Foram os resultados das eleições presidenciais
francesas, neste domingo, 24/4/2022
I -A nova centralidade francesa
As reformas que não foram possíveis no
primeiro mandato de Macron serão seguramente mais difíceis no segundo, cujo início
está marcado pela guerra e seus efeitos nos preços e rendimentos das famílias.
INÊS DOMINGOS Colunista
do Observador, economista
OBSERVADOR, 24 abr 2022
A
saída do Reino Unido da União Europeia e os ajustamentos no modelo de
crescimento alemão impostos pela guerra (como escrevi no artigo
publicado há duas semanas), dão uma nova centralidade à França no
destino da Europa nos próximos anos. Este domingo, os franceses vão às
urnas escolher entre o actual Presidente Emmanuel Macron e Marine Le Pen. As
sondagens apontam para uma vitória do actual presidente, com cerca de dez
pontos de diferença. Mas mesmo ganhando, os desafios de um segundo (e
último) mandato de Emmanuel Macron, serão enormes, para a França e para a
Europa.
Apesar
das tentativas, por sinal muito contestadas, de reformar alguns aspectos muito
rígidos da economia francesa, permitindo à França subir sete lugares no
ranking do Fórum Económico Mundial para o 15º país mais competitivo do mundo,
os resultados económicos do primeiro mandato do Presidente Macron foram mistos.
Foi um dos países mais afectados pela covid, com uma queda no PIB de 7,9% em
2020, pior do que os 5,9% da União Europeia. Mas a desaceleração já tinha
começado antes da pandemia, com a taxa de crescimento a descer de 2,3% em 2016
para 1,8% em 2019. Antes da pandemia o défice já era superior a 3%, actualmente
encontra-se em 6,5%. A dívida pública ultrapassou 110% do PIB em 2020, o que
torna o país mais sensível a futuras variações nas taxas do BCE. Pela positiva, a taxa de desemprego diminuiu durante o
primeiro mandato, mas ainda assim, com 7,9% é a sexta mais elevado da União
Europeia.
Quando
lançou em 2016 o seu movimento En
Marche, Macron
assumia-se como o herdeiro dos valores da direita e da esquerda moderadas,
eliminando as linhas de separação políticas tradicionais em favor de uma
separação entre os que queriam reformar a França e os que queriam que tudo
ficasse na mesma. Mas as reformas que não foram possíveis no primeiro
mandato serão seguramente mais difíceis no segundo, cujo início está marcado
pela guerra e pelos seus efeitos negativos sobre nos preços e nos rendimentos
disponíveis das famílias.
Perante
este cenário, a insatisfação e divisões entre cidadãos dificilmente se
atenuarão. A diferença face ao início do primeiro mandato de Macron é que
agora o centro moderado, reformista e europeísta está essencialmente
representado pelo próprio Presidente, que não se poderá recandidatar em 2027.
Os partidos moderados de direita e de esquerda que se posicionavam nesse espaço
quase desapareceram. A chave para entender se a França poderá ser o centro
de gravidade na Europa no futuro passa por saber se haverá um sucessor credível
e carismático dentro do partido de Emmanuel Macron ou se existe alguma hipótese
de os partidos moderados de esquerda e de direita renascerem das cinzas.
FRANÇA EUROPA MUNDO EMMANUEL
MACRON
COMENTÁRIOS
Paulo Castelo: O programa do En Marche
não é de Macron. Não é à toa que tem o número de apoiantes que tem. É certo que
o carisma e competência de Macron ajudam na promoção desses ideais. Mas
sete anos parece-me tempo suficiente par surgirem vários candidatos ao seu
lugar, além da possibilidade que têm para porem os seus dotes "à
prova". A questão é se os ideais e a agenda do En Marche ainda fará
sentido para a maioria dos franceses daqui a sete anos. Daqui até lá, muita
água.... manuel
soares Martins: Concordo
com a leitura da situação da França feita pela autora. O futuro a Deus
pertence, dizia a sabedoria tradicional, mas lá que o futuro é sombrio,
é. No partido de Macron não haverá sucessores por isso mesmo que o partido
dele é ele. Apesar das semelhanças que alguns querem apontar, não creio que
subsista macronismo como sobreviveu, até hoje, gaullismo. bento guerra: Macron vai fazer a governação que lhe convenha, para
sair, ainda novo, para altos voos internacionais. Tem de se cuidar com a
"rua" porque os grandes partidos tradicionais estão de rastos. Quanto
à direita dura, ela vai continuar a ser atacada pela imprensa, ao serviço dos
interesses globais
Sínteses seguintes, no OBSERVADOR
Le Pen ganha na casa dos 50 anos, Macron conseguiu assegurar voto dos
mais jovens (mas a custo) e a maior abstenção foi nos eleitores de Mélenchon.
Os resultados eleitorais à lupa.
2 - Entrelinhas de Macron
perante uma Le Pen reforçada
No discurso de vitória, Macron não se permitiu grandes
celebrações, sabendo que 13 milhões votaram na extrema-direita. Optou antes por
estender a mão aos que, movidos pela "raiva", preferiram Le Pen.
Duas culturas políticas: marítima e continental II
A vitória de Macron merece certamente ser celebrada. Mas a
“dicotomia infeliz” entre nacionalismo vs. globalismo é ilusória e enfraquece a
concorrência moderada entre centro-direita e centro-esquerda.
A extrema-direita ainda respira — e ganhou fôlego
Macron venceu em França, país que não reelegia um Presidente desde 2002.
Ficou acima das sondagens, mas não travou crescimento da União Nacional de Le
Pen. Legislativas são o próximo desafio.
… ELEIÇÕES
3 - A festa que
Macron já queria em 2017
Em
2017 Anne Hidalgo não deixou Macron festejar em Champs-de-Mars. Cinco anos
depois, numa 2.ª volta contra a mesma adversária, conseguiu assinalar a vitória
junto à Tour Eiffel. Mas com menos votos.
4 - As entrelinhas
da declaração de guerra a Macron
A
líder da União Nacional reconheceu a derrota, mas tentou tornar o melhor
resultado de sempre do partido numa vitória. O foco agora são as legislativas.
E Le Pen vai andar por aí.
5 .Macron
reeleito. Reacções dos políticos portugueses
André
Ventura publicou uma fotografia com Marine Le Pen, mas foi o único a destoar do
coro de elogios a Emmanuel Macron na esfera política portuguesa. Marcelo já
enviou um "abraço caloroso".
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