Por aqui não há gulags, como os filmados,
que a RTP2 mostrou hoje, de horrores longo tempo vividos, por
prisioneiros políticos, ou outros “castigados”, numa dureza perfeitamente
denunciadora de uma crueldade sem limites, das opressoras gentes do poder russo.
Gente enérgica, todavia, esses que viveram esses horrores e os souberam contar.
Não posso deixar de rever as imagens, através dos dados que o Segundo Canal
hoje mostrou, citando parte do texto – sem imagens, todavia - que a Internet
transmite, e sem os espaços gelados a perder de vista das gentes que lá
trabalharam e padeceram com requinte.
Texto da Internet:
«História
O
sistema funcionou de 25 de abril de 1930 até 1960. Foram
aprisionadas milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin,
as consideradas "pessoas infames", para a chamada "Pátria
Mãe" (a União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas), e que deveriam passar por "trabalhos forçados
educacionais" e merecerem viver na chamada "Pátria Mãe".
O Gulag tornou-se
um símbolo da repressão da ditadura de Stalin.
Na verdade, as condições de trabalho nos campos eram bastante penosas e
incluíam fome,
frio, trabalho intensivo de características próprias da escravatura (por
exemplo, horário de trabalho excessivo) e guardiões desumanos. Floresceram
durante o regime chamado pelos historiadores de stalinista da
URSS, estendendo-se a regiões como a Sibéria e
a Ucrânia,
por exemplo, e destinavam-se, na verdade, a silenciar e torturar opositores
ao regime,
incluindo entre eles anarquistas, trotskistas e
outros marxistas.
A Coreia do
Norte, considerada
um dos últimos Estados comunistas, ainda mantém disfarçados "campos de
trabalhos forçados" muito semelhantes no sentido de tratamento
"educacional" e "adoecimento" (pela loucura), muitas
vezes chamados também de gulags. Norte-coreanos como Shin
Dong-hyuk, único prisioneiro nascido num campo de trabalhos forçados
do país que conseguiu fugir, tem denunciado violações aos direitos humanos ali
praticados. »
Desta vez é ainda mais sério (em política há sempre pior)
Que dizer do execrável arremesso do insulto e da
agressiva menorização como argumentos políticos contra uma parte do país,
enquanto permanentemente a outra se auto-glorifica?
MARIA JOÃO AVILLEZ
OBSERVADOR, 11 nov
2021
1Não são favas contadas. Nem se sabe se os deuses
deixarão a mudança escrita nos astros. Não o digo pelas sondagens habitualmente
e persistentemente hostis para o “open air” à direita do sempre por elas mimado
PS, com os resultados que se sabem. Digo-o usando apenas o instrumento
político da racionalidade. Havia por isso que dispensar certos
empolgamentos nalguns círculos da direita quanto a um regresso ao poder, mas eu
gostaria mais de ouvir dizer um regresso ao “país”. Ao cuidar do país. Ao
que é preciso fazer dele e para ele. Para não sermos submersos por uma
espécie de lava como a do vulcão das Canárias e então, mão estendida para
nova humilhação nacional e internacional. Já aqui o escrevi e se volto a
dizê-lo agora é porque qualquer dia, aqui d’el rei… Há poucos países hoje na “Europa” com futuro mais
incerto e chão menos seguro debaixo dos pés. Não por estarmos quase em último lugar na tabela de
vinte e sete pátrias, mas por se manterem quietamente irresolvidas as razões
“disso”: aquelas, estruturais, que nos atiram inabalavelmente
para tão vexatório lugar.
2Não estou certa do êxito da indesejada trapalhada em
que estamos. Às vezes chamo-lhe mesmo desastre
que é o que na verdade a trapalhada pode vir a ser.
Houve quem festejasse com jubilo o ter-se chegado aqui, com datas e prazos
engolidos pelos partidos e uma dissolução
parlamentar aceite
pela maioria do Conselho Estado: o que se conseguiu de melhor para andar
para a frente deixando o Chefe do Estado de fora do enredo da trapalhada. E é
assim que, após termos assistido a sobressaltados episódios públicos que
deixaram o PSD ferido de asa; visto os dois doentios bandos do CDS a
digladiarem-se na montra do país; percepcionado o calvário eleitoral que se
anuncia na extrema esquerda ou testemunhado um António Costa, manso e humilde
de coração, vamos ter uma
grande estreia: árvores de Natal coabitando com cartazes, luzes e enfeites
com faixas partidárias. Festejos de fim ano (para quem ache que o estado do
mundo e das coisas convoca o festejo) envoltos em debates, entrevistas,
programas eleitorais, ruído, mensagens, elogios, insultos, ilusões, e tutti
quanti que apressadamente entrarão de novo em cena, tão pouco tempo depois de
terem saído: 26 de Setembro foi ontem. (Não, não sou obviamente contra
eleições, o que me parece é que não era bem, como dizer?, o tempo delas, fazem
lembrar a fruta quando se prova ainda verde.)
3De modo que o nosso pequenino rectângulo vai estar
fastidioso. Paciência, está feito. O Presidente da República auto-excluiu-se do
turbilhão da trapalhada – apesar de não se esquecer que foi porém ele a
primeira pessoa no país a pronunciar o substantivo “eleições”. Fê-lo por
bem, explicaram os “seus”. Era indispensável domesticar o ímpeto do veto da
extrema-esquerda radical no Orçamento de Estado através do medo de algo pior:
se não votam, há urnas. Não surtiu efeito – haverá eleições — do mesmo modo que
esta chamada eleitoral pode igualmente não vir a ter o efeito que o PR
ansiaria.
Gostava
de estar redondamente enganada e não só por ele.
4O chão político está assim semeado ao centro e à
direita por dúvidas que formulo sob a forma de perguntas ainda sem destinatário
certo. Habituada a encarar a política como uma grande fornecedora de surpresa não aposto no nome do futuro líder social-democrata. Uma coisa é concluir — de fora - que A é mais
adequado ou mais preparado que B; outra, o sentimento intimo de um militante
impelido a escolher entre quem já está ou quem quer vir a estar. Mais difícil
dizê-lo do que fazê-lo.
E no entanto… pôr uma cruz na sigla de
um partido é apenas o primeiro acto do que pode vir a ser uma grande história,
em caso de vitória: o segundo acto será sério e a sério.
Por
exemplo: percebem o centro e a direita a dimensão dos flagelos de diferente
natureza que desta vez afligem o país?
Desta vez – que não se parece com 2011 – as dificuldades estão para além da
saúde económica do país porque desta vez é preciso cuidar de um país que perdeu
parte da sua alma, alguns dos seus valores, bastante da sua energia e muito sua
capacidade de resposta a um corrosivo estado de coisas, social, político,
moral, civilizacional. Vai ser preciso ainda maior resiliência para decidir,
fazer, escolher, substituir, avançar, melhorar. Porque desta vez vai ser
preciso MUDAR. Com maiúsculas.
Mudar
a pátria sim – e não forçosamente apenas por causa da inflação, baixos
salários, espantalho de crise económica internacional e não seria pouco –, mas
porque ela está doente. Exemplos
eloquentes: condicionamentos como lei e para todas as ocasiões:
desde a obrigação de pensar segundo uma importada cartilha social e
politicamente correcta à imposição da vergonha pelo nosso passado,
passando pela revisão da história segundos os cânones do momento e do
“cancelamento”; pelo Estado usurpar a liberdade de educação dos pais aos filhos
até limites inimagináveis; pulverização da família enquanto peça estrutural da
civilização que nos foi berço e formação; pela orientação sexual usada na
lapela como um trunfo, pela morte que já se pode encomendar. Para não evocar a
intromissão nas já poucas instituições e organismos independentes do poder
político, as nomeações de boys impreparados para lugares destinados à
salvaguarda dos desprotegidos – estou a pensar por exemplo no que se passa com
grande eficácia na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa; ou dessa distorção
herdada de um Abril de 74 mal interpretado que é o sistemático passar ao lado
dos deveres, trocando-os pela sempre abusiva prática dos direitos. Tudo isto e
mais ainda o persistentemente execrável arremesso do insulto e da agressiva
menorização como argumentos políticos usados contra uma parte do país, enquanto
permanentemente a outra se auto-glorifica.
5E as narrativas? As sulfúricas narrativas com que as esquerdas
insistem em rever e rescrever o que ocorreu entre 2011/2015 em Portugal (omitindo
prudentemente que foram os “maus” que ganharam de novo as eleições quatro anos
depois, não sendo evidentemente senão por causa disso que ainda (!) os denigrem
a toda a hora).
Ou
seja: estarão militantes, simpatizantes, eleitores, conscientes que têm de se
“armar” para as mentiras que aí vêm remetidas com a sobranceria do costume? A
chuva de falsas narrativas e falaciosas “certezas” que desabará sobre o centro
e a direita? Dos números e gráficos, intencionalmente manipulados que serão
brandidos em ruas e écrans para desfeitear metade do país com inverdades? Exagero? Nem
um bocadinho, foi o que vi e ouvi durante os anos da defunta geringonça mas que
agora será devidamente repisado – e ampliado! – na sua falsificação.
Não,
não exagero. Antecipo. E por isso previno.
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