domingo, 3 de novembro de 2019

Derivação imprópria

É, por exemplo, a mudança do estatuto gramatical de uma palavra, um verbo transformado em substantivo, um substantivo em adjectivo - no caso presente, o nome “laroca”, com o significado de “patanisca”, transformado gentilmente em adjectivo de graça (gracioso, este como derivado normal, com acrescentamento de sufixo), talvez pelo aspecto suave que o dito produto alimentar, tão saboroso, toma, pelo menos nalguns casos – as “pataniscas” da minha irmã, por exemplo, apresentando um todo redondinho a condizer com o seu sabor rotundamente divino. Não acho, todavia, que a dita “laroca” da designação cavalheiresca de Salles da Fonseca, mereça a transformação em adjectivo, aplicado à virtuosa representante do BE, embora não repugne o apodo de “patanisca”, que melhor lhe quadraria, pela macieza gustativa do seu todo maneirinho, de olhos amplamente abertos sobre as estreitezas dos que menos têm, por conta dos que lhes chupam o sangue “com pés de veludo”, (da cantiga ao modo já gramsciano do nosso Zeca Afonso e de outros que, na esteira desse e de outros do mesmo plano carismático, estabeleceram um contínuo jogo de forças políticas, retratadas por Giovanni Guareschi, num livro que eu tinha e infelizmente se perdeu, “Le petit monde de Don Camillo” onde essa oposição de forças se verificava com ar prazenteiro e de amizade, afinal, entre Peppone e Don Camillo, este último representado, no filme que vi, por Fernandel. Nós, no nosso burgo, nunca poderíamos estabelecer um conflito assim, entre os Peppones e os Don Camillos, embora a gentileza fidalga de SF, com os seus laivos de superioridade machista – (que me desculpe SF o adjectivo final, como caso de derivação própria) – tente amenizar pela graça o conflito real, neste nosso país a descambar para a preponderância dos Peppones, chamados à liça pelo Peppone-mor, sob a sua capa de falso S. Martinho, que não está mesmo disposto a repartir, é claro …
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 01.11.19
Como diria Monsieur de La Palisse, comecemos pelo princípio. E o princípio, desta vez, não é o verbo mas sim o adjectivo que a todo o momento se transforma em substantivo, ou vice-versa. Laroca bela, graciosa. E qual não foi o meu espanto quando o dicionário Priberam me apontou patanisca (sim, essa mesmo, a de bacalhau) como sinónima de laroca. Então, sinónima por sinónima, chamemos Patanisca a essa que anda por aí a dizer coisas à direita (ela sopra da esquerda) já que, em tempos, tivemos uma Ministra da Educação que, com toda a justiça, recebeu a alcunha de «carinha laroca».
Patanisca, a do Bloco etimologicamente sinistro, para que não restem dúvidas aos meus leitores em Margão, em Mbabane ou no Estreito de Fernão Veloso. E mais importante do que saber quem é ela (é do conhecimento público que se trata de uma Senhora casada e mãe de família, respeitável e respeitada), interessa saber o que é ela. A Patanisca é gramsciana. Não sei se ela sabe disso, mas é. E é nessa condição que temos que a ouvir (e aturar).
Então, foi assim: extintas as empresas industriais e agrícolas que não resistiram às exigências laborais impostas pelo PCP; por falta de «barricadas», o proletariado desmobilizou-se e teve que «se virar» por vias de sobrevivência imediata. Esse amolecimento fez implodir a mensagem revolucionária trauliteira. Mas, entretanto, apareceu a indústria da comunicação pelo que as barricadas operárias foram substituídas pela mensagem sofisticada, permanente, da destabilização da burguesia. Daí, o clima de sobressalto permanente, a criação da ansiedade, da insegurança, da desconfiança, da denúncia, da caça às bruxas. Todos os mandantes são corruptos - e nós sabemos que os há mas seguramente não serão todos – pelo que há que construir uma classe impoluta que assegure a hegemonia cultural.
Eis ao que anda a Patanisca y sus muchachos.
E se todos nós, os que não somos muchachos dela, concordamos com o combate à corrupção, não estamos, contudo, pelos ajustes nessa de considerarmos ab initio todos os mandantes como mentes perversas e puníveis. Não, o que nós não queremos é que continue por aí à solta o reino do hedonismo num mar de desregulamentação em que tudo vale desde que se enriqueça muito e já! Ao contrário desses críticos, não nos move a inveja, queremos exterminar a pobreza e não viver à custa do incitamento dos «desgraçadinhos» à desconfiança dos que usam camisas lavadas. Nós, os serenos, rejeitamos o discurso do ódio mesmo quando proferido por uma patanisca bela e graciosa.
(continua)
Lisboa, 1 de Novembro de 2019
Henrique Salles da Fonseca
BIBLIOGRAFIA: HEGEMONIA CULTURAL EM ANTÓNIO GRAMSCI –
COMENTÁRIOS:
Francisco G. de Amorim, 01.11.2019: O que tem de patanisca... é tanta que não vai acabar nunca. Infelizmente. Que não nos faltem as de bacalhau... de que sou fã.


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