sábado, 9 de novembro de 2019

Em todo o caso…


Lembro Salazar, que respeitou o passado e soube erguer o país, pese embora o rigor - talvez necessário, num país dificilmente “erguível” – como se vê hoje – e que, apesar de tudo, ele pôde erguer um pouco mais. A impressão que dá a leitura do texto sobre Nietzsche é que a tal teoria sobre o efeito da glorificação do passado é única responsável pela monstruosidade de um ser que dinamizou a “loucura colectiva” de que trata Salles da Fonseca, minimizando o papel fundamental do “monstro”. Mas talvez eu tenha percebido mal e SF vai continuar a esclarecer-nos com as suas abençoadas leituras, que me levaram já às tais “Considerações”, na Internet, em quantidade reduzida, por ora.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 08.11.19
«Considerações Intempestivas» é o título geral de um conjunto de textos de Nietzsche e que, sob a forma de opúsculos, ele foi publicando à medida que os ia considerando concluídos [1] e em condições de divulgação. A segunda Consideração tem a ver com a historiografia, ou seja, com a ciência e com a filosofia da História e intitula-se Da utilidade e das desvantagens da História para a vida. A título de curiosidade, Nietzsche destrinça três tipos de interventores na História: o “antiquário” que procura preservar o passado; o “monumental” que procura emular o passado; o “crítico” que procura libertar o presente do passado.
Neste texto, Nietzsche disseca a realidade alemã do seu tempo alertando para que a obsessão das elites pelo passado estava a obstar à construção racional do presente.
Tomando em conta que o filósofo morreu no dia 25 de Agosto de 1900, temos que reconhecer que a «adivinhação» das dificuldades alemãs na construção de um presente racional se repercutiu muito para além do seu desaparecimento físico entre os homens conferindo-lhe uma efectiva capacidade de antevisão dos problemas por que a Alemanha haveria de passar. Por outras palavras, a loucura colectiva que assolou os alemães através do nazismo, tem raízes bem mais antigas do que aquelas que habitualmente se referem.
E estou mesmo em crer que Wagner tem algumas culpas no Cartório. Voltarei ao tema.
Novembro de 2019   Henrique Salles da Fonseca
[1]- Para saber mais, ver em «Considerações intempestivas – F. Nietzsche»
COMENTÁRIOS
 Henrique Salles da Fonseca, 09.11.2019: Boa tarde Caro Dr. Henrique Salles da Fonseca, Um tema sempre muito interessante…mas, em primeiro lugar, deixe-me felicitá-lo por presentear os seus leitores sempre com temas variados, quer sobre economia, ciência política ou politica pura, filosofia, etc. É um prazer ler as suas crónicas. Dou algumas achegas, apenas baseada em alguns textos que tenho de Nietzsche que foi um filósofo que um professor me obrigou a estudar muito e me sensibilizou bastante. Escreveu ele em “Assim falava Zaratustra”: “A vida é uma fonte de alegria, mas, nos lugares onde a gentalha vai beber, todos os poços estão envenenados . Com a sua concupiscência envenenaram as águas santas; e, ao baptizarem com o nome de alegria os seus sonhos impuros, envenenaram também as palavras…. E voltei as costas aos governantes quando vi o que eles chamam hoje governar: traficar e mercadejar o poder…” (onde é que já ouvimos isto?) Para Nietzsche, de facto o historicista anda sempre à procura de factos que demonstrem a logicidade histórica e, diz ele, torna-se um “legista do pensamento” para subordiná-lo ao passado como causa e ao futuro como previsão. Quanto ao seu comentário humorístico final, permito-me acrescentar uma frase da Gaia Ciência (Guimarães & Cª) pag 119: “A arte de Wagner não visa outra coisa que não seja apresentar-se cada vez mais como um complemento da filosofia de Schopenhauer, e renuncia cada vez mais à ambição superior de se tornar o par, o complemento do conhecimento e da ciência humanas”. De modo que, meu Caro Doutor, a sua observação de que Wagner tem algumas culpas no Cartório, tem toda a propriedade. Os melhores cumprimentos. Mª Emília Gonçalves

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