Para que o “país às vezes” se torne num “país
sempre”, seguindo o rasto de inteligência sensata que Helena Ramos efectua, sobre a travessia pela ignomínia
a que nos sujeitamos, levados por “tubas
de clangor sem fim” que definitivamente já não nos fazem ir “cantando e rindo”. Antes de ler alguns
comentários dos descontentes, iniciei a minha formação sociológica com a
consulta na Internet do termo “anomia” com que Helena Ramos corajosamente termina a sua bem
estruturada análise, e que transcrevo:
Por Marcele Juliane Frossard de Araujo,
Mestre em Ciências Sociais (PUC-Rio,
2015) Graduada em Ciências Sociais (UERJ, 2012)
«O
conceito de anomia foi cunhado pelo sociólogo francês Émile
Durkheim e quer dizer: ausência ou desintegração das normas
sociais. O conceito
surgiu com o objectivo de descrever as patologias sociais da sociedade
ocidental moderna, racionalista e individualista. O acelerado processo de urbanização, a falta de solidariedade, as
novas formas de organização das relações sociais e a influência da economia na
vida dos indivíduos após a Revolução Industrial são objeto de estudo
de Durkheim. O tema central das obras deste autor é a relação entre o
indivíduo e a colectividade: o que diferencia uma colecção de indivíduos de uma
sociedade? Como se constrói o consenso? O que das acções individuais é
determinado pela colectividade? Tentar responder a estas perguntas é o objectivo
de muitas de suas obras como “A divisão do trabalho social” e “O suicídio”.»
Um país às vezes /Premium
A urgência do Garcia da Orta funciona às
vezes. Os ciganos são ciganos às vezes. A ADSE tem dinheiro às vezes… Somos um
país às vezes. Só os impostos e a propaganda são para todos os dias.
HELENA MATOS
OBSERVADOR, 03 nov 2019
Um
Estado que funciona às vezes. O que aconteceu no quartel dos Bombeiros Voluntários
de Borba é um exemplo desse Estado-máquina fiscal que sabe ao cêntimo quanto
ganhamos mas que se vai esboroando fora dos holofotes da propaganda e das
actividades da colecta: segundo o comandante dos Bombeiros de Borba declarou
ao Correio da Manhã um grupo de 20 pessoas dirigiu-se ao quartel dos
bombeiros para pedir auxílio para uma vítima que se encontrava inconsciente. Os
bombeiros acharam que a pessoa não estava inconsciente e que se devia sim
contactar o 112. A partir desse momento “os elementos do grupo iniciaram
agressões físicas a um dos elementos que os atendeu e esse elemento refugiou-se
dentro das instalações, fechando a porta. As pessoas acabaram por partir o
vidro da porta de entrada e forçaram a porta”. Os elementos do piquete que
também se encontravam de serviço refugiaram-se dentro das viaturas e das
instalações “com o objectivo de garantir a sua segurança.” Entretanto já se
contavam dois bombeiros com ferimentos ligeiros, um por agressão a murro e o
outro por causa dos vidros partidos. Em seguida veio a GNR para garantir a
segurança dos bombeiros. Por agora a GNR ainda não precisou de chamar ninguém
para garantir a sua própria segurança mas lá chegaremos.
Enfermeiros,
médicos, professores, polícias e agora já os bombeiros estão a transformar-se
nos sacos de pancada de um Estado que não respeita nem se dá ao respeito: Há quatro queixas por dia feitas por profissionais de saúde
mas estima-se que muitos optem por não apresentar queixa. Nas forças de
segurança o panorama é idêntico: o Relatório Anual de Segurança
Interna (RASI) de 2018 mostra que as agressões aos elementos das
forças e serviços de segurança quadruplicaram em 2018 face ao ano anterior. Quanto
às escolas a desautorização e o medo das responsabilidades levaram a que agora
se chame a polícia para resolver situações que há algumas décadas eram
solucionadas pelos professores e funcionários. A transformação das
escolas públicas nuns sovietes de propaganda e ocupação obrigatória de tempos
livres não foi suficiente para evitar que o início deste ano lectivo se
assemelhasse a um campeonato de pugilismo com alunos a baterem em professores,
um professor a agredir um aluno e pais quase a agredirem-se entre si.
Entre muitos desmentidos e
declarações, os números têm confirmado a crescente incapacidade do Estado para
garantir a segurança que é o mesmo que dizer a liberdade aos seus funcionários
e aos cidadãos, sobretudo daqueles que não vivem nas zonas privilegiadas das
cidades.
Como os líderes democráticos se deixaram cair na armadilha que diz que
falar destes problemas é sinal de pertença à extrema-direita eles só são
abordados quando explodem à frente de todos. Assim
desde já sugiro que na nova disciplina “História, Culturas e Democracia” com
que se pretende que os alunos “consigam interpretar o presente e agir de forma
crítica” seja abordada a criação daquilo que em França se designa como os
“territórios perdidos da República” ou seja os espaços – escolas, ruas, bairros
– em que apesar de se estar em França não se consegue viver sob as leis
francesas. Milícias islâmicas e gangues vários dividem, entre si,
esses territórios. Nos últimos
tempos, nesses bairros onde toda a panóplia do socialismo e do assistencialismo
foi experimentada, surgiu uma nova actividade: faz-se uma chamada falsa para
os bombeiros ou cria-se um incidente para atrair a polícia. Quando estes
chegam vêem-se cercados por dezenas (às vezes mais de uma centena) de jovens
armados. A novidade mais recente é que entre as armas usadas pelos bandos
se contam morteiros. Mantes-la-Jolie e Grigny são locais
onde este ano tiveram lugar alguns destes confrontos. O próprio
Halloween teve um entendimento muito especial na localidade francesa de Béziers: uma escola
foi incendiada e ficou parcialmente destruída. Enquanto a escola ardia outro
fogo começou num edifício abandonado. Quando a polícia ali chegou tinha
à sua espera um grupo de 30 pessoas… Tudo isto claro não tem qualquer
destaque noticioso fora de França (e mesmo em França…) Países como a
França ou Portugal estão a transformar-se em cidadelas cujas oligarquias mandam
os cidadãos utilizar os transportes públicos que eles não frequentam (a propósito, até quando vamos
tolerar e pagar os efeitos dos graffiti nos comboios?); recorrer aos
hospitais públicos a que eles não vão; colocar os filhos nas escolas públicas
de que eles preservam os seus rebentos (as filhas da agora ministra da
Modernização do Estado e da Administração Pública ex-Secretária de Estado
Adjunta e da Educação continuam naquela escola privada estrangeira ou já conseguiram entrar numa
escola pública portuguesa?), viver e trabalhar sem segurança. A
luta de classes do nosso tempo é esta: os poderosos são aqueles que conseguem
pôr-se a salvo a si e às suas famílias da legislação que eles mesmos fazem e
dos serviços a que obrigam os outros a frequentar.
Quando é que se pode escrever a
expressão “etnia cigana”? Por exemplo, para dar conta que “Ciganos portugueses são dos que mais se sentem discriminados”
ou Falta de trabalho, educação e habitação digna. “Há discriminação em
relação à comunidade cigana ? Ou quando se fazem notícias sobre
a senhora secretária de
Estado para a Cidadania e a Igualdade que pretende alertar os não ciganos para
a ciganofobia subjacente à colocação de sapos de louça nas
lojas? Espantosamente à senhora secretária de Estado para a Cidadania e a
Igualdade não lhe ocorre a ideia verdadeiramente igualitária de alertar os
ciganos para o sem sentido dessa superstição que, além de os levar a trocar uns
supermercados por outros, os privará de estudar biologia, ir a museus ou até
usar o portal Sapo. Ou achará a senhora secretária de Estado para a Cidadania e
a Igualdade que os ciganos não fazem nada disso?
Mas voltemos à expressão “etnia
cigana”. Segundo os Bombeiros Voluntários de Borba eram de “etnia cigana” as
pessoas que forçaram a entrada no quartel e agrediram os bombeiros. A notícia do Correio da Manhã sobre os factos
acontecidos em Borba, que a maior parte dos outros meios de comunicação
transcreveu, referia serem ciganos os membros do grupo que entrou no seu
quartel. Mas essa referência foi cortada em várias dessas notícias. Porquê?
Porque nestas matérias vigora a mais poderosa das censuras: a
auto-censura. Esta auto-censura é uma atitude defensiva em
tempos de intolerância mas não só. É também um eixo fundamental dos activismos
do ressentimento graças aos quais determinados grupos se vêem sempre como eternas
vítimas e nunca como pessoas responsáveis pelo seu destino. Por isso somos
bombardeados com estudos que provam as discriminações reais e imaginárias com
que as etnias-vítimas se confrontam mas se apaga a informação que coloca essas
mesmas etnias a protagonizar actos que os fazem sujeitos de acções violentas
como estas agora acontecidas em Borba. Ou mais grave ainda se subestimaram
actos de uma cruel desumanidade como os praticados por várias famílias ciganas
que recrutam em Portugal pessoas com vulnerabilidades físicas e mentais para em
seguida as escravizarem em Espanha. A etnicização é um inferno que está a
corroer as sociedades e a etnicização intermitente está longe de ser inocente.
Raciocinando às vezes. A 24 de
Maio de 2019: ADSE inverte ciclo e fecha 2018
com mais dinheiro em caixa. Sistema de saúde da função pública reforça almofada
com 67 milhões de euros em 2018
Mas
escassos cinco meses depois: 29 de Outubro de 2019: Tribunal de Contas diz Governo não tomou medidas para garantir
sustentabilidade da ADSE. Se nada for feito e não entrarem beneficiários,
sistema entra em défice em 2020 e fica sem almofada em 2026
Esta conversa das almofadas está
ao nível do contar carneiros para dormir:
quem não quer fazer reformas vive a sonhar almofadas, almofadões, travesseiros
e outras estruturas almofadadas que ajudem a atenuar o choque da realidade. A
anomia é tal que a notícia, em Maio, da almofada foi recebida com a mesma
indiferença que a informação em Outubro sobre o fim da almofada. O sonho e o
pesadelo cruzam-se.
COMENTÁRIOS:
Joaquim Moreira: “Como os líderes
democráticos se deixaram cair na armadilha que diz que falar destes problemas é
sinal de pertença à extrema-direita eles só são abordados quando explodem à
frente de todos”. Sendo verdadeira, esta
afirmação, inclui todos os líderes, estejam no governo ou na oposição. Mas há
uma grande diferença, entre os líderes democráticos, que devemos realçar e
tornar patentes, os líderes sérios, corajosos e transparentes. Porque, não
tenhamos ilusões, os outros tudo fazem para ganhar eleições. E, sendo essa a
sua maior preocupação, desses líderes não se pode esperar mais nada que não
seja, agradar aos que lhes garantem a eleição. E se for em, “um país às vezes”,
ainda acontece por maioria de razão.
Terra Plana: O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros. Margaret
Thatcher E o dinheiro está a acabar.
Vilar de Maçada: Excelente artigo! Parabéns, Helena!
Maria Lucas: Magnífico, Helena . Obrigado pela sua coragem
e por ser, também, a minha voz e de milhões de outros portugueses,
completamente abandonados e vilipendiados por um estado que simplesmente nos
está a destruir e a roubar-nos o país dos nossos pais a favor do nojo sujo,
parasitário e asqueroso do mundo. Infelizmente, por exigência profissional,
tenho conhecimento directo e doloroso não só da existência em Portugal de inúmeros
casos do que designou por "espaços perdidos da república", mas também
das maiores indignidade feitas diariamente aos mais pobres, por estes
criminosos e traidores. Já não é só trabalharem para sustentar ciganos, o povo
mais pobre, pobre vê-se todos os dias roubado dos serviços elementares de
saúde, educação, habitação e tudo o mais que o povo português construiu ao
longo de vidas por qualquer bicho careta que vindo de África e do islão
simplesmente chega aqui livremente e começa imediatamente a comer tudo quanto é
dos portugueses. E mais, somos instruídas para nada dizer ou fazer, mas deixar
roubar.
Antonio Sousa Branco: A Sociedade como a conhecíamos, está já a
fazer o seu caminho para a anarquia total...até aparecerem "os sujeitos de
botas cardadas". Os vazios de poder são temporários. Como as leis da
física mostram, quando um pêndulo é puxado para um lado, depois de largado,
percorre o mesmo caminho em sentido contrário. É triste, mas não aprendemos
nada com a História.
Maria José Melo: Esta é a hipocrisia em que vivemos. O Governo
governa para as minorias e a comunicação social defende-as. A realidade é
“virtual”... anda muita gente enganada, acomodada e distraída.
Maria Emília Santos Santos: A desconstrução do país,
(que já éramos!), corre veloz! Os ciganos são muito úteis aos partidos de
esquerda, porque é neles que eles votam, em troca de tantas benesses que lhes
são concedidas, (sem fiscalização)... Quem tem necessidade de se socorrer da
urgência de pediatria, do H. Garcia de Orta, desiste quando lá chega, ou nem lá
vai,... para não ficar mais doente!...Os ciganos deviam fazer uma manifestação
à porta da Assembleia da Republica, protestando contra a falta desta urgência.
Graciete Madeira: Excelente artigo!
Cipião Numantino: As habituais notas de tragicomédia dadas
dominicalmente à estampa pela nossa estimada Helena Matos. Enfim, sinais dos tempos. O
cruzamento de iguais notas que se passaram em França faz-nos pensar que, tal
estado de coisas, engloba toda a Europa quando não mesmo toda a civilização
ocidental prenhe e levada a reboque por espúrias ideologias esquerdosas.
Assim, Borba e Béziers, estarão em sintonia a
caminho do desastre. A primeira nas berças alentejanas e, a segunda, nas faldas
dos Pirenéus, região do Languedoc, comungam dos mesmos males e dos mesmos
propósitos. Como curiosidade histórica diria
que, Béziers, tem suplementares motivos para se demonstrar preocupada. Quanto
mais não seja porque foi ali que se processou um dos mais escabrosos episódios
históricos que assola a minha memória. Trata-se
do epílogo da famosa cruzada albigense ou, para melhor nos situarmos, da
cruzada contra os cátaros. Para resumir, os cátaros, eram uma espécie de seita
de apostasia em relação à ICAR. No
essencial, pregavam que Cristo não era divino além de ataques de carácter que
faziam à opulência e ostentação dos representantes da Igreja Católica. O terrível papa Inocêncio III não esteve com
meias medidas. Em 1176 coloca os cátaros sob heresia e consequente excomunhão e
convoca, alguns anos depois, uma cruzada (cruzada albigense) para perseguição
destes e a sua total e perene aniquilação. Entre outras coisas, o papa, anuncia
uma bula em que estariam perdoados os pecados de todos aqueles que perseguissem
ou matassem os heréticos cátaros além de poderem ficar com as terras a estes
espoliadas. É neste contexto que os cátaros se refugiam na
cidade fortificada de Béziers (ainda hoje constitui uma cidadela fortificada
medieval deveras impressionante). Sob o
comando do abade de Citeaux, legado do papa, a fortaleza de Béziers é cercada.
A ordem do abade foi "matem-nos a todos"! E foi assim que sucedeu. Em 1209, 20.000 cátaros foram
mortos em Béziers e no registo de tal ocorrência, o abade de Citeaux, escreve
a Inocêncio III uma simples mensagem, que dizia "a cidade foi morta pela
espada"! Já no séc XVI ali se passou um
outro episódio estranho. Béziers vinha sendo
flagelada por um surto de peste. E como não podia deixar de ser sempre
apareciam os profetas da desgraça com conjecturas terríveis procurando
explicações. É aqui que aparece um dos
filhos do célebre Nostradamus, autor do famoso livro "As centúrias". Não
me lembro agora do nome de baptismo, mas sei que foi o terceiro filho do
célebre adivinho. Fazendo alarde dos dons adivinhatórios de seu
então já famoso pai, começa a propagar que para remissão dos pecados dos
habitantes de Béziers, a cidadela iria ser completamente consumida pelo fogo.
Aventa para tal facto uma concreta data que, como é habitual nestas coisas,
falha. Nostradamus filho não se atrapalha e
perante as autoridades de Béziers, anuncia uma segunda data e, aí sim, a
cidadela seria a antecâmara do inferno sacrificada em holocausto de um
monumental fogo. O povo, claro, entra em
pânico. Uns fogem, outros recolhem-se nas igrejas e chega o dia indicado.O raio
do fogo nunca mais aparecia e é aqui que Nostradamus filho resolve entrar em acção.
Perante a ausência da população entretanto fugida,
agarra numas tochas e toca de ele próprio começar a incendiar Béziers.
Para azar seu, o comandante militar da
cidadela fortificada não estava convencido das razões adivinhatórias de
Nostradamus. E é assim, que montado no seu cavalo, se depara com o tresloucado
pirómano. Sem delongas, atira-lhe o cavalo para cima e o astuto profeta acaba
ali mesmo por morrer espezinhado!
Poderá retirar-se daqui alguma moral. E esta é, sem
dúvida, que tal como o comandante de Béziers, deveremos sempre duvidar das
azougadas teses, teias de engano e mentiras propagadas pelos Nostradamus
caseiros, na forma de esquerdosos, que nos calharam em sorte. Por sua vez, em
sentido figurado, seria bom de todo que o comandante da GNR de Borba mandasse
atirar para cima dos sitiantes em Borba, o seu actual cavalo que dará agora
pelo nome de Jeep. Seja como for, isto não vai lá com rusgas presidenciais
iguais às do bairro da Jamaica. Isto só lá vai respondendo à violência com
violência institucional. Acredito pouco no mito do bom selvagem. E se
este tiver a forma, o efeito e o modus operandi de uma certa etnia, ainda bem
menos. Sempre ouvi dizer que quanto mais um indivíduo se baixa, mais se lhe vê
o ku.
É
aqui, justamente, onde nos encontramos! …
Maria Nunes: O Estado perdeu toda a autoridade. Só se
manifestam em casos triviais como o dos sapos. Alguém ouviu a Secretária de
Estado para a Cidadania comentar e condenar este caso dos bombeiros? Eu não. É
impossível que todas estas pessoas como os professores, médicos, polícias, etc,
aguentem estas ofensas constantes. Até um dia, em que os portugueses digam
chega, estamos saturados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário