sábado, 9 de abril de 2022

E a China bem que repousa


Na doçura triste do olhar sereno de Xi Jinping. De aparência apagada e fruste, simplesmente em riste.

O fim do mercantilismo europeu

Na Cimeira UE-China da semana passada Van der Leyen foi invulgarmente clara ao avisar que, apoiando a Rússia, a China corre o risco de um êxodo de investimento estrangeiro europeu.

MADALENA MEYER RESENDE Departamento de Estudos Políticos. Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – NOVA FCSH

OBSERVADOR,08 abr 2022

À medida que as acções criminosas russas na guerra da Ucrânia tomam contornos horríficos, o apoio “sem limites” da China à Rússia torna-se claro. A abstenção da China em criticar a Rússia é tida por Washington como evidência da consolidação da aliança sino-russa. A administração Biden assume que, mantendo o seu alinhamento com a Rússia, a China irá tornar a competição entre os grandes poderes numa guerra fria global que empalidecerá a conflitualidade que se viveu entre 1947 e 1989.

A guerra da Ucrânia está a levar a Europa a mudar profundamente a sua atitude perante a China. Se há dezasseis meses, em Dezembro de 2020, a UE assinava um Acordo Gobal sobre Investimento que coroava a estratégia comercial que pautou a sua relação com a China nos últimos vinte anos, durante a Cimeira UE-China da semana passada os Europeus mostraram estar alinhados com os EUA na forma como lidar com Pequim. A China é hoje vista como cúmplice das atrocidades cometidas pela Rússia e, depois de goradas as tentativas de comprometer a China nas tentativas de refrear Putin, a Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen e o Presidente do Conselho Europeu Charles Michel fecharam as portas a quaisquer concessões comerciais.

A cimeira marcou o fim do mercantilismo económico que dominou a abordagem da Europa durante as últimas duas décadas. Crescentemente a Europa olha para a relação com a China primariamente pelo prisma da competição estratégica e da segurança. No diálogo com o Presidente da China Xi Jinping e o Primeiro Ministro Li Keqiang, Van der Leyen foi invulgarmente clara ao avisar que, apoiando a Rússia, a China corre o risco de um êxodo de investimento estrangeiro europeu. Em relação à ratificação do Acordo Global sobre Investimento (CAI), negociado em Dezembro de 2020 pela Presidência Alemã e travado pelas sanções impostas à China pelo Parlamento Europeu perante a repressão contra os Uyghurs, Charles Michel foi peremptório em como a UE não pretende levantá-las.

A indiferença da diplomacia de Pequim face à catástrofe humanitária que se vive na Ucrânia chocou os líderes europeus e levou-os a formular uma estratégia para lidar com a nova realidade internacional. Tornou-se claro que os europeus devem aumentar a pressão contra a Rússia ao mesmo tempo que mostram à China que a sua associação estreita com Putin vai contra a estabilização das relações sino-europeias. Apesar de parecer pouco, parece ser o melhor que os europeus podem fazer. Poderá não salvar a Ucrânia de mais destruição, mas poderá convencer algumas facções em Pequim de que os interesses de Putin não são necessariamente os seus.

CAFÉ EUROPA   UNIÃO EUROPEIA   EUROPA   MUNDO   CHINA

COMENTÁRIOS

Mr. Lobby: Os ingénuos começam agora a perceber que a China é aliada tácita da Rússia no plano político e económico, e de modo explícito na vertente diplomática, como o expressou ontem na ONU. Se a China atenta quotidiana e massivamente contra os direitos humanos de milhões de chineses, de tibetanos, de uigures, etc, ia agora censurar a Rússia por tais motivos?!...                Filipe Ramos: Madalena Resende anda a anunciar a mudança da Europa há já algumas semanas. A indiferença da China com UE mostra exactamente o contrário. Nem a ameaça da Rússia a faz a mimada Europa racionar o consumo de hidrocarbonetos. Europa continuará o apaziguamento da China e rapidamente voltará à amnésia estratégica em nome dos negócios e do consumo de que tanto gosta.           Manuel Carneiro: Os f. da p. dos chinos são bem piores que os russos. Até o cego vê! HERMES: Ontem a China ao votar contra a moção de suspensão da Rússia da Comissão de Direitos Humanos na ONU mostrou o que realmente é. Chegados a este ponto é claro que dessa gente também só se pode esperar o pior. A Europa e o resto do Mundo já deviam ter percebido que é um erro manter relações civilizadas com quem despreza de um modo reiterado, em momentos decisivos, em plena ONU, os Direitos Humanos.                  Antes pelo contrário: Qual mercantilismo?! O mercantilismo consiste na ausência de taxas alfandegárias associado aos investimentos na produção e na exportação. Isso funciona ao nível de um Estado, apenas na condição de se controlar a balança comercial e de haver atitude idêntica de outros Estados. Mas a UE, pelo contrário, baseia-se nos desequilíbrios existentes entre os seus próprios Estados-membros, que têm enriquecido apenas a Alemanha, pois todos os outros Estados tornaram-se deficitários!! Claro está que as trocas favorecem a produção e o emprego, e que a UE, tal como os EUA, tem colmatado os desequilíbrios com a emissão de moeda a níveis estratosféricos - mas isso não tem atenuado as diferenças, tem-nas agravado! É ao mesmo tempo uma forma de imperialismo económico e político, e uma forma de financiar indirectamente as próprias empresas dos maiores Estados, emprestando dinheiro aos pequenos que se endividam constantemente para lhes comprar os seus produtos!!! Por conseguinte, "o mercantilismo europeu não tem fim" porque já deixou de existir - desde os tempos do Luís XIV. Muito menos em relação ao exterior, em relação ao qual continua a haver a Pauta Aduaneira e diferentes níveis de restrições, ditadas pelos vários interesses, ora económicos, ora políticos, que são o contrário do "mercantilismo". E no caso presente, o antagonismo em relação à Rússia desde 2014, não apenas foi contrário aos interesses económicos quer da Rússia quer da UE, como é em grande parte responsável por esta guerra - que pode muito bem acabar com ambas - e em que na realidade a UE é mais vulnerável, não apenas porque a sua dependência energética é real, quer ela dependa da Rússia ou dos EUA - mas igualmente porque não tem exército e depende dos americanos e da NATO, mais dos britânicos que são a única verdadeira potência militar na Europa, e economicamente não tem poder para enfrentar a China. A UE está-se a transformar numa potência regional e nada mais. Governada por gente estúpida, ainda por cima.            António Bernardino > Antes pelo contrário: Não é verdade, quando diz que só favorece a Alemanha, veja e medite no caso da Irlanda que teve um resgate ao mesmo tempo que Portugal, repare quanto cresce a Irlanda, muito mais do que a Alemanha. É apenas uma questão de governos de direito na Irlanda, contra governos venezuelanos em Portugal.            advoga diabo: Van der Leyen lembra aquela ideia consubstanciada na piada, "quem manda em casa? ele, e quem manda nele? ela. A China, claro! E não só a Europa. Detém boa parte da dívida dos EUA, domina economicamente quase toda a África, a Rússia depende imenso dela...há dúvidas?!            mário Unas: A UE está entregue a si própria.            Pontifex Maximus: Não ficou no post anterior: os europeus ainda não perceberam que sanções económicas nem contra países ditatoriais mais ou menos débeis como a Venezuela funcionam? Então estão a ameaçar a China com essa treta quando todos sabemos que isso seria neste momento mais prejudicial para nós que para eles? Agora é tomar uma decisão estratégica de ir cortando (não cortar…) as amarras que nós próprios nos colocámos e apostar nos lugares certos, a começar pelo sul da Europa que muito precisa de ser revitalizado!           António Bernardino > Pontifex Maximus: O sul da Europa só quer pedinchar. Compare coma Irlanda que cresce muitíssimo mais do que Portugal. Não é falta de investimento que nós temos, é impostos socializantes em excesso.            Pontifex Maximus: A Europa perceberá verdadeiramente o atoleiro onde está metida com a China quando tiver que começar a romper as amarras económicas com ela e os tetra milhões que lá terá enterrado e perderá para, pasme-se, a transformar de um país rural e atrasado numa superpotência que ela própria não é nem nunca será. Pense-se agora o quanto ridículo teria custado transformar três países que soma nem 50 milhões de pessoas (Espanha, Portugal e Grécia) em países ricos (não falo nos demais que hoje estão na site ao tempo estavam na cortina de ferro por razões óbvias) para se perceber que afinal o capitalismo não será tão racional quanto imaginamos que seja.          Victor de Oliveira > Pontifex Maximus: O capitalismo só tem uma racionalidade, o lucro, não importa à custa de quê, para os capitalistas para além deles não existem mais pessoas somos todos carne para canhão. Esta é a forma de olhar as pessoas somos todos substituíveis com baixo custo, basta ver a actualidade, algum Político admite taxar os lucros exagerados dos capitalistas devido á conjuntura? não!!! nem pensar!!, os trabalhadores escravos têm a obrigação de manter e aumentar a riqueza de alguns poucos.           bento guerra: Puro "wishfull thinking".Como se constroem efabulações sobre política internacional, com a História em acelerado?         Américo Silva: À medida que as ações criminosas russas na guerra da Ucrânia tomam contornos horríficos, o apoio “sem limites” da China à Rússia torna-se claro. Á medida que as ações criminosas de Obama tomaram contornos horríficos, o apoio “sem limites” da UE aos USA tornou-se claro. 370.000 mortos no Iémen, 200.000 na Síria e assim sucessivamente.            Américo Silva > Américo Silva: A Índia aumentará o comércio com Moscovo libertando-se do dólar e do euro, após alguns dias de hesitação no início do conflito. Não contente por ter optado pela abstenção quando foi organizada uma votação na ONU contra a guerra na Ucrânia, Nova Délhi agora afirma querer ajudar a Rússia a contornar as sanções financeiras impostas pelos países ocidentais. Américo Silva > Américo Silva: Ursula von der Leyen anuncia a activação contra a Hungria de um mecanismo para privar o país de fundos por violações do Estado de direito, dois dias depois da vitória retumbante de Viktor Orbán, ou seja, a UE pede ao governo húngaro que renuncie à aplicação das políticas para as quais foi eleito, Ursula defende uma mistificação e adulteração do conceito de estado de direito.           joao silva > Américo Silva: A "Úlcera" von só faz aquilo que O Biden/Kamala mandam. Se a  Bielorússia é um estado fantoche ás ordens de Putin, a UE também se tornou num Estado fantoche ao serviço dos interesses americanos.          Alberto Rei: Afinal quem é que tem atitude mercantilista, a China ou a UE? Ou distanciam-se da Rússia ou não há nada para ninguém!  Julgo que diplomatas não se conduzem assim. Por outro lado, ao porem a China do lado da Europa e dos EUA, estes acabariam por subjugar a Rússia, que é o que querem há muito e, a seguir, acabariam por entalar a China num futuro não distante, faziam-lhes o mesmo e tornavam-se senhores do Mundo. É isso que a senhora quer, é isso que anseia ? um diktat anglo-saxónico ? Mas a senhora acha que os chineses são idiotas, andam a dormir ? Faziam-lhes a folha a seguir. a senhora nem se quer tem em conta os cidadãos desses países do outro bloco como dizia há dias Guilherme Valente, nem sequer pensa se esses cidad|aos russos ou chineses se querem viver como sempre têm vivido e se estão satisfeitos. a senhora quer é mudar, porque acha o seu sistema superior ! a senhora não respeita os outros.   Portanto, aqui não está nenhuma superioridade moral, ou preocupação humanitária, os EUA, estão-se marimbando para a catástrofe humanitária na Ucrânia, têm outros objectivos primordiais, porque se fossem aqueles a diplomacia teria vencido, não teria havido invasão, teriam feito tudo para negociar e teriam feito tudo para acolher as pretensões russas (com condições evidentemente, por isso é que se negoceia), mas não quiseram, também eles têm as mãos pintalgadas de vermelho, mas incrivelmente dormem bem à noite.                Rui Delvas > Alberto Rei: Grande troll comunoide.            Cabral Paula: A Europa já está com balança de pagamentos negativa, bastou o preço da energia subir. Esperemos é que a China não desista de investir na EU.            Mafalda Botelho > Cabral Paula: A China precisa da UE, tal como a UE precisa da China, quando se está num mercado global precisamos todos uns dos outros. Acha que a Rússia, com um PIB igual ao de Espanha, vai compensar aquilo que a China vende à UE??? Claro que a UE deve exigir uma posição clara por parte da China, sobre o crime russo.            Mario Silva > Mafalda Botelho: Nem mais! Acho que é altura ideal para a UE repensar a sua estratégia industrial e comercial, por forma a reduzir a dependência da China. Já fomos ingénuos durante uma década com a Rússia e o preço a pagar está à vista.          Mafalda Botelho > Mario Silva: Concordo plenamente           Cabral Paula > Mafalda Botelho: Acho que a China não podia ser mais clara. Aliás, os industriais alemães já vieram dizer com todas as letras que o local doença de covid chineses na prática são sanções da China à UE. Cada décima de ponto de pib chinês perdido custa 1 ponto ao PIB europeu. Nisto tudo os americanos na prática não se privam de nenhuma exportação russa, os russo fizeram record de exportações, o rublo recuperou o valor e quem morre são os ucranianos e quem paga são os europeus.             Mario Silva > Cabral Paula: Cada décima de ponto de pib chinês perdido custa 1 ponto ao PIB europeu. Nisto tudo os americanos na prática não se privam de nenhuma exportação russa, os russos fizeram record de exportações. Fonte? Por acaso já foi publicado algum boletim oficial com as importações e exportações de Março 2022?           Cabral Paula > Mario Silva: É domínio público que os americanos aumentaram importação petróleo russo, e estão a importar fertilizantes e urânio como sempre. Em relação ao PIB chinês vs Europeu e os lockdowns chineses que fecham fábricas na Alemanha por falta de componentes vi na Índia today há 2 ou 3 semanas um responsável da industria alemã a dizer isso.           Mario Silva > Cabral Paula: É domínio público que os americanos aumentaram importação do petróleo russo, e estão a importar fertilizantes e urânio como sempre. Se é do domínio público apresente relatórios de órgãos fidedignos, como por exemplo os do Governo dos EUA e da Rússia, do FMI, da OCDE... Em economia discutem-se factos, não propaganda. Já basta a propaganda do conflito de ambos os lados. Em relação ao PIB chinês vs Europeu e os lockdowns chineses que fecham fábricas na Alemanha por falta de componentes vi na Índia today há 2 ou 3 semanas um responsável da indústria alemã a dizer isso. Apresente um estudo que comprove isso, do Bundesbank, BCE, Destatis, algo que corrobore com números o que afirmou. Bitaites qualquer pessoa pode dar.            joao silva > Cabral Paula ...e quem paga são os europeus. Esta guerra só tem dois ganhadores. Os EUA e a China.  Os europeus só mudaram a dependência. Deixaram de ser dependentes do gás russo e vão passar a ser dependentes do gás americano... 5 vezes mais caro!!!  É só espertos!!!           Rui Delvas > Cabral Paula: Tretalândia sem fim.           Mario Silva > joao silva: Os polacos antes de a guerra começar já tinham iniciado a diversificar as compras de gás, substituindo gás russo por norueguês e americano (mais caro que o russo). Um teve mais de 100 anos ocupado o país, e um povo que é dividido por 3 nações vizinhas, uma delas a Rússia, sabe que não se pode fiar neles. Como dizem os polacos, é preferível pagar mais pelo gás e ser independente do que viver dependente da Rússia. Dito por outras palavras é mais caro ser livre que ser escravo. Ainda assim há gente que acha que depender dos Russos é que é ser esperto...            Mario Silva > Cabral Paula: Domínio público em jornais generalista e económicos de 5 e 6 de Abril. Eu li no la tribune fr relativamente às importações americanas, mas uma simples busca no Google dá dezenas de artigos em jornais europeus.          Eu pesquisei na net e encontrei informação oficial do governo americano onde falavam de um aumento das compras de produtos petrolíferos à Rússia nos últimos 5-10 anos. Curiosamente no dia 8 de Março os EUA decidiram banir todas as importações de petróleo, gás e carvão russos. Também encontrei um artigo de meados de Março com o título "Why the US can afford to ban oil imports from Russia"          Cabral Paula > Mario Silva: Está em acesso livre: Malgré l’embargo, les États-Unis continuent d’importer du pétrole russe!, la tribune fr, é de 6 de Abril           João Carlos Proença de O. Costa: É a China que tem a Europa na mão, e não a Europa que tem a China na mão. E o primeiro prego que a Europa pregou foi em inícios dos anos 90, quando resolveu rebentar com os têxteis e confecções portugueses. 

 

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