e as Forças de Segurança poderão não representar um investimento
produtivo por via directa, mas terão certamente influência na criação de
condições internas para a paz social e a tranquilidade pública que são
indispensáveis para a atracção de investimento externo e para a produtividade
nacional. Por último, a história demonstra que o liberalismo económico
não tem sido capaz de prever e evitar crises cíclicas e sempre geradoras de
danos sociais assinaláveis, apesar de ser, de facto, muito mais vocacionado
para a criação de riqueza e progresso social, ainda que se tenha sempre de
questionar em que medida os ganhos exclusivamente materiais se interligam com a
melhoria dos padrões de verdadeiro bem-estar da humanidade, tais como uma mais
apurada consciência global sobre os valores da solidariedade humana, sobre a
paz entre as nações e sobre defesa do ambiente. Agora para encerrar mesmo, pergunto a
sua opinião sobre o facto de terem sido os Estados a salvar os bancos da
falência a que foram empurrados precisamente pela crise do sistema financeiro
globalizado. Porém, este meu entendimento não significa que esteja em concordância,
bem pelo contrário, com o sistema económico colectivista e centralizador dos
estados comunistas. Com um
abraço amigo. Adriano Lima
Anónimo, 06.11.19:
A
densidade do teu texto, Henrique, - que cada frase é quase um tema -, alia-se à
profundidade do comentário do Senhor Adriano Lima. Eu, que não sou
macroeconomista, nem versado em política económica, nem tão pouco em ciência
política, irei tentar dar igualmente algumas achegas. Há vários aspectos que
temos de ter presente para que possamos entender bem o contexto em que actualmente
nos inserimos, em Portugal.
Neste momento parece haver o primado do ideológico sobre o técnico. Discute-se ideologicamente temas que são essencialmente técnicos. São os casos que apontas da gestão do SNS e da Educação. Sobre o primeiro caso, compete ao Estado assegurar que o SNS seja gerido da melhor forma possível, com o melhor benefício para os utentes (não necessariamente para os intervenientes) e com o menor custo, isto é, com a maior eficiência, sem perda de qualidade. Quanto ao segundo caso, que tem substrato ideológico, reconheço, a ideologia não pode distorcer valores fundamentais da nossa sociedade e cultura. O Ministério tem de ser da Educação e não, como alguém há anos disse, criticando a situação então existente, dos Professores. É preciso coragem, num caso e noutro, para romper com interesses instalados e tratar os assuntos que sejam de natureza técnica, como tal.
Outra vertente a ter em conta é a elevada carga fiscal com que nos confrontamos, que incide sobre poucas famílias e sobre pouquíssimas empresas. Ainda ontem ouvi que dos países da OCDE, somos o que a taxa máxima de IRS incide sobre o montante mais reduzido (€80.000). Ainda no âmbito desse imposto, segundo ouvi, 80% são pagos por 16% dos agregados familiares, enquanto cerca de 70% do IRC são pagos por 5% das empresas!... E quanto mais se penalizar as empresas com lucros, com maior eficiência, mais capitalizadas, mais se tende, em geral, a descapitalizá-las, bem como a reduzir a produtividade e, por arrasto, a competitividade do País. Se queremos continuar a ter (e o Governo anterior e o actual já deram mensagens que não o querem) uma economia baseada em salários baixos, é continuar a deixar que 45% do emprego resida em microempresas, as quais têm, obviamente, uma produtividade bem abaixo da média. Não é assim surpresa que a estrutura empresarial existente conduz a uma reduzida produtividade.
Neste momento parece haver o primado do ideológico sobre o técnico. Discute-se ideologicamente temas que são essencialmente técnicos. São os casos que apontas da gestão do SNS e da Educação. Sobre o primeiro caso, compete ao Estado assegurar que o SNS seja gerido da melhor forma possível, com o melhor benefício para os utentes (não necessariamente para os intervenientes) e com o menor custo, isto é, com a maior eficiência, sem perda de qualidade. Quanto ao segundo caso, que tem substrato ideológico, reconheço, a ideologia não pode distorcer valores fundamentais da nossa sociedade e cultura. O Ministério tem de ser da Educação e não, como alguém há anos disse, criticando a situação então existente, dos Professores. É preciso coragem, num caso e noutro, para romper com interesses instalados e tratar os assuntos que sejam de natureza técnica, como tal.
Outra vertente a ter em conta é a elevada carga fiscal com que nos confrontamos, que incide sobre poucas famílias e sobre pouquíssimas empresas. Ainda ontem ouvi que dos países da OCDE, somos o que a taxa máxima de IRS incide sobre o montante mais reduzido (€80.000). Ainda no âmbito desse imposto, segundo ouvi, 80% são pagos por 16% dos agregados familiares, enquanto cerca de 70% do IRC são pagos por 5% das empresas!... E quanto mais se penalizar as empresas com lucros, com maior eficiência, mais capitalizadas, mais se tende, em geral, a descapitalizá-las, bem como a reduzir a produtividade e, por arrasto, a competitividade do País. Se queremos continuar a ter (e o Governo anterior e o actual já deram mensagens que não o querem) uma economia baseada em salários baixos, é continuar a deixar que 45% do emprego resida em microempresas, as quais têm, obviamente, uma produtividade bem abaixo da média. Não é assim surpresa que a estrutura empresarial existente conduz a uma reduzida produtividade.
Terceira
vertente tem a ver com o acontecimento a que te referes, em nota, e que
completa 30 anos este mês – a queda do muro de Berlim. O que fizemos (ou não), em áreas como o custo dos factores
produtivos, os custos de contexto, de que falas, a instrução, a formação, a
estrutura do tecido empresarial, por exemplo, para se competir com os países do
Leste, eventualmente mais próximos dos mercados consumidores (digo “eventualmente”
porque há muita discussão sobre a centralidade ou não de Portugal), com
mais formação e instrução, assim como, certamente, com menores custos de
contexto e, quiçá, sem rendas excessivas?… E já agora, o que estamos
economicamente equacionando, particularmente no importante sector de turismo,
para fazer face ao provável Brexit e à já real desvalorização da libra? Sabemos
todos que os impostos, como referes na parte final do teu artigo, têm
uma função de redistribuição, e não se discute a ideia de progressividade,
quanto muito o quanto dela, como também não se discute o financiamento das
funções de Soberania nem do Estado Social. Exige-se, todavia, que os
benefícios estejam em consonância com o esforço do pagamento, sem desperdício,
de qualquer natureza. Igualmente, e como muito bem lembras, não se
hostilize os que, honestamente e de acordo com regras transparentes de mercado,
criam riqueza. Não pode cair sistematicamente sobre as grandes
empresas o anátema de classificação “do grande capital monopolista”. Compete ao
Estado promover a regulação dos mercados, inclusive através de Entidades
independentes próprias, pois que o faça, para que todos nós, consumidores,
possamos depositar a confiança devida nos agentes da oferta.
Quanto ao assunto das Forças Armadas, que é suscitado por ambos, e cujas opiniões comungo,
desejo apenas referir a importância que, no mundo, a investigação militar e
espacial tem na esfera civil. Muitos exemplos, por certo, poderiam ser dados,
limito-me a mencionar um - a internet. A
indústria militar, a metalomecânica e a metalurgia portuguesas beneficiaram
particularmente da guerra do Ultramar e da do Irão/Iraque, que me recorde.
Focando, finalmente, uma ou outra questão suscitada pelo Senhor Adriano Lima (desculpe, mas desconheço o seu grau académico): Começo por dizer que estou genericamente de acordo com o que escreveu, mas a extensão desde comentário impede-me de ir mais longe. Apenas algumas afirmações: É inerente ao sistema capitalista a existência de círculos económicos. Actualmente, estamos no fim de um desses círculos de expansão. Possivelmente, o menor crescimento da China será uma das razões, para além da instabilidade provocada pelo Brexit e pela guerra comercial sino-americana. Outros factores são por si apontados. Vamos estar atentos ao Chile e à Argentina. Quanto à pergunta que faz ao Henrique sobre o apoio do Estado para salvar os Bancos; independentemente da resposta que venha a ter, sublinho que não se tratou de salvar os accionistas que, em geral, perderam as suas posições societárias, nem os gestores que comprovada e dolosamente conduziram os bancos à situação de falência ou pré-falência. O que os Governos procuraram foi, nos casos viáveis (alguns fecharam mesmo), mantê-los vivos, reestruturando-os, para o financiamento (embora mitigado, numa 1ª fase) da economia e preservar, tanto quanto possível, pelo menos os depósitos, bem como outras aplicações financeiras de depositantes/investidores. Quando são aplicadas medidas de resolução – e em Portugal isso aconteceu, como se sabe -, então os institucionais e, algumas vezes igualmente os particulares, são chamados a perder todo ou parte das aplicações para ajudar a viabilizar o Banco. A opção dos Governos/Bancos Centrais deve ser tomada estimando, em cada caso, os custos e benefícios da opção de insolvência ou de determinada resolução. Abraço. Carlos Traguelho
Focando, finalmente, uma ou outra questão suscitada pelo Senhor Adriano Lima (desculpe, mas desconheço o seu grau académico): Começo por dizer que estou genericamente de acordo com o que escreveu, mas a extensão desde comentário impede-me de ir mais longe. Apenas algumas afirmações: É inerente ao sistema capitalista a existência de círculos económicos. Actualmente, estamos no fim de um desses círculos de expansão. Possivelmente, o menor crescimento da China será uma das razões, para além da instabilidade provocada pelo Brexit e pela guerra comercial sino-americana. Outros factores são por si apontados. Vamos estar atentos ao Chile e à Argentina. Quanto à pergunta que faz ao Henrique sobre o apoio do Estado para salvar os Bancos; independentemente da resposta que venha a ter, sublinho que não se tratou de salvar os accionistas que, em geral, perderam as suas posições societárias, nem os gestores que comprovada e dolosamente conduziram os bancos à situação de falência ou pré-falência. O que os Governos procuraram foi, nos casos viáveis (alguns fecharam mesmo), mantê-los vivos, reestruturando-os, para o financiamento (embora mitigado, numa 1ª fase) da economia e preservar, tanto quanto possível, pelo menos os depósitos, bem como outras aplicações financeiras de depositantes/investidores. Quando são aplicadas medidas de resolução – e em Portugal isso aconteceu, como se sabe -, então os institucionais e, algumas vezes igualmente os particulares, são chamados a perder todo ou parte das aplicações para ajudar a viabilizar o Banco. A opção dos Governos/Bancos Centrais deve ser tomada estimando, em cada caso, os custos e benefícios da opção de insolvência ou de determinada resolução. Abraço. Carlos Traguelho
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