sábado, 23 de novembro de 2019

Humor aos pedaços



É o olhar certeiro de VPV sobre políticas e politiqueiros nossos, de faz de conta. É pena que estes últimos não leiam estes e outros escritos, embora se diga que burro velho não aprende línguas. É certo que também se diz que água mole em pedra dura tanto dá até que fura. Mas a dureza da pedra resulta, neste caso, de esperteza saloia envolvendo ambição e vaidade próprias e contra abstracções não há perfurações.
OPINIÃO:   Diário
VASCO PULIDO VALENTE
PÚBLICO, 23 de Novembro de 2019
À velocidade com que fala, é impossível que Catarina Martins pense no que diz.
17 de Novembro: Num país onde 20 por cento da população está abaixo do limiar de pobreza, o Presidente da República preocupa-se com os 500 homeless (ómelésses, como lhes chamava uma amiga minha) de Lisboa. Fica-lhe bem. Quando me lembro de um inverno em Washington, em que havia criaturas congeladas pelas valetas, não tenho coração para o criticar. Mas não consigo deixar de pensar que estes desventurados são “os pobrezinhos do senhor Presidente”.
Não me repugna a caridade como ao militante médio do PCP. Mas neste caso, em que se junta o pitoresco de que os media gostam ao sentimentalismo de telenovela, não consigo evitar um ligeiro arrepio. A mobilização das instituições da República para os sem-abrigo não me parece uma grande causa.
18 de Novembro: urgência de pediatria do hospital Garcia de Orta, em Almada, fechou porque não tem pediatras. É inevitável que alguém com 20 e poucos anos e uma especialização não queira viver em Almada e trabalhar para o Garcia de Orta. O mercado livre da União Europeia também é um mercado livre de trabalho.
19 de Novembro: O senhor Pinto Luz da Câmara de Cascais, que pretende ser o próximo presidente do PSD, prometeu “ganhar”. Esta mania de “ganhar” instalou-se no partido com o adorável Cavaco Silva em meados dos anos 80. Mas não passa de uma gabarolice. Quanto mais se diz que o PSD quer ganhar, mais ele perde.
20 de Novembro: Lamento não acompanhar o Presidente da República e a “esquerda” indígena na uníssona homenagem a José Mário Branco. Ainda me lembro vividamente do PREC, de que esta personagem foi um dos rostos mais militantes e visíveis. A gente que hoje se abriga à sombra da social-democracia e do Estado de Direito não imagina o que lhe teria sucedido em 1975, a título de ser “fascista” e membro da “reacção” para a qual existia “uma só solução”: o fuzilamento.Uma só solução, fuzilar a reacção”, uma palavra de ordem que se ouvia incessantemente na rádio entre baladas deste benemérito.
21 de Novembro: A única resposta possível deste governo à manifestação de hoje, em frente à Assembleia da República, é despedir o ministro Eduardo Cabrita. O governo de António Costa é responsável por ter dado às forças de segurança motivos plausíveis para descer à rua. E também é responsável por ter permitido que um aventureiro político se tivesse apropriado de um compreensível descontentamento para fins obscuros. O PS e o PSD, ou seja, os partidos constitucionais, foram os únicos que não estiveram no sítio onde deviam estar: cá fora, na escadaria.
21 de Novembro, à noite: Os peritos parecem concordar que o último grande investimento nas forças de segurança foi em homenagem ao Campeonato Europeu de futebol de 2004, que, se bem me lembro, excitou particularmente o doutor Marcelo Rebelo de Sousa. O que isto diz sobre a saloiice portuguesa é aflitivo.
22 de Novembro: O CDS não resistiu a ir atrás do Chega, na forma do deputado e comentador desportivo Telmo Correia. Deus Nosso Senhor os salve, que mais ninguém pode.
Colunista


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