sexta-feira, 29 de abril de 2022

“Je dirais même plus”


Quais detectives Dupond/t, eu faria minhas as palavras do Dr. Salles, embora o caso dos Dupond/t seja um mau paralelo, pois surgem nos “Tintin” como figuras grotescas, de paródia, puros papagaios que de nada entendem.

O caso não é para rir, todavia, e já nem os meninos de hoje se divertem com os Tintins ou os Astérix com que se entretiveram os nossos filhos e nós mesmos, em saudável humor enriquecido pelas temáticas viageiras por espaços geográficos, históricos, e humanos de uma psicologia não destrutiva. É certo que eu os lia em francês, no deslumbramento por essa língua, que chegava às livrarias facilmente, na África dos meus vinte e trinta anos. Mas o “VIVE LA FRANCE” do repto do Dr. Salles, sinto-o eu, com a gratidão de sempre. Pelo que dela colhi, pelo que dela colhemos, mãe difusora de luz, no mundo inteiro, em todos os tempos, queremos que para todo o sempre, pese embora essa promiscuidade com os povos muçulmanos, que a todos repugna, e que Macron admite, o que deslustra a França e a corrompe. Mas desejo que essa luta socio religiosa anti muçulmana de Marine Le Pen não arraste os franceses para uma pior solução, de abertura a Putin. Por isso direi como os Dupondt: “Je dirais même plus”  -  “Five la Vrance”

Je dirai même plus, sans les Dupondt: VIVE LA FRANCE! VIVE MACRON!

«VIVE LA FRANCE!»

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 26.04.22

«O que acontece em França acontece à Europa» – parece dogma mas não é pois é geográfica e culturalmente demonstrável.

Se eu me propusesse fazer um Tratado de Relações Internacionais e de Ciência Política, poderia deitar mãos ao trabalho com aquela afirmação e passar de seguida à sua demonstração mas fique o Leitor tranquilo que não o incomodarei em demasia pois passo desde já a uma reflexão que pretendo breve – sobre as eleições presidenciais francesas de 24 de Abril de 2022.Muito laconicamente, em torno de Marine Le Pen juntaram-se os eleitores da direita radical e os que se descoroçoaram com Macron ao longo do seu primeiro mandato; em torno de Macron juntaram-se todos os que não queriam Marine Le Pen.

Daqui resulta que – por muito que possa custar a constatação – a perdedora foi, afinal, a figura central destas eleições. E tudo aponta para que o cenário se repita nas legislativas dentro de dois meses.
Nestas eleições francesas,
Putin não foi um mero fantasma, terá sido um poderoso manipulador preconizando que França saia da NATO e da UE
. Ou seja, destruindo ambas. O argumento é o de que França passaria a dispor de equidistância relativamente a todas as partes envolvidas na cena internacional. Óbvio sofisma pois, não estando com ninguém, concentraria a desconfiança (e oposição) de todos. E o imperialismo russo perderia dois fortes opositores. Mas, em simultâneo, a luta socio-religiosa anti muçulmana tem tido fortes razões para alcandorar Marine Le Pen a paladina dessa causa e esse é um problema que os demais políticos parece não quererem encarar. Ou seja, esta motivação eleitoral poderá prevalecer sobre a ameaça russa e, pela calada, levar os putinescos ao poder em França nas próximas legislativas. Que perigo para o mundo ocidental! Que a serenidade motive os franceses e os afaste de todos os radicalismos.

Lisboa, 25 de Abril de 2022

Henrique Salles da Fonseca

Tags: "política alheia" 

1 COMENTÁRIO

Adriano Miranda Lima 27.04.2022 12:31: É verdade, Dr. Salles da Fonseca, o putinismo é neste momento a mais perigosa ameaça à humanidade e à civilização, por tudo o que se tem visto. Tem-se criado certa expectativa sobre a possibilidade de ele ser derrubado. Mas cabe perguntar se o problema é só com ele. Ou seja, se o Putin existe por a Rússia ser como é, ou se ele é um mero acidente no percurso do país. Inclino-me para a primeira hipótese.

 

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