quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Ele não citou Costa


Refiro-me a Joe Biden, que censurou Xi Jimping - mas também Vladimir Putin – como estando ambos borrifando-se para a tal questão do clima e da cimeira de Glasgow para se atalhar o processo destrutivo do planeta Terra - embora eu ache que deviam preocupar-se igualmente com os anéis de Saturno que parece que Saturno está a “aspirar”, segundo ouvi dizer nas “Questions pour un Champion” ao animador das “Questions”, Samuel Etienne, em referência ao desaparecimento gradual dos tais anéis, fenómenos que igualmente nos assustam, mas nada podemos contra isso. Ora, António Costa também faltou à cimeira de Glasgow, preferindo seguir o rasto de Xi e de Putin, forma de afirmar ao resto do mundo as suas opções de companheirismo climático. Teresa Violante atribui valor ao Costaao censurar-lhe a falta em Glasgow, mas Biden ignorou Costa, na sua condenação, que não comporta lacaios, naturalmente, é mais os chefes. Como dizia Herman, na questão dos bolos.

 

I - Se Glasgow falhar, tudo falha. Mas Costa falhou Glasgow

Entristece-me especialmente que Costa não tenha colocado os interesses do futuro acima da crise política que atravessamos. O Governo está em plenitude de funções e assim continuará nos próximos tempos

TERESA VIOLANTE, Constitucionalista. Investigadora na Universidade Frierich-Alexander Erlangen-Nuremberga

 OBSERVADOR, 02 nov 2021

Vivemos actualmente uma crise urgente, dramática e absolutamente inadiável. As previsões são estarrecedoras: as conclusões preliminares do sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), divulgado em agosto deste ano, mostram que o aquecimento é mais rápido do que o que se pensava, estimando-se que o limiar de +1,5º relativamente à era pré-industrial deverá ser atingido em 2030, dez anos antes das projeções anteriores.

As alterações climáticas são uma ameaça existencial para a humanidade e a questão política mais relevante que as democracias enfrentam actualmente. É de notar que a crise climática é, também, uma crise dos regimes democráticos, que têm revelado a sua incapacidade de alcançar reduções sustentadas e fortes da emissão de gases de efeitos de estufa.

Vários autores questionam a incapacidade dos regimes democráticos para lidarem com a crise climática e há mesmo quem assuma que lhes é impossível fornecer uma solução efectiva para a mesma: seja porque os líderes eleitos se mostram presos a ciclos eleitorais curtos e incapazes de assumir compromissos de longo prazo, ou porque poderosos lobbies ligados aos combustíveis fósseis aprisionam a tomada de decisão nas políticas públicas, ou ainda porque a desconexão entre a política nacional e internacional esbarra num multilateralismo limitado, são várias as fraquezas das democracias liberais para enfrentar esta ameaça que pode, em última análise, conduzir à extinção da humanidade, como realça o anúncio recentemente divulgado pelas Nações Unidas.

Perante estas conhecidas fraquezas, o que se pede actualmente aos líderes políticos dos regimes democráticos, sobretudo dos europeus, é responsabilidade e compromisso. Não é, por isso, mera coincidência que o combate às alterações climáticas seja precisamente o primeiro dos quatro desafios estratégicos identificados no Programa do Governo. Nem que um dos eixos estratégicos da política externa portuguesa identificados nesse mesmo Programa seja o de apoiar o multilateralismo e o sistema das Nações Unidas, intervindo em todas as agendas multilaterais como a Agenda do Clima.

É por isso incompreensível que o Primeiro-Ministro António Costa tenha cancelado a sua participação na Cimeira de Líderes Mundiais da COP26, a grande Conferência do Clima que se reúne por estes dias em Glasgow, e que muitos encaram como a última oportunidade para salvar o planeta. Trata-se, decididamente, do encontro mais importante desde o Acordo de Paris e ao qual comparecerão os principais líderes dos países democráticos. É de lamentar as ausências de peso, de Putin, Modi, Bolsonaro e Xi Jinping, que não são, contudo, surpreendentes.

Surpreende, no entanto, e entristece-me particularmente, que António Costa não tenha colocado os interesses do futuro e do planeta acima da crise política que atravessamos. O Governo está em plenitude de funções e, ao que tudo indica, assim continuará nos próximos tempos (a não ser que, em caso de dissolução da Assembleia da República, o Presidente decida também demitir o Governo, uma vez que António Costa já sinalizou não ter intenções de o fazer). Sendo Portugal um dos países da Europa mais potencialmente expostos às alterações climáticas, é lamentável que, nestas circunstâncias, se tenha abdicado com tanta leveza de cumprir o programa do Governo, e de dar voz ao mais alto nível a Portugal, aos nossos jovens e às nossas crianças, em função de interesses de curto-prazo. O que está em causa é bem mais relevante, e sobretudo, bem mais grave, infelizmente, do que a crise política dos dias que correm. Boris Johnson afirmou, dramaticamente, que “se Glasgow falhar, tudo falha”. Mas Costa já nos falhou ao falhar Glasgow.

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II - COP26: Biden acusa Xi Jinping de "virar costas" à crise climática

Para o Presidente norte-americano, trata-se de um "assunto importantíssimo" e os chineses "viraram costas". "Como podemos fazer uma coisa dessas e reivindicar qualquer liderança?", repreendeu.

AGÊNCIA LUSA: Texto

OBSERVADOR, 03 nov 2021

"O mesmo se aplica a Vladimir Putin", reforçou Joe Biden

ROBERT PERRY/EPA

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou esta terça-feira o seu homólogo chinês, Xi Jinping, de “virar costas”  à crise climática e de ter cometido “um erro grave” ao não comparecer na reunião do G20 em Roma.

“Acho que foi um grande erro a China não ter vindo. O resto do mundo olhou para a China e perguntou: que valor acrescentam eles?“, questionou Joe Biden, em conferência de imprensa durante a 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26), que decorre na cidade escocesa de Glasgow entre 31 de outubro e 12 de novembro.

Para o Presidente norte-americano, trata-se de um “assunto importantíssimo” e os chineses “viraram costas”.

“Como podemos fazer uma coisa dessas e reivindicar qualquer liderança?”, repreendeu Joe Biden.

Ao não comparecer nas cimeiras do G20 e da COP26, Xi Jinping “perdeu a oportunidade de influenciar as pessoas em todo o mundo”, apontou.

O Presidente chinês enviou uma mensagem escrita, publicada no site na Internet da COP26, não havendo previsão de intervir por videoconferência ou mensagem de vídeo para os chefes de Estado e de Governo.

“O mesmo se aplica a Vladimir Putin”, reforçou Joe Biden, referindo-se ao Presidente da Rússia, que também não compareceu as reuniões de Roma e Glasgow.

Mais de 120 líderes políticos e milhares de especialistas, activistas e decisores públicos reúnem-se até 12 de novembro, em Glasgow, na Escócia, na COP26 para actualizar os contributos dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.

A COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus celsius acima dos valores da época pré-industrial.

Apesar dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia de Covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.

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