Vou-a tendo, na leitura destes textos de
uma seriedade plena de sabedoria e sagacidade – e honestidade - discursivas,
como é a de mais este corajoso texto de MJA. Por isso me veio à ideia também este
soneto de Camões, de preenchimento de um espaço temporal revisionista, em
contas com a sua já longa trajectória:
Enquanto quis
Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.
Porém, temendo
Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co’o tormento
para que seus enganos não dissesse.
Ó vós que Amor
obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,
verdades puras
são e não defeitos;
e sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos.
Mas como comprazimento de anuência total,
não posso deixar de citar parte do comentário de António Sennfelt,
corolário
de um discurso, como sempre de rígida e hábil e aprazível ponderação - o
de Maria João Avillez:
«Muito
bem, Maria João, há que denunciar todas estas realidades dos actuais péssimos
governantes que nos conduzem para o fundo da Europa. O comodismo mais o
complexo de esquerda permitiu que os verdadeiros democratas fossem de cedência
em cedência cedendo terreno aos não democratas da extrema-esquerda deixando que
os nossos princípios se fossem tornando quase obsoletos e dando campo a esta
quase hegemonia das esquerdas em que quase tudo é apelidado de extrema-
direita, sendo que na realidade a verdadeira extrema-direita é praticamente
inexistente…» (António
Sennfelt)
Memória
passada (I)
Não foi só o autoritário Sócrates que
abusou no PS. Como tal, como não pode louvar a maioria absoluta socialista,
Costa dispara sobre a de Cavaco Silva. Confrangedoramente.
MARIA JOÃO AVILLEZ
OBSERVADOR, 06 abr
2022, 00:2059
1Tão
pouco futuro, tanto passado. Obsessivo passado. Na pressa de nos convencer de
que merece um vinte a comportamento democrático, António Costa, no seu discurso
de tomada de posse, olhou para trás, ressuscitou a maioria absoluta de Cavaco
Silva e sem se envergonhar, prometeu o contrário. Nem ao menos… parecido. Um
bocadinho “parecido” aos dez mais frutíferos anos de pluri reformas que produziram
crescimento, desenvolvimento, avanço. Outro modo de falar seriamente de futuro
em vez do “futuro radioso” ali prometido pelo primeiro-ministro.
Dentro
da “bolha” de vidro esfumado na qual sempre fez política e dentro da qual
sempre houve deficientes contactos com a real realidade do país, aquela maioria
absoluta de direita de Cavaco, ainda por cima liderada (céus!) por um
“outsider”, era insuportável, o povo português tinha-se enganado. Quatro anos
depois, apesar do PS, do PC e do esforçado trabalho de manipulação
anti-cavaquista do Independente, Cavaco bisou a empreitada, dessa vez com mais
votos ainda.
Abusos?
Claro que houve, há sempre no uso do poder pelos mal formados. Há na política como há na vida: quem é bem
formado, fica incólume e sai ileso das provas a que é sujeito; quem o não é,
age em conformidade e o PS sabe disso bem disso, na família socialista agiu-se
muito em conformidade e não foi só Sócrates que abusou. Eis o que pelo
menos recomendaria maior avisamento e menor despropósito nas evocações do
primeiro-ministro mas parece que não: como não pode citar a maioria absoluta
socialista do muito autoritário José Sócrates, António Costa dispara sobre a de
Cavaco Silva. Confrangedoramente.
2Nem
de propósito. Foi apenas há dias que o mesmo Cavaco Silva teve
uma stanting ovation daquelas de reter após o “elogio”, que fez num doutoramento honoris-causa. O ex-Presidente
preparara-se com brio, costuma saber do que fala, estava inspirado. Mas quando
no final a sala se pôs de pé quase automaticamente numa maré de aplausos, houve
muito quem se fixasse num outro factor para além da invulgar qualidade daquela
intervenção: a comparação entre personalidades e modos de agir em funções do
Estado. Entre os “ingredientes” usados por Cavaco quando as
exercia – seriedade, recato, consistência, autoridade própria – e o perfil das
autoridades políticas deste tempo: mais inclinados para a leveza, a
loquacidade, a (omni)presença. A supremacia da forma sobre a substância.
São
escolhas ditadas pelas correntes de ar que sopram sobre o “hoje”. Se é certo que os votos certificaram as escolha, os
resultados em nada porém as avalizam: o país não conhece um resultado digno
desse nome.
3Foi também há dias que Durão
Barroso deu uma excelente entrevista televisiva na RTP, e
excelente por mais de um motivo. A seguir pouco se falou nela. E no entanto…
diante de nós esteve alguém com notável conhecimento geoestratégico, solidez na
circunvalação por várias sedes e circunstâncias da política internacional,
despretensiosismo na evocação dos grandes deste mundo e uma interessante
segurança ao falar de todos eles que só podia advir de uma real proximidade. E obviamente de muito trabalho comum, em múltiplos
encontros, formais ou informais. Em resumo, uma imensa experiência política, no
currículo fora de comum de um cidadão do mundo. Não é todos os dias que há
prestações suculentas como esta ao serviço da política.
E depois foi-se a ver e a ninguém pareceu
interessante, útil, justificado, ou fosse o que fosse, tomar nota – e já nem
não digo elogiar – de uma entrevista como a que se ouviu. Por coincidência ou acaso (vá lá saber-se) estive a ler há pouco
tempo um texto quase brutal que escrevi no Expresso quando Durão Barroso trocou
Lisboa por Bruxelas. Talvez mesmo o mais afiado de quantos se escreveram na
altura, tão cortante era. O que em nada me impede de, passados vinte anos,
ser capaz de avaliar uma prestação televisiva que só honra o país e a política
portuguesa.
4Infelizmente,
não me parece tratar-se apenas da tão portuguesa inveja face a alguém que se
notabilizou por inteligência e mérito.
Antes fosse, inveja, estamos habituados a ela há quase nove séculos. Foi
pior: foi o usual veto de “direito de cidade” que há décadas a esquerda pratica
sem sombra de pecado, face à direita, considerando (?) que o sistema deve
naturalmente dispensá-la. E enfurecendo-se, exaltando e
mentindo em ocasiões de indisfarçável “aperto” público, como foi e será por
exemplo o caso de uma maioria absoluta.
Eis
um extraordinário universo mental (e moral) onde se acha seriamente – e se
pratica! – que o dito sistema, a vida politica, as instituições, o espaço
público, os outros poderes, estão suficientemente bem ocupados e representados
pelo PS e pelos seus ex e futuros parceiros. Representam
entre si e por si só a democracia portuguesa, ela é deles. Quando porém
liderada por políticos, governantes ou Presidentes fora dessa bolha política,
cultural e mediática onde pontificam também alguns gurus datados e ressentidos,
Portugal logo “regride”: torna-se automaticamente autoritário, senão fascista.
Há
qualquer coisa de insalubre nisto tudo.
Lembro-me bem de que quando António
Guterres chefiava o
Governo, era um herói e tão “próximo”: um dia em plena rua não dera ele, no
início da sua governação, o número do seu telemóvel a um cidadão que se lhe
queixara não sei de quê, para que assim pudesse queixar-se ao vivo ao próprio chefe
de Governo? A media enlevou-se com governante tão compreensivo, mas Durão
Barroso quase teve de pedir desculpa por ter ganho as eleições em vez de Ferro
Rodrigues. E quando o mesmo Guterres, hoje secretário geral da ONU,
intervém nas Nações Unidas para (ineficazmente) se amargurar em directo com o
estado do mundo, as televisões ouvem-no com maiúsculas. Quando Durão Barroso
presidia à Comissão Europeia nada disto se observou, antes a crítica, o
remoque, o acinte, quase sempre despropositado. Também são escolhas.
5Há muito que a nossa democracia está doente, não é de
hoje nem de ontem. Mário Soares combatia quanto podia o centro e a direita mas
sabia que o regime – e ele próprio – precisavam como pão para a boca de um e de
outra. E que uma democracia não o seria sem os seus pontos cardiais em
funcionamento. De então para cá as coisas – nas esquerdas – foram ficando
diferentes, depois sombrias e agora doentias.
Qualquer dia precisamos de respiração assistida. Não?
Já esteve mais longe.
NOVO
GOVERNO DURÃO BARROSO PAÍS
COMENTÁRIOS:
Maria Tubucci: Boa tarde. Muito bem. Costa malha no Cavaco por pura inveja, pois sabe que como governante, ao
pé do Cavaco, será sempre um anão cuja única “virtude” é saber aumentar a
dívida e o empobrecimento de Portugal, ao contrário de Cavaco. jota santos: sabem como se vai parar às
instâncias da ONU? deviam investigar como. sabem o que são lóbis? comecem por
aí se pensam que Guterres é uma boa pessoa estão bem enganados.
antes de ir
para a ONU fez aprovar leis que ainda hoje prejudicam o país em milhões de
euros todos os anos em benefício de grupos económicos. é tão fácil enganar o português No More Bullsh1t > jota santos: O Guterres é um parasita inútil (se é que existem
parasitas úteis...) e um dos piores que Portugal teve na sua longa História de
quase 900 anos. Não é coisa pouca, portanto. Eduardo Manuel Sá Gouveia > jota santos: Sr Jota, o engº Guterres é um homem bom. Um
homem generoso e honesto. Um amigo do seu amigo. Todos cometemos erros e talvez
ele tenha cometido alguns, mas é um socialista de mão cheia, um homem da
solidariedade, que pensa nos pobres e na pequena Greta, como o Professor Adão e
Silva que tão caluniado tem sido. É muito injusto. jota santosEduardo > Manuel Sá Gouveia: já não há greta para ninguém augusto sousa > jota santos: Além da manifesta falta de coragem e de sentido das
funções como presidente da organização mais abrangente do
Mundo. Era suposto como representante da ONU e depois de uma votação a condenar
a invasão da Ucrânia, dar expressão a esse voto e ir a Kiev na figura de
Secretário Geral
No More Bullsh1t: Desde quando é que "as esquerdas" – seja
onde for e quando for - alguma vez não foram "sombrias" ou quase
esmagadoramente "doentias"? Eduardo Manuel Sá Gouveia > No More Bullsh1t: Sr. No, desculpe! Não deve falar
assim da esquerda. A esquerda tem um longo historial de ajuda aos mais
necessitados - PS, PCP, BE, Os Verdes, Livre, MRPP- e os partidos que aqui
enumerei são todos partidos ne grande dignidade, de resistência pela liberdade.
Tenha isso em conta, se fizer favor. No More Bullsh1t > Eduardo Manuel Sá Gouveia: Tem toda a razão! Mas esqueceu-se
por exemplo do MAS e da Renata Ca bra (perdão, Cambra) que quer "acordar a
esquerda!"
Eduardo Manuel Sá Gouveia > No More Bullsh1t: Sim, Sr No, os partidos de esquerda
defendem - todos eles - a solidariedade, a justiça social, a igualdade, os
direitos, o amor ao próximo, a pequena Greta, Mamadu Ba, a comunidade
LGBTTPQTPPCTPMRPP2+, os imigrantes, os ciganos enfim, é incompreensível como
ainda há quem diga mal. Eu até diria melhor: o PS é farto em abusadores. Mas temos de reconhecer que estão
a melhorar, pois como se comprova pelo caso recente da FDUL pelo menos já
não é de rapazinhos (menores de idade) completamente indefesos mas sim de
jovens moçoilas adultas. Laurentino Cerdeira: Óptimo exercício de análise, como
sempre. A respiração assistida que refere, já eu falo dela desde o golpe
"para lamentar" pós eleições de 2015, venha a ser chamada de troika
ou de outra coisa qualquer!
Eduardo Manuel Sá Gouveia > Laurentino Cerdeira: Sr. Laurentino, estou de boca
aberta. Completamente de boca aberta. É muito grave que lance o pânico na
população. Muito grave. Gravíssimo, mesmo. Estou sem palavras, na verdade. O
Dr. António Costa é um governante prestigiado em toda a Europa, um histórico
membro da grande família socialista. Alguém de enorme responsabilidade como
ele, acaso permitiria tal catástrofe? Peço-lhe que reflicta neste ponto.
Num país
cuja população é maioritariamente xuxo-comuna tudo isto é habitual, tudo isto é
merecido, tudo isto é desejável. Este povo não aprende é um burro de carga, não
tem amor próprio e gosta do peso do cabresto no pescoço suado que a
xuxo-comunada lhe põe em cima. Aguenta zé povo e não te queixes pois deste-lhes a
maioria ABSOLUTA!?!?!
Ana Brito: Excelente maria joao. José Costa.: Excelente artigo, cara colega
coluinista, Maria João Avillez.
Alberto Gonçalves, Epidemiologista, Virologista,
Bacteriologista, Infecciologista, Matemático com o nono ano de escolaridade da
disciplina concluído, PhD, MBA e Professor de Direito
Inconstitucional. Alma mater: Conservas Imperiais de Matosinhos. Colunista
de jornal. António Sennfelt: A "democracia sucialista"
portuguesa está bem viva e recomenda-se! Quem, graças ao sr. rui rio, necessita
de balão de oxigénio, respiração boca a boca e massagem cardíaca é o alegado maior
Partido da alegada "Oposição". Muito bem,
Maria João, há que denunciar todas estas realidades dos actuais péssimos
governantes que nos conduzem para o fundo da Europa. O comodismo mais o
complexo de esquerda permitiu que os verdadeiros democratas fossem de cedência
em cedência cedendo terreno aos não democratas da extrema-esquerda deixando que
os nossos princípios se fossem tornando quase obsoletos e dando campo a esta
quase hegemonia das esquerdas em que quase tudo é apelidado de extrema-
direita, sendo que na realidade a verdadeira extrema-direita é praticamente
inexistente…
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