Explicar, enquanto é tempo (embora já não
seja), os porquês da tal idiotia em que nos afundamos sem consciência e sem pudor.
Fá-lo, com plena argúcia e humor cáustico, Helena Matos, elogiada pela maioria dos comentadores, o que
significa um estado geral de tristeza e náusea, perante a enormidade asnática das
novas manipulações, de intenções pedantemente eivadas de perfídia aceite.
A breve marcha para a nossa idiotia /premium
Num dia os jornalistas criam a muçulmana
impedida de jogar. No outro, o PR enreda-se na história da mãe que deixou o
filho no lixo. Pelo meio, o PAN avalia a igualdade de género no acesso à
eutanásia.
HELENA MATOS OBSERVADOR, 17
nov 2019
Quanto tempo demora um país a perder o bom senso? Portugal vive ao ritmo de indignações e
performances do “somos os melhores do mundo”. Nada é como parece mas isso não
interessa porque já outro arrebatamento aguarda os animadores deste espectáculo
em que tornámos Portugal.
Uma
jogadora de basquetebol não veste o equipamento regulamentar e logo é
apresentada como a “muçulmana impedida de jogar”. Dias depois até se
acrescentava que a mesma jogadora só voltaria a sê-lo “se vestir traje muçulmano”,
coisa que não existe em parte alguma do planeta.
Com
variações locais, este é um filme que temos visto estrear por essa Europa fora.
Mais precisamente este filme começou a passar em França há trinta anos
quando, em 1989, três adolescentes, Fatima, Leïla e Samira, se apresentaram na
escola que frequentavam em Creil com a cabeça coberta por lenços. É
certo que nesse mesmo ano, Khomeini lançara uma fatwa contra Salman Rushdie por
causa dos “Versículos Satânicos” mas quase ninguém viu nessa irrupção de
meninas de véu na cabeça nas escolas francesas um sinal de integrismo mas sim
de que a sociedade francesa precisava de aprofundar a sua tolerância. Trinta
anos depois é claro que os argumentos da liberdade e da democracia, foram
usados para destruir essa mesma liberdade: hoje em França existem bairros onde
as mulheres já não podem sair à rua sem véu na cabeça. Tal como em 1989 a
armadilha do “muçulmana impedida de” mantém-se não só oleada como acrescentada
agora com o garrote da islamofobia: regras, lei e regulamentos que se aplicam
aos demais podem ser contornadas desde que se invoque o islão (e agora também a
pertença étnicas). A jovem em questão, Fatima Habib, não foi impedida de jogar
por ser muçulmana mas sim por não usar o equipamento obrigatório.
Em
2019, convém que não se repitam os erros do passado: Fatima Habib poderá
jogar com o equipamento determinado pelos regulamentos. Podem estes ser
alterados? Claro que sim. Mas antes de o fazer convém não esquecer que são
várias as culturas e religiões a que há que atender e que na mesma Europa que
procura corresponder às questões colocadas pelos muçulmanos se acabou a aconselhar os judeus a
esconderem os sinais da sua identidade religiosa.
Por fim e para o fim um aviso: ainda
estamos a tempo de legislar sem dramatismos sobre a questão da burca e do
niqab, esses véus que cobrem completamente o rosto das mulheres, e que, embora
raramente, já se vêem em Portugal. Ou vamos ficar à espera que a questão se
coloque um dia num hospital, numa escola, num autocarro, num banco, num
tribunal…?
“Número de homens e mulheres que
beneficiam da aplicação da lei é igual? Lei permite que os homens e mulheres
participem de igual modo? – Estas são algumas das perguntas que
constam da Avaliação Prévia de Impacto de Género (AIG) na legislação sobre a
eutanásia. Sim, sobre a eutanásia. Com o
parlamento transformado num espaço de activismo – vivemos numa espécie de frenesi
parlamentar dos partidos de esquerda: PCP, BE, PAN e PEV apresentam projectos
em catadupa – não podia ali faltar o número da ideologia de
género. As
propostas dos partidos vêm agora acompanhadas de uma espécie de questionário
onde os deputados avaliam o “Impacto de Género” da legislação que propõem.
Quase nada escapa a esta burocracia ideológica. Nem a eutanásia. E assim no
caso da eutanásia, o PAN não só avalia se “Lei permite que os homens e
mulheres participem de igual modo” como ainda pondera se “Caso a lei entre em vigor, os
estereótipos de género, bem como as normas e valores sociais e culturais, irão
afectar homens e mulheres de forma diferente?” Isto para não falarmos desta questão
misteriosa: “Os estereótipos e certos valores
serão uma barreira para mulheres ou homens quando tentarem maximizar os
benefícios que lhes são concedidos pela lei?” pois não se vislumbra
como poderão as “mulheres ou homens” “maximizar os benefícios que lhes são
concedidos pela lei” da eutanásia a não ser que o PAN faça um contrato com o
Além. A outra possibilidade é articular-se esta legislação sobre
a eutanásia com a degradação do SNS.
Assim uma pessoa entra num hospital que funciona quando calha, tem acesso a
medicamentos de forma intermitente, médicos em escusa de responsabilidade ou em
trabalhos forçados, mas fica tranquila porque não só o direito à eutanásia está
assegurado como não haverá discriminação de género na sua aplicação. Realmente
há momentos impressionantes na história das civilizações!
Nunca
tantos disseram tanta asneira em tão pouco tempo. Perante o bebé encontrado no
lixo o chefe de Estado quis deixar “uma palavra especial” à mãe, sublinhando
que foram as suas “condições dramáticas” em que vivia que a levaram “a fazer
aquilo que fez”. Já a presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC), Dulce
Rocha não se sabe baseada em quê declarava jovem sem-abrigo não quis matar
filho que deitou no lixo e defendia “Esta criança deve ir já para a
adoção“. De caminho criava-se um unanimismo nacional: a culpa do
acontecido era de todos nós. Porquê de todos nós? Recusámos ajuda à mulher?
Não. Foi aos hospitais e mandaram-na embora? Não. Chamou uma ambulância e ela
não veio? Não. Nada disto interessava, a culpa era de todos
que é a melhor forma de não ser de ninguém…
Outros factos deram novas versões e das certezas da inocência passava-se
para as certezas das culpas. Os heróis afinal não o eram assim tanto.
Entretanto a ministra da Justiça visitava a jovem mãe que está presa – porquê
esta presa em particular? Nada disto faz sentido e os principais responsáveis
pelo torvelinho em torno desta história foram pessoas com responsabilidades
institucionais, como o PR e a presidente do IAC.
As instituições tornaram-se palco de
emoções. Uns dias abraça-se, pula-se e beija-se. Somos os melhores. Grita-se
pelos heróis disto e daquilo. Garante-se a inocência e a culpa. Qualquer
tentativa de reflexão é vista como uma crueldade. No dia seguinte os ídolos
caem e os heróis tornam-se vilões.
As instituições estão a
deslaçar e há uma espécie de vaga de fundo canalha que como as marés vai
chegando por todo o lado.
COMENTÁRIOS
João Melo de Sampaio: A caldeirada que vai
"mijotando" em Portugal e' a pior porque combina cretinice
"modernista" com um secular e profundo estado de bimbalhice .
Maria José Melo: Eu entendo que esta mulher deveria ter avaliação e apoio psiquiátrico.
Suspeito que, para além de viver na rua, haverá droga e prostituição envolvidas
neste caso.
O que esta mulher fez é definitivamente um crime. A
Justiça terá que a julgar. Poderá haver atenuantes, mas não deixa de ser um
crime.
Não concordo que “a culpa seja de todos”. Porém, o
facto de ser permitido este tipo de vida, “os sem-abrigo”, pessoas que vivem na
via pública sem condições, não é admissível. Não sei se é um problema da
Constituição, de direitos dos cidadãos, permitir esta situação, mas eu acho que
ninguém, nem pessoas nem animais, deveriam poder viver na rua. Pessoas
encontradas a pernoitar, em tendas ou em recantos debaixo de cobertores,
deveriam ser encaminhadas para uma instituição que avaliasse a sua situação e
os ajudasse até esta se resolver. Deveria ter equipas de assistentes sociais,
médicos, etc. que providenciassem essa ajuda. Também tenho a consciência que há
pessoas que não querem sair da rua, mas outras gostariam de ter uma
alternativa.
Uma coisa para mim é certa: Ninguém deve viver na rua!
É uma degradação para os próprios e muito desagradável para os outros.
Carlos Gustavo > Maria José Melo: Caramba... é certo que os
"escritos" da Dra. Helena Matos não são nada consensuais, mas
também não é preciso embarcar nesse exagero, Minha Senhora !
Mário L Delgado > Maria José Melo: O que o seu lirismo ignaro ou má-fé militante parecem não lhe deixar
entender é que entre 1/2 e 2/3 desses sujeitos são estrangeiros ilegais, que
nunca deveriam ter entrado ou há muito deveriam ter sido expulsos do país. Só
um louco perigoso e criminoso pode vir para aqui dizer aos contribuintes
portugueses que têm que dar casa e sustentar essa gente.
Marco Silva: No que respeita à programada invasão,
colonização e destruíção da Civilzação, pela barbárie islâmico-africana e os
marxistas, entendo que os colonos concretos, como essa pessoa do basquete, são
meros piões; manifestações, quase mecânicas, do bárbaro obscurantismo e
consanguinidade de que provêm e cujo mero retorno à sua pertença é solução
bastante. A responsabilidade intencional e o verdadeiro problema, carecido de
resolução eficaz e definitiva, reside, porém, no âmago da aliança,
contra-natura, marxista-globalista-cleptocrática-farisaica, melhor espelhada
nos média e na universidade e dirigida à destruíção do Ocidente Cristão. O
deslace civilizacional da nossa própria sociedade, como atestam a visita
prisional ao ser identificado como responsável pela tentativa de assassinato de
um bebé, e não à maternidade que acolhe a vítima, e a aniquilação das
instituições e da dignidade e autoridade democrática do Estado, pela tonteria
irresponsável e inconsequente, para mim repulsiva, que ocupa Belém, era e é
previsível.
Luis Manuel Ferreira: O que tem feito esta trupe
tribal é dar cabo da civilização ocidental europeia que foi criada a muito
custo nos anos 70/80 e, que esta pandilha laxista oportunista socialista chique
amorfa que nos desgoverna com todos estes episódios diários contra natura !!!
Felizmente que existe uma larga maioria de europeus que estão vigilantes, boa
Helena
Maria Alva: Excelente!! Conjugando o título - A BREVE MARCHA PARA A NOSSA IDIOTIA- com
o último período do artigo - "As instituições estão a deslaçar e há
uma espécie de vaga de fundo canalha que como as marés vai chegando por todo o
lado", está tudo dito sobre a acuidade desta soberba análise da situação
lusa e ocidental, como aliás a HM nos tem habituado.
André Silva: O pior de tudo são mesmo os
idiotas úteis e imbecis completos, que alarvemente apoiam este atraso mental.
Jay Pi > André Silva: Calma. São idiotas, sim, mas
inúteis. Totalmente inúteis. São meninos de esquerda caviar, desligados da
realidade, a viver um eterno delírio adolescente. São gentinha das humanidades,
totalmente improdutiva, que mal sabe organizar umas orações nuns parágrafos,
mas que em toda a sua existência não geraram, não geram nem irão gerar nada de
minimamente útil a quem quer que seja. Vivem do parasitismo social, sendo por
isso fanáticos da mão que lhe lança umas migalhas, vulgo, socialismo. Como o
seu nível moral é rasteiro e abjecto, aderem a esta missão de mau carácter e má
índole, prostituindo-se a soldo de uns trocos para escrevinhar absurdos nestas
caixas. São um nojo.
francisco oliveira: HM tem toda a razão. A nossa sociedade está a ser controlada por
minorias de esquerdas instaladas nos media que cada elemento, multiplica-se em
vários nomes e identidades matraqueiam a sua ideologia e insistem nos assuntos
fracturantes para terem sempre público e não desaparecerem. Responder ás aberrações é alimentá-los!
Triunfo dos Porcos: Excelente retrato deste pobre sítio, transformado numa trágico-comédia em
sessão contínua. Manuel Pestana: Parabéns Helena. Artigo
excelente
Jose Prates > Manuel Pestana: Totalmente de acordo.
Miguel Torre do Valle: Mais uma vez , um artigo
acutilante . Embora seja um recém, e modesto, "cronista" do
Observador só posso ficar contente com o facto de partilhar esta Tribuna com
pessoas com a capacidade de não se " deslumbrarem" com as fábulas que
nos vêm contando. Há um País real ! Se fosse um cão recém-nascido que tivesse
sido depositado no contentor, o que seria de histeria contra a dona/dono da
cadela progenitora ? Qt à menina do Basket ...se fosse no País de origem e lá
tivesse uma portuguesa a jogar, como é que esta teria que se equipar ?
Carlitos Sousa: Excelente análise! Na verdade este país tornou-se numa encenação
circense. E o problema é que a maioria dos
espectadores vota confiante nos palhaços e nos ursos.
Ana Brito: Portugal seguiu a tendência de
outros países da Europa e está agora a implementar o marxismo cultural, devido
à falência ideológica do centro-direita. É
terrivelmente perigoso, até porque a UE que ganhou um poder ilegítimo com os
Tratados de Maastricht e Lisboa sobre os países membros (ilegítimo porque a
pretendida Constituição Europeia tinha perdido referendos em três desses
países, mas aqueles tratados cumpriram os mesmos objectivos), apadrinha o
marxismo cultural, uma ferramenta muito útil para esmagar os nacionalismos, o
importante adversário do novo império europeu, sobre a égide das elites
europeias não eleitas (UERSS).
Graciete Madeira: Artigo muito justo e oportuno!
Ana Brito: O artigo é excelente e
premonitório. Quando observamos o que se passa na Coreia do Norte, Cuba,
Venezuela e mesmo Brasil, a adoração aos seus abjectos, corruptos e estúpidos
líderes pelas massas infantilizadas, é bom lembrarmo-nos que esse é um último
estado de um processo que começa sempre pela negação da realidade.
Joel Freitas: Hoje em dia reflexão é algo que
não faz parte da maioria da classe política, salvo algumas excepções todas as
acções são baseadas no efeito que poderá ter na opinião pública. A postura do
PR como a visita da MJ à prisão são o populismo no seu expoente máximo, tudo é
feito em frente às câmaras para criar o maior impacto possível e esse é o
principal objectivo.
Pérolas a porcos: Conforme demonstrou a Revolução
Francesa, o poder da aristocracia (e mesmo da realeza) só existia porque ela
era enaltecida e protegida não apenas de dentro, pelos seus próprios membros,
mas pelos seus lacaios e por muitos que - estando de fora - ora julgavam
pertencer-lhe, ora retiravam da existência dessa aristocracia e realeza
benefícios de vária ordem - quer benefícios directos em espécie, quer um
benefício maior, que era o poder que elas lhes delegavam e lhes permitia
dominar os outros!!! A “nova aristocracia” são hoje em dia as “minorias”, sejam elas étnicas, sexuais ou
whatever, de que se destacam os indivíduos e indivíduas que por qualquer razão
- como os aristocratas - não cumprem porque acham que não têm de cumprir;
cometem crimes mas recusam ser acusados e ainda são enaltecidos (e defendidos)
por quem gostaria de ter cometido ou já cometeu esses ou outros crimes; e
tratam os outros abaixo de cão, por serem brancos, cumpridores, trabalhadores e
contribuintes… ou seja, os servos que produzem alguma coisa e que sustentam a
“nova aristocracia” (leia-se “os novos parasitas”)…!!!
Maria Nunes: A cronista diz tudo o que há a
dizer sobre este pobre país. Não sei qual vai ser o nosso futuro, mas não
auguro nada de bom.
Vicente Silva: Esta gente que ignora as
vítimas e abraça os que são capazes de violência... Esta gente foi eleita, mas
não presta. Esta gente que não visita as
vítimas, que as ignora e prefere o espectáculo, esta gente não presta! Esta gente que nos diz que a culpa é nossa,
quando sabe que está a mentir, esta gente não é gente de bem e não merece a
nossa confiança.
Pedro Ferreira > Vicente Silva: No meu entendimento, é um
problema resultante da qualidade da democracia.
Pérolas a porcos: Quando se metem raposas no
galinheiro, nenhuma galinha escapa.
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