quarta-feira, 27 de abril de 2022

Feitios


Julgo que Fernando Pessoa nos descreveu bem no seu poema Liberdade.

Releiamos, pois talvez nos sirva a carapuça, justificativa de tanto falhanço, o oportunismo, a subserviência, sendo características que definitivamente nos arrumam no far niente e no carpe diem que o bom sol estimula, com as excepções que admiraremos sempre:

LIBERDADE

Ai que prazer

Não cumprir um dever,

Ter um livro para ler

E não o fazer!

Ler é maçada,

Estudar é nada.

O sol doira

Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,

Sem edição original.

E a brisa, essa,

De tão naturalmente matinal,

Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.

Estudar é uma coisa em que está indistinta

A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quanto há bruma,

Esperar por D. Sebastião,

Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...

Mas o melhor do mundo são as crianças,

Flores, música, o luar, e o sol, que peca

Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto

É Jesus Cristo,

Que não sabia nada de finanças

Nem consta que tivesse biblioteca...

 

Para quando o 26 de Abril?

Fui daqueles que embirraram com a política do bom aluno de Cavaco Silva. Mas tenho que reconhecer que, pelo menos nesse tempo, tínhamos um objetivo claro e trabalhávamos para o alcançar.

Raquel Abecasis Jornalista e ex-candidata independente pelo CDS nas eleições autárquicas e legislativas

OBSERVADOR, 26 abr 2022, 00:1731

Quarenta e oito anos depois, não podemos escamotear que Portugal está muito aquém do que prometia “o dia inicial inteiro e limpo”.

Festejámos, há poucos dias, a data em que passámos a ter mais dias de democracia do que de ditadura. Quarenta e oito anos é muito ano. Tempo mais do que suficiente para termos mudado o nosso destino de país pequeno, ou médio, nas palavras do Presidente da Assembleia da República, na ponta mais ocidental da Europa.

A verdade é que a Revolução dos Cravos prometia a liberdade, a democracia e tudo o que ela traz como possibilidade de desenvolvimento. Quarenta e oito ano passados, tivemos três intervenções externas e muito pouco desenvolvimento tendo em conta as expectativas.

Houve progresso? Sim. Mas houve o progresso prometido? Não. Portugal fez um caminho difícil depois de 1974, primeiro com a instabilidade normal depois de um período revolucionário, depois com a estabilização do novo regime. Tudo isso é normal. Mas já não é normal termos vinte e três Governos em quarenta e oito anos. Dá uma média de dois anos por Governo, sendo que a Constituição prevê que os Governos sejam eleitos para legislaturas de quatro anos.

Talvez o que digo acima explique o desnorte com que se governa em Portugal. Talvez o facto de termos Governos de curtíssima duração justifique que Portugal, ao fim de quarenta e oito anos, continue sem uma estratégia clara e sem um objetivo que mobilize os portugueses.

Neste momento, Portugal é um país de velhos sem políticas demográficas que mostrem um futuro mais promissor. Neste momento, Portugal é um país de salários baixos e empresas pouco ou nada competitivas. Neste momento, Portugal forma fornadas de licenciados que saem da Universidade para o desemprego ou para a emigração. Há dias, um emigrante que regressou a Portugal depois de dezassete anos em Londres perguntava-me como era possível que se ganhasse tão pouco em Portugal. Fiquei sem resposta. Também eu não sei explicar.

A verdade é que em quarenta e oito anos fizemos muito pouco para mudar o nosso fado. Podemos consolar-nos ou enganar-nos com a velha história de que formamos mais gente, entrámos na União Europeia, criámos infraestruturas, um serviço nacional de saúde e um sistema de segurança social. Podemos até achar que se fizermos as reformas necessárias, como ontem abundantemente ouvimos da oposição no Parlamento, temos o nosso problema resolvido. Mas não é isso que principalmente nos falta. O que nos falta é uma estratégia, um objectivo, uma meta, um caminho que mobilize os portugueses.

“É bonita a festa pá”, mas temos que olhar para a realidade. Fizemos muito pouco nestes quarenta e oito anos para mudar a vida dos portugueses. A prova provada é o facto de seis países de Leste, que integraram a União Europeia apenas em 2004, nos terem ultrapassado no ranking do PIB per capita: República Checa, Eslovénia, Lituânia, Estónia, Polónia e Hungria.

Fui daqueles que embirraram com a política do bom aluno de Cavaco Silva. Mas tenho que reconhecer que, pelo menos nesse tempo, tínhamos um objetivo claro e trabalhávamos para o alcançar. Depois da adesão à moeda única, Portugal parece ter ficado sem rumo. Não basta dizer que temos que aumentar salários e que temos a geração mais qualificada de sempre. É preciso saber o que fazer com isso.

Portugal é um país pequeno, na ponta ocidental da Europa, cheio de sol e com uma qualidade de vida incomparável. Mas na era da digitalização, com uma geração qualificada e com os recursos naturais que temos, vivermos apenas disso é muito pouco, não há desculpas para o triste fado que temos pela frente.

Se as vistas curtas de quem só quer governar para se manter no poder quiserem dar Abril aos portugueses, há muitos caminhos por onde andar. Numa época em que a sustentabilidade é a palavra-chave para o futuro, Portugal tem muitas cartas para dar, é só escolher e deitar mãos à obra. Temos uma zona económica exclusiva com uma área maior do que a Índia, completamente inexplorada. Passamos o tempo a falar disso, só falta mesmo decidir se queremos ser o futuro, ou se nos satisfazemos com este país fantástico para os que de fora vêm passar férias, mas muito poucochinho para os que cá vivem. É um caminho óbvio, pode haver outros, mas por favor escolham um e mobilizem o país em torno de um objetivo.

Falta cumprir Abril.

25 DE ABRIL   PAÍS   SUSTENTABILIDADE    AMBIENTE   CIÊNCIA    CRESCIMENTO ECONÓMICO    ECONOMIA

COMENTÁRIOS:

Filipe Costa: Neste nosso mar imenso devemos ter gás, petróleo, metais raros e não fazemos nada, tanta riqueza, tanto para explorar e... nada.            Rui Delvas: A sra. Raquel Abecasis é mulher, é sempre preciso dar um enooooorme desconto. Sabe, o professor Cavaco em 10 anos de governação SÓ conseguiu a miséria de 42% de crescimento real da economia. O socialismo é que nos salvou destes números vergonhosos.        Mariano Velez: não batam mais no ceguinho. toda a gente, com algum córtex cerebral, percebe as causas e os truques que dr Costa tem usado para se manter no poder. Mas pelos vistos há muita gente que acha bem, portanto...a questão é outra, tem a ver com os RR,s deste mundo, que não sabem explicar e fazer compreender do porquê destes belíssimos resultados... portanto, aguenta e siga a Marinha...            João Ramos: Quem nos dera ter um “embirrento” como o Cavaco à frente dos nossos destinos, estaríamos hoje, sem qualquer dúvida, muito melhor do que estamos ao termos entregue o país há já 6 anos a um bando de “banhas da cobra”… cumprir Abril é o que andamos a fazer, a esquerda a desgovernar-nos e a levar-nos à decadência, o que falta é cumprir Novembro e a esperança que nos troce de democracia e desenvolvimento!!!           O Serrano > João Ramos: Muito bem João Ramos, parece impossível que após recebermos tanto milhares de milhões em € estejamos neste estado de estagnação, pobreza, desigualdades e falta de oportunidades para muitos, os melhores. Os dois ou três melhores 1º ministros que tivemos são denegridos, difamados e corridos depressa. Mantemos anos e anos medíocres que para além do amor à democracia sem fim, a igualdade de género, a violência sobre as mulheres e já agora também e não é pouca sobre os homens, pode é não ser física, a sensibilidade social em exclusividade, enfim, blá , blá, nada são capazes de fazer a não ser banquetear-se no Estado, cuidar deles e da rapaziada da confraria.           Rui Delvas > João Ramos: Cumprir abril é gastar 6000€/ano por aluno e depois na televisão qualquer aluno ucraniano sabe ter uma conversação em inglês. Em Portugal nem sabem onde é a Grã-Bretanha.          Dr. Feelgood: Premissa e pergunta errada. O que se pretende é para quando o 24 - vinte e quatro - d' Abril.            Miguel Braga > Dr. Feelgood: Exacto. Espanha não precisou de um 25/04 para ultrapassar o franquismo. Aqui apenas serviu para alimentar oportunistas e bolchevistas que nos têm arrastado para a lama. E já lá vão quase 50 anos neste marasmo. Manuel Fernandes: Extraordinário! Tanto esta senhora como o Nuno Poças, noutro artigo aqui ao lado, repetem (de forma mais envergonhada, concedo) o discurso de André Ventura na AR. Basicamente, que o 25/4 falhou nas promessas de melhoria de nível de vida dos portugueses e de desenvolvimento económico do País. Não falhou (por enquanto...) na liberdade de expressão e de opinião (mas isso foi graças ao 25/11), mas economicamente foi um desastre continuado. O que não admira porque o socialismo no poder, seja onde for, acaba sempre a nivelar por baixo. Fico à espera que o Melena e Pá venha chamar fascistas a estes dois comentadores políticos...            Maria Melo: Como se explica termos baixos salários? O país não cria riqueza suficiente, os impostos são muito e altíssimos, o Estado paga a uma vasta faixa de pessoas que se contentam com os subsídios e se recusam a aceitar trabalho, a dívida do país é enorme e não pára de crescer, a produtividade é baixa, o número de funcionários públicos é elevado, mas o serviço prestado é normalmente mau… E, certamente, encontraria mais razões. Portugal é realmente um Estado falhado. Comemorar o 25 de Abril é uma fantochada! Liberales Semper Erexitque: Não se percebe vindo desta colunista um discurso a este ponto estatista, que se não contivesse uma crítica ao regime socialista, poderia ser assinado por um dos tais socialistas. Ainda por cima contém erros básicos, como afirmar que os governos dos tugas abrileiros duram pouco, quando isso só aconteceu nos primeiros tempos, precisamente, "revolucionários". E nem uma palavra sobre o elefante no meio da sala, quase 30.000 euros de dívida para cada português. Cumprir? É melhor não dizer que falta cumprir Abril, porque o que falta cumprir é pagar aos outros os socialismos que andámos a criar alegremente. Não vai ser bonito.           Joana Fernandes: Obrigada por este artigo! Inteiramente de acordo! Parabéns à autora! É preciso reformar Portugal e ter um rumo, uma estratégia, ambição!          Pereira Santos: O 25 de Abril foi fundamental para a instalação da liberdade de opinião e de pensamento, mas foi um desastre em termos económicos, ao dar lugar ao PREC que destruiu por completo a economia portuguesa com as nacionalizações irracionais). Portugal entre 1966 e 1974 foi o país europeu com o maior crescimento económico e entre 1974 e hoje foi o pais que menos cresceu. Os "donos" do 25 de Abril ainda não aceitam debater o pós 25 de Abril em termos económicos, pois Portugal comparado com os outros países europeus perdeu muitas posições.          Liberales Semper Erexitque > Pereira Santos: Não é verdade, Portugal já estava na "cauda da Europa" economicamente antes da abrilada de 1974. Continua mas é lá!          Maria Narciso > Pereira Santos: Mas o que era Portugal antes do 25 Abril. Só era conhecido internacionalmente pelo fado, através de uma grande atriz - Amália Rodrigues.           Paulo C: O povo é o único culpado da situação em que o país se encontra. Ainda não percebeu que com o PS o país só afunda.           Meio Vazio: A Raquel labora num equívoco muito comum: o progresso económico e material na dependência necessária e directa do sistema politico. "O pão, a habitação, a saúde" não surgem como um maná, só porque os desejamos e reclamamos (o pensamento mágico no seu melhor. Manuel Dias > Utilizador Removido: Tendo em atenção os resultados alcançados pela governação socialista desde 1975 o sucesso de António Costa só poderá significar: Extermínio da classe média. 3/4 da população activa a viver do salário mínimo. O PS e o Estado como entidade única que acoita toda a família, amigos e compadres e os únicos beneficiários do regime. Administração pública num caos de burocracia e ineficiência Etc etc             Francisco Garcia: E o que é que pretende explorar nas águas do alto mar?        josé maria: Fui daqueles que embirraram com a política do bom aluno de Cavaco Silva. Mas tenho que reconhecer que, pelo menos nesse tempo, tínhamos um objectivo claro e trabalhávamos para o alcançar. Objectivos claros, tais como a destruição da nossa frota pesqueira, a política agrícola do pousio forçado de terras e a especulação bolsista em modo de gato por lebre?           Manuel Dias > josé maria: Único período dos últimos 48 anos em que o país cresceu acima dos 4% ao ano. Depois veio o socialismo               josé maria > Manuel Dias: António Guterres deixou de ser PM em 2002 e conseguiu o défice público de 3,3%. Cavaco Silva governou até 1995 e deixou o défice em 5,2%.Durão Barroso saiu em 2004 e deixou o défice em 6,2%.Santana Lopes saiu em 2005 e deixou o défice em 6,2%. Cavaco Silva governou entre 1987 e 1995, com a dívida pública sempre a subir. Em 1995, a dívida ficou em 58,3%. Durante o governo de António Guterres, a dívida baixou de 59,5% em 1996 para 55,2% em 1997. Em 1998, baixou para 51,8% Em 1999, baixou para 51,0%. E em 2000 baixou para 50,3%.Quanto ao défice, em 1999, Guterres deixou o défice em 3,0%, em 2000, 3,2%, em 2001, 3,3%. Quanto ao desemprego, Cavaco fixou-o em 7,1%, no ano de 1995. Guterres conseguiu colocá-lo em 5,0% em 2002.O melhor PM português, sem margem para dúvidas. Contra factos, não há argumentos. São diferenças muito significativas, Guterres bate Cavaco aos pontos por larga margem de diferença, na dívida pública, no défice e no desemprego. Contra factos, não há argumentos..          Manuel Fernandes > josé maria: E depois de tanto sucesso abandonou o pântano...          josé maria > Manuel Fernandes: Não houve pântano nenhum, todos os dados estatísticos que eu invoquei, e que você não consegue refutar, confirmam que Guterres foi bem melhor do que Cavaco.

 

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