segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Atenção, sempre


Para que o “país às vezes” se torne num “país sempre”, seguindo o rasto de inteligência sensata que Helena Ramos efectua, sobre a travessia pela ignomínia a que nos sujeitamos, levados por “tubas de clangor sem fim” que definitivamente já não nos fazem ir “cantando e rindo”. Antes de ler alguns comentários dos descontentes, iniciei a minha formação sociológica com a consulta na Internet do termo “anomia” com que Helena Ramos corajosamente termina a sua bem estruturada análise, e que transcrevo:

Por Marcele Juliane Frossard de Araujo, Mestre em Ciências Sociais (PUC-Rio, 2015) Graduada em Ciências Sociais (UERJ, 2012)
«O conceito de anomia foi cunhado pelo sociólogo francês Émile Durkheim e quer dizer: ausência ou desintegração das normas sociais. O conceito surgiu com o objectivo de descrever as patologias sociais da sociedade ocidental moderna, racionalista e individualista. O acelerado processo de urbanização, a falta de solidariedade, as novas formas de organização das relações sociais e a influência da economia na vida dos indivíduos após a Revolução Industrial são objeto de estudo de Durkheim. O tema central das obras deste autor é a relação entre o indivíduo e a colectividade: o que diferencia uma colecção de indivíduos de uma sociedade? Como se constrói o consenso? O que das acções individuais é determinado pela colectividade? Tentar responder a estas perguntas é o objectivo de muitas de suas obras como “A divisão do trabalho social” e “O suicídio”.»

Um país às vezes /Premium
A urgência do Garcia da Orta funciona às vezes. Os ciganos são ciganos às vezes. A ADSE tem dinheiro às vezes… Somos um país às vezes. Só os impostos e a propaganda são para todos os dias.
HELENA MATOS
OBSERVADOR, 03 nov 2019
Um Estado que funciona às vezes. O que aconteceu no quartel dos Bombeiros Voluntários de Borba é um exemplo desse Estado-máquina fiscal que sabe ao cêntimo quanto ganhamos mas que se vai esboroando fora dos holofotes da propaganda e das actividades da colecta: segundo o comandante dos Bombeiros de Borba declarou ao Correio da Manhã um grupo de 20 pessoas dirigiu-se ao quartel dos bombeiros para pedir auxílio para uma vítima que se encontrava inconsciente. Os bombeiros acharam que a pessoa não estava inconsciente e que se devia sim contactar o 112. A partir desse momento “os elementos do grupo iniciaram agressões físicas a um dos elementos que os atendeu e esse elemento refugiou-se dentro das instalações, fechando a porta. As pessoas acabaram por partir o vidro da porta de entrada e forçaram a porta”. Os elementos do piquete que também se encontravam de serviço refugiaram-se dentro das viaturas e das instalações “com o objectivo de garantir a sua segurança.” Entretanto já se contavam dois bombeiros com ferimentos ligeiros, um por agressão a murro e o outro por causa dos vidros partidos. Em seguida veio a GNR para garantir a segurança dos bombeiros. Por agora a GNR ainda não precisou de chamar ninguém para garantir a sua própria segurança mas lá chegaremos.
Enfermeiros, médicos, professores, polícias e agora já os bombeiros estão a transformar-se nos sacos de pancada de um Estado que não respeita nem se dá ao respeito: Há quatro queixas por dia feitas por profissionais de saúde mas estima-se que muitos optem por não apresentar queixa. Nas forças de segurança o panorama é idêntico: o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2018 mostra que as agressões aos elementos das forças e serviços de segurança quadruplicaram em 2018 face ao ano anterior. Quanto às escolas a desautorização e o medo das responsabilidades levaram a que agora se chame a polícia para resolver situações que há algumas décadas eram solucionadas pelos professores e funcionários. A transformação das escolas públicas nuns sovietes de propaganda e ocupação obrigatória de tempos livres não foi suficiente para evitar que o início deste ano lectivo se assemelhasse a um campeonato de pugilismo com alunos a baterem em professores, um professor a agredir um aluno e pais quase a agredirem-se entre si.
Entre muitos desmentidos e declarações, os números têm confirmado a crescente incapacidade do Estado para garantir a segurança que é o mesmo que dizer a liberdade aos seus funcionários e aos cidadãos, sobretudo daqueles que não vivem nas zonas privilegiadas das cidades.
Como os líderes democráticos se deixaram cair na armadilha que diz que falar destes problemas é sinal de pertença à extrema-direita eles só são abordados quando explodem à frente de todos. Assim desde já sugiro que na nova disciplina “História, Culturas e Democracia” com que se pretende que os alunos “consigam interpretar o presente e agir de forma crítica” seja abordada a criação daquilo que em França se designa como os “territórios perdidos da República” ou seja os espaços – escolas, ruas, bairros – em que apesar de se estar em França não se consegue viver sob as leis francesas. Milícias islâmicas e gangues vários dividem, entre si, esses territórios. Nos últimos tempos, nesses bairros onde toda a panóplia do socialismo e do assistencialismo foi experimentada, surgiu uma nova actividade: faz-se uma chamada falsa para os bombeiros ou cria-se um incidente para atrair a polícia. Quando estes chegam vêem-se cercados por dezenas (às vezes mais de uma centena) de jovens armados. A novidade mais recente é que entre as armas usadas pelos bandos se contam morteiros. Mantes-la-Jolie e Grigny são locais onde este ano tiveram lugar alguns destes confrontos. O próprio Halloween teve um entendimento muito especial na localidade francesa de Béziers: uma escola foi incendiada e ficou parcialmente destruída. Enquanto a escola ardia outro fogo começou num edifício abandonado. Quando a polícia ali chegou tinha à sua espera um grupo de 30 pessoas… Tudo isto claro não tem qualquer destaque noticioso fora de França (e mesmo em França…) Países como a França ou Portugal estão a transformar-se em cidadelas cujas oligarquias mandam os cidadãos utilizar os transportes públicos que eles não frequentam (a propósito, até quando vamos tolerar e pagar os efeitos dos graffiti nos comboios?); recorrer aos hospitais públicos a que eles não vão; colocar os filhos nas escolas públicas de que eles preservam os seus rebentos (as filhas da agora ministra da Modernização do Estado e da Administração Pública ex-Secretária de Estado Adjunta e da Educação continuam naquela escola privada estrangeira ou já conseguiram entrar numa escola pública portuguesa?), viver e trabalhar sem segurança. A luta de classes do nosso tempo é esta: os poderosos são aqueles que conseguem pôr-se a salvo a si e às suas famílias da legislação que eles mesmos fazem e dos serviços a que obrigam os outros a frequentar.
Quando é que se pode escrever a expressão “etnia cigana”? Por exemplo, para dar conta que “Ciganos portugueses são dos que mais se sentem discriminados” ou Falta de trabalho, educação e habitação digna. “Há discriminação em relação à comunidade cigana ? Ou quando se fazem notícias sobre a senhora secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade que pretende alertar os não ciganos para a ciganofobia subjacente à colocação de sapos de louça nas lojas? Espantosamente à senhora secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade não lhe ocorre a ideia verdadeiramente igualitária de alertar os ciganos para o sem sentido dessa superstição que, além de os levar a trocar uns supermercados por outros, os privará de estudar biologia, ir a museus ou até usar o portal Sapo. Ou achará a senhora secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade que os ciganos não fazem nada disso?
Mas voltemos à expressão “etnia cigana”. Segundo os Bombeiros Voluntários de Borba eram de “etnia cigana” as pessoas que forçaram a entrada no quartel e agrediram os bombeiros. A notícia do Correio da Manhã sobre os factos acontecidos em Borba, que a maior parte dos outros meios de comunicação transcreveu, referia serem ciganos os membros do grupo que entrou no seu quartel. Mas essa referência foi cortada em várias dessas notícias. Porquê? Porque nestas matérias vigora a mais poderosa das censuras: a auto-censura. Esta auto-censura é uma atitude defensiva em tempos de intolerância mas não só. É também um eixo fundamental dos activismos do ressentimento graças aos quais determinados grupos se vêem sempre como eternas vítimas e nunca como pessoas responsáveis pelo seu destino. Por isso somos bombardeados com estudos que provam as discriminações reais e imaginárias com que as etnias-vítimas se confrontam mas se apaga a informação que coloca essas mesmas etnias a protagonizar actos que os fazem sujeitos de acções violentas como estas agora acontecidas em Borba. Ou mais grave ainda se subestimaram actos de uma cruel desumanidade como os praticados por várias famílias ciganas que recrutam em Portugal pessoas com vulnerabilidades físicas e mentais para em seguida as escravizarem em Espanha. A etnicização é um inferno que está a corroer as sociedades e a etnicização intermitente está longe de ser inocente.
Esta conversa das almofadas está ao nível do contar carneiros para dormir: quem não quer fazer reformas vive a sonhar almofadas, almofadões, travesseiros e outras estruturas almofadadas que ajudem a atenuar o choque da realidade. A anomia é tal que a notícia, em Maio, da almofada foi recebida com a mesma indiferença que a informação em Outubro sobre o fim da almofada. O sonho e o pesadelo cruzam-se.
COMENTÁRIOS:
Joaquim Moreira: “Como os líderes democráticos se deixaram cair na armadilha que diz que falar destes problemas é sinal de pertença à extrema-direita eles só são abordados quando explodem à frente de todos”. Sendo verdadeira, esta afirmação, inclui todos os líderes, estejam no governo ou na oposição. Mas há uma grande diferença, entre os líderes democráticos, que devemos realçar e tornar patentes, os líderes sérios, corajosos e transparentes. Porque, não tenhamos ilusões, os outros tudo fazem para ganhar eleições. E, sendo essa a sua maior preocupação, desses líderes não se pode esperar mais nada que não seja, agradar aos que lhes garantem a eleição. E se for em, “um país às vezes”, ainda acontece por maioria de razão.
Terra Plana: O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros. Margaret Thatcher E o dinheiro está a acabar.
Vilar de Maçada: Excelente artigo! Parabéns, Helena!
Maria Lucas: Magnífico, Helena . Obrigado pela sua coragem e por ser, também, a minha voz e de milhões de outros portugueses, completamente abandonados e vilipendiados por um estado que simplesmente nos está a destruir e a roubar-nos o país dos nossos pais a favor do nojo sujo, parasitário e asqueroso do mundo. Infelizmente, por exigência profissional, tenho conhecimento directo e doloroso não só da existência em Portugal de inúmeros casos do que designou por "espaços perdidos da república", mas também das maiores indignidade feitas diariamente aos mais pobres, por estes criminosos e traidores. Já não é só trabalharem para sustentar ciganos, o povo mais pobre, pobre vê-se todos os dias roubado dos serviços elementares de saúde, educação, habitação e tudo o mais que o povo português construiu ao longo de vidas por qualquer bicho careta que vindo de África e do islão simplesmente chega aqui livremente e começa imediatamente a comer tudo quanto é dos portugueses. E mais, somos instruídas para nada dizer ou fazer, mas deixar roubar.
Antonio Sousa Branco: A Sociedade como a conhecíamos, está já a fazer o seu caminho para a anarquia total...até aparecerem "os sujeitos de botas cardadas". Os vazios de poder são temporários. Como as leis da física mostram, quando um pêndulo é puxado para um lado, depois de largado, percorre o mesmo caminho em sentido contrário. É triste, mas não aprendemos nada com a História.  
Maria José Melo: Esta é a hipocrisia em que vivemos. O Governo governa para as minorias e a comunicação social defende-as. A realidade é “virtual”... anda muita gente enganada, acomodada e distraída.
Maria Emília Santos Santos: A desconstrução do país, (que já éramos!), corre veloz! Os ciganos são muito úteis aos partidos de esquerda, porque é neles que eles votam, em troca de tantas benesses que lhes são concedidas, (sem fiscalização)... Quem tem necessidade de se socorrer da urgência de pediatria, do H. Garcia de Orta, desiste quando lá chega, ou nem lá vai,... para não ficar mais doente!...Os ciganos deviam fazer uma manifestação à porta da Assembleia da Republica, protestando contra a falta desta urgência.
Graciete Madeira: Excelente artigo!
Cipião Numantino: As habituais notas de tragicomédia dadas dominicalmente à estampa pela nossa estimada Helena Matos. Enfim, sinais dos tempos. O cruzamento de iguais notas que se passaram em França faz-nos pensar que, tal estado de coisas, engloba toda a Europa quando não mesmo toda a civilização ocidental prenhe e levada a reboque por espúrias ideologias esquerdosas. Assim, Borba e Béziers, estarão em sintonia a caminho do desastre. A primeira nas berças alentejanas e, a segunda, nas faldas dos Pirenéus, região do Languedoc, comungam dos mesmos males e dos mesmos propósitos. Como curiosidade histórica diria que, Béziers, tem suplementares motivos para se demonstrar preocupada. Quanto mais não seja porque foi ali que se processou um dos mais escabrosos episódios históricos que assola a minha memória. Trata-se do epílogo da famosa cruzada albigense ou, para melhor nos situarmos, da cruzada contra os cátaros. Para resumir, os cátaros, eram uma espécie de seita de apostasia em relação à ICAR. No essencial, pregavam que Cristo não era divino além de ataques de carácter que faziam à opulência e ostentação dos representantes da Igreja Católica. O terrível papa Inocêncio III não esteve com meias medidas. Em 1176 coloca os cátaros sob heresia e consequente excomunhão e convoca, alguns anos depois, uma cruzada (cruzada albigense) para perseguição destes e a sua total e perene aniquilação. Entre outras coisas, o papa, anuncia uma bula em que estariam perdoados os pecados de todos aqueles que perseguissem ou matassem os heréticos cátaros além de poderem ficar com as terras a estes espoliadas. É neste contexto que os cátaros se refugiam na cidade fortificada de Béziers (ainda hoje constitui uma cidadela fortificada medieval deveras impressionante). Sob o comando do abade de Citeaux, legado do papa, a fortaleza de Béziers é cercada. A ordem do abade foi "matem-nos a todos"! E foi assim que sucedeu. Em 1209, 20.000 cátaros foram mortos em Béziers e no registo de tal ocorrência, o abade de Citeaux, escreve a Inocêncio III uma simples mensagem, que dizia "a cidade foi morta pela espada"! Já no séc XVI ali se passou um outro episódio estranho. Béziers vinha sendo flagelada por um surto de peste. E como não podia deixar de ser sempre apareciam os profetas da desgraça com conjecturas terríveis procurando explicações. É aqui que aparece um dos filhos do célebre Nostradamus, autor do famoso livro "As centúrias". Não me lembro agora do nome de baptismo, mas sei que foi o terceiro filho do célebre adivinho. Fazendo alarde dos dons adivinhatórios de seu então já famoso pai, começa a propagar que para remissão dos pecados dos habitantes de Béziers, a cidadela iria ser completamente consumida pelo fogo. Aventa para tal facto uma concreta data que, como é habitual nestas coisas, falha. Nostradamus filho não se atrapalha e perante as autoridades de Béziers, anuncia uma segunda data e, aí sim, a cidadela seria a antecâmara do inferno sacrificada em holocausto de um monumental fogo. O povo, claro, entra em pânico. Uns fogem, outros recolhem-se nas igrejas e chega o dia indicado.O raio do fogo nunca mais aparecia e é aqui que Nostradamus filho resolve entrar em acção. Perante a ausência da população entretanto fugida, agarra numas tochas e toca de ele próprio começar a incendiar Béziers.
Para azar seu, o comandante militar da cidadela fortificada não estava convencido das razões adivinhatórias de Nostradamus. E é assim, que montado no seu cavalo, se depara com o tresloucado pirómano. Sem delongas, atira-lhe o cavalo para cima e o astuto profeta acaba ali mesmo por morrer espezinhado!
Poderá retirar-se daqui alguma moral. E esta é, sem dúvida, que tal como o comandante de Béziers, deveremos sempre duvidar das azougadas teses, teias de engano e mentiras propagadas pelos Nostradamus caseiros, na forma de esquerdosos, que nos calharam em sorte. Por sua vez, em sentido figurado, seria bom de todo que o comandante da GNR de Borba mandasse atirar para cima dos sitiantes em Borba, o seu actual cavalo que dará agora pelo nome de Jeep. Seja como for, isto não vai lá com rusgas presidenciais iguais às do bairro da Jamaica. Isto só lá vai respondendo à violência com violência institucional. Acredito pouco no mito do bom selvagem. E se este tiver a forma, o efeito e o modus operandi de uma certa etnia, ainda bem menos. Sempre ouvi dizer que quanto mais um indivíduo se baixa, mais se lhe vê o ku.
 É aqui, justamente, onde nos encontramos! …
Maria Nunes: O Estado perdeu toda a autoridade. Só se manifestam em casos triviais como o dos sapos. Alguém ouviu a Secretária de Estado para a Cidadania comentar e condenar este caso dos bombeiros? Eu não. É impossível que todas estas pessoas como os professores, médicos, polícias, etc, aguentem estas ofensas constantes. Até um dia, em que os portugueses digam chega, estamos saturados.


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