A “Sua Majestade o czar Putin”.
O mito do isolamento russo
Os 82 estados que não expressaram a
sua posição contra a Rússia estão a mandar um sinal claro a Moscovo: podemos
não gostar da invasão da Ucrânia, mas não estamos na disposição de isolar o
Kremlin.
Diana Soller Colunista do Observador
Observador, 09 abr 2022, 00:1154
Uma
das notícias desta semana foi a suspensão
da Rússia do Conselho para os Direitos Humanos das Nações Unidas. O Ocidente congratulou-se com mais um passo em frente
no “isolamento internacional” da Rússia. No entanto, parece-me que esta suposta vitória diplomática tem pés de barro. Um olhar mais atento ao resultado da votação mostra
uma realidade diferente.
Comecemos
por recordar a votação da Resolução da Assembleia Geral de 2 de março que condenava a Rússia por invadir a Ucrânia. Apenas cinco países votaram contra (a própria
Federação Russa, a Bielorrússia, a Coreia do Norte, a Eritreia e a Síria).
Houve 35 abstenções, algumas de peso, como a da China, mas, mais
importante, 141 países votaram a favor. Foi um protesto muitíssimo
expressivo – histórico até – que indiciava de vontade internacional de que o
conflito terminasse o mais depressa possível.
Volvido pouco mais de um mês essa
maioria desfez-se. Não só o
número de países que votaram a favor da suspensão da Rússia do Conselho dos
Direitos Humanos das Nações Unidas diminuiu significativamente (foram 93 votos a favor)
como as abstenções
(58) e os votos contra (24) configuram
uma nova distribuição de vontades na política internacional. Os 82
estados que não expressaram a sua posição contra a Rússia estão a mandar um
sinal claro a Moscovo: podemos não gostar da invasão da Ucrânia, mas não
estamos na disposição de isolar o Kremlin, como os países do Ocidente julgam
que é necessário.
Entre
esses estados estão a China (que votou contra), a Índia, o Brasil, a África do Sul e a Indonésia (que se abstiveram). Por um lado este grupo de
estados é simbólico: se excluirmos Pequim os restantes estados foram tidos
como democracias ascendentes nos anos 2000 e 2010, que alinhariam com o
Ocidente. Lembram-se da ideia de que as democracias não lutam entre si e
unem-se contra as agressões dos estados autocráticos como parecia provar a Tese
da Paz Democrática? Por outro lado, estes países constituíram as alianças sul-sul que os uniram à Rússia nos anos 2000. Lembram-se dos BRICS? A tensão entre estas duas
lealdades, quando elas têm realmente de se definir – e nada mais importante que
uma guerra para que isso aconteça – não estão a pender para o lado das
democracias. Afinal o “Ocidente Alargado” parece não ter tanta força como
parece.
Agora
examinemos os dois países que mais contribuem para o não-isolamento da
Rússia: a China e a
Índia. Pequim
celebrou um tratado com Moscovo declarando uma “parceria ilimitada” exactamente
20 dias antes da invasão da Ucrânia.
Já é pouco credível a versão de que Putin não tenha informado Xi Jinping dos
seus planos. De uma forma ou de outra
a “neutralidade pró-Russa” da China – para usar uma expressão de Evan Medeiros,
professor em Georgetown – está a tornar-se cada vez menos neutra como mostra
este voto. E enquanto a China apoiar a Rússia, Moscovo tem condições para
continuar a sua ofensiva contra a Ucrânia.
Já a Índia –
entre os Estados Unidos, dos quais se aproximou desde que Narendra Modi se
tornou primeiro-ministro e a Rússia com quem tem um relação privilegiada desde
os anos 1970 – não tem tido grande hesitações em apoiar, também
discretamente, Moscovo. Não tem grande alternativa, aliás. Não só a
Rússia é o único país com quem tem uma aliança permanente (e a memória
histórica na Ásia conta muito), como a Rússia fornece cerca de 70 por cento
do seu armamento. No pensamento indiano, é preciso uma Rússia forte para
contrabalançar a China. Os Estados Unidos não são suficientes. Como escreveu Kenneth Waltz em 1967, as democracias
até podem ter políticas externas diferentes de outros estados, desde que a sua
sobrevivência não esteja em questão.
A China e a Índia tornam-se assim
aliados importantes – mesmo
que por omissão de condenação – da Rússia. O que mostra que não se
trata apenas da quantidade de países que não estão dispostos a abandonar a
Rússia (a maioria
deles de perfil mais autocrático que democrático), mas a importância de
alguns deles no sistema internacional em mudança. E ao contrário do que se veicula no Ocidente, não é
certo que o equilíbrio de poder que vai sair desta guerra favoreça a liberdade.
Joe
Biden referiu muitas vezes que havia uma batalha entre democracias e
autocracias que não competiam apenas pelo poder e influência no sistema
internacional, mas também pelos valores que regem as relações entre os estados.
Parte do diagnóstico de Biden está certo: as autocracias apoiam a Rússia. Parte
está em questão: nem todas as democracias apoiam o Ocidente, nem todas se
afastaram de Moscovo. É fundamental, por isso, que se acabe com dois
mitos. O mais
importante entre eles é que a Rússia está isolada. Não só não está, como tem
parceiros de peso. O segundo é
o mito é que a ordem liberal prevalecerá. É
possível e, do meu ponto de vista desejável, mas não é certo. Especialmente
porque a abstracção de Biden se tornou uma realidade: a China e a Rússia unidas contra um inimigos comum, os
Estados Unidos, são uma força internacional que não se pode, de forma nenhuma,
desprezar.
NAÇÕES
UNIDAS MUNDO UCRÂNIA EUROPA GUERRA NA
UCRÂNIA RÚSSIA
COMENTÁRIOS:
Maria Odete Coutinho: Estava na
altura de alguém dizer isto. É desejável que a realidade seja conhecida de
diversas perspectivas, e não alienada da análise que fazemos do
Mundo. Nada pior que tomarmos os nossos desejos por adquiridos, e esta
divisão primária entre os "bons" e os " maus" em que
vivemos mergulhados nas últimas semanas é totalmente descabida, e até
perigosa... Filipe
Costa: A Alemanha vai investir 100 mil milhões
em defesa, comparem isso com 3 triiões dos USA, dá que pensar. João Ramos: O mundo está incerto e portanto perigoso, esperemos que
a Europa aprenda alguma coisa com isso e que não continue, por questões
menores, a desunir-se e isto muito por culpa das suas próprias organizações!!! Emanuel Lopes: Claro nunca se deve isolar o agressor. Como na
violência doméstica. Pode agredir que nada ou pouco acontece ao agressor.
Coitadinho do agressor. Direitos Humanos é um problema mercantil onde o
principal é o economicismo. pedro dragone: Não me parece correcto, ou intelectualmente honesto,
inferir a evolução do desejo que os países têm, ou não, de isolarem a Rússia,
comparando aquilo que é incomparável, ou seja, duas votações que têm naturezas
bastante distintas. Efectivamente, para países com conflitos de interesse como
é o caso da China, ou de países com ligação tradicional à Rússia, via ex-URSS,
como são os casos de Cuba, da Venezuela ou de Angola, para estes países será
sempre mais fácil/confortável votar favoravelmente à condenação da invasão do
que à expulsão do Comité de direitos. Parece óbvio; até pelo facto de se tratar
de países que têm telhados de vidro no que concerne à questão do respeito pelos
direitos humanos. O racional é o mesmo para as abstenções. Parece pois natural
que tenha existido menos severidade em relação à Rússia na 2a votação (questão
dos direitos) que na 1a (condenação da invasão). Tentar inferir da variação
um menor desejo de isolamento da Rússia é que me parece um total disparate.
Como disse, são votações com naturezas distintas, com um impacto completamente
diferente no "à vontade" com que se hostiliza um parceiro
estratégico, ou um velho amigo ou aliado. Francisco Tavares de Almeida: As relações internacionais não são, não podem e não
devem ser baseadas em ideologias. Nesse aspecto, Biden é um completo retrocesso
em relação a Trump. Nesse aspecto, realço. E o
preço do erro pode ser caro. Biden
foi pedir à Arábia Saudita que aumentasse a produção de petróleo em 1 milhão de
barris por dia e Mohammed bin Salman recusou. Mas o curioso é que a Arábia
Saudita precisaria de cerca de 2 meses para conseguir esse aumento de produção
enquanto Biden, recorrendo ao "fracking" poderia obter o mesmo
resultado em 15 dias. Só que teria contra si os "verdes" e a ala
esquerda dos democratas. Ou
seja, Mohammed bin Salman, com um Biden ideologicamente peado e a fazer
discursos para si desagradáveis, preferiu manter o acordo de preços com a
Rússia. Como os
verdadeiros estadistas sempre reconheceram, relações entre estados
subordinam-se a interesses e são mais fáceis os acordos nessa base. (disclaimer) Isto
não é um argumento pró-russo, muito pelo contrário. É de interesse primordial
para a Europa preservar a liberdade e não estar dependente, energeticamente ou
economicamente, da Rússia e da China. Só que falar de alianças de países
democráticos contra autocracias, faz perder aliados e ganhar adversários. É má
política. Pontifex
Maximus > Francisco Tavares de Almeida: Claro que política internacional é interesses de cada
um dos estados, a ideia peregrina de que as relações internacionais se baseiam
nos princípios da democracia ocidental e da sua visão dos direitos humanos (que
seriam os dos respectivos países) é um absurdo de todo o tamanho (nunca assim
foi nem será) e custará cada vez mais ao Ocidente. Elvis Wayne > Francisco Tavares de Almeida: Só que falar de alianças de países democráticos contra
autocracias, faz perder aliados e ganhar adversários. É má política.
Porque mais não seja pelo simples facto de que as
autocracias estão em maior número e detêm boa parte daquele líquido negro, que
tanto nojo causa aos "verdinhos". Vou ali e já volto > Francisco Tavares de Almeida: Do que sei, o Mohammed recusou
como uma forma de pressão para que o tal processo Khashoggi fosse abafado, já
que corria o risco de, caso pusesse os pés nos EUA, receber mandato de prisão
emitido por um juiz qualquer. Do que sei, parece que funcionou: o tal processo foi
enviado da Turquia para as autoridades árabes. A ser assim, interesses
conciliados, entretanto haverá petróleo. Francisco Tavares de Almeida >
Vou ali e já volto: O que sabe parece interessante.
Ainda não encontrei informação nos locais que frequento mas vou ficar atento.
Faço contudo notar que a Arábia
Saudita precisa de dois meses para aumentar a produção e, no imediato, só
poderá ter algum efeito nos preços se for anunciada a decisão. Até agora não
foi. Há outros
interesses pendentes que poderão ou não ter ditado a mudança de jurisdição do
processo. Por exemplo a venda de armamento negociada pelo genro de Trump e que
não está completa. Biden suspendeu a venda aos Emirados e poderia ter atrasado
à Arábia Saudita (é uma hipótese, não sei). Outra questão (que já me tinha despertado a
curiosidade) é que as relações dos EUA com a Turquia não estavam famosas e,
para a Turquia abrir mão do processo, que era evidentemente um trunfo político,
também terá negociado alguma contrapartida. Jose Barros: É preciso grande coragem para
escrever um artigo destes nos tempos que correm. Isabel Gomes: O mito do observador…confundir
liberdade de expressão e democracia com conluio e promiscuidade russa. Esta
Diana é paga em rublos. Realmente esses países são um portento económico 🤣. Ah espera... abstiveram-se,
mas segundo este maravilhoso artigo💩, constituem, não obstante uma minoria, uma maioria???🥳 Jose Barros > Isabel Gomes: A eterna propaganda pro-nazi desta senhora. J Sm: Tenho assistido ao seu zig zag na televisão
nomeadamente no crédito que dá ao actor que por estes dias encanta o dissoluto
ocidente. Pois é, o ocidente não é o mundo e no mundo há milhões de pessoas que
não se deixam enganar pelo big brother americano nem pelas suas marionetes.
Como dizia Pessoa numa célebre ode - o Oriente donde nos vem tudo, o dia e a
fé… advoga diabo:
O silenciar desta realidade indesmentível pelo poder no
"ocidente", consequente furioso encarneirar da opinião publica e
publicada, são paradigma da sociedade, ilusão e fuga para a frente. Cuidado! Gabriel Pensador: Esta crónica baseia-se numa leitura muito
simplista e pouco argumentada. Mesmo aqueles que se abstiveram, se lhes
perguntasse fora dos holofotes se estão a favor ou contra a guerra,
muitos diriam que são contra a guerra e que o que a Rússia está a fazer não
é correcto. Diriam depois que devido às suas dependências para com
a Rússia não poderiam votar contra. Este tipo de votação dá
para todo o tipo de leituras. Assim a opinião da colunista
vale o que vale. Jose
Barros > Gabriel Pensador: A sua opinião é que vale o que vale e não tem lógica
nenhuma. Gabriel
Pensador > Jose Barros: Argumentos
querem-se, por favor …… HEROD:
Na recente votação na ONU da moção para suspensão da
Rússia da CDH os resultados têm outra leitura. Os poucos que manifestaram apoio à Rússia são
praticamente todos países de regime comunista. Nem sequer são as autocracias —
essas abstiveram-se. E quem se absteve sabia que — na prática — estava a votar
contra a tirania russa, e portanto a favor da moção EUA/Ucrânia para banir a
Rússia. Jose
Barros > HEROD: Tentativa de outro comentador pro-nazi de inverter o
sentido das coisas. Alberto Rei: Diana, a questào está como diz
no último parágrafo : Biden diz que há uma batalha entre as democracias e as
autocracias. 1º Porque é que tem de haver? acaso já perguntaram aos povos que
vivem nas "autocracias", se querem mudar ? ; .. e essa luta era pelos
valores que regem as relações entre os estados. What ? os EUA ? aqueles que só
dão um presunto a quem lhes der um porco? os EUA, e os outros, querem é ter
vantagens para influenciar as respectivas políticas externas (a seu favor, claro
!), ou não é verdade ? veja-se o caso da relação entre os EUA e a Europa! EUA,
com a Austrália, que fizeram os australianos rasgar os acordos militares com a
França, foi ou não verdade? a questão começa por aí. Ou suponhamos que a
Ucrânia entra para a UE, e … Nato, queira Deus que não. Seria para quê? só
poderia ser para os EUA, estarem lá, ali no quintal da Rússia. Nesse caso a
política externa ucraniana seria livre e autónoma? todos sabemos a resposta.
Porque é que os EUA, estão no Mar da China? para "defender a democracia de
Taiwan", uma ilha que é parte inalienável da China? eles estão-se nas
tintas para isso. querem é pôr um porta-aviões ali, e mais uns submarinos para
controlar aquela zona do globo. relações entre os estados uma ova. isso é
conversa para parolos. É por causa disso que existem estes tais mitos que a
Diana falou, porque estes senhores mundiais controlam a opinião pública e as
narrativas klaus
muller > Alberto Rei: És tão básico Para ti, desde que seja para defenderes
as autocracias, i.e, desde que seja para atacares os States, não te importas de
inventar, de ser incoerente, nem de fazer figuras tristes pública e
quotidianamente. Enfim ... Jose
Barros >klaus muller: Comentário vergonhoso, e com ataque pessoal, de outro
pro-nazi descarado e que aparentemente é apreciador das políticas hegemónicas,
assassinas e imperialistas dos USA. ,,,,
PortugueseMan: A
coisa está muito além dos BRICS. ...Volvido pouco mais de um mês
essa maioria desfez-se... Muitas teorias vão sendo postas em causa e
ainda apenas temos mês e meio de conflito. Não têm combustível Não têm mísseis.
Não tem economia Os planos de Putin e a teoria da meia dúzia de dias A queda do
rublo ... As novas sanções não se atrevem a tocar no gás, quando mais no
petróleo. E quanto ao carvão... apenas começa em Agosto (os ucranianos
esperam). E a India já se prepara para receber esse carvão, que cada vez se
torna mais fácil com a estabilização da Ásia Central. Muitos países aguardam
com grande expectativa poder fazer novos negócios de gás, petróleo, carvão,
cereais, etc. E dispostos a pagar em rublos. Ou no caso da China em Yuans. Ou
no caso da India em rupias que o acordo deve estar mesmo a rebentar. Nós os
europeus nunca mais acabamos com os contratos energéticos. Há outras nações que
aguardam impacientes. Esperar por agosto pelo carvão? Assim nunca mais lá
vamos... klaus muller
> PortugueseMan: Man, só não vê quem não quer que esta invasão não está
a correr como a Rússia esperava. PortugueseMan > klaus muller: Klaus, Queres esclarecer-me de como é que a Rússia esperava
que esta invasão corresse? Elvis Wayne > PortugueseMan:
Achavam que estavam a invadir a
Chamusca, pensavam que era chegar, ver e pilhar. Enganaram-se... ……….. Elvis Wayne > Antonio Marques Mendes: A ONU é uma fantochada, demos graças por pessoas como a
Diana começarem a aceitar a realidade. bento guerra: Alguns ainda sabem História e o que foi e é a Grande
Rússia no concerto das nações. Alguns até se podem lembrar do que foi dito e
feito na Ucrânia, desde 2014, quando foram assinados os Acordos de Minsk HEROD > bento guerra: No concerto das Nações? São uma espécie de párias — com um PIB nominal ao nível
de Espanha mas armados até aos dentes. Um modelo copiado à Coreia do
Norte, que nem com uma sobre-exploração de recursos naturais não renováveis
consegue um nível de vida acima da miséria para grande parte da sua população. 4 anos depois ....: Boa análise, mas infelizmente neste quadrado ninguém
entende e será tratada de pró-russa, e vão pedir que vá para Moscovo, etc
Nenhum comentário:
Postar um comentário