quarta-feira, 6 de abril de 2022

Esperança de algum contentamento


Vou-a tendo, na leitura destes textos de uma seriedade plena de sabedoria e sagacidade – e honestidade - discursivas, como é a de mais este corajoso texto de MJA. Por isso me veio à ideia também este soneto de Camões, de preenchimento de um espaço temporal revisionista, em contas com a sua já longa trajectória:

Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento,
o gosto de um suave pensamento
me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co’o tormento
para que seus enganos não dissesse.

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
a diversas vontades! Quando lerdes
num breve livro casos tão diversos,

verdades puras são e não defeitos;
e sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos.

 

Mas como comprazimento de anuência total, não posso deixar de citar parte do comentário de António Sennfelt, corolário de um discurso, como sempre de rígida e hábil e aprazível ponderação - o de Maria João Avillez:

«Muito bem, Maria João, há que denunciar todas estas realidades dos actuais péssimos governantes que nos conduzem para o fundo da Europa. O comodismo mais o complexo de esquerda permitiu que os verdadeiros democratas fossem de cedência em cedência cedendo terreno aos não democratas da extrema-esquerda deixando que os nossos princípios se fossem tornando quase obsoletos e dando campo a esta quase hegemonia das esquerdas em que quase tudo é apelidado de extrema- direita, sendo que na realidade a verdadeira extrema-direita é praticamente inexistente…» (António Sennfelt)

 Memória passada (I)

Não foi só o autoritário Sócrates que abusou no PS. Como tal, como não pode louvar a maioria absoluta socialista, Costa dispara sobre a de Cavaco Silva. Confrangedoramente.

MARIA JOÃO AVILLEZ

OBSERVADOR, 06 abr 2022, 00:2059

1Tão pouco futuro, tanto passado. Obsessivo passado. Na pressa de nos convencer de que merece um vinte a comportamento democrático, António Costa, no seu discurso de tomada de posse, olhou para trás, ressuscitou a maioria absoluta de Cavaco Silva e sem se envergonhar, prometeu o contrário. Nem ao menos… parecido. Um bocadinho “parecido” aos dez mais frutíferos anos de pluri reformas que produziram crescimento, desenvolvimento, avanço. Outro modo de falar seriamente de futuro em vez do “futuro radioso” ali prometido pelo primeiro-ministro.

Dentro da “bolha” de vidro esfumado na qual sempre fez política e dentro da qual sempre houve deficientes contactos com a real realidade do país, aquela maioria absoluta de direita de Cavaco, ainda por cima liderada (céus!) por um “outsider”, era insuportável, o povo português tinha-se enganado. Quatro anos depois, apesar do PS, do PC e do esforçado trabalho de manipulação anti-cavaquista do Independente, Cavaco bisou a empreitada, dessa vez com mais votos ainda.

Abusos? Claro que houve, há sempre no uso do poder pelos mal formados. Há na política como há na vida: quem é bem formado, fica incólume e sai ileso das provas a que é sujeito; quem o não é, age em conformidade e o PS sabe disso bem disso, na família socialista agiu-se muito em conformidade e não foi só Sócrates que abusou. Eis o que pelo menos recomendaria maior avisamento e menor despropósito nas evocações do primeiro-ministro mas parece que não: como não pode citar a maioria absoluta socialista do muito autoritário José Sócrates, António Costa dispara sobre a de Cavaco Silva. Confrangedoramente.

2Nem de propósito. Foi apenas há dias que o mesmo Cavaco Silva teve uma stanting ovation daquelas de reter após o “elogio”, que fez num doutoramento honoris-causa. O ex-Presidente preparara-se com brio, costuma saber do que fala, estava inspirado. Mas quando no final a sala se pôs de pé quase automaticamente numa maré de aplausos, houve muito quem se fixasse num outro factor para além da invulgar qualidade daquela intervenção: a comparação entre personalidades e modos de agir em funções do Estado. Entre os “ingredientes” usados por Cavaco quando as exercia – seriedade, recato, consistência, autoridade própria – e o perfil das autoridades políticas deste tempo: mais inclinados para a leveza, a loquacidade, a (omni)presença. A supremacia da forma sobre a substância.

São escolhas ditadas pelas correntes de ar que sopram sobre o “hoje”. Se é certo que os votos certificaram as escolha, os resultados em nada porém as avalizam: o país não conhece um resultado digno desse nome.

3Foi também há dias que Durão Barroso deu uma excelente entrevista televisiva na RTP, e excelente por mais de um motivo. A seguir pouco se falou nela. E no entanto… diante de nós esteve alguém com notável conhecimento geoestratégico, solidez na circunvalação por várias sedes e circunstâncias da política internacional, despretensiosismo na evocação dos grandes deste mundo e uma interessante segurança ao falar de todos eles que só podia advir de uma real proximidade. E obviamente de muito trabalho comum, em múltiplos encontros, formais ou informais. Em resumo, uma imensa experiência política, no currículo fora de comum de um cidadão do mundo. Não é todos os dias que há prestações suculentas como esta ao serviço da política.

E depois foi-se a ver e a ninguém pareceu interessante, útil, justificado, ou fosse o que fosse, tomar nota – e já nem não digo elogiar – de uma entrevista como a que se ouviu. Por coincidência ou acaso (vá lá saber-se) estive a ler há pouco tempo um texto quase brutal que escrevi no Expresso quando Durão Barroso trocou Lisboa por Bruxelas. Talvez mesmo o mais afiado de quantos se escreveram na altura, tão cortante era. O que em nada me impede de, passados vinte anos, ser capaz de avaliar uma prestação televisiva que só honra o país e a política portuguesa.

4Infelizmente, não me parece tratar-se apenas da tão portuguesa inveja face a alguém que se notabilizou por inteligência e mérito. Antes fosse, inveja, estamos habituados a ela há quase nove séculos. Foi pior: foi o usual veto de “direito de cidade” que há décadas a esquerda pratica sem sombra de pecado, face à direita, considerando (?) que o sistema deve naturalmente dispensá-la. E enfurecendo-se, exaltando e mentindo em ocasiões de indisfarçável “aperto” público, como foi e será por exemplo o caso de uma maioria absoluta.

Eis um extraordinário universo mental (e moral) onde se acha seriamente – e se pratica! – que o dito sistema, a vida politica, as instituições, o espaço público, os outros poderes, estão suficientemente bem ocupados e representados pelo PS e pelos seus ex e futuros parceiros. Representam entre si e por si só a democracia portuguesa, ela é deles. Quando porém liderada por políticos, governantes ou Presidentes fora dessa bolha política, cultural e mediática onde pontificam também alguns gurus datados e ressentidos, Portugal logo “regride”: torna-se automaticamente autoritário, senão fascista.

Há qualquer coisa de insalubre nisto tudo. Lembro-me bem de que quando António Guterres chefiava o Governo, era um herói e tão “próximo”: um dia em plena rua não dera ele, no início da sua governação, o número do seu telemóvel a um cidadão que se lhe queixara não sei de quê, para que assim pudesse queixar-se ao vivo ao próprio chefe de Governo? A media enlevou-se com governante tão compreensivo, mas Durão Barroso quase teve de pedir desculpa por ter ganho as eleições em vez de Ferro Rodrigues. E quando o mesmo Guterres, hoje secretário geral da ONU, intervém nas Nações Unidas para (ineficazmente) se amargurar em directo com o estado do mundo, as televisões ouvem-no com maiúsculas. Quando Durão Barroso presidia à Comissão Europeia nada disto se observou, antes a crítica, o remoque, o acinte, quase sempre despropositado. Também são escolhas.

5Há muito que a nossa democracia está doente, não é de hoje nem de ontem. Mário Soares combatia quanto podia o centro e a direita mas sabia que o regime – e ele próprio – precisavam como pão para a boca de um e de outra. E que uma democracia não o seria sem os seus pontos cardiais em funcionamento. De então para cá as coisas – nas esquerdas – foram ficando diferentes, depois sombrias e agora doentias.

Qualquer dia precisamos de respiração assistida. Não? Já esteve mais longe.

NOVO GOVERNO   DURÃO BARROSO   PAÍS

COMENTÁRIOS:

Maria Tubucci: Boa tarde. Muito bem. Costa malha no Cavaco por pura inveja, pois sabe que como governante, ao pé do Cavaco, será sempre um anão cuja única “virtude” é saber aumentar a dívida e o empobrecimento de Portugal, ao contrário de Cavaco.               jota santos: sabem como se vai parar às instâncias da ONU? deviam investigar como.  sabem o que são lóbis? comecem por aí se pensam que Guterres é uma boa pessoa estão bem enganados. antes de ir para a ONU fez aprovar leis que ainda hoje prejudicam o país em milhões de euros todos os anos em benefício de grupos económicos. é tão fácil enganar o português      No More Bullsh1t > jota santos: O Guterres é um parasita inútil (se é que existem parasitas úteis...) e um dos piores que Portugal teve na sua longa História de quase 900 anos. Não é coisa pouca, portanto.            Eduardo Manuel Sá Gouveia > jota santos: Sr Jota, o engº Guterres é um homem bom. Um homem generoso e honesto. Um amigo do seu amigo. Todos cometemos erros e talvez ele tenha cometido alguns, mas é um socialista de mão cheia, um homem da solidariedade, que pensa nos pobres e na pequena Greta, como o Professor Adão e Silva que tão caluniado tem sido. É muito injusto.                jota santosEduardo >  Manuel Sá Gouveia: já não há greta para ninguém             augusto sousa > jota santos: Além da manifesta falta de coragem e de sentido das funções como  presidente  da  organização mais abrangente do Mundo. Era suposto como representante da ONU e depois de uma votação a condenar a invasão da Ucrânia, dar expressão a esse voto e ir a Kiev na figura de Secretário Geral             No More Bullsh1t: Desde quando é que "as esquerdas" – seja onde for e quando for - alguma vez não foram "sombrias" ou quase esmagadoramente "doentias"?            Eduardo Manuel Sá Gouveia > No More Bullsh1t: Sr. No, desculpe! Não deve falar assim da esquerda. A esquerda tem um longo historial de ajuda aos mais necessitados - PS, PCP, BE, Os Verdes, Livre, MRPP- e os partidos que aqui enumerei são todos partidos ne grande dignidade, de resistência pela liberdade. Tenha isso em conta, se fizer favor.                    No More Bullsh1t > Eduardo Manuel Sá Gouveia: Tem toda a razão! Mas esqueceu-se por exemplo do MAS e da Renata Ca bra (perdão, Cambra) que quer "acordar a esquerda!"                 Eduardo Manuel Sá Gouveia > No More Bullsh1t: Sim, Sr No, os partidos de esquerda defendem - todos eles - a solidariedade, a justiça social, a igualdade, os direitos, o amor ao próximo, a pequena Greta, Mamadu Ba, a comunidade LGBTTPQTPPCTPMRPP2+, os imigrantes, os ciganos enfim, é incompreensível como ainda há quem diga mal. Eu até diria melhor: o PS é farto em abusadores. Mas temos de reconhecer que estão a  melhorar, pois como se comprova pelo caso recente da FDUL pelo menos já não é de rapazinhos (menores de idade) completamente indefesos mas sim de jovens moçoilas adultas.                 Laurentino Cerdeira: Óptimo exercício de análise, como sempre. A respiração assistida que refere, já eu falo dela desde o golpe "para lamentar" pós eleições de 2015, venha a ser chamada de troika ou de outra coisa qualquer!           Eduardo Manuel Sá Gouveia > Laurentino Cerdeira: Sr. Laurentino, estou de boca aberta. Completamente de boca aberta. É muito grave que lance o pânico na população. Muito grave. Gravíssimo, mesmo. Estou sem palavras, na verdade. O Dr. António Costa é um governante prestigiado em toda a Europa, um histórico membro da grande família socialista. Alguém de enorme responsabilidade como ele, acaso permitiria tal catástrofe? Peço-lhe que reflicta neste ponto. Num país cuja população é maioritariamente xuxo-comuna tudo isto é habitual, tudo isto é merecido, tudo isto é desejável. Este povo não aprende  é um burro de carga, não tem amor próprio e gosta do peso do cabresto no pescoço suado que a xuxo-comunada lhe põe em cima. Aguenta zé povo e não te queixes pois deste-lhes a maioria ABSOLUTA!?!?!            Ana Brito: Excelente maria joao.            José Costa.: Excelente artigo, cara colega coluinista, Maria João Avillez.

Alberto Gonçalves, Epidemiologista, Virologista, Bacteriologista, Infecciologista, Matemático com o nono ano de escolaridade da disciplina concluído, PhD, MBA e Professor de Direito Inconstitucional. Alma mater: Conservas Imperiais de Matosinhos. Colunista de jornal.             António Sennfelt: A "democracia sucialista" portuguesa está bem viva e recomenda-se! Quem, graças ao sr. rui rio, necessita de balão de oxigénio, respiração boca a boca e massagem cardíaca é o alegado maior Partido da alegada "Oposição".  Muito bem, Maria João, há que denunciar todas estas realidades dos actuais péssimos governantes que nos conduzem para o fundo da Europa. O comodismo mais o complexo de esquerda permitiu que os verdadeiros democratas fossem de cedência em cedência cedendo terreno aos não democratas da extrema-esquerda deixando que os nossos princípios se fossem tornando quase obsoletos e dando campo a esta quase hegemonia das esquerdas em que quase tudo é apelidado de extrema- direita, sendo que na realidade a verdadeira extrema-direita é praticamente inexistente…

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