Ainda hoje, para nós, a quem esses
cruzados teutões e bretões ajudaram nas lutas contra os mouros e disso lhes devemos
estar gratos, pese embora a chacina descrita, contra mouros e moçárabes, sem
distinção de credos. E o Dr. Salles, manuseando os seus conhecimentos, e como lutador
que foi, na aventura pátria recente, aqui os desenterra, neste seu texto do 2
de Novembro – Dia de Finados – esses teutões
e bretões ainda mais dignos de serem evocados porque ajudaram na conquista de Lisboa
aos Mouros, uma gente já a definir-se, como povoadora de um país antigo de
quase 900 anos.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 03.11.21
Lembrei-me
dos meus e lembrei-me também de outros finados longínquos, desconhecidos.
*
* *
Há
muito esquecidos por alguns, ignorados por outros e completamente desconhecidos
dos restantes europeus cristãos de obediência romana, os filósofos gregos e
suas subtilezas foram trazidos de volta ao conhecimento dos ibéricos por
eruditos árabes do Al Andaluz.
Claro
está que esses conhecimentos apenas terão transbordado para círculos de
erudição muçulmana e, por osmose, para moçárabes. Creio que dificilmente
essa erudição subtil tivesse chegado aos círculos mais privilegiados da
cristandade afecta a Roma.
Naquelas
épocas (refiro-me ao séc. XII da nossa era), na Europa, a lógica ainda não era (voltara a
ser?) aristotélica e a razão estava no fio da espada.
Em 30 de Junho de 1147, dentro das
muralhas de Lisboa vivia uma importante comunidade cristã moçárabe misturada
com muçulmanos que, à ´época, eram benignos mas no dia seguinte, 1 de Julho, a
frota dos cruzados bretões e teutões fundeou no Tejo e os seus tripulantes tomaram
a zona a Ocidente da cidade (a que hoje chamamos a Baixa-Chiado) e as tropas de
D. Afonso Henriques tomou a zona a nascente (a que hoje temos por Stª Apolónia)
assim se dando início ao cerco de Lisboa. Em 20 de
Outubro, os católicos entraram na cidade e D. Afonso Henriques, perdendo o
controlo da voracidade sanguinária dos cruzados, teve que assistir ao saque e à
chacina dos sitiados. O sangue jorrou sem que teutões nem bretões distinguissem
muçulmanos de cristãos moçárabes. Um dos degolados foi o próprio bispo
(moçárabe, herdeiro da já distante tradição visigótica) que logo de seguida foi
substituído por Gilbert de Hastings ali mesmo nomeado (por quem?) bispo de
Lisboa e de obediência a Roma.
Na
pessoa desse bispo degolado (cujo nome tentarei descobrir) no dia 20 de Outubro
de 1147, recordo
hoje, 2 de Novembro de 2021, os cristãos de rito moçárabe chacinados na
conquista de Lisboa.
Mas, continuando a referir finados, o cemitério dos cruzados teutões
mortos nesta conquista está situado nos baixos da Igreja de S. Vicente de Fora
e o dos bretões é nos baixos da Basílica dos Mártires, na Rua Garrett.
Lisboa, 2 de Novembro de 2021
Henrique Salles da Fonseca
COMENTÁRIOS
- Henrique Salles da Fonseca 03.11.2021:: Invocamos no
dia 1 todos os santos sem nome no hagiógrafo , muitos deles com quem já nos
cruzámos nos nossos caminhos. Maria João Botelho
Adriano Miranda
Lima 03.11.2021: Não
tinha informação sobre os locais dos cemitérios dos cruzados que tombaram no
cerco de Lisboa. É interessante saber isso e seria conveniente que nos
respectivos locais houvesse placas a assinalar o facto. E se calhar lá
estão. Mas quero crer que alguns cruzados, se não muitos, terão morrido por
doença, dada a atroz falta de higiene naquele tempo. Longe já iam os tempos da
exemplar prática de higiene dos romanos, que mesmo em campanha não o
descuravam. Mas esse legado foi tragado pela fé cristã. Os cristãos europeus
tinham, ao tempo, da religião, uma leitura que não diferiria muito da cultura
talibã: corpos emporcalhados mas fé religiosa bem afiada no gume da espada.
Isso era o fermento da santidade. Adriano Miranda Lima
- Anónimo 04.11.2021 : Uma lição bem narrada e explicada da nossa
história portuguesa, nomeadamente da nossa querida Lisboa. Sepulturas no
subsolo da Igreja de São Vicente de Fora, os Cruzados, e na Basílica de dos
Mártires na Rua Garrett, os Bretões, eram-me completamente desconhecidas.
Muito Obrigado Rui Bravo
Martins Anónimo 04.11.2021
- A
história do século XII em Lisboa está a repetir-se, nove séculos depois, nas
terras do Médio Oriente, ás mãos do Taliban e do Estado Islâmico, e para além,
graças ao zelo destes dois elementos. O sonho de voltar ao Al Andaluz é ainda
acalentado pela horda e foi mesmo expresso por alguns dirigentes do mundo
islâmico (Gaddafi, Erdogan). Apenas a estratégia é diferente - imigração e o
ventre das mulheres (Arafat). A Europa, quando acordar do seu sonâmbulo, dará
conta que o mundo mudou. Não teremos de esperar nove séculos, porventura apenas
nove décadas. António Fonseca
Henrique Salles da Fonseca 04.11.2021
CERCO DE LISBOA – CRONOLOGIA
16 de Junho de 1147 – chegada dos
cruzados ao Porto
Pedro II, Pitões – Bispo do Porto
30 de Junho – chegada ao Tejo
1 de Julho – início do cerco a Lisboa
20 de Outubro – católicos entram na
cidade e iniciam saque e chacina dos sitiados
21 de Outubro – fim do cerco e
substituição do Bispo moçárabe (degolado) por Gilbert de Hastings cuja sagração
foi presidida por D. João Peculiar, Arcebispo Primaz de Braga
FONTES
• Wikipédia
•
Carlos Traguelho/Joaquim Veríssimo Serrão (sobre D. João Peculiar)
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