sexta-feira, 15 de abril de 2022

Premonição literária


Aplicação prática da literatura na vida, em antevisão de pesadelo e monstruosidade, a que O PROCESSO de Kafka, L’ÉTRANGER de Camus e outros, já tinham, antes desse livro de G. Orwell, bem referenciado por José Milhazes, provocado uma sensação de pesadelo, porque lidos numa idade de esperança ainda. Servi-me, uma vez mais, da Internet, para aclarar memórias ligeiras, pois que o artigo da Wikipédia é bem mais longo.

George Orwell tem mais uma vez razão

As obras clássicas da literatura mundial têm a particularidade de não envelhecerem, tornando-se, em determinados períodos, tão perigosas para o poder autoritário como aquando da sua publicação.

JOSÉ MILHAZES

Colunista do Observador. Jornalista e investigador

OBSERVADOR, 14 abr 2022

 “A guerra é a paz”

Em 1949, o escritor britânico George Orwell publicava a sua mais conhecida obra, a anti-utopia “1984”, livro censurado e proibido em qualquer país onde foram ou estão instalados regimes autoritários.

Na União Soviética, os dirigentes comunistas mantiveram essa obra no índice dos livros proibidos até à perestroika de Mikhail Gorbatchov, pois consideravam, e com toda a razão, que “1984” não passava de uma das mais perigosas obras literárias anti-soviéticas.

Hoje, Vladimir Putin não chegou ainda ao ponto de proibir a venda dessa obra nas livrarias, mas a sua distribuição gratuita ou citações podem causar sérios problemas aos que ousem fazer isso em tempo de “operação especial” das tropas russas. A própria proibição da palavra “guerra” e a sua substituição pelo termo “operação especial” fazem lembrar passagens de “1984” comoa guerra é a paz”.

No dia 11 de Abril, na cidade de Ekaterinburgo, a polícia deteve um cidadão russo que exibia uma folha de papel com essa máxima do romance distópico de Orwell e conduziu-o para uma esquadra, onde foi acusado dedesacreditar as forças armadas russas”, sendo o castigo o pagamento de uma multa de 50 mil rublos (cerca de 60 euros).

Os serviços de segurança andam à caça dos estudantes que ousam deixar nas estações de metropolitano de Moscovo exemplares de obras como “1984”, “O Adeus às Armas” de Ernest Hemingway e “A Oeste Nada de Novo” de Eric Maria Remarque”.

Mas parece que, como acontece frequentemente na Rússia, as perseguições apenas despertam a curiosidade das pessoas. Segundo as editoras russas, o romance “1984” regressou ao top dos livros mais vendidos no país.

Além disso, os leitores procuram também livros de psicologia como o de Viktor Frankl “Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração”.

Talvez a explicação para este fenómeno esteja nas palavras do Presidente francês, Emmanuel Macron, que, numa das suas últimas entrevistas diagnosticou paranoia no ditador russo. Quando lhe perguntaram quais os motivos de Putin para invadir a Ucrânia, ele respondeu que “o ressentimento [em relação à política do Ocidente] se transformou em paranoia”.

“O isolamento de Putin, desde as sanções de 2014, só tornou tudo pior. Também não se deve subestimar o papel da covid-19 (…) em muitos líderes que já estavam à beira da solidão. Ele fechou-se em Sochi durante meses, entregue aos seus pensamentos”, acrescentou Macron.

Donbass e não só

A paranoia de Putin deverá ter agravado fortemente depois do fracasso da primeira etapa da invasão da Ucrânia. A prisão de alguns dirigentes do Serviço Federal de Segurança da Rússia encarregados de acompanhar o país vizinho e de Vladislav Surkov, ex-adjunto de Putin para o Donbass, é um sinal de que começou a caça aos “bodes expiatórios”. E a purga irá certamente continuar.

Paralelamente, a ofensiva militar russa irá intensificar-se no Leste e Sudeste da Ucrânia, pois o ditador precisa de uma vitória que já tarda muito. Ele não olhará a meios para vergar os “neonazis” ucranianos nessas regiões.

Mas terá de continuar para a ocupação total da Ucrânia não só para acabar com um país que, segundo ele, não deve existir, mas também para fazer a vontade aos extremistas russos. Não se vê túnel que conduza à paz e muito menos luz ao fundo dele.

P.S. Causou alguma surpresa em certos sectores europeus a decisão da direcção da Ucrânia de não receber o Presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier. Rui Rio considerou isso um “tiro no pé”, mas, na realidade, trata-se de uma atitude clara e firme do Presidente Zelensky e da sua equipa. Afinal, não restam dúvidas que alguns políticos europeus, incluindo alemães, contribuíram, consciente ou inconscientemente, para a tragédia que caiu sobre os ucranianos.

GUERRA NA UCRÂNIA  UCRÂNIA  EUROPA  MUNDO  RÚSSIA

NOTAS DA INTERNET:

1984 (livro)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (em inglês: Nineteen Eighty-Four), muitas vezes publicado como 1984, é um romance distópico da autoria do escritor britânico George Orwell e publicado em 1949. O romance é ambientado na "Pista de Pouso Número 1" (anteriormente conhecida como Grã-Bretanha), uma província do superestado da Oceania, em um mundo de guerra perpétua, vigilância governamental omnipresente e manipulação pública e histórica. Os habitantes deste superestado são ditados por um regime político totalitário eufemisticamente chamado de "Socialismo Inglês", encurtado para "Ingsoc" na novilíngua (também chamada de “novafala”), a linguagem inventada pelo governo. O superestado está sob o controle da elite privilegiada do Partido Interno, um partido e um governo que perseguem o individualismo e a liberdade de expressão como "crime de pensamento", que é aplicado pela "Polícia do Pensamento".

A tirania é ostensivamente supervisionada pelo Grande Irmão, o líder do Partido que goza de um intenso culto de personalidade, mas que talvez sequer exista. O Partido "busca o poder por seu próprio bem. Não está interessado no bem dos outros, está interessado unicamente no poder". O protagonista da novela, Winston Smith, é membro do Partido Externo, que Trabalha para o Ministério da Verdade, que é responsável pela propaganda e pelo revisionismo histórico. Seu trabalho é reescrever artigos de jornais do passado, de modo que o registro histórico sempre apoie a ideologia do partido. Grande parte do Ministério também destrói activamente todos os documentos que não foram editados ou revisados; desta forma, não existe nenhuma prova de que o governo esteja mentindo. Smith é um trabalhador diligente e habilidoso, mas odeia secretamente o Partido e sonha com a rebelião contra o Grande Irmão. A heroína da novela, Júlia, é baseada na segunda esposa de Orwell, Sonia Orwell.

 Como ficção política literária e ficção científica distópica, Nineteen Eighty-Four é um romance clássico em conteúdo, trama e estilo. Muitos dos seus termos e conceitos, como Grande Irmão, duplipensar, crime de pensamento, novilíngua, buraco da memória, Quarto 101, teletela e 2 + 2 = 5, entraram em uso comum desde sua publicação em 1949. A obra popularizou o adjectivo orwelliano, que descreve o engano oficial, a vigilância secreta e a manipulação da história registrada por um Estado totalitário ou autoritário. Em 2005, o romance foi escolhido pela revista Time como um dos 100 melhores romances da língua inglesa de 1923 a 2005. Foi premiado com um lugar em ambas as listas da Modern Library de 100 melhores romances. Em 2003, o livro foi listado no número 8 na pesquisa da "The Big Read" da BBC.

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