É o olhar certeiro de VPV sobre
políticas e politiqueiros nossos, de faz de conta. É pena que estes últimos não
leiam estes e outros escritos, embora se diga que burro velho não aprende línguas. É certo que também se diz que água mole em pedra dura tanto dá até que
fura. Mas a dureza da pedra resulta, neste caso, de esperteza saloia
envolvendo ambição e vaidade próprias e contra abstracções não há perfurações.
OPINIÃO: Diário
VASCO PULIDO
VALENTE
PÚBLICO, 23
de Novembro de 2019
À velocidade com que fala, é impossível que Catarina Martins pense
no que diz.
17
de Novembro: Num país onde
20 por cento da população está abaixo do limiar de pobreza, o Presidente da
República preocupa-se com os 500 homeless (ómelésses,
como lhes chamava uma amiga minha) de Lisboa. Fica-lhe bem. Quando me lembro de
um inverno em Washington, em que havia criaturas congeladas pelas valetas, não
tenho coração para o criticar. Mas não consigo deixar de pensar que estes
desventurados são “os pobrezinhos do senhor Presidente”.
Não
me repugna a caridade como ao militante médio do PCP. Mas neste caso, em que se
junta o pitoresco de que os media gostam ao sentimentalismo de
telenovela, não consigo evitar um ligeiro arrepio. A mobilização das
instituições da República para os sem-abrigo não me parece uma grande causa.
18
de Novembro: A urgência de
pediatria do hospital Garcia de Orta, em Almada, fechou porque não
tem pediatras. É inevitável que alguém com 20 e poucos anos e uma especialização
não queira viver em Almada e trabalhar para o Garcia de Orta. O mercado livre
da União Europeia também é um mercado livre de trabalho.
19
de Novembro: O
senhor Pinto
Luz da Câmara de Cascais, que pretende ser o próximo presidente
do PSD, prometeu “ganhar”. Esta mania de “ganhar” instalou-se no partido com
o adorável Cavaco Silva em meados dos anos 80. Mas não passa de uma gabarolice.
Quanto mais se diz que o PSD quer ganhar, mais ele perde.
20
de Novembro: Lamento
não acompanhar o Presidente da República e a “esquerda” indígena na uníssona
homenagem a José Mário Branco. Ainda me lembro
vividamente do PREC, de que esta personagem foi um dos rostos mais militantes e
visíveis. A gente que hoje se abriga à sombra da social-democracia e do Estado
de Direito não imagina o que lhe teria sucedido em 1975, a título de ser
“fascista” e membro da “reacção” para a qual existia “uma só solução”: o
fuzilamento. “Uma só solução, fuzilar a reacção”, uma palavra
de ordem que se ouvia incessantemente na rádio entre baladas deste benemérito.
21
de Novembro: A única
resposta possível deste governo à manifestação de
hoje, em frente à Assembleia da República, é despedir o ministro Eduardo
Cabrita. O governo de António Costa é responsável por ter
dado às forças de segurança motivos plausíveis para descer à rua. E também é
responsável por ter permitido que um aventureiro político se tivesse apropriado
de um compreensível descontentamento para fins obscuros. O PS e o PSD, ou seja,
os partidos constitucionais, foram os únicos que não estiveram no sítio onde
deviam estar: cá fora, na escadaria.
21
de Novembro, à noite: Os peritos
parecem concordar que o último grande investimento nas forças de segurança
foi em homenagem ao Campeonato Europeu de futebol de 2004, que, se bem me
lembro, excitou particularmente o doutor Marcelo Rebelo de Sousa. O que
isto diz sobre a saloiice portuguesa é aflitivo.
22
de Novembro: O CDS não
resistiu a ir atrás do Chega, na forma do deputado e comentador desportivo
Telmo Correia. Deus Nosso Senhor os salve, que mais ninguém pode.
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