sábado, 6 de novembro de 2021

A “Pedra Filosofal” em trâmites de regressão

E Alberto Gonçalves, brincando, com a leveza habitual, contra os excessos da demagogia, de retórica perversa e imperturbavelmente falsa, nos seus cinismos e contradições, a que a própria Greta se não furtou.

São só duas ou três décadas até achatar o efeito de estufa

Os “lockdowns” da Covid foram um óptimo ensaio. Quem se fecha “duas ou três semanas” de modo a “achatar a curva”, fecha-se a vida inteira para combater o efeito estufa.

ALBERTO GONÇALVES Colunista do Observador

 OBSERVADOR, 06 nov 2021

 Percebe-se logo que um assunto é sério quando a sua mais popular divulgadora é uma adolescente sem desequilíbrios mentais e com notável assiduidade escolar. Além disso, se o assunto não fosse sério não preocuparia cabeças brilhantes do nosso tempo, como o eng. Guterres, o sr. Biden, o sr. Johnson, o sr. Francisco que é Papa e o sr. Francisco que mora aqui na rua e que, após ver uma fita na HBO e a capa da revista “Visão”, passou a acreditar que a flatulência das vacas causará dilúvios bíblicos em seis meses.

Pois é, estou a falar do “aquecimento global”, que depois se dizia “alterações climáticas”, que agora se diz “crise climática” e que enquanto não muda novamente de nome andou a ser discutida a altíssimo nível na cimeira do clima, em Glasgow. A ideia é simples: se não se fizer alguma coisa, por exemplo cimeiras do clima, o mundo acabará não tarda. Não brinco. “Eles” também não. A prova de que isto não é para brincadeiras são os sucessivos avisos de que o mundo iria acabar em 2010, 2000, 1990 e por aí fora. Mesmo os Maias, os do México e não os do Eça, não se enganaram quando previram o Apocalipse para 2012: o calendário gregoriano é que não presta. Fosse o calendário competente, não teria desapontado nas últimas décadas milhares de profetas do Juízo Final, incluindo George Wald, um biólogo de Harvard que em 1970, por ocasião do primeiro Dia da Terra, anunciou “o fim da civilização em 15 ou 30 anos”, caso não se tomassem “medidas urgentes”.

À cautela, sou de opinião de que é preferível tomar as medidas urgentes antes das restantes. Por isso, aplaudo a rapidez com que os diversos líderes mundiais e regionais correram para a Escócia. O recurso a Airbus e a longas comitivas automobilizadas não é hipocrisia nenhuma. Nunca ouvi os guardiões do clima defenderem a interdição de aviões e carros para toda a gente: apenas querem interditá-los à ralé, que por definição não tem urgência para nada. Nesse sentido, só a má-fé justifica as críticas à presidente da Comissão Europeia, que foi à cimeira deixar alertas arrepiantes sobre o uso de combustíveis fósseis e pelos vistos freta jactos privados para viagens de 47 (quarenta e sete) quilómetros. O que os intriguistas se esquecem de explicar é que a sra. dona Úrsula Vanderleia frequenta jactos privados por manifesta falta de uma rede de jactos públicos. Naturalmente, o problema é o capitalismo.

O capitalismo, seja sob que formas for, é que deve ser derrubado com urgência. Antigamente, o problema era a exploração do homem pelo homem. Hoje é a exploração do ambiente pelo homem. Vai-se a ver e a culpa é sempre do homem, que teima em explorar sem escrúpulos tudo o que o rodeia. Entre parêntesis, noto que utilizo “homem” no sentido heteropatriarcal e misógino do termo – leia-se as mulheres integram a pandilha. Parêntesis fechados, o essencial é eliminar o homem (e as senhoras), ou no mínimo devolvê-lo (e a elas) de volta às cavernas. Ou ao século XIV, vá.

A esse respeito, estamos bem encaminhados. O objectivo é ir renunciando progressivamente a cada avanço tecnológico dos últimos cem, duzentos ou talvez quatrocentos anos. Não custa muito. Ao fim e ao cabo, basta-nos abdicar do conforto, da riqueza, da saúde e genericamente do nível de vida que, comparativamente aos modelos económicos e sociais anteriores, o capitalismo comparativamente livre nos proporcionou. No fundo, não precisamos de transporte privado, telemóvel privado, computador privado, esquentador privado, laboratórios privados, produção privada, comércio privado, habitação privada, família privada. Uma bicicleta (partilhada), um abrigo (comunitário) e senhas de refeição (racionadas) chegam e sobram para a nossa felicidade, a que acresce a comunhão com a natureza e com as compotas de que o consumismo desvairado nos afastou. Os irracionais luxos descritos acima reservam-se unicamente aos salvadores que, em benefício do planeta, nos proíbem de aceder aos luxos.

Os “lockdowns” da Covid foram um óptimo ensaio. Excepto ocasionais resmungos, próprios de ignorantes, constatou-se que as pessoas se resignam ao que calha, perdão, à defesa do bem comum. Se se resignaram a empobrecer e a ficar malucas a pretexto de um vírus respiratório, não se importarão de se desgraçar de vez para evitar o Armagedão ambiental previsto para anteontem. Além de bom conselheiro, o medo é indispensável à purificação das almas. Quem se fecha “duas ou três semanas” de modo a “achatar a curva”, fecha-se a vida inteira para combater o efeito estufa. O fundamental é salvaguardar as gerações futuras, que de certeza agradecerão imenso por desfrutar de uma existência rica e preenchida como a dos estilitas da velha Síria ou dos residentes da moderna Venezuela. Para que, um hipotético dia, a humanidade não se arrisque a rebentar com o mundo, rebenta-se já com a humanidade. Parece sensato.

A terminar, reflictam nas palavras da pequena Greta, eloquentemente berradas numa rua de Glasgow e dirigidas aos poderosos que não lhe concederam o devido protagonismo na cimeira: “Enfiem a vossa crise climática no [calão para ânus]”. E com urgência, por favor.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS   CLIMA   AMBIENTE   CIÊNCIA

COMENTÁRIOS:

Óscar Alhão: Eu só estou à espera que comecem a vacinar a malta para combater as alterações climáticas. Antonio Mendes: Brilhante, pena o AG ainda não estar totalmente curado do síndrome anti-Covid e não ter comparado com fenómenos semelhantes na Idade Média.       Fenix Europa: Gostava de conhecer a totalidade da pegada ecológica de cada participante no fórum do clima. E comparar depois com as médias.   bento guerra: Eles "achatam-nos" e sobem os combustíveis e de seguida os preços de tudo. Inflação passageira , diz a "barbie" do BCE, que até já promete juros baixos por mais um ano. Comem-nos as poupanças e lixam-nos a eco-vida         João Amorim > bento guerra: Barbie? Deve estar a brincar, a mulher é um susto!  Fenix Europa > João Amorim: Entre parênteses....          bento guerra > João Amorim: Vá ver o álbum de fotos da rapariga, desde a natação artística. Mas ela é "barbie" a pensar.        FME: Em 1980 éramos cerca 4 mil milhões. Em 2020 andávamos perto de 8 mil milhões de humanos a consumir os recursos do planeta. A Europa queixa-se de um inverno demográfico em vez de festejar a redução de humanos a consumirem recursos. Os continentes africano e asiático continuam a abastecer em cascata o planeta de novos humanos. São estes dois continentes os grandes responsáveis pela insustentabilidade dos recursos energéticos do planeta. Solução? Políticas demográficas à escala global! Quanto às Gretas destes novos tempos, diria que em 1980 tomava banho com um shampoo e um sabonete, e hoje, qualquer vegan utiliza no banho uma panóplia de produtos que meteria inveja a qualquer estrela de cinema do século passado. Solução? Tomar banho apenas 1 vez por semana e proibir produtos de beleza!               José Dias: Excelente retrato da hipocrisia descarada com que o povão gosta de ser enganado ... Faz o que Eles dizem para que nunca tenhas o direito de fazer o que Eles fazem! E quando uma sociedade dita nos pináculos da Civilização concede posição de liderança - na abordagem de tema onde a Ciência não tem forma de comprovar as teorias e os modelos de previsão climática que vai sucessivamente criando - a uma adolescente destrambelhada, com reconhecidos problemas do foro mental e que não porá os pés numa escola há já um bom par de anos ... é por demais claro que os palhaços já tomaram conta do circo! PS: relembro a previsão, na antevéspera, do incrível fenómeno do "rio atmosférico" que nos iria a todos ensopar em longas e copiosas enxurradas de água, que a ANPC pontuou com alertas de todas as cores e no final ninguém viu ... não acertamos nas previsões meteorológicas a 48h mas não temos dúvidas sobre a evolução futura do Clima Global. Certo!         Gustavo Lopes: O bom e velho AG de volta, no seu melhor!!!  Fantástico!           Snyder Cut: Mais uma palhaçada de artigo             Vitor Batista > Snyder Cut: Fez doer?              Luís Costa: Um artigo inconcebível que parte de um falso pressuposto, de que o fim do mundo já foi anunciado diversas vezes. Na verdade, houve muito debate científico até se chegar ao consenso de que as alterações climáticas são reais, cada vez mais rápidas e com efeitos catastróficos dentro de algum tempo. Quanto mais o negarem e mais adiarem as soluções (caso ainda seja possível…) pior será. Também não simpatizo muito com a menina Greta, mas usar isso para desprezar um problema real não é mais que demagogia        Vitor Batista > Luís Costa: Sem dúvida que as alterações climáticas são reais, agora se são consequência directa do homem isso já não sei, de notar que antes de o homem existir, as alterações climáticas já se processavam e de forma bastante violenta, mas de uma coisa eu sei, a forma como os oceanos estão poluídos com micro plásticos é culpa nossa, e é uma vergonha pouco ou nada se fazer para evitar isso, quando já se sabe que a sua descomposição vai durar milhares de anos      Coronavirus corona > Luís Costa: Qual foi o estudo conclusivo, o sinal evidente que existem alterações climáticas e que são provocadas pelo homem? Tenho para troca "estudos" que ia acontecer isto e aquilo e chegando ao ano profetizado nada aconteceu. Estão bem compilados no site extinctionclock e com a contagem desses tempos para que não nos esqueçamos dos que vão ficando para trás sem que alguma coisa tivesse acontecido.  Qual a experiência empírica que demonstra que existem alterações climáticas. Enxurradas? Sempre as houve (em cada ponte antiga há quase sempre a marca da maior dúvida do rio e não são destes anos próximos). Anos mais secos e outros mais chuvosos? Sempre os houve. Anos com temperaturas muito frias e no verão ondas de calor? Já cá ando há uns bons aninhos e sempre me lembro delas situações.  Não. O que você vai lendo é que "este foi o mês mais quente de não sei quando". Vai consultar o estudo que está por trás da notícia? Ou limita-se à notícia? Quem media as temperaturas no meio da África no séc XIX e daí para trás? Que as média e registava em Trás-os-Montes? Os termómetros de há cem anos eram tão fiáveis como os actuais? Como sabemos as temperaturas de há quatrocentos anos? Não sabemos. Fazemos suposições através de elementos.  Já alguma vez ouviu falar do escândalo climategate? Foi em 2009. Quase que foi apagado da nossa memória. Você é instrumentalizado para acreditar na certeza científica que não existe. Esse medo está a enriquecer muito boa gente. Não, não é treta. Está mesmo.               Rui Lima: Não sei se isto está a aquecer, o que sei é que o mundo ocidental em termos energéticos vai ficar na mão dos seus inimigos.  A Galp vai dedicar-se ao lítio abandona a exploração de petróleo assim estão a fazer outras companhias no ocidente, por muitos anos ou temos petróleo e gás ou será o caos, se não queimassem carvão no mundo já seria óptimo, 60% da electricidade na China e na Índia têm esta origem, vamos matar as empresas no ocidente para glória da China    Cupid Stunt: Hehe, muito bom! Os cordeiros gostam e vivem do medo.      Carlos Dias: Se for preciso ter fome e frio para ser sustentável e não ferir o planeta então paciência Também não estou para isso nem para aturar hipocrisia alheia. Menos seres humanos e mais civilizados é um objetivo ao alcance de cada um de nós Não é preciso cimeiras     Carlos Dias: Excelente ponto de vista. Concordo com a sua opinião, Sr Alberto Gonçalves e atrevo-me a acrescentar Ao seu lamento o meu voto de pesar.


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