Sobre um nome ímpar da cultura portuguesa, que a Internet me permitiu transcrever. É claro que muitas vezes eu vira “A Canção de Lisboa”, mas à minha ignorância bastaram os nomes de Vasco Santana, Beatriz Costa, António Silva e mais algumas figuras de excelentes actores e actrizes do excelente filme, (da Tobis), de 1933, primeira longa metragem da comédia cinematográfica portuguesa, entre as várias que se seguiram, dos encantos da minha geração, que ainda hoje seduzem, julgo, como marcos de criatividade e graça. Mas não fixara o nome do seu encenador e produtor de diálogos, que o excelente programa de 2012, que vi ontem, por duas vezes, no “Canal Memória”, me fez fixar – Cottinelli Telmo: uma figura captada em vários momentos da sua vida, recordada por familiares bem expressivos e produções do cineasta e arquitecto, mais tarde um dos responsáveis pelo Projecto da “Exposição do Mundo Português”, e, entre tantas outras obras - que a Internet cita, (e que transponho, em complemento do programa de 2012) – responsável pela Faculdade de Letras de Coimbra e de mais espaços universitários, entre os quais a longa escadaria que unia a Baixa à Cidade Universitária coimbrã, que tantas vezes percorri, nos idos de 50. Uma figura, de facto, a reter, que o programa de 2012 soube tão bem captar, quer através dos dados e imagens, quer das entrevistas a familiares e a outras nobres figuras que com ele conviveram, entre as quais o arquitecto Álvaro Siza Vieira que dele dá informações preciosas. Por isso, pedi o auxílio da Internet, para fixar os traços polifacetados de uma figura rara do nosso património artístico cuja evocação ficou bem evocada nesse programa. Figura que teve uma trágica morte, como o fizeram sentir os que sobre ele se debruçaram, e que a imagem que o definiu, da onda que o levou tão bem simbolizou, nesse programa.
Apenas fiz um reparo, na elocução dos
entrevistados- familiares e amigos – em referência às suas relações com Salazar – como se tivessem receio ou escrúpulos
em referir, perante as câmaras - de hoje - tais relações, que não seriam tão cordiais assim,
com um ditador de segunda - pese embora a extraordinária força dinâmica de Salazar no seu empreendedorismo, ao longo da
vida, de que Cottinelli
Telmo foi brilhante executor.
Como ando a reler a excelente obra de José Gil – “PORTUGAL HOJE - O Medo de Existir” – retrato impecável do povo português - e em meio da minha admiração pelo aprofundamento filosófico bem perspicaz e de extrema agudeza crítica desse povo “adiado” – senti como mancha inútil o seu ataque frequente, de responsabilização de Salazar por isso que somos, conhecendo bem, José Gil, que o que somos, fomos, nas nossas execuções ao longo da história pátria, e que as causas disso são diversas, responsabilizando, naturalmente, as governações, mas, julgo que também, o nosso jeito natural para uma mândria soalheira, que a mama dos empréstimos e dos impostos sempre permitiu, desde os tempos dos primeiros comboios e que Salazar tentou debelar, à sua maneira, mesquinha embora, mas de honesta orientação, para saldo das contas que nos envergonham.
Cottinelli Telmo
Origem: Wikipédia, a
enciclopédia livre.
José Ângelo Cottinelli Telmo GCC (Lisboa, 13 de
Novembro de 1897 — Cascais, 18 de
Setembro de 1948) foi um arquitecto e cineasta português.
Figura multifacetada, a sua obra
abarcou uma enorme diversidade de áreas,
destacando-se não apenas na arquitectura e cinema mas também na escrita,
poesia, desenho, música, banda desenhada. Destaca-se no âmbito da cultura portuguesa da
primeira metade do século XX, surpreendendo pelo vasto número de iniciativas em
que se envolveu. Cottinelli
Telmo acreditava que a arquitetura não se baseava numa
única disciplina, mas sim na unificação de várias disciplinas artísticas.
Com Carlos Ramos, Cristino da Silva, Jorge
Segurado, Pardal Monteiro e Cassiano
Branco, pertenceu à geração de pioneiros do modernismo na
arquitetura em Portugal. Homem da
confiança de Duarte Pacheco, Cottinelli Telmo foi
responsável por obras de vulto do período do Estado Novo, nomeadamente pela conceção
global e por edificações de grande visibilidade da Exposição do Mundo Português (Lisboa,
1940), e pelo planeamento da expansão da Universidade de Coimbra (1943).
Também elaborou o projeto de construção do Campo de Concentração do Tarrafal.
Índice: 1Biografia
e obra 2Alguns
projetos e obras
2.1Instalações
Ferroviárias 2.2Padrão
dos Descobrimentos 2.3Instalações
da Standard Elétrica
3Ver
também 4Referências 5Bibliografia Biografia e obra
A Canção de
Lisboa, 1933 (com Beatriz Costa e António Silva)
Estação Fluvial
Sul e Sueste
Filho
de Cristiano da Luz Telmo e Cecília Cottinelli Telmo. O seu pai morre em 1912.
Frequenta o Liceu Pedro Nunes (1907-12). Forma-se em
Arquitetura na Escola de Belas-Artes de Lisboa (1915-20).[4][5]
Dedica-se
desde muito cedo a uma multiplicidade de áreas, do desenho e artes gráficas à
escrita ou à música. Realiza capas e ilustrações, faz as suas primeiras obras
de banda desenhada, compõe música e dirige a orquestra na festa de estudantes
de Belas Artes (Teatro S. Carlos, 1918).[4]
Faz
os seus primeiros projetos: Pavilhão de Honra de Portugal (Exposição
Internacional, Rio de Janeiro, 1922); Escola Camões, Entroncamento (1923).[4]
Em
Abril de 1923 é admitido como Arquiteto na Companhia dos Caminhos de Ferro
Portugueses, para a qual irá realizar numerosos projetos, como os
edifícios de passageiros da Estação Ferroviária de Barcelos e
de Vila Real de
Santo António, a torre de sinalização do Pinhal Novo ou o
monumental átrio realizado aquando da remodelação da Estação do Rossio.[5] Mas
entre estas obras há que destacar o projeto da inovadora Estação Fluvial Sul e
Sueste (ou Estação Ferroviária do Sul e Sueste),
situada no Terreiro do Paço e construída entre 1929 e
1931 (durante muito tempo esta estação foi a porta de entrada em Lisboa para
quem vinha de barco do Barreiro).[6] A
Estação Fluvial Sul e Sueste assinala a "consumação
da [sua] abertura ao modernismo internacional". Aqui, as
possibilidades construtivas do betão armado, "cuja estrutura tornou livres
planta e fachada, eram assumidas plenamente através de uma composição de
volumes elementares, da cobertura plana e das grandes superfícies de vidro que
evidenciavam a quadrícula rigorosa da estrutura".[7]
Entre
1921 e 1929 dirige a revista infanto-juvenil ABC-zinho,
sendo responsável por grande parte do seu conteúdo; faz capas, textos,
ilustrações, banda desenhada, de que foi um dos pioneiros em Portugal (foi
autor de páginas autónomas onde confluem texto e imagem, colaborando, em muitas
outras, como argumentista, com artistas como Carlos
Botelho). [8]
Em
1930 participa na I Salão dos Independentes, SNBA, Lisboa. Três anos
mais tarde realiza A Canção de Lisboa, o primeiro filme sonoro integralmente
português e uma referência da filmografia portuguesa da época, com um elenco
que incluía Vasco Santana, Beatriz Costa e António Silva. [9]
Em
1934 é nomeado, pelo Ministro Duarte Pacheco, para integrar a Comissão para as
Construções Prisionais; projeta edifícios e obras de remodelação por todo o
país (remodelação da prisão de Alcoentre, 1935; Colónia Penal
do Tarrafal, Cabo Verde, 1936; etc.). Em 1936 adere à Legião Portuguesa e
compõe a música do hino da Mocidade Portuguesa.[4]
Em
1939 é nomeado arquiteto-chefe da Exposição do Mundo Português (1940),
marco fundamental de propaganda e consolidação do sistema ideológico do Estado
Novo. [10]
Pavilhão
dos Portugueses no Mundo, Exposição do Mundo Português, 1940
Com
a participação de doze arquitetos, dezanove escultores e quarenta e três
pintores, a Exposição do Mundo Português ficou indissociavelmente ligada aos
principais representantes do modernismo nacional, no domínio da arquitetura e
das artes plásticas, podendo nomear-se, por exemplo, Cristino da Silva, Jorge
Segurado, Pardal Monteiro, Almada Negreiros, Leopoldo de Almeida, Jorge Barradas, Bernardo Marques, Carlos Botelho (embora de uma outra
geração, Raul Lino também
participou, projetando o Pavilhão do Brasil). O espírito nacionalista do empreendimento iria marcar
decisivamente a evolução da arquitetura em anos subsequentes, com
distanciamento das intenções internacionalistas que estavam na base da cultura
moderna e regresso a formulações de cariz tradicional e historicista
(características do estilo oficial do Estado Novo, frequentemente
apelidado Português Suave).
Para
além da coordenação geral da exposição, Cottinelli Telmo assumiu o projeto de
um dos dois pavilhões de maior visibilidade: o Pavilhão dos Portugueses no
Mundo. A poente da grande Praça do Império,
concebeu "uma longa fachada cega de 164 metros, de material de estafe
em retângulos pré-fabricados regulares […]. Na cimalha do edifício
perfilavam-se os brasões da nobreza que desempenhara papel nas navegações e nas
conquistas de antanho". Uma torre de 19 metros de altura, encimada por uma
estrela reluzindo sobre o escudo antigo de Portugal, rematava o topo sul do
pavilhão. De parceria com Leopoldo de Almeida, concebeu o Padrão dos
Descobrimentos.
Cidade Universitária de Coimbra
Edifício da Standard Elétrica
Em
1943 recebe o encargo da planificação da expansão da Universidade de Coimbra
(que implicaria a destruição de uma vasta área histórica da Alta de Coimbra,
onde obedece ao gosto monumentalista do regime, "que então se
pautava por um estilo neoclássico rigidamente marcado pelas ideologias
Fascistas e Nacional Socialistas"; esse compromisso é particularmente
evidente na grande escadaria de acesso, mas igualmente nos princípios
compositivos que irão reger os diferentes projectos (Faculdade de Letras, Biblioteca Geral, etc.). A partir de 1938 dirige a revista Arquitectos (até
1942); assina uma coluna de crítica de arte no jornal Acção (1941-42).
Tem colaboração na Mocidade Portuguesa Feminina: boletim
mensal (1939-1947) e na revista Ilustração Portugueza (iniciada
em 1903).
Em
1941 é eleito secretário da Direcção e três anos mais tarde toma posse como presidente
do Sindicato
Nacional dos Arquitectos. Nas eleições para os corpos diretivos
do Sindicato de Março de 1948 é derrotado pela lista encabeçada por Keil do
Amaral (que é impedido de tomar posse do cargo por motivos de
ordem política ; ainda nesse ano Cottinelli Telmo será um dos
principais dinamizadores do I
Congresso Nacional de Arquitetura, marco histórico na afirmação da
profissão em Portugal e onde se assiste à emergência da nova geração,
socialmente comprometida, que irá pôr em causa a liderança, até então
praticamente incontestada, da geração do próprio Cottinelli Telmo.
Data
de 1945 um dos seus projectos formalmente mais marcantes, o edifício da
Standard Elétrica, Lisboa, que "apresenta uma notável solução volumétrica
de janelões funcionais e uma torre que perdeu o coroamento projetado, em
compromisso modernista com uma monumentalidade que impõem as paredes de cimento".
Morreu
em 18 de Setembro de 1948, num acidente de pesca desportiva em Cascais.
Alguns projectos e obras
1921-22
– Pavilhão de Honra de Portugal, Exposição Internacional, Rio de Janeiro
(com Carlos Ramos e Luís da Cunha).
1923-25
– Escola Camões, Entroncamento (com
Luís da Cunha).
1924-25
– Bairro Camões, Entroncamento (com
Luís da Cunha).
1930
– Liceu de Latino Coelho, Lamego.
1931
– Estação do Sul e Sueste, Lisboa.
1938
– Cadeia Comarcã de S. Pedro do Sul (construção,
1946).
1939-40 – Plano da
Exposição do Mundo Português; Jardim e Fonte Luminosa, Praça do Império,
Exposição do Mundo Português; Pavilhão dos Portugueses no Mundo, Exposição do
Mundo Português; Padrão dos Descobrimentos, Exposição do Mundo Português
(com Leopoldo de Almeida).
1943
– Liceu D. João de Castro, Lisboa.
1943 – Plano geral da Cidade
Universitária de Coimbra; Escadaria Monumental, Cidade Universitária de Coimbra
(concluído em 1950).
1945
– Instalações da Standard Eléctrica (actual sede da Orquestra Metropolitana de Lisboa),
Av. Da Índia, Lisboa (construído em 1948).
1945
– Sanatório das Penhas da Saúde [22]
E
ainda: edifício de passageiros, Estação Ferroviária de Tomar (1928-29);
edifício de passageiros, Estação Ferroviária da Azambuja (1934);
edifício de passageiros, Estação
Ferroviária de Vila Real de Santo António (projecto, 1936;
obra, 1944); torre de sinalização e manobra do Pinhal Novo (1936); projecto
de remodelação interior do edifício de passageiros da Estação do
Rossio, Lisboa (1938); torre de controlo de tráfego, Estação Ferroviária de Campolide,
Lisboa (1940);[23] etc.
Instalações
Ferroviárias
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