sábado, 30 de novembro de 2019

Eternidade



Não, nunca mudaremos, os problemas são os de sempre, a impotência financeira, a inapetência laboral, que resultam, acima de tudo, da imprudência educacional… Desconcertante. Sem conserto. Por direito próprio. Sem amor próprio.

EDITORIAL
Mário Centeno contra o resto do Governo
Polícias, médicos, militares, sindicatos, professores e todos os demais interesses corporativos espreitam o evoluir deste conflito para perceber até que ponto a intransigência de Centeno é inamovível e a blindagem do Governo às pressões externas impenetrável.
MANUEL CARVALHO
PÚBLICO, 29 de Novembro de 2019

O poderoso ministro das Finanças, Mário Centeno, não está disposto a dar ao menos poderoso ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, os 80 milhões de euros que este julga serem indispensáveis para acudir às necessidades das forças de segurança. O ministro da Ciência e do Ensino Superior, Manuel Heitor, quer ser mais generoso na concessão de bolsas a estudantes universitários, mas condiciona as suas ambições à disponibilidade de fundos da União Europeia.
As eleições do ano em curso foram pagas por fundos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, porque no orçamento do MAI não havia dinheiro para esse fim. Junte-se a este rol de problemas retratados na edição desta quinta-feira do PÚBLICO os que permanecem há meses em aberto: carências graves nos tribunais, atrasos nos pagamentos na Saúde, falta de consumíveis básicos nas escolas, salários desactualizados na função pública, problemas graves e de infra-estruturas e constatemos a realidade: esta legislatura vai ser difícil e muito provavelmente tumultuosa.
O Presidente da República fez o aviso no exacto dia em que deu posse ao novo Governo de António Costa. “Não terá uma tarefa fácil”, disse Marcelo Rebelo de Sousa. E explicou porquê: porque “não há recursos para tantas e tamanhas expectativas e exigências” dos portugueses. Sem meios capazes de acudir a todas as necessidades, a todos os problemas acumulados ao longo de anos, e, principalmente, às exigências dos cidadãos que todos os dias recebem notícias sobre o suposto bom estado das contas públicas, o Governo, recordava ainda o Presidente, vai ter de encontrar a sua legitimidade “na escolha, na hierarquização, na concentração e na clareza das respostas que entender ser possível dar”. Porque não vai ser possível responder a tudo e a todos.
Governar é fazer escolhas e a chave dos próximos orçamentos vai estar precisamente nas escolhas. Mário Centeno fará o seu dever e tentará a todo o custo manter as contas públicas sãs e a credibilidade externa do país intacta. Mas, já se percebeu, não vai impor as suas regras da forma imperial como o fez até agora. Os outros ministros dificilmente aceitarão ser bombos da festa, para que ele continue a ser o “Ronaldo” das Finanças.
Para manter o Governo coeso, António Costa vai ter de arbitrar muitos mais conflitos e, em última instância, de assumir a palavra final. Polícias, médicos, militares, sindicatos, professores e todos os demais interesses corporativos espreitam o evoluir deste conflito para perceber até que ponto a intransigência de Centeno é inamovível e a blindagem do Governo às pressões externas impenetrável. O que acontecer até à Primavera será crucial para saber o que espera o país no médio prazo.

COMENTÁRIOS
danielcouto1100: Assim como Portugal precisa de dois planetas para ser sustentável, precisa muito mais do que dois orçamentos em cada ano para satisfazer as "legitimas necessidades e anseios". A questão é simples: Não há dinheiro! Como nas famílias ou vivemos com o que temos ou fazemos dívidas até sermos insolventes. Mas o que aborrece neste problema é ter de haver dinheiro para pagar ou tapar as famosas imparidades de muitos que encheram os bolsos nos offshores.
JonasAlmeida, 29.11.2019:  Quem acha que os governos deviam ser dirigidos por ministérios da finanças devia dar uma olhada no estudo do euro por Stiglitz: é o que tipifica os arranjos coloniais. A regra não se aplica é claro às metrópoles - por ex. ninguém se atreveria a exigir ao ministério da educação alemão que cobrasse propinas às licenciaturas ou mestrados em instituições de ensino superior nesse país
TM 29.11.2019: Pois não. E também ninguém se atreve a exigir isso a Portugal que eu saiba! Essa paranóia da metrópole versus periferia já não pega.
Espectro, 29.11.2019 : Problema eterno: Recursos escassos e "necessidades" infinitas. O necessidades foi entre aspas porque na verdade não estamos a falar de verdadeiras necessidades, pelo menos no sentido mais comum de necessidades vitais, urgentes, daquelas de que dependa a a sobrevivência ou até a qualidade de vida. São necessidades psicológicas (um carro mais caro, um televisor com mais polegadas), porque em Portugal, e na UE, já ninguém passa fome ou morre à porta do hospital. E a ladainha das corporações já é quase tão velha como a ladainha dos santos da "santa" igreja católica apostólica e romana. Portanto, pergunto: Alguém sabe o que diz a ladainha da ICAR?! O mesmo vai acabar por acontecer à ladainha das corporações. Coisas ridículas e obscuras. LOL
Carlos Paiva, 29.11.2019: A actual maioria é muito boa a discutir eutanásia, casamentos gays, barrigas de aluguer etc etc, mas fazer crescer a economia para financiar os serviços públicos e aumentar a qualidade de vida dos portugueses é que é o diabo!!! Os portugueses só vão acordar quando ganharem menos que os romenos e os búlgaros!!!!
Nelson Sousa, 29.11.2019: É verdade Carlos. E tenho dúvidas de que acordem quando ganharem menos do que os romenos ou búlgaros. Isso já aconteceu com os checos, com os eslovacos, com os malteses e ninguém acordou.
Centeno faz o trabalho dele.  É muito simples. Não se pode gastar o que não se tem, o que não se produz. Se o fizermos vamos ter de pagar mais tarde, com juros. A única coisa a discutir é como gastar, como distribuir, porque o limite está definido.
Antonio Leitao, 29.11.2019:Este tipo de análises, que seguem a mesma converseta de sempre, são tão inócuas quanto aborrecidas. O problema não é Centeno, a credibilidade externa do país ou as expectativas dos portugueses. O problema é a zona euro: as suas regras absurdas, os desequilíbrios constantes que gera e a falta de alternativas na esfera europeia. O resto é conversa já consumida e regurgitada tantas vezes...
Nelson Sousa, 29.11.2019: Nós sabemos que o problema é a zona euro. Aliás o problema são sempre os outros. As 2 intervenções do FMI antes de aderimos ao euro foram culpa do Salazar. Em irresponsabilidade sempre fomos campeões.
TM 29.11.2019 : A culpa é sempre dos outros , não é? Os outros países do Euro estão bem mas só Portugal é que está mal. Porque será? Em vez de ter um Estado eficiente e cortar onde deve ser cortado, não! Andaram a acumular dívida durante anos e agora não sabem como pagá- la nem como gerir. Ém que é que acabar com o Euro ajudava a má gestão do Estado Português?
Antonio Leitao, 29.11.2019: Fim dos mecanismos de ajustamento cambial e política monetária autónoma. Mas é como bater a mortos esta conversa. É preciso ler mais do que estas crónicas para perceber a dinâmica da zona euro, principalmente entre centro e periferia. Pensar custa, mas é preciso.
TM, 29.11.2019: Pensar custa e nota-se que pensar não é o forte do António. O ajustamento cambial não está nas mãos dos governos. Pelo menos nos países desenvolvidos. E também não é a politica monetária. A Bulgária e a Roménia têm ambos politica monetária e sabe como funcionam os serviços públicos lá? A Holanda e o Luxemburgo estão no Euro e sabe como funcionam os serviços públicos lá?


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