Em “natureza”. Disse Duarte
da Gama, nas Suas “Trovas às
desordens que agora se costumam em Portugal” apontando, em 30 estrofes, o
descalabro na moral e nos costumes que as riquezas marítimas provocaram em
Portugal: «Não sei quem possa
viver neste reino já contente, pois a
desordem na gente não quer leixar de crecer: a qual
vai tam sem medida que se nam pode sofrer: nam há
i quem possa ter boa vida.(estrofe 1) …..
As riquezas foram usadas em luxos e não
em esforço de trabalho e dignificação cultural, o próprio Duarte da
Gama
o explica:
(Estrofe 25): «A cidade de Cartago depois de ser destruída, fez em
Roma mor estrago que antes de ser perdida. Os Romãos, dês que venceram, foram
dos vícios vencidos, e seus louvores
crecidos pereceram.»
(Estrofe
26): Assi,
por nam perecerem os tam antigos
louvores dos nossos predecessores convém de nos reprenderem dos vícios e da torpeza em que queremos viver, antes de
se converter em natureza.
Nos nossos tempos, a riqueza veio por
conta do empréstimo, mas a pobreza real permanece, convertidos a torpeza e os
vícios em natureza nossa, por muitos, acarinhada. Alberto Gonçalves bem nos quer mudar esse status actual, com a sua crítica
certeira, mas não há, para os nossos vícios e torpeza, emenda possível, transformados
que foram em natureza própria.
São os loucos de Lisboa (e do resto do
país) /premium
Portugal está repleto de imbecis, dos
quais os maiores enchem as televisões a dar palpites, e os ligeiros servem de
coro nas redes sociais (aparentemente os indivíduos equilibrados vivem no
manicómio)
ALBERTO GONÇALVES,
Colunista do Observador
PÚBLICO, 16 nov
2019
Há
oito dias, numa daquelas erupções emotivas em que é pródigo, o prof. Marcelo
subiu a um palco e declarou: “Conseguimos! Portugal tornou-se no país chave da
revolução tecnológica!”. O palco era o da Web Summit, uma cerimónia de carácter
religioso que decorreu para os lados de Moscavide e na qual ninguém, em nenhum
canto do mundo civilizado e do outro, reparou. O extraordinário evento, que não
foi noticiado por qualquer “media” a leste de Badajoz e a oeste das Berlengas,
serviu para um guru carismático vender bilhetes e camisolas, para o Estado
“investir” milhões e para governantes sem vergonha recolherem o aplauso de
fiéis em transe. E só.
Portugal
talvez seja razoável em matéria de rolhas e chinelos de dedo, mas anda tão
distante da revolução tecnológica quanto perto dos resultados de uma lobotomia
desastrosa. A coisa não teria sido pior se o prof. Marcelo tivesse visitado o
IV Torneio de Columbofilia de Famalicão e decretado que estamos na vanguarda da
conquista espacial. Ao contrário do que garante o prof. Marcelo, Portugal não
tem os melhores jogadores do mundo, os melhores bombeiros do mundo, os melhores
emigrantes do mundo e nem sequer os melhores portugueses do mundo. Em
compensação, tem, provavelmente, o presidente mais inverosímil do hemisfério
norte. A fechar a Web Summit, o prof. Marcelo, aplaudido de pé, jurou que “não
temos medo do futuro, somos imparáveis. Ninguém nos vai parar.” E a seguir
chamou os repórteres para, acompanhado do sem-abrigo que fez a descoberta,
espreitar o recipiente do lixo onde se encontrou um bebé recém-nascido.
Muitos julgaram perceber um contraste
simbólico entre o país que finge ser moderno e o país em que uma mãe deita fora
o próprio filho. Julgaram mal. A senhora em causa é estrangeira, crimes
terríveis acontecem em toda a parte, e a loucura individual é uma permanência
em todos os tempos. Por sorte, a loucura colectiva é menos frequente. Por azar,
é uma constante do buraco a que descemos: num ápice, meio mundo decidiu que a
responsabilidade pelo bebé atirado ao lixo não é da mãe que tentou o infanticídio,
e sim da sociedade, da crise de valores, da crise da bolsa, do capitalismo,
nossa, minha e sua. No dia em que eu resolver abalroar com um autocarro o
comentador Y por proferir palermices, espero que seja a sociedade a responder
em tribunal. A miséria mental da pátria, afastada da inovação tecnológica e
próxima da insuficiência cognitiva severa, não se revela no acto isolado de uma
senhora desesperada, maldosa ou demente. A chatice é a demência geral que
“justifica” e tolera o acto.
Ao invés do que sucede com a
tecnologia, estamos perfeitamente aptos a exportar doidice. E os pessimistas, os que acham que não possuímos doidos suficientes,
devem pôr os olhos no entusiasmo com que, nos dias seguintes à cimeira das
camisolas, inúmeros portugueses saudaram a libertação do sr. Lula,
ex-presidente do Brasil e afamado gatuno. Houve canais que transmitiram em
directo a missa subsequente. Houve uma “jornalista”, dada a apaixonar-se por
trafulhas, que se confessou arrepiada ou assim perante a “força” daquele homem.
E houve, inevitavelmente à esquerda, e hoje quase tudo por aqui é esquerda, o
tipo de veneração dedicada a um santo, um mártir a que, por uma réstia de
pudor, a “inteligência” (não se riam, vá) oficial chama “preso político”.
Desde
que haja boa vontade, até o canibal de Milwaukee poderia ser considerado um
preso político. No mundo real, fora das alas de psiquiatria, o sr.
Lula é um trafulha, que aprovou um gigantesco esquema de corrupção e acabou
condenado por ele. Não duvido de que isto, apenas isto, seria suficiente para
subjugar a esquerda à sua “força”, por norma indistinguível da delinquência.
Porém, o sr. Lula acumula a desonestidade épica com uma boçalidade lendária,
que o torna praticamente incapaz de falar a própria língua e de certeza incapaz
de assinar o próprio nome. A “inteligência” indígena derrete-se face a um bom
troglodita.
Aliás,
ainda a “inteligência” não tinha terminado de se derreter com o sr. Lula,
passou a dissolver-se de vez com o sr. Morales. O sr. Morales é o presidente
deposto da Bolívia, despachado após sabotar eleições. O sr. Morales é também o
erudito que atribuiu a homossexualidade dos europeus ao consumo de frango.
Ditador, vigarista e chanfrado: era impossível a “inteligência” não apreciar
tamanho vulto. Escusado dizer que a “inteligência” nacional é sinónimo da falta
dela.
Eis a questão: Portugal está repleto
de imbecis, dos quais os maiores percorrem as televisões a dar palpites, e os
ligeiros servem de coro nas “redes sociais” (aparentemente, os indivíduos
equilibrados vivem no manicómio). São estes chalupas, os melhores chalupas do
mundo, que definem a “opinião pública” e traduzem o exacto atraso de vida que
permite as infantilidades demagógicas do prof. Marcelo. Ninguém nos vai parar,
e o problema é esse.
COMENTÁRIOS
Joaquim Moreira: Sou dos que diz, há muito, que a Inteligência Nacional é o grande problema
de Portugal. Só mesmo um Liberal, pode descrever tão bem esta Loucura Nacional.
Que, de facto, não é de agora, já vem do passado, em que, um qualquer bom
falante dava um bom governante. E, por isso, nunca cuidamos de promover, quem
realmente sabe fazer. E como dizia um grande amigo meu, somos excelentes a
fazer diagnósticos, só falta fazer. Aqui há dias, saiu uma notícia que
dizia, para nos informar, que havia mais Generais que Praças para comandar. E
hoje, ouvi dizer, um dos muitos Administradores, que, há mais dirigentes do que
trabalhadores. Portanto, e pensando bem, um país fortemente endividado,
que reduz o tempo de trabalho, só pode estar a ser bem governado. Afinal, com
tantos inteligentes a falar, só mesmo um demente é que quer trabalhar. Esta abordagem, ligeiramente diferente, serve só para
contestar que, somos um país de loucos. Por uma simples razão: a de
que para trabalhar ou fazer há mesmo muito poucos! ...
Jean valjean: E o louco sou eu!! Brilhante AG, Brilhante
William Smith > Manuel Ferreira: Concordo que a Web Summit não tem relevo algum fora
de Portugal, que é uma má aplicação dos nossos impostos, embora deva haver
alguns socialistas que lucrem com o assunto.
José Henrique
Cruz: Todas as
semanas é leitura obrigatória e um exemplo de lucidez. Abraço.
Gustavo Lopes: Que
bela forma de arrasar esta malta tão inteligente, mas tão inteligente, que se
calhar nem percebe este texto fabuloso!!! Que bela descrição, brutalmente
assertiva, do nosso "Papa" Marcelo, e dos seus correligionários. Que
nunca lhe doam os dedos, AG!!!
Luís Félix Morais: Como de
costume, uma opinião lúcida sobre o “nosso” manicómio. Subscrevo, com excepção
da notoriedade do evento. O web summit consegue publicidade em todo o mundo,
graças às redes sociais. Isto só agrava o delírio presidencial e a sua
demagogia. Para quem o ouve, fora do manicómio, a situação é hilariante. Se
quem o ouve calha de ser português... o hilariante passa a trágico. Nem com
incentivos fiscais (a sério? Acham que é disso que os emigrantes precisam?)
pensamos regressar. É mesmo trágico.
Rui Lima: Confirmo eu
vivo bem fora viajo procurei em tudo o que jornais , rádio e TV em vários
países nem uma linha , fiquei confuso ao ler a nossa imprensa que apresentava o
acontecimento como algo a escala planetária .
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