sábado, 23 de novembro de 2019

Fabulário, sempre



Parecem lógicas as deduções matemáticas de Rui Ramos, a respeito dos discursos arrogantes de Rui Rio sobre o posicionamento fictício dos partidos hoje, tendo em conta uma abstenção eliminadora dum cálculo estatístico justo. Vivemos numa mesquinha época de políticos cujos discursos de sapiência se assemelham aos dos adeptos de futebol, vibrantes e ocos, de rãs inchadas a imitar os bois…
A ficção partidária de Rui Rio /premium
Rui Rio acha que o PS e o PSD estão de boa saúde. De facto, PS e PSD são pequenas organizações, que vivem do Estado e dependem do sistema eleitoral e da abstenção para dominarem o parlamento
OBSERVADOR, 22 nov 2019
Não sei se a Europa estava preocupada. Mas estivesse ou não, Rui Rio resolveu sossegá-la. Foi assim que em Zagreb, na reunião do Partido Popular Europeu, anunciou que os maiores partidos parlamentares portugueses, PSD e PS, estavam de excelente saúde, e que portanto, ao contrário de outras democracias na Europa, o regime em Portugal passa muito bem. Há aqui várias coisas curiosas. A primeira é a identificação do bem-estar do regime com o dos dois maiores partidos: sim, os nossos partidos, como Luís XIV, acham mesmo que o regime, são eles. A outra coisa diz respeito ao diagnóstico de Rui Rio. Não contesto as suas qualificações. Mas talvez conviesse à Europa ouvir uma segunda opinião.
Para Rio, a excelente saúde do PSD e do PS medem-se pela percentagem de cadeiras em S. Bento ocupadas pelos seus deputados: 81%. Em Portugal, segundo Rio, o sistema partidário não se fragmentou, e os novos partidos têm uma representação residual. É de facto assim. Mas em que parte esse número de deputados se deve aos votos dos eleitores, e em que parte se deve ao método de apuramento dos mandatos? Sabemos que um deputado do PSD ou do PS vale muito menos votos do que um deputado dos outros partidos. Com outro sistema eleitoral, talvez a percentagem de mandatos atribuída ao PSD e ao PS fosse outra, e mais difícil a tarefa de tranquilizar a Europa sobre a estabilidade da partidocracia portuguesa.
Se Rui Rio, em vez do número de deputados, tivesse recorrido ao número de votos, a inquietação na Europa talvez ainda fosse maior. Em 1991, PSD e PS tiveram 4,5 milhões de votos em conjunto, o que correspondia a 54% dos eleitores inscritos. Em 2019, os mesmos partidos reuniram 3,3 milhões de votos, equivalente a 30% dos inscritos. Entre 1991 e 2019, os dois partidos perderam 1,2 milhões de votos e baixaram a sua representatividade em 24 pontos percentuais. Quando Rio faz as contas apenas aos deputados, está a confessar que o actual domínio representativo do PS e do PSD depende sobretudo da abstenção eleitoral, isto é, de os cidadãos decepcionados com esses partidos deixarem de votar, em vez de escolherem outros. A abstenção – 51,4% em Outubro de 2019 – é hoje a chave do regime português.
Rui Rio podia ter também falado à Europa das eleições internas no seu próprio partido. Para a distrital de Lisboa, com duas listas concorrentes, terão votado 1760 pessoas. Ou seja: entre os 2,9 milhões de habitantes do distrito, o PSD tem 1760 pessoas disponíveis para participar num dos actos mais decisivos da vida do partido, que é a escolha dos seus dirigentes. Há em Lisboa associações de estudantes com tantos ou mais eleitores: por exemplo, para os órgãos sociais da Associação Académica da Faculdade de Direito, em 2015, votaram 1757 pessoas, quase tantas como para a distrital de Lisboa do segundo maior partido parlamentar. O número de militantes em situação regular no PSD é outro dado interessante: menos de 17 000. O PSD é um pequeno partido, que só parece grande devido aos lugares que ocupa no Estado. É aliás do Estado que vivem estas modestas organizações: legalmente, através dos subsídios pagos ao partido ou aos seus eleitos, e por vezes também ilegalmente, como em Oliveira de Azeméis, onde o fundo de maneio da câmara municipal terá sido alegadamente usado para pagar contas da concelhia do PSD.
Eis os partidos: máquinas com uns poucos milhares de activistas, que vivem agarradas ao Estado central e autárquico, e que dependem do sistema eleitoral e da abstenção para manterem um domínio parlamentar cada vez mais fictício. É nisto que assenta o regime português. E foi isto que Rui Rio resolveu exibir ao mundo como exemplo de saúde política.
Só uma correcção pois todo o resto do escrito não me interessa para coisa nenhuma. “Entre 1991 e 2019, os dois partidos …  baixaram a sua representatividade em 24 pontos percentuais”.
COMENTÁRIOS
Pedro Ferreira: Nas vésperas do congresso, estas farpas no RR eram dispensáveis e são intencionais. Seria mais  adequado questionar a qualidade da democracia e dos partidos políticos, que no meu entender, são todos problema e não solução, como escrevia no século passado um dos maiores portugueses de sempre: Professor Doutor António de Oliveira Salazar.
Joaquim Moreira: Confesso que, apreciando muitas das crónicas de Rui Ramos, quando resolve de Rui Rio falar, não vejo maneira de concordar. Neste caso, até acho que, não se trata de "ficção partidária de Rui Rio", antes de uma fixação de Rui Ramos contra Rui Rio. E por uma simples razão, o que Rui Rio disse mais do que ser verdade, é a visão política realista da situação, goste-se ou não. E que fique muito claro, não falou de “saúde política”, comparou a situação em Portugal, com a dos países europeus em que é pior o mal. Em que com as mesmas ou idênticas condições, ainda são piores os resultados das eleições. De facto, não falou da abstenção, mas Rui Ramos sabe bem, que, para Rui Rio, é uma grande preocupação. E sabe mais, sabe que graças à pressão do PSD, o PS, não faz aquilo que lhe apetece. E se algumas dúvidas havia, a forma como “governou” enganou muitos, incluindo quem outra coisa previa. E que fez jus ao adágio popular, “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço”. O que é bem revelador que o que aconteceu foi uma “aproximação” do PS ao PSD e não do PSD ao PS. Que só confirma o que disse antes: o que é, não é aquilo que parece. 
Pedro Reis: Quem há muito tempo diz que o sistema está em crise é Rio. Quem está a trazer transparência ao PSD, e urbi et orbi transmite a verdade da militância é Rio. Peçam para fazer o mesmo aos outros partidos e aos sindicatos. Quem defende que os deputados devem variar em função dos votantes é Rui Rio. A ficção está na cabeça de Rui Ramos que com a sua agenda política, tem Rui Rio como adversário. Pois, fica aqui o aviso, e quem avisa ..., se está preocupado com Portugal, não queira um Montenegro pois socratismo já tivemos a dose cavalar, e sobre Pinto Luz, os apoios de Relvas e Marco António definem o candidato.  uma vez, permita que seja o povo a mandar e não os interesses de organizações obscuras. Ou o senhor também cozinha de avental?
Felipe Azyral:  "Do lado das perdas, é o PSD quem tem a maior variação negativa (-0,7)" O Rui Rio continua a sua tarefa de tentar destruir o PSD.......agora até já soma os votos do PSD aos do PS......!!!!!
O Famoso Faisão: Rui Rio não é diferente de Costa..... Ambos chefiam ou chefiaram com derrotas eleitorais…. Se todos fossem obrigados a votar como são obrigados a pagar os seus impostos talvez que estas nulidades nunca teriam chegado à posição em que estão….
Vilar de Maçada: O  Rui Rio não vive neste mundo! E é pena!
Sergio Coelho: Um povão medíocre e iletrado merece este nível de políticos.
António Sennfelt: A banha da cobra que, no seu macarrónico alemão, o sr. rr  foi vender em Zagreb é a podridão da partidocracia que nos desgoverna!  
Ana Ferreira: Pode acusar-se Ramos de muita coisa, não de ser incoerente e pouco persistente na missão de destruir os principais partidos garante de uma sociedade democrática, na vã esperança de implementar o iliberalismo!
Jay Pi: Os literatos de hoje, ao contrário dos grandes humanistas do passado, muitos deles também matemáticos, têm muita dificuldade em elaborar ou sequer compreender textos como este de Rui Ramos. A opacidade do raciocínio matemático, decorrente da sua falta de estímulo escolar precoce e duradouro e da sua natural fraca inclinação para o factor numérico da inteligência, leva a que vastas hostes de "profissionais das humanidades" estejam excluídos da capacidade de compreender ou articular raciocínios lógico dedutivos complexos e válidos. A sua boa capacidade e competência no factor linguístico da inteligência, associada a uma boa capacidade de expressão e articulação verbal leva-os a criar um corpo críptico e endógeno de aparente lógica, de aparente raciocínio, em dilemas como "o Brasil foi descoberto ou achado?" ou "Costa disse ou sugeriu que  professores de português procurassem emprego no estrangeiro?". Consumidos nestas práticas arrastam audiências e eleitores para um precipício letal...



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