Ainda tem muito
para dar. Foi o que fez, continuamente, ao longo da sua História, e mesmo da
Pré. E cada vez mais vai criando meios de defesa e de ataque em descobertas que
nos deixam maravilhados. Como João Adrião, quero acreditar
nesse milagre de criatividade e ciência do Homem, esse génio inventor, nos seus
malabarismos de destruição e de reconstrução, nos seus desafios de pecado e de
virtude.
Mas, sim, as
cimeiras são necessárias na nossa aldeia global. Para os laços não só da
fraternidade, mas também da precaução universais, embora os jihadistas não
tenham estado presentes, julgo eu, as cimeiras deles tendo mais a ver com as
burcas da sua obstrução - climática como fraterna.
I - COP26
China e Índia querem mudar texto final
da COP26, UE pede "por amor de Deus, não"
Vice-presidente
da Comissão Europeia, Frans Timmermans, fez um apelo inflamado: "Por amor
de Deus não matem este momento pedindo mais coisas, pedindo para acrescentar
isto ou apagar aquilo!".
OBSERVADOR, 13
nov 2021
China,
Índia e o grupo dos países menos desenvolvidos defenderam este sábado mais mudanças no texto da
declaração final da cimeira climática da ONU, enquanto a União Europeia pediu “por amor de Deus” para não se
mexer mais no articulado.
As
declarações foram proferidas no plenário de avaliação do estado das negociações
da COP26, que não é ainda destinada à aprovação do texto, numa sessão em que o presidente da COP26, Alok Sharma, pediu às delegações para pensarem agora não no que
podem acrescentar aos ganhos para os seus países mas no que é suficiente para
garantir a aplicação do Acordo de Paris sobre alterações climáticas.
O representante da delegação chinesa, Zhao Yingmin, afirmou que a China “não poupará esforços” para
continuar as conversações, notando que “ainda há diferenças em alguns
pontos, o texto não é de forma alguma perfeito” e, apesar de não pretender
“abrir de novo” a sua discussão, defendeu que deve haver “pequenas mudanças”
Uma
das mudanças sugeridas refere-se a um parágrafo que defende que para cumprir o
acordo é preciso “reduzir as
emissões globais de dióxido de carbono em 45% até 2030 em relação ao nível de
2010”, são precisas mais “explicações”.
O ministro do Ambiente indiano, Bhupender Yadav, afirmou que “o
consenso continua a fugir” e que falta equilíbrio ao texto, nomeadamente no apelo que
se faz aos países para abandonarem o uso de combustíveis fósseis.
Contrapôs
que foi o uso de combustíveis fósseis que
permitiu “altos níveis de bem-estar” nos países mais desenvolvidos e que os
países mais pobres “têm direito a um quinhão justo” do orçamento carbónico
mundial, defendendo o “uso responsável” desses combustíveis.
Representantes
da República da Guiné e da Tanzânia queixaram-se da falta de assertividade no documento
em relação à criação de um mecanismo de compensação dos países menos
desenvolvidos por perdas e danos provocados em consequência das alterações
climáticas.
Falando
pela União Europeia, o vice-presidente
da Comissão Europeia, Frans Timmermans,
fez um apelo inflamado: “Por amor de
Deus não matem este momento pedindo mais coisas, pedindo para acrescentar isto
ou apagar aquilo!”.
Salientou
que “é óbvio que há coisas que têm que ser
seguidas depois, que o mecanismo de perdas e danos está no começo” e afirmou
recear que a cimeira esteja “em risco de cair a metros da linha de chegada da
maratona”.
“Imploro-vos,
aprovem este texto, os nossos filhos e netos não nos perdoarão se falharmos
hoje”, reforçou.
No
mesmo sentido, o
representante do estado insular de Tuvalu, Seve Paeniu, um dos países mais em risco devido à subida do
nível das águas do mar, considerou
que a proposta de texto e os trabalhos da cimeira “transmite uma mensagem forte
de esperança e de promessa”, apelando a que as decisões não dependam do
interesse de alguém em “ser reeleito nas próximas eleições”.
“Glasgow
termina hoje, o trabalho real começa hoje, temos que embarcar no comboio da
ambição de Glasgow e de 1,5 graus”, afirmou referindo-se à meta para limitar o
aquecimento global até fim do século.
O
ministro do Ambiente
do Gabão, Lee White, lamentou
a falta de maiores compromissos relativamente a financiamento.
“Não
podemos voltar para casa na África sem um pacote significativo para adaptação.
(…) E antes de partir, preciso de mais garantias dos nossos parceiros dos
países desenvolvidos”, afirmou.
O
chefe de delegação da Bolívia, Diego Pacheco, que
falou em nome do grupo Like-Minded Developing Countries (LMDC), que inclui a
China, Rússia e Índia, manifestou reservas e disse que ainda pretendia algumas
“pequenas alterações”, mas deu
luz verde ao texto.
“Temos
problemas e profundas preocupações em relação ao rascunho do texto e às
propostas apresentadas às partes nesta conferência. Reflectimos muito
profundamente nessas preocupações. No entanto, com o espírito de compromisso,
de forma a aumentar a ambição que o mundo espera para todos os países, podemos
apoiar o documento e seguir em frente”, afirmou.
Líderes políticos e milhares de
especialistas, activistas e decisores públicos estiveram até hoje reunidos em
Glasgow, na Escócia, na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP26) para atualizar os contributos
dos países para a redução das emissões de gases com efeito de estufa até 2030.
A
COP26 decorre seis anos após o Acordo de Paris, que estabeleceu como meta
limitar o aumento da temperatura média global do planeta a entre 1,5 e 2 graus
celsius acima dos valores da época pré-industrial.
Apesar
dos compromissos assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa
atingiram níveis recorde em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada
pela pandemia de covid-19, segundo a ONU, que estima que, ao atual ritmo de
emissões, as temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 ºC.
II - Finda a COP26, uma crónica do fim do Mundo
em 2072
Sosseguem, não vamos morrer todos. O
clima até pode aquecer e complicar-nos a vida, todavia somos cada vez menos afectados
pelos seus caprichos: é a tecnologia, estúpido, a que rebate o catastrofismo.Siga
João Adrião JOÃO ADRIÃO, Gestor Ambiental e Florestal
OBSERVADOR, 14 nov 2021
A montanha
da COP26, como previsível, pariu um rato, assustando muita gente dado estarem
aí as mudanças climáticas. Mas só os
mais distraídos não saberão que a aventura humana foi, desde sempre (do Toba à
Idade do Gelo, de terríveis Feras à Transgressão Marinha), uma história de
superação face a um mundo hostil e em constante mudança. De diferente, agora,
está a noção da contribuição das actividades humanas para a mudança atual.
Efetivamente o Planeta tem aquecido e, maior ou menor, há dedo do Homem pelo
meio.
É caso para nos preocuparmos? Sim,
claro, as mudanças têm sempre impactos e, como sabiamente diz o povo, mais vale
prevenir que remediar (sobre mudanças passadas e suas implicações na história
de um povo famoso, veja-se o que se descobriu sobre os Vikings). Contudo, o
que temos assistido é ao exacerbar das preocupações – ao ponto de já se falar
em transtornos psicológicos nos jovens – a que não serão alheios os cenários
apocalípticos (e sim, como volta e meia acontece na ciência – sim, os
cientistas são pessoas, e sim, as pessoas mentem – há manipulações),
criando uma pressão imensa para fazer qualquer coisa, o que é um perigo em si
mesmo. Vamos por
partes:
Vem mesmo aí o fim do mundo?
Nadando
contra a corrente dos alarmistas, que nos acenam com a extinção,
João Corte-Real, o mais antigo investigador português do clima e o único
professor catedrático em meteorologia do país, explica porque não,
tal como o fazem 500 cientistas de todo o mundo
numa carta dirigida a António Guterres.
Então e as alterações ambientais? Sim,
ocorrerão e terão impactos, todavia a sua dimensão é ainda incerta – a Terra,
ao contrário do Mito, não é frágil – e algumas até podem ser positivas! Não faltam novamente manipulações – seja na vida marinha australiana,
seja nas aves europeias (da recente apresentação do 2º Atlas Europeu, que
mostrava alterações de dimensão semelhante em ambos os sentidos, os artigos subsequentes esquecem
metade, para se dedicaram só à metade que lhes interessou noticiar)
– para pintarem de negro impactos até agora ligeiros… No global, tenderão a contrair-se ambientes frios e a
expandir-se regiões tropicais. Ora estas últimas são mais ricas em
biodiversidade! Então e a subida do mar? Sim, o mar tem estado a subir… nos
últimos 10 000 anos. A costa é instável, dinâmica, e sempre assim o será. E a
instabilidade climática? Eventos como os furacões não aumentarão? Talvez,
mas até agora não é nenhuma certeza.
De qualquer forma, tal como com a subida do mar, ou com cheias, se calhar nós é
que nos estamos a expor a riscos que, um pouco mais ou um pouco menos, sempre
nos apoquentaram e apoquentarão. Mas, e o
ar não ficará irrespirável e a temperatura um forno que nos cozerá? Se
atendermos a que foi em períodos quentes que se deu o Neolítico, a Roma
Imperial, a Reconquista Cristã ou a Idade Moderna, talvez seja dramatismo a
mais, não? A produtividade vegetal deverá aumentar. Uma boa
notícia: o frio mata mais pessoas que o calor (muito mais). Era melhor estarmos a arrefecer? Preferimos o
Inverno ao Verão? Ou é esta última estação a que escolhemos para ir de férias?
Contudo, seja maior ou menor a
ameaça, não fazer nada não pode ser bom, certo?
Não
é verdade que estejamos de braços cruzados perante as ameaças. Temos ou não
temos acordado e nalguns casos reduzido mesmo emissões? Temos ou não apostado
em energias renováveis? Em novas tecnologias, de carros eléctricos a
ar-condicionado? Na eficiência energética, seja de edifícios ou de
equipamentos? Os motores não apresentam hoje menores níveis de poluição e
menores consumos? Até as florestas, nos países ocidentais, não têm
diminuído, têm pelo contrário aumentado.
Não
chega? Talvez não. Mas fazer mais exige prudência, porque tem múltiplas
implicações (como se pode ler numa interessante entrevista ao único economista
climático laureado com o Prémio Nobel).
E que perigos são esses?
Estão à vista, da economia à
geopolítica: ameaças
de apagões na Europa, estagnação económica aliada a custos crescentes, gerando
revoltas populares, o ressurgimento do lobby nuclear, a imposição de
minas a algumas populações. Esfregam as mãos de contentes a Rússia, que sabe da
dependência do seu gás natural, ou a China, maior poluidor do mundo, por sinal
(três vezes mais que toda a Europa junta), que vê crescer o interesse em muitas
novas e raras matérias primas que por lá existem, ambos estes estados ausentes
da COP26, ou outros como a Argélia e a Bielorrússia que, ameaçando a Europa,
ganham armas diplomáticas.
Com
o assentar da poeira, há aspectos que não devemos ignorar:
fazer
qualquer coisa porque é bem intencionada, muitas vezes dá asneira;
as
externalidades do processo produtivo – sejam ambientais ou outras – gerem-se,
não se atacam, porque, mal ou bem, nada há de melhor para solucionar coisas que
esse mesmo processo produtivo.
Sosseguem,
não vamos morrer todos. O clima até pode aquecer e complicar-nos a vida,
todavia somos cada vez menos afetados pelos seus caprichos (é a tecnologia, estúpido – aquela que
desmentiu as previsões de Thomas Malthus, como tem feito ao catastrofismo ao
longo da história. E mesmo na pré-história não é difícil imaginar: ai quando
acabarem as árvores, ai quando acabarem as pedras).
Sempre vivemos no fio da navalha.
Permanentemente condenados… Não obstante, o engenho humano resolve. Esperar avanços até 2072 é negacionismo do fim do
mundo? Bem, nessa altura voltará o Cometa Halley!
IP METEOROLOGIA CIÊNCIA COP26 CLIMA AMBIENTE ALTERAÇÕES
CLIMÁTICAS
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