Não, nunca mudaremos, os problemas são
os de sempre, a impotência financeira, a inapetência laboral, que resultam,
acima de tudo, da imprudência educacional… Desconcertante. Sem conserto. Por
direito próprio. Sem amor próprio.
EDITORIAL
Mário Centeno contra o
resto do Governo
Polícias, médicos, militares, sindicatos,
professores e todos os demais interesses corporativos espreitam o evoluir deste
conflito para perceber até que ponto a intransigência de Centeno é inamovível e
a blindagem do Governo às pressões externas impenetrável.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 29 de Novembro de 2019
O
poderoso ministro das Finanças, Mário Centeno, não está disposto a dar ao menos poderoso ministro
da Administração Interna, Eduardo Cabrita, os 80 milhões de euros que este julga serem indispensáveis para acudir às necessidades das forças
de segurança. O ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel
Heitor, quer ser mais generoso na concessão
de bolsas a estudantes universitários, mas condiciona as suas ambições à
disponibilidade de fundos da União Europeia.
As
eleições do ano em curso foram pagas por fundos do Serviço de Estrangeiros e
Fronteiras, porque no orçamento do MAI não havia dinheiro para
esse fim. Junte-se a este rol de problemas retratados na edição desta
quinta-feira do PÚBLICO os que permanecem há meses em aberto: carências
graves nos tribunais, atrasos nos pagamentos na Saúde, falta de consumíveis
básicos nas escolas, salários desactualizados na função pública, problemas
graves e de infra-estruturas e constatemos a realidade: esta legislatura vai ser difícil e muito provavelmente
tumultuosa.
O
Presidente da República fez o aviso
no exacto dia em que deu posse ao novo Governo de António
Costa. “Não terá uma tarefa fácil”, disse Marcelo Rebelo de Sousa. E explicou
porquê: porque “não há recursos para tantas e tamanhas
expectativas e exigências” dos portugueses.
Sem meios capazes de acudir a todas as necessidades, a todos os problemas
acumulados ao longo de anos, e, principalmente, às exigências dos cidadãos que
todos os dias recebem notícias sobre o suposto bom estado das contas públicas, o
Governo, recordava ainda o Presidente, vai ter de encontrar a sua legitimidade
“na escolha, na hierarquização, na concentração e na clareza das respostas que
entender ser possível dar”. Porque não vai ser possível responder a tudo e a
todos.
Governar
é fazer escolhas e a chave dos próximos orçamentos vai estar precisamente nas
escolhas. Mário
Centeno fará o seu dever e tentará a todo o
custo manter as contas públicas sãs e a
credibilidade externa do país intacta. Mas, já se percebeu, não vai impor as
suas regras da forma imperial como o fez até agora. Os outros ministros
dificilmente aceitarão ser bombos da festa, para que ele continue a ser o
“Ronaldo” das Finanças.
Para manter o Governo coeso, António Costa vai ter de arbitrar
muitos mais conflitos e, em última instância, de assumir a palavra final.
Polícias, médicos, militares, sindicatos, professores e todos os demais
interesses corporativos espreitam o evoluir deste conflito para perceber até
que ponto a intransigência de Centeno é inamovível e a blindagem do Governo às
pressões externas impenetrável. O que acontecer até à Primavera será crucial
para saber o que espera o país no médio prazo.
TÓPICOS POLÍTICA MÁRIO CENTENO GOVERNO ANTÓNIO COSTA ORÇAMENTO DO ESTADO FINANÇAS PÚBLICAS MINISTÉRIO DA
ADMINISTRAÇÃO INTERNA
COMENTÁRIOS
danielcouto1100: Assim como Portugal precisa de dois planetas para ser
sustentável, precisa muito mais do que dois orçamentos em cada ano para satisfazer
as "legitimas necessidades e anseios". A questão é simples: Não há
dinheiro! Como nas famílias ou vivemos com o que temos ou fazemos dívidas até
sermos insolventes. Mas o que aborrece neste problema é ter de haver dinheiro
para pagar ou tapar as famosas imparidades de muitos que encheram os bolsos nos
offshores.
JonasAlmeida, 29.11.2019: Quem acha que os governos deviam ser
dirigidos por ministérios da finanças devia dar uma olhada no estudo do euro
por Stiglitz: é o que tipifica os arranjos coloniais. A regra não se aplica é
claro às metrópoles - por ex. ninguém se atreveria a exigir ao ministério da
educação alemão que cobrasse propinas às licenciaturas ou mestrados em
instituições de ensino superior nesse país
TM 29.11.2019: Pois não. E também
ninguém se atreve a exigir isso a Portugal que eu saiba! Essa paranóia da metrópole
versus periferia já não pega.
Espectro, 29.11.2019 : Problema eterno: Recursos escassos e
"necessidades" infinitas. O necessidades foi entre aspas porque na
verdade não estamos a falar de verdadeiras necessidades, pelo menos no sentido
mais comum de necessidades vitais, urgentes, daquelas de que dependa a a
sobrevivência ou até a qualidade de vida. São necessidades psicológicas (um
carro mais caro, um televisor com mais polegadas), porque em Portugal, e na UE,
já ninguém passa fome ou morre à porta do hospital. E a ladainha das
corporações já é quase tão velha como a ladainha dos santos da
"santa" igreja católica apostólica e romana. Portanto, pergunto:
Alguém sabe o que diz a ladainha da ICAR?! O mesmo vai acabar por acontecer à
ladainha das corporações. Coisas ridículas e obscuras. LOL
Carlos Paiva, 29.11.2019: A actual maioria é
muito boa a discutir eutanásia, casamentos gays, barrigas de aluguer etc etc,
mas fazer crescer a economia para financiar os serviços públicos e aumentar a
qualidade de vida dos portugueses é que é o diabo!!! Os portugueses só vão acordar
quando ganharem menos que os romenos e os búlgaros!!!!
Nelson Sousa, 29.11.2019: É verdade Carlos. E
tenho dúvidas de que acordem quando ganharem menos do que os romenos ou
búlgaros. Isso já aconteceu com os checos, com os eslovacos, com os malteses e
ninguém acordou.
Centeno faz o trabalho dele. É muito simples. Não se pode gastar o que não
se tem, o que não se produz. Se o fizermos vamos ter de pagar mais tarde, com
juros. A única coisa a discutir é como gastar, como distribuir, porque o limite
está definido.
Antonio Leitao, 29.11.2019:Este tipo de
análises, que seguem a mesma converseta de sempre, são tão inócuas quanto
aborrecidas. O problema não é Centeno, a credibilidade externa do país ou as
expectativas dos portugueses. O problema é a zona euro: as suas regras
absurdas, os desequilíbrios constantes que gera e a falta de alternativas na
esfera europeia. O resto é conversa já consumida e regurgitada tantas vezes...
Nelson Sousa, 29.11.2019: Nós sabemos que o
problema é a zona euro. Aliás o problema são sempre os outros. As 2
intervenções do FMI antes de aderimos ao euro foram culpa do Salazar. Em
irresponsabilidade sempre fomos campeões.
TM 29.11.2019 : A culpa é sempre dos
outros , não é? Os outros países do Euro estão bem mas só Portugal é que está
mal. Porque será? Em vez de ter um Estado eficiente e cortar onde deve ser
cortado, não! Andaram a acumular dívida durante anos e agora não sabem como
pagá- la nem como gerir. Ém que é que acabar com o Euro ajudava a má gestão do
Estado Português?
Antonio Leitao, 29.11.2019: Fim dos mecanismos de ajustamento cambial e política
monetária autónoma. Mas é como bater a mortos esta conversa. É preciso ler mais
do que estas crónicas para perceber a dinâmica da zona euro, principalmente
entre centro e periferia. Pensar custa, mas é preciso.
TM, 29.11.2019: Pensar custa e nota-se
que pensar não é o forte do António. O ajustamento cambial não está nas mãos dos
governos. Pelo menos nos países desenvolvidos. E também não é a politica
monetária. A Bulgária e a Roménia têm ambos politica monetária e sabe como
funcionam os serviços públicos lá? A Holanda e o Luxemburgo estão no Euro e
sabe como funcionam os serviços públicos lá?
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