terça-feira, 26 de abril de 2022

Argúcia e precisão


De Helena Matos, no seu texto sobre aldrabices e aldrabões, cinismos e espertezas nas confissões de ingenuidade ministerial e afins, crónica que mereceria 228 comentários, alguns dos quais de semelhante excelência expositiva. Um texto e seus comentários que convém ler, para melhor nos esclarecermos, e talvez nos envergonharmos - do que se duvida, todavia, embora com bonomia (ou sequer tristeza). de quem se sente há muito embarcado em tais vilipêndios, como forma de vivência específica de quem não preza nem vergonha nem educação, com toda a certeza.

Sócrates e PS: quem aldrabou quem?

António Costa declarou que Sócrates aldrabou o PS. Mas esqueceu-se de acrescentar que o PS também aldrabou Sócrates ao fazer de conta que acreditava nele e que ambos nos aldrabaram a nós, portugueses.

HELENA MATOS Colunista do Observador

OBSERVADOR, 24 abr 2022

Agora que caiu a máscara, o aldrabão está em vias de se transformar no acessório obrigatório de cada português. À menor dificuldade, grita-se, como faz o PS com Sócrates, “Fomos aldrabados!” e logo o problema deixa de ser nosso.

Quando António Costa declara sobre José Sócrates “Depois do que vi já, entretanto, e que o próprio Sócrates não desmente, concluo que ele, de facto, aldrabou-nos [ao PS]”não está apenas a dizer que Sócrates aldrabou mas também e sobretudo que ele, Costa, não é responsável por nada pois ele, Costa, não passa de um aldrabado.

Costa não disse que não percebeu ou que avaliou mal Sócrates, pois isso de alguma forma responsabilizava-o, quanto mais não fosse pela sua desatenção. António Costa diz sim que Sócrates aldrabou e, como é óbvio, a um aldrabado não se pedem responsabilidades. Mas será que não se devem pedir? Ou, melhor perguntando, foi apenas Sócrates a aldrabar? O PS e os seus dirigentes não aldrabaram, também eles, Sócrates, levando-o a acreditar que tudo lhe era permitido? E agora, quem está a aldrabar quem?

É tecnicamente impossível acreditar que Sócrates aldrabou o PS.

Em 2007, o PS reagiu ferozmente aquando da revelação das circunstâncias bizarras em que Sócrates conseguira a sua licenciatura.

O ministro Santos Silva falava de “jornalismo de sarjeta” e defendia um novo Estatuto para a classe. Mário Soares declarava que Sócrates era alvo de “ataques raivosos da direita”. O então ministro da Administração Interna, António Costa, e o secretário de Estado, José Magalhães, iniciaram um blogue na própria página do ministério onde faziam comentário aos comentadores. Tudo era normalizado pelo PS, a mentira passava a inverdade, os factos a cabala e a realidade a urdidura.

A cada mês os “insólitos Sócrates” cresciam: a Assembleia da República descobria que existiam dois registos biográficos de José Sócrates, ambos datados de 1992. O reitor da UnI onde Sócrates se licenciara foi detido. Na sua posse tinha uma pasta com documentos sobre as licenciaturas de José Sócrates e Armando Vara. O PS não estranhou nem teve dúvidas e se alguém suspeitou de aldrabices ficou calado.

Também ninguém no PS achou estranho que agentes policiais levassem material da sede de um sindicato na Covilhã, cidade que ia ser visitada por Sócrates e também não foi suficiente para suscitar dúvidas aos dirigentes socialistas a revelação, em 2008, de que Sócrates teria assinado os projectos de umas casas cujos donos declaravam nunca o ter contratado ou sequer visto.

Nem as revelações sobre o caso Freeport, nem as bizarras condições de compra e venda, em nome da mãe de Sócrates, de uma casa na rua Castilho, em Lisboa, nem a tentativa de controlo e compra da TVI pela PT, nem a mirabolante história sobre a casa de Parisnada disto foi susceptível de causar qualquer dúvida ao PS e a António Costa. Foi preciso a António Costa ir à cadeia de Évora e lá encontrar Mário Soares (na minha ignorância imaginava que apenas acontecia uma visita de cada vez) para se sentir pressionado por Sócrates. Desde o certificado académico de Sócrates com data de 1996 mas que incluía um impresso que só podia existir depois de 1998 que nada me causava tal estupefacção!

Agora os socialistas descartam Sócrates porque já não precisam dele. Ignoram a sua maioria absoluta e mesmo quando querem aludir de forma positiva a algo acontecido durante os seus governos omitem o seu nome, como fez Fernando Medina, secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional no governo Sócrates, entre 2005 e 2009, e agora, em 2022, transfigurado em ministro das Finanças, quando na recente apresentação do Orçamento referiu de forma críptica a reforma da Segurança Social feita durante o governo de Sócrates sem nunca referir datas ou nomes.

Ao contrário do que declarou António Costa, Sócrates não aldrabou o PS pois o PS não precisava de ser aldrabado: o PS estava disposto a fazer tudo para se manter no poder. E o que tinha a fazer era simplesmente fazer de conta que acreditava em Sócrates para desse modo o poder usar como talismã eleitoral. Agora que o PS tem um novo talismã, Sócrates passa a aldrabão. O chamado aldrabão conveniente.

PS. Ninguém no Governo se sente obrigado a explicar isto:

22 de Outubro de 2021: «A extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) foi aprovada na votação final na Assembleia da República após a proposta do PS e BE ter sido votada na especialidade e alterado alguns pontos do diploma apresentado pelo Governo.»

25 de Novembro de 2021: «Extinção do SEF adiada seis meses. Parlamento aprovou a proposta do Partido Socialista de adiar por seis meses a extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF).»

30 de Novembro de 2021: «Presidente da República aprova prorrogação do prazo de extinção do SEF.»

1 de Abril de 2022:«Novo Governo mantém intenção de concretizar reforma do SEF. Reforma visa a sepa ração entre as funções policiais e administrativas de autorização e documentação de imigrantes, com o intuito de “mudar a forma como a Administração Pública se relaciona com os imigrantes”, pode ler-se no programa

2 de Abril de 2022: «Processo de extinção do SEF pode ser de novo adiado

13 de Abril de 2022: «Extinção do SEF está em curso. O processo de extinção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) já se encontra em curso, revela o Governo na proposta de Orçamento do Estado para 2022 (OE2022) entregue esta terça-feira no Parlamento.»

22 de Abril de 2022: «Extinção do SEF vai ser adiada pela segunda vez, sem nova data.»

ANTÓNIO COSTA  POLÍTICA  CASO JOSÉ SÓCRATES  JUSTIÇA

COMENTÁRIOS (entre 238)

João Alves: E o problema está no facto de, não obstante só representarem 42% de 53% dos eleitores, se acharem no direito de governar Portugal como lhes apetecer, porque, em virtude de um sistema eleitoral aberrante, contam com uma maioria absoluta dos deputados eleitos.          Agusto leli > João Alves: 42% em 53% é ótimo, ou não? O suficiente para legitimar a governação, ( é a vontade do povo a funcionar, ou seja , a democracia...)           João Alves > Agusto leli: O suficiente para que se possa governar constitucionalmente com base na maioria parlamentar que se formou, nos termos do sistema eleitoral em vigor. Quanto a ser a vontade do povo a funcionar, a maioria que ocupa o aparelho do poder representa, apenas, 25% do eleitorado, composto maioritariamente por subsidiodependentes, tais como pensionistas, funcionários públicos e quejandos.         Paula Quintão: Mais uma vez  HM a escrever História de Portugal, que podia muito bem constar nos respectivos livros escolares. Quanto à extinção do SEF, deve haver muito lixo escondido debaixo dos tapetes... Nuno Guimaraes: Obrigado pela síntese e pelo registo que ficará.           José Ramos: A mirabolante história do SEF, que Helena Matos teve a feliz ideia de colocar após a sua crónica, é a súmula máxima de quem são os aldrabões neste país. Daqui, ninguém sai vivo.              Dr. Now: Um andou a aldrabar e outros a fazer que foram aldrabados apesar de eles saberem a verdade, uma forma de justificar certas posições tomadas no passado "AH fui aldrabado" O que há é muito cinismo, muita rasteira e muitos "puxa-saco"         Antonio Alvim: O mais curioso desta história, e que não tem sido referido, é a ligação que Costa faz de Soares a Sócrates "Sõcrates mandou-o chamar para... " (e ele foi!)          Liberales Semper Erexitque: Pinto de Sousa, o PS, e os seus eleitores, que quase os reelegiam após o vexame de uma bancarrota, e que nunca mostraram a mínima preocupação com o que se ia sabendo acerca do passarão janota. O passarão janota saneou uma jornalista de que não gostava au vu et au su de todo o país. O passarão janota pagou a um futebolista corrupto para que este o apoiasse. Foi reeleito. O actual sapo pouco janota quase que se atirava a um idoso que o criticou. Foi reeleito. Com este demos, temos o cratosque lhe corresponde e que aquele merece. É a democracia, pá!         João Simões: Pecou por tardia a história do Aldabra quem, mas lá chegou. Belo artigo👋            Graciete Madeira: Excelente artigo de H. Matos.            Joaquim Rodrigues: A verdade é que quem está a ser aldrabado é o povo português! O problema, o verdadeiro problema, não é o Sócrates. Se o problema fosse o Sócrates, removido o Sócrates, estava o problema resolvido. Mas não! O verdadeiro problema é o “Sistema” que, caso não tivesse havido uma “crise financeira internacional” (que, graças ao Sócrates, nos levou à bancarrota), mantinha ainda hoje o Sócrates como Primeiro Ministro, com os seus antigos e actuais Ministros do Costa, como os Pinhos, Mários Linos, Cabritas e Grupos Lenas, Espírito Santos e amigos, Berardos, Bavas e Carlos Silvas a aplaudir. O verdadeiro problema, é o “Sistema” resultante de um “golpe militar” para acabar com a guerra colonial que, por falta de organização da sociedade civil, permitiu que a outra face totalitária de Regime de Salazar, a face comunista de Cunhal, tomasse de assalto o Aparelho de Estado e controlasse o “processo político” no PREC por forma a preservar no “Sistema” o “Estatismo e Centralismo” típicos dos Regimes Totalitários. É a herança “Estatista e Centralista” de Salazar/Cunhal, o traço característico do actual “Sistema”, que gerou o Sócrates, impede um verdadeiro funcionamento democrático-liberal do País e do Estado de Direito e vai continuar a gerar “novos Sócrates” travestidos com outras cores, outras vestes e outras roupagens. O “Estatismo e Centralismo” são os atributos que permitem e incentivam os maiores Grupos, Gestores e Beneficiários do Sistema - os Oligarcas da Corte - a organizarem-se para a “Captura dos Partidos Políticos” e a “Captura da Comunicação Social”. Num regime “Estatista e Centralista” o “investimento” na captura dos Partidos Políticos e da Comunicação Social é um “investimento” altamente lucrativo e rentável porquanto, quem domina o “Governo Central”, domina todo o “Aparelho de Estado” o “Orçamento de Estado”, os “Fundos Comunitários” e os “Poderes de Estado”. Domina tudo! Reparem no investimento que os “Oligarcas da Corte”, têm vindo a fazer, enquanto vão apoiando o Costa, na promoção de um “serviçal”, daqueles de “pôr a funcionar”, para futuro líder do PSD, tentando assim garantir que, no futuro, “têm na mão” as várias “alternativas possíveis de Governo” em Portugal. Para os “Oligarcas da Corte” a questão, já não é apenas a de controlar a alternativa (o partido ou coligação) que, em cada momento, está no Governo. A sua grande ambição é o controlo de todas as possíveis alternativas de Governação do País e a “montagem” do jogo de encenação pseudo-democrática da “alternância” do poder, para que nunca mais lhes aconteçam “surpresas desagradáveis” como foi Sá Carneiro e Passos Coelho. Do que precisamos é de uma “Reforma do Sistema Político, Partidário e do Estado” que, contra o “Estatismo”, defenda a “Libertação da Sociedade Civil”, a “Livre Iniciativa Privada”, a “Igualdade de Oportunidades”, a “Concorrência e o Mercado” e, contra o “Centralismo”, defenda a “Coesão Territorial”, a “Descentralização “ e a “Regionalização”, com uma redefinição e redistribuição racional de “Funções e Competências” de Estado, à luz do Princípio da Subsidiariedade,  pelos níveis Nacional, Regional e Local, que facilite e motive uma  verdadeira “Participação Democrática dos Cidadãos” nos processos de Governação impossibilitando em definitivo a captura e controle pelos “Oligarcas da Corte", dos Partidos de Governo e da Comunicação Social. O “Poder Absoluto” corrompe “absolutamente”!

(*) - Após mais um TGV para Madrid, mais uma Ponte sobre o Tejo, mais uma terceira Autoestrada Lisboa-Porto, mais um novo Aeroporto em Alcochete, mais um Terminal de Contentores no Barreiro e mais 40 anos de subdesenvolvimento a acrescentar aos que já temos.          José Costa: Falando de aldrabões, tenho muitas dúvidas que tal "afirmação" de Costa não tenha sido agora oportunamente inventada. Provavelmente para ilibar o sr. Costa do "crime de não denúncia" e desviar as atenções da miséria em que Portugal se continua a enterrar, com culpas óbvias do governo socialista. Para os mais distraídos, é bom lembrar que Portugal ainda está, e continuará, a pagar a desgraça da bancarrota com que o PS presenteou o país. E, sim, o sr. Costa é também um dos maiores culpados desse enorme descalabro……………….           Amigo do Camolas: Não é nenhuma novidade no PS, mas não podemos deixar de rir ver o aldrabão do Costa andar em círculos a criticar os outros daquilo que passa a vida a fazer. É como olhar-se ao espelho e culpar o espelho pelo grande nariz que ele mostra. Mas é assim que os socialistas têm usado as suas posições de poder, aldrabar tudo e todos para enriquecer durante décadas. O facto de os nossos ditos "democratas" da imprensa ainda se recusarem a noticiar onde estão hoje as personagens principais do governo (Sócrates) mais corrupto da história e das escutas do caso casa pia é um triste testemunho do sucesso do PS. Não pode haver mais dúvida de que os socialistas colocam o partido antes do país, a política antes da ética e da virtude.         Américo Silva: Sócrates é um produto que sai naturalmente da sociedade portuguesa, com muitos danos à mistura, e a gestão do caso Sócrates foi feita por cada um de modo a ser o menos atingido e a colher mais frutos. Costa não fez uma gestão do caso Sócrates diferente da Fernanda, ou do Pedro, ou do João, e agora a sociedade continua a fazer sair peripécias judiciais e outras para nosso deleite. O bilhete é que me parece caro.           Pedro Lisboa: Após tantos anos em silêncio, o marajá das índias vem agora dizer que foi aldrabado pelo Nr 44. Durante 6 anos de corrupção, de negociatas obscuras e de centenas de milhões em esquemas manhosos … ninguém no PS desconfiou de nada. Agora choram baba e ranho, dizendo que foram aldrabados pelo engenheiro domingueiro 🤣🤣🤣. Alguém no seu perfeito juízo acredita nestas patranhas ???            Maria Augusta > Pedro Lisboa: Só quem gostar de ser enganado. Pelos vistos a maioria absoluta expresso em urna eleitoral.             Rui Escada: A mestria de um jornalista é a capacidade de perante a realidade conseguir relatá-la de tal forma que resumidamente o receptor capta tudo o que precisa saber sem mais leitura. E isto foi conseguido totalmente no páragrado realçado. Parabéns, Helena Matos, pelo discernimento e clareza de espírito de forma simples nos elucidar a todos como esta dura e cruel realidade. Parabéns também pela sua participação no Contra-Corrente com o José Manuel Fernandes outro jornalista que também prezo bastante e que sigo há anos.             Maria Tubucci: Bom dia. Muito bem. Frontalidade e clareza. Costa em 2015, com a ajuda do PCP e BE, aceita roubar o cargo de PM ao vencedor das eleições, isso caracteriza completamente o seu carácter e a sua ética, ou seja, completamente amoral. Actualmente, vir dizer o que disse sobre Sócrates é insultar a inteligência dos Portugueses. O Sócrates foi um chico-esperto, Costa e sua máquina manipuladora são aldrabões do pior que há, como está à vista de todos os que querem ver.             Maria Emília Santos Santos: O que mais confusão me faz é a maioria do PS, neste momento! Não consigo nem engolir isso, quanto mais digerir! A maçonaria domina o mundo, e em Portugal domina com a maioria absoluta e perante isso e o poder financeiro e não só desses todos, só Deus nos poderá valer! Quem tem fé, reze!            Xico Nhoca: António Costa é de longe um dos mais sagazes políticos portugueses. Todos lhe reconhecem essa característica. No entanto, mesmo perante videos de uma pessoa a dizer que tinha untado as mãos a Sócrates (para além de muitas outras más notícias, frequentes e variadas) nunca essa pessoa, reconhecidamente perspicaz, percebeu que estava perante um aldrabão. Quem diria, hem?             Elvis Wayne > Xico Nhoca: "Sagacidade" é forçar a coisa. É esperteza saloia e nada mais. Num país desenvolvido, gente como Kosta teria dificuldades em ter um ganha-pão………..            António Lamas: Fantástica memória da MHM. : As peripécias do Sócrates e do PS, fazem lembrar a anedota do alentejano apanhado numa casa de meninas. "Querem ver que a menina sou eu!" Assim estão os Portugueses,

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