Lembro Salazar, que respeitou o passado
e soube erguer o país, pese embora o rigor - talvez necessário, num país
dificilmente “erguível” – como se vê hoje – e que, apesar de tudo, ele pôde
erguer um pouco mais. A impressão que dá a leitura do texto sobre Nietzsche é
que a tal teoria sobre o efeito da glorificação do passado é única responsável
pela monstruosidade de um ser que dinamizou a “loucura colectiva” de que trata Salles da Fonseca,
minimizando o papel fundamental do “monstro”. Mas talvez eu tenha percebido mal
e SF vai continuar a esclarecer-nos com as
suas abençoadas leituras, que me levaram já às tais “Considerações”, na Internet, em quantidade reduzida,
por ora.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 08.11.19
«Considerações Intempestivas»
é o título geral de um conjunto de textos de Nietzsche e que, sob a forma de opúsculos, ele foi publicando à medida que
os ia considerando concluídos [1] e em condições de divulgação. A segunda Consideração tem a ver com a historiografia, ou seja, com a ciência e com a
filosofia da História e intitula-se Da utilidade
e das desvantagens da História para a vida. A título de curiosidade, Nietzsche destrinça três tipos de interventores na História: o “antiquário” que procura preservar o
passado; o “monumental” que
procura emular o passado; o “crítico” que procura libertar o presente do passado.
Neste
texto, Nietzsche disseca a realidade alemã do seu tempo alertando para que a
obsessão das elites pelo passado estava a obstar à construção racional do
presente.
Tomando
em conta que o filósofo morreu no dia 25 de Agosto de 1900, temos
que reconhecer que a «adivinhação» das dificuldades alemãs na construção de um
presente racional se repercutiu muito para além do seu desaparecimento físico
entre os homens conferindo-lhe uma efectiva capacidade de
antevisão dos problemas por que a Alemanha haveria de passar. Por outras palavras, a loucura
colectiva que assolou os alemães através do nazismo, tem raízes bem mais
antigas do que aquelas que habitualmente se referem.
E
estou mesmo em crer que Wagner tem algumas culpas no
Cartório. Voltarei ao tema.
Novembro
de 2019 Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
Henrique Salles da
Fonseca, 09.11.2019: Boa tarde
Caro Dr. Henrique Salles da Fonseca, Um tema sempre muito interessante…mas, em
primeiro lugar, deixe-me felicitá-lo por presentear os seus leitores sempre com
temas variados, quer sobre economia, ciência política ou politica pura,
filosofia, etc. É um prazer ler as suas crónicas. Dou algumas achegas, apenas
baseada em alguns textos que tenho de Nietzsche que foi um filósofo que um
professor me obrigou a estudar muito e me sensibilizou bastante. Escreveu ele
em “Assim falava Zaratustra”: “A vida é uma fonte de alegria, mas, nos lugares
onde a gentalha vai beber, todos os poços estão envenenados . Com a sua
concupiscência envenenaram as águas santas; e, ao baptizarem com o nome de
alegria os seus sonhos impuros, envenenaram também as palavras…. E voltei as
costas aos governantes quando vi o que eles chamam hoje governar: traficar e
mercadejar o poder…” (onde é que já ouvimos isto?) Para Nietzsche, de facto o
historicista anda sempre à procura de factos que demonstrem a logicidade
histórica e, diz ele, torna-se um “legista do pensamento” para subordiná-lo ao
passado como causa e ao futuro como previsão. Quanto ao seu comentário
humorístico final, permito-me acrescentar uma frase da Gaia Ciência (Guimarães
& Cª) pag 119: “A arte de Wagner não visa outra coisa que não seja
apresentar-se cada vez mais como um complemento da filosofia de Schopenhauer, e
renuncia cada vez mais à ambição superior de se tornar o par, o complemento do
conhecimento e da ciência humanas”. De modo que, meu Caro Doutor, a sua observação
de que Wagner tem algumas culpas no Cartório, tem toda a propriedade. Os
melhores cumprimentos. Mª Emília Gonçalves
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