segunda-feira, 25 de abril de 2022

58,6 % contra 41,4

 

Foram os resultados das eleições presidenciais francesas, neste domingo, 24/4/2022

I -A nova centralidade francesa

As reformas que não foram possíveis no primeiro mandato de Macron serão seguramente mais difíceis no segundo, cujo início está marcado pela guerra e seus efeitos nos preços e rendimentos das famílias.

INÊS DOMINGOS Colunista do Observador, economista

OBSERVADOR, 24 abr 2022

A saída do Reino Unido da União Europeia e os ajustamentos no modelo de crescimento alemão impostos pela guerra (como escrevi no artigo publicado há duas semanas), dão uma nova centralidade à França no destino da Europa nos próximos anos. Este domingo, os franceses vão às urnas escolher entre o actual Presidente Emmanuel Macron e Marine Le Pen. As sondagens apontam para uma vitória do actual presidente, com cerca de dez pontos de diferença. Mas mesmo ganhando, os desafios de um segundo (e último) mandato de Emmanuel Macron, serão enormes, para a França e para a Europa.

Apesar das tentativas, por sinal muito contestadas, de reformar alguns aspectos muito rígidos da economia francesa, permitindo à França subir sete lugares no ranking do Fórum Económico Mundial para o 15º país mais competitivo do mundo, os resultados económicos do primeiro mandato do Presidente Macron foram mistos. Foi um dos países mais afectados pela covid, com uma queda no PIB de 7,9% em 2020, pior do que os 5,9% da União Europeia. Mas a desaceleração já tinha começado antes da pandemia, com a taxa de crescimento a descer de 2,3% em 2016 para 1,8% em 2019. Antes da pandemia o défice já era superior a 3%, actualmente encontra-se em 6,5%. A dívida pública ultrapassou 110% do PIB em 2020, o que torna o país mais sensível a futuras variações nas taxas do BCE. Pela positiva, a taxa de desemprego diminuiu durante o primeiro mandato, mas ainda assim, com 7,9% é a sexta mais elevado da União Europeia.

Quando lançou em 2016 o seu movimento En Marche, Macron assumia-se como o herdeiro dos valores da direita e da esquerda moderadas, eliminando as linhas de separação políticas tradicionais em favor de uma separação entre os que queriam reformar a França e os que queriam que tudo ficasse na mesma. Mas as reformas que não foram possíveis no primeiro mandato serão seguramente mais difíceis no segundo, cujo início está marcado pela guerra e pelos seus efeitos negativos sobre nos preços e nos rendimentos disponíveis das famílias.

Perante este cenário, a insatisfação e divisões entre cidadãos dificilmente se atenuarão. A diferença face ao início do primeiro mandato de Macron é que agora o centro moderado, reformista e europeísta está essencialmente representado pelo próprio Presidente, que não se poderá recandidatar em 2027. Os partidos moderados de direita e de esquerda que se posicionavam nesse espaço quase desapareceram. A chave para entender se a França poderá ser o centro de gravidade na Europa no futuro passa por saber se haverá um sucessor credível e carismático dentro do partido de Emmanuel Macron ou se existe alguma hipótese de os partidos moderados de esquerda e de direita renascerem das cinzas.

FRANÇA  EUROPA  MUNDO  EMMANUEL MACRON

COMENTÁRIOS

Paulo Castelo: O programa do En Marche não é de Macron. Não é à toa que tem o número de apoiantes que tem. É certo que o carisma e competência de Macron ajudam na promoção desses ideais. Mas sete anos parece-me tempo suficiente par surgirem vários candidatos ao seu lugar, além da possibilidade que têm para porem os seus dotes "à prova". A questão é se os ideais e a agenda do En Marche ainda fará sentido para a maioria dos franceses daqui a sete anos. Daqui até lá, muita água....               manuel soares Martins: Concordo com a leitura da situação da França feita pela autora. O futuro a Deus pertence, dizia a sabedoria tradicional, mas lá que o futuro é sombrio, é. No partido de Macron não haverá sucessores por isso mesmo que o partido dele é ele. Apesar das semelhanças que alguns querem apontar, não creio que subsista macronismo como sobreviveu, até hoje, gaullismo.              bento guerra: Macron vai fazer a governação que lhe convenha, para sair, ainda novo, para altos voos internacionais. Tem de se cuidar com a "rua" porque os grandes partidos tradicionais estão de rastos. Quanto à direita dura, ela vai continuar a ser atacada pela imprensa, ao serviço dos interesses globais

Sínteses seguintes, no OBSERVADOR

1 -franceses à lupa

Le Pen ganha na casa dos 50 anos, Macron conseguiu assegurar voto dos mais jovens (mas a custo) e a maior abstenção foi nos eleitores de Mélenchon. Os resultados eleitorais à lupa.

FRANÇA

2 - Entrelinhas de Macron perante uma Le Pen reforçada

No discurso de vitória, Macron não se permitiu grandes celebrações, sabendo que 13 milhões votaram na extrema-direita. Optou antes por estender a mão aos que, movidos pela "raiva", preferiram Le Pen.

PRESIDENCIAIS EM FRANÇA

Duas culturas políticas: marítima e continental II

João Carlos Espada

A vitória de Macron merece certamente ser celebrada. Mas a “dicotomia infeliz” entre nacionalismo vs. globalismo é ilusória e enfraquece a concorrência moderada entre centro-direita e centro-esquerda.

FRANÇA

A extrema-direita ainda respira — e ganhou fôlego

Macron venceu em França, país que não reelegia um Presidente desde 2002. Ficou acima das sondagens, mas não travou crescimento da União Nacional de Le Pen. Legislativas são o próximo desafio.

ELEIÇÕES

3 - A festa que Macron já queria em 2017

Em 2017 Anne Hidalgo não deixou Macron festejar em Champs-de-Mars. Cinco anos depois, numa 2.ª volta contra a mesma adversária, conseguiu assinalar a vitória junto à Tour Eiffel. Mas com menos votos.

FRANÇA

4 - As entrelinhas da declaração de guerra a Macron

A líder da União Nacional reconheceu a derrota, mas tentou tornar o melhor resultado de sempre do partido numa vitória. O foco agora são as legislativas. E Le Pen vai andar por aí.

FRANÇA

5 .Macron reeleito. Reacções dos políticos portugueses

André Ventura publicou uma fotografia com Marine Le Pen, mas foi o único a destoar do coro de elogios a Emmanuel Macron na esfera política portuguesa. Marcelo já enviou um "abraço caloroso".

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