sábado, 13 de novembro de 2021

Quando a inteligência comanda


Como é o caso de Alberto Gonçalves: neste seu retrato arguto de uma figura política pobremente ambiciosa, que sempre sobrepôs o interesse próprio ao real interesse pelo seu país, país entregue a outro ambicioso com menos escrúpulos ainda. Ambos, todavia, justificados pela nossa vil apatia de populacho, a que todos pertencemos, entregues à indiferença, por conta da côdea alheia… que o mais bem protegido pelos seus pares não deixa escapar das mãos, é claro. Rio pouco conta, ao desprezar os pares da sua banda. Talvez Rangel seja mais compincha para com os tais pares, sobretudo se se aliar a gente que parece mais séria, como esses do IL, pese embora o pouco peso que este partido tem, por conta do populacho amante da côdea que lhe é distribuída por quem a agarrou há muito, essa côdea alheia, com unhas e dentes…

O Rio está seco

O dr. Rio possui uma espécie de “estratégia”: havendo a paciência necessária, um dia os destinos da nação caem-lhe no regaço, através do cargo de primeiro-ministro. Ou de vice, que já o satisfaz.

ALBERTO GONÇALVES, Colunista do Observador

OBSERVADOR, 13 nov 2021

Um sonho por realizar será uma mentira / Ou será coisa pior / Que me empurra para o rio / Embora eu saiba que o rio está seco (Bruce Springsteen, “O Rio”)

Vai para duas décadas, durante os dois minutos em que reparei no assunto, o dr. Rio pareceu-me um autarca razoável na medida em que irritou as pessoas certas. Desde que é chefe do PSD, o dr. Rio irritou as pessoas erradas. No caso, a pessoa errada: eu próprio. Enquanto líder da oposição, se é que podemos dizer assim, o dr. Rio irritou-me imenso. O dr. Rio assume um “estilo” (palavra dele). E esse é que é o problema.

O seu “estilo” de fazer oposição consistiu em não fazer oposição nenhuma. Nestes seis anos em que, coadjuvado por uma parelha de agremiações leninistas, o PS levou a cabo um projecto sem precedentes de conquista do Estado, submissão da sociedade e atraso do país, o dr. Rio manteve-se genericamente calado. Às vezes, dava uns pios, raramente para criticar os socialistas, frequentemente para facilitar os respectivos avanços e prepotências – por exemplo na supressão dos debates quinzenais e das liberdades a pretexto da Covid. Em regra, porém, o dr. Rio só abria a boca para criticar dissidentes internos do seu “estilo”, ou os jornalistas que não “passavam” devidamente o “estilo” ao eleitorado. Com regularidade, o dr. Rio também falava para informar os incréus da localização geográfica do PSD, que ora está ao centro-esquerda, ora ao centro, ora em qualquer lugar que não afugente o dr. Costa e não comprometa o sonho do dr. Rio: ser convocado pelo dr. Costa para escoar as migalhas do poder.

Mas tudo isso é passado. Agora, o dr. Rio promete oposição a sério. Agora, em pleno processo de “directas” no PSD, o dr. Rio garante que nem sequer fará campanha contra Paulo Rangel para se concentrar nos ataques ao governo. Agora não contem com piedade ou cedências. Agora é que elas mordem. Agora, meus amigos, é que vai ser. E o que tem sido? O costume: o dr. Rio ocupa o tempo a insultar a cáfila de malfeitores empenhada em enxotá-lo do cargo. Nos intervalos, admite toda a sorte de acordos, alianças, pactos, tratos e contratos, incluindo, principalmente, com o PS. O dr. Rio não tem cura. E o pior é que ele não se acha doente. Num certo sentido, o dr. Rio não está doente. Este é o seu estado normal.

Com o respeito possível, o dr. Rio não parece um sujeito brilhante. Como muitos sujeitos limitados, acha-se portador da Verdade, com maiúscula. Sem maiúscula, o dr. Rio possui uma espécie de “estratégia”. O homem convenceu-se que, havendo a paciência necessária, a dele e a dos militantes do PSD, um dia os destinos da nação caem-lhe no regaço, através do cargo de primeiro-ministro, ou do cargo de vice, que já o satisfaz. Não é uma ideia demasiado absurda, ou pelo menos não é mais absurda que a nossa paisagem “institucional” (tosse). Se figuras do calibre do prof. Marcelo e do dr. Costa chegaram onde chegaram, são legítimas as ambições, aliás modestas, do dr. Rio. Em teoria, a “estratégia” não é má. Na prática, a “estratégia” é péssima, e as consequências devastadoras.

É que, perdido em guerras no partido e na vastidão do próprio umbigo, o dr. Rio esquece-se da existência de um país. E que o país, que nem sempre deve ser confundido com os portugueses, não suporta (na acepção de “resistir”) a continuação do caldo de desonestidade, arbitrariedade e fanatismo colectivista que há anos o dr. Rio vem suportando (na acepção de “permitir”, “ajudar” ou “aplaudir de pé”). Para cada português que não seja o dr. Rio e os aficionados assumidos ou disfarçados do dr. Rio, a sobrevivência ou o falecimento políticos do dr. Rio são de uma monumental irrelevância. Num mundo ideal, a função do dr. Rio seria oferecer uma alternativa à selvajaria do PS, de modo a contrariar o PS e, se a coisa corresse benzinho, a derrotar o PS. No mundo real, o dr. Rio não o fez, não o faz e, a julgar pelas recorrentes ameaças de “bloco central”, não o fará. Porque não quer, porque não sabe e se calhar porque não pode: descontadas a contabilidade de um e a manha do outro, pouca ideologia distingue o dr. Rio do dr. Costa.

No fundo, e à superfície, é simples: o PS, aquele que se alia a comunistas ou aquele que não se distingue de comunistas, está a caminho de nos reduzir a uma filial ibérica do “bolivarismo”. Até ver, sozinho ou acompanhado, o PSD é a única força partidária capaz de o impedir. Está provado que o PSD do dr. Rio não salvará a pátria. Entretido a tentar salvar o dr. Rio, o PSD do dr. Rio nem salvará o PSD. Antes que o dr. Rio enterre literalmente o PSD, convirá que o PSD enterre figurativamente o dr. Rio.

Um parágrafo pequenino para o dr. Rangel. O dr. Rangel, candidato decorrente de múltiplos compromissos, tem uma enorme virtude: não é o dr. Rio. Falta perceber quem é. Restam umas semanas.

CONGRESSO DO PSD   POLÍTICA   RUI RIO   DIRECTAS PSD   PSD

COMENTÁRIOS:

Joaquim Moreira: Devo dizer, antes de mais, que concordo com muitas das ideias dos liberais. Mas existe uma certa arrogância, que, também antes de mais, revela muita ignorância! Mas revela também, que não é por se terem ideias muito bonitas que se convence alguém! Antes pelo contrário, o discurso de Carlos Guimarães Pinto, aqui há dias na televisão, até conseguiu pôr de acordo uma recente oposição. Estou a falar da oposição interna do PSD, que se pôs de acordo a rebater os argumentos que CGP há muito anda a vender! De facto, se governar fosse falar, o nosso país era um paraíso, onde se podia viver sem ter o mínimo de juízo! Na realidade, esta crónica de AG, está muito longe da verdade. Não porque Alberto Gonçalves seja mentiroso, mas porque, neste caso, é muito pouco rigoroso. Até porque, como várias vezes confessou não acompanha o que se passa nos partidos, muito menos o PSD de Rui Rio, porque, ao que julgo saber, acompanha apenas o que no Observador ler. E como é muito fácil de entender o Observador faz tudo para que Rui Rio não chegue ao poder. Mas não vou perder mais tempo a explicar o que, desde que Rui Rio chegou à liderança do PSD, se está, na realidade, a passar. Muita coisa está e vai mudar, quer na forma de fazer política, quer na forma como a aplicar. Mas vamos ter que esperar. E agora já falta muito pouco para, primeiro o PSD falar, e depois, logo seguir, o povo decidir em quem vai votar. E, podendo-me enganar, estou muito convencido de que Rui Rio as duas eleições, vai ganhar. E digo, agora sem nenhum receio de errar: quem ganha não é Rui Rio é o interesse nacional e Portugal!          Fernando E: Muito bem. Pobre Portugal: Até tu,....Alberto. A bater no Rio!!! O inimigo é o Costa, pá! Américo Silva: Se o que o PSD tem mais para oferecer é Rangel, o PSD está seco.       eduardo oliveira: Obrigado Alberto Gonçalves Esta sua crónica pode resumir-se em 3 sílabas: BRI-LHAN-TE. Só falta ao mamífero em causa ser finalmente corrido do PSD para se poder ir filiar no PS.        Vitor Batista: Este cronista nunca mas nunca me desilude.. Retrato fiel e assertivo daquele que assaltou o PSD para ser o pajem de Costa, o xuxalista.          José Dias: Não obstante Rangel de forma alguma me impressionar pela positiva, não consigo deixar de concordar com tudo o demais que o cronista aqui trouxe a propósito de Rui Rio. Não sou adepto da oposição baseada no dizer mal de tudo e do seu contrário só por ter vindo do Poder mas ... parece-me necessário que a Oposição exista, dê sinais de tal e produza crítica construtiva e alternativas viáveis. Poderá ser a minha memória a atraiçoar-me mas confesso que nada disso me vem à mente quando penso nos últimos anos ...         João Mourinho: Ora, hoje já vão dois. Aqui no Observador, as máquinas de escrever contra o Rio trabalham a todo o vapor. Homilia atrás de homilia, falácia atrás de falácia, vale tudo! Preferem apoiar o Rangel, esse candidato que tem atrás de si o pior do PSD, desde o Relvismo medíocre, passando pelo avental do Montenegro... no primeiro caso, tirou um curso que nem ele sabe como, no segundo, toda a gente conhece as teias de influência municipal.  Rio é essa pessoa, livre, que não se importa de seguir o que pensa, contra tudo e contra todos. Por não ser controlável é que os aparelhistas lhe querem fazer a folha, e põem toda a comunicação social contra ele. Não há dúvida que Rio representa valores muito melhores que Rangel.            FME  > João Mourinho: É um pouco estranho os jornalistas do Observador estarem todos alinhados na mesma narrativa contra Rui Rio. Qual será a causa que agrega a mesma opinião anti-Rio nos profissionais do jornal, quando, se percebe pelos comentários que existe uma divisão 50-50 entre os apoiantes de Rio e de Rangel?         Vitor Batista > João Mourinho: Então desminta com factos as "falácias" contra o dr Rio...         josé maria: Mais recente sondagem:   PS = 40%  PSD = 26%  É a vida...         FME >  josé maria : 45 m “Sondagem em Lisboa: Medina quase duplica intenção de voto. Quatro anos depois, o actual presidente da Câmara está à beira de reconquistar a maioria absoluta da capital que teve quando recebeu o poder das mãos de António Costa e deixa adversário de direita a 24 pontos de distância.”          Vitor Batista > FME: Eheheheh! pois foi....Mas isso o "Domingos Farinho" não diz. 

 

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