quinta-feira, 14 de abril de 2022

Um homem de trabalho e de aprumo


Desde sempre. Leio o texto que me foi enviado por email, de Luís Osório, sobre Cavaco Silva. Um texto que, uma vez mais, comprova a nossa mesquinhez desdenhosa de povo invejoso - que alardeia simpatia segundo a conveniência de momento, (geralmente assente em subserviência para com o estrangeiro ou a personalidade nacional em moda), ou rancor ou desdém, tantas vezes assentes em diferente ideologia política que obscurece corações e mentes. Procuro na Internet, e o texto sobre Cavaco Silva apresenta-o como um homem de estudo, de valor e de trabalho, que mereceu condecorações internas e outras muitas exteriores à nação. Cavaco Silva foi homem discreto, amante do seu país e jamais esquecerei quanto fomos beneficiados substancialmente, com a sua permanência como PM, nos vencimentos, graças, certamente, à entrada na CEE, além de inúmeras realizações de fomento estrutural de que trata a Internet - que transcreverei - parcialmente, em nota final.

Mas desde sempre, Cavaco Silva mereceu amor e desdém, embora este seja mais acentuado hoje, com a consciência da impostura governativa em que temos vivido, num contexto ideológico perverso, que torna cada vez mais amorfo um povo parasitário tantas vezes subsídio-dependente, e que à conta disso, vota no ministro que lhe fornece o subsídio, chamariz da sua eleição.

Cavaco Silva envelheceu, mas as suas atitudes altivas de patriota fora dos contextos de hoje, atraem sobre si o discurso irado de mais um opositor, que lhe não desculpa a integridade, aparentemente – subservientemente – ofuscado pelos dislates da bonacheirice balofa de Mário Soares, o “ex-salvador da democracia” por cá, irrequieto passeante no dorso de tartaruga distante, além da laracha ou definição monocórdica, de cariz naturalmente mesquinho e balofo.

Transcrevo um texto que sobre CS escrevi em tempos, e com esse, manifesto o meu desprezo por quem julga manchar a reputação de um patriota autêntico, com o seu titulozinho enxovalhante, que só enxovalha o próprio Luís Osório, provavelmente por não saber a que pátria pertence, ou, sequer, o que significa essa palavra pátria.

«FIGURAS DE PAPELÃO»

«Três protagonistas. Uma entrevista pouco cívica. Um cenário macabro, de figuras de cartão envolvendo-os circularmente, símbolos hílares e grotescos de sardónicas intenções desfeiteadoras.

Um gigante enfrentando dois anões: bem-falantes, escudados nos seus textos, o rosto severo tentando afanosamente denunciar as irregularidades de um comportamento aparentemente ambíguo. Truque de uma sagacidade antiga, bem presente nas velhas fábulas clássicas, o leão escouceado à beira da morte pelo próprio burro, o leão impotente ante o mosquito astuto, a rã inchando a rivalizar com o boi…

Um gigante. Defendendo-se sem impaciência das críticas perversas e estouvadas, imagem de segurança e honestidade, cônscio do seu papel de vários anos de um trabalho empenhado, de irrefutável intenção patriótica: erguer o país do atoleiro, criar estruturas para uma continuidade possível, fazer obra necessária, embora sempre atropelado pelos defensores das ideologias fáceis, quando manipuladas na sombra de oposições palreiras e velhacamente destrutivas.

Um gigante. Num país de muitos anões, protagonizados no cerco das figuras de cartão de um cenário agressivo, enxovalhante e lorpa e nos entrevistadores soturnos, de ataque pouco educado e ingrato, as reais qualidades do entrevistado preferindo sobrepor o sensacionalismo das acusações ligeiras, em propósito exibicionista de pseudo-agudeza crítica.

Sem efeito, contudo.

Porque breve se impunha o magnetismo do gigante, na sua personalidade sóbria, consciente do seu valor e do trabalho feito.

Um gigante: Cavaco Silva.» (“ANUÁRIO”, “Memórias Soltas”, 1998, Editorial Minerva, p. 175)

Postal do Dia, com Luís Osório

A única pátria de Cavaco é ele próprio

Por Luís Osório

11 Abril, 2022

1.Aníbal Cavaco Silva nunca nos desilude.

Quando ressuscita do seu estudado silêncio, oferece-nos sempre razões para que dele não nos possamos esquecer. Hoje, no jornal Público, em duas páginas que destilavam azedume e ressentimento, o ex-primeiro-ministro e ex-Presidente da República debruçou-se sobre o Programa de Governo e tratou de ajustar contas com António Costa.

2.Pensei com alguma ingenuidade que Cavaco escreveria acerca dos efeitos da guerra na economia e no sistema financeiro. Ou na possibilidade de um conflito nuclear que nos tem mergulhado na instabilidade e num medo que é colectivo. Ou sobre a reconfiguração da Europa por causa de Putin ou de uma possível vitória de Marine Le Pen nas presidenciais em França. Ou sobre o modo como a pandemia alterou alguns dos paradigmas do mundo. Ou até sobre a política portuguesa de um ponto de vista mais estrutural. É afinal o que se espera de um estadista.

3. Mas não. Cavaco Silva escreveu sobre o seu tema preferido. Ele próprio. Só ele interessa em todas as equações. Quando fala sobre a falta de coragem de António Costa, o que deseja relevar é a sua enorme coragem.

Quando fala da ausência de crescimento económico dos governos socialistas, o que deseja relevar são os números do tempo em que foi, em circunstâncias muito diferentes, primeiro-ministro. Quando acusa o governo de ser retórico e mentiroso, o que releva é que ele próprio nunca foi mentiroso ou retórico. (e sobre isso alguma coisa haveria a dizer)

4. Cavaco Silva é o que sempre foi. A sua única Pátria é ele próprio. Por isso, tratava os seus ministros como ajudantes. Por isso, tirou o tapete a homens como Fernando Nogueira, seu braço-direito a quem abandonou à sua sorte por ser isso que lhe dava jeito. Por isso, recusou dar em vida uma pensão a Salgueiro Maia. Pensão que aliás preferiu oferecer a dois ex-inspetores da PIDE. Por isso, fez silêncio no dia em que José Saramago morreu. Ele era Presidente da República e Saramago o nosso único Nobel vivo. Por isso, continua a não dar opinião sobre o Chega, o que não deixa de ser curioso.

5. Mas talvez esteja a ser demasiado duro para ele. Afinal, Cavaco é um homem ressentido. E um homem assim não consegue deixar de ser vingativo ou apagar o desprezo por todos os que não o tratam com o respeito das grandes figuras da história. Infelizmente para ele nem no PSD é a maior figura. Não deve ser nada fácil gerir a circunstância de Sá Carneiro continuar a ser a referência para a generalidade dos militantes. Mais de vinte anos no poder não lhe chegaram, o que não admira. É que na árvore plantada por Cavaco não cresce mais nada.

ALGUMAS NOTAS DA INTERNET:

ANÍBAL CAVACO SILVA

«Nas eleições de julho de 1987 os portugueses atribuem a primeira maioria absoluta a uma força política não coligada (com 50,2% dos votos para o PSD), que se havia de repetir nas eleições legislativas de 1991. Dessas vitórias resultaram, respectivamente, a constituição dos XI e XII Governos Constitucionais, apostados em transformar a economia de base socialista, edificada com o processo revolucionário subsequente ao 25 de abril de 1974, numa economia social de mercado, aproximando-a dos outros países europeus. Para isso foi determinante o facto de em 1989 o PSD, com o apoio do PS, levar a cabo uma revisão constitucional que pôs fim ao princípio constitucional da irreversibilidade das nacionalizações, iniciando aí um longo processo de devolução da economia à iniciativa privada. O país conheceu um crescimento económico apreciável, acima da média europeia, o que fez subir a popularidade de Cavaco Silva.

Paralelamente foi feita uma reforma fiscal, que introduziu o IRS e o IRC, reformaram-se as leis laborais e agrárias e liberalizou-se a comunicação social, de que resultou a abertura da televisão à iniciativa privada e, consequentemente, numa maior liberdade e independência da informação.

Cavaco Silva é recebido por Ronald Reagan, na qualidade de primeiro-ministro português, em 1988.

Graças aos fundos comunitários, os governos concretizam diversos investimentos públicos, com vista a melhorar a coesão territorial do país, muitos deles já visados em governos anteriores ou mesmo desde o Estado Novo. Assim, retomou-se a construção da A1, que até então ligava apenas Lisboa a Vila Franca de Xira; introduziu-se o caminho de ferro na Ponte 25 de Abril; lançou-se a construção da Barragem de Alqueva, a introdução do gás natural e a projecção do novo Aeroporto da Madeira. Construíram-se 420 novas escolas e 120 novas escolas profissionais. Na Grande Lisboa, destacam-se o lançamento da construção da Ponte Vasco da Gama, a renovação urbana em Lisboa Oriental e a organização da Expo'98, o prolongamento de diversas linhas e abertura de novas estações do Metro e a edificação do parque tecnológico TagusPark, próximo de Oeiras. Também se reabilitou boa parte do património cultural público, nomeadamente o Museu Nacional de Arte Antiga, o Museu do Chiado e o Teatro Nacional de São João, no Porto. Foi construído o Centro Cultural de Belém e o novo Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Cidade Universitária.

No que diz respeito aos caminhos-de-ferro, em 1988, é aprovado o Plano de Modernização dos Caminhos de Ferro 1988–94, que aposta quase que exclusivamente nos sistemas ferroviários das áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e também nos principais eixos de longo curso, sobretudo no eixo BragaFaro. É inaugurada a nova travessia ferroviária do Douro pela Ponte de São João e aprovado em Conselho de Ministros o atravessamento ferroviário na ponte 25 de Abril. Ao mesmo tempo, cerca de 770 km de via-férrea foram definitivamente encerrados. Foram suspensos em 1988 os serviços ferroviários na Linha do Sabor, na Linha do Vouga, entre Santa Comba Dão e Viseu e no troço da Linha do Douro, entre Pocinho e Barca d'Alva. Em 1989, foi suspenso o tráfego na Linha do Sabor, Linha do Dão e troço GuimarãesFafe, ramal do Montijo, ramal de Montemor e troço Pocinho–Barca d'Alva na Linha do Douro.

A permitir estas reformas estavam as condições estabelecidas no Acto Único Europeu de 1986, ano da adesão de Portugal à CEE. Em 1992, Portugal assume pela primeira vez a presidência do Conselho de Ministros da CEE, o que levou Cavaco Silva a abrir a cerimónia de assinatura do Tratado de Maastricht, fundador da União Europeia. Foi também sob a sua liderança, que Portugal esteve no centro da criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa(CPLP), e que foi decidida a realização anual das cimeiras luso-brasileiras.

Coincidindo com o abrandamento da actividade económica, os últimos anos doXII Governo, ficaram também marcados pela contestação social às reformas do «cavaquismo». Cavaco Silva responderia com esta frase, que se tornou célebre, «Deixem-me trabalhar!», e classificava a oposição como «forças de bloqueio». De acordo com o então Primeiro-Ministro, aqueles que se opunham às suas políticas faziam parte dessas forças. Entre os bloqueadores foram incluídos o Presidente Mário Soares, que com as suas Presidências Abertas dava eco à contestação social que se fazia sentir no país, e António de Sousa Franco, então presidente do Tribunal de Contas, que várias vezes reprovou as contas enviadas pelo governo.

Após dez anos como primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva colocou-se de fora das eleições legislativas desse mesmo ano, e afastou-se da liderança do PSD, entretanto assumida por Fernando Nogueira. A derrota do PSD nas eleições de 1995, ganhas pelo Partido Socialista de António Guterres, levaram-no a anunciar uma candidatura à presidência da República. Personificando uma alternativa não socialista, defronta-se com Jorge Sampaio, e sai derrotado (com 46,09%, contra 53,91% dos votos). Nesse ano, a 29 de Novembro, foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo. Nos anos seguintes, volta ao Banco de Portugal e à docência universitária. Mantém, todavia, uma marcante participação política, nomeadamente através de intervenções em colóquios e artigos na imprensa escrita, um dos quais, com o título "O Monstro", criticava severamente as contas públicas e o orçamento do estado para o ano 2000 apresentado pelo governo socialista.

 No dia 20 de Outubro de 2005, numa declaração pública no Centro Cultural de Belém, apresentou-se oficialmente como candidato à Presidência da República. Já haviam sido publicadas várias sondagens de opinião que apontavam Cavaco Silva em primeiro lugar. Contra Jerónimo de Sousa, Mário Soares, Francisco Louçã, Garcia Pereira e Manuel Alegre, conseguiu a eleição à primeira volta (com 50% dos votos), marcando pela primeira vez, na democracia portuguesa, a eleição de um presidente oriundo do centro-direita. A 9 de Março de 2006 toma posse como 18.º presidente da República Portuguesa.

Tomou posse, jurando a Constituição, na Assembleia da República, em 9 de Março de 2006, numa cerimónia a que assistiram os ex-Presidentes Ramalho Eanes e Mário Soares, os Príncipes das Astúrias, o antigo Presidente dos Estados UnidosGeorge Bush, o Presidente de Timor-LesteXanana Gusmão, entre outras personalidades nacionais e estrangeiras. De salientar que regista para Portugal um facto inédito, de ser o primeiro Presidente da República, desde 1986, fora da área da esquerda socialista.

“Eu não me resigno”

— Lisboa, 20 de Outubro de 2005, ao apresentar a sua candidatura a presidente da República

O seu primeiro acto oficial foi agraciar o seu antecessor na Presidência da República, Jorge Sampaio, com o grande colar da Ordem da Liberdade.

Lançou de forma rápida e extremamente louvada por diversos líderes internacionais, um ambicioso website da Presidência da República onde é possível acompanhar de perto todos os passos do Presidente, a sua agenda, bem como as deslocações oficiais ao estrangeiro, onde constantemente dá conta dos sucessos obtidos. Durante esse período, o PS de José Sócrates iniciou uma cooperação estratégica com o governo dele. Durante seu governo, a desigualdade social tem aumentado.

Em 23 de Janeiro de 2011 é reeleito, à primeira volta, para um segundo mandato, com uma percentagem de votos de 52,9%. Indigitou ministros que mais tarde se envolveram em escândalos, como Joaquim Pais Jorge, secretário do tesouro que terá vendido activos tóxicos ao governo.

 Fica para a história como o Presidente da República que mais leis promulgou no sentido da igualdade das pessoas LGBT, designadamente permitindo a pessoas do mesmo sexo o acesso ao Casamento e, já no fim do seu último mandato, pondo termo à discriminação de casais do mesmo sexo na candidatura à adopção.

Em 9 de março de 2016 deixa a Presidência da República, com a mais baixa popularidade já registrada para um ocupante do cargo.[15]== Prémios e publicações ==Entre os prémios que recebeu, salienta-se a distinção, feita na Alemanha, com o Prémio Carl Bertelsmann, atribuído pela Fundação Bertelsmann (em 1995), com base no sucesso das políticas de luta contra o desemprego. Recebeu o prémio Joseph Bech (1991), no Luxemburgo, e a medalha Robert Schuman (1998), pela sua contribuição para a construção europeia, e o Freedom Prize (1995), na Suíça, concedido pela Fundação Schmidheiny, pela sua acção como político e economista. Em 2009 foi distinguido, em Nápoles, com o Prémio Mediterrâneo Instituições (2009), atribuído pela Fundação Mediterrâneo.

Entre os livros que tem publicados referem-se os títulos académicos O Mercado Financeiro Português em 1966 (1968), Política Orçamental e Estabilização Económica (1976), Economic Effects of Public Debt (1977), Finanças Públicas e Política Macroeconómica, com João César das Neves (1992), Portugal e a Moeda Única, prefaciado por Jacques Delors (1997), União Monetária Europeia: funcionamento e implicações (1999), e os de índole política, A Política Económica do Governo de Sá Carneiro (1982), As Reformas da Década (1995), Autobiografia Política I (2002) e Autobiografia Política II (2004) e Crónicas de Uma Crise Anunciada (2002).

As intervenções mais importantes produzidas como primeiro-ministro encontram-se reunidas nos livros Cumprir a Esperança (1987), Construir a Modernidade (1989), Ganhar o Futuro (1991), Afirmar Portugal no Mundo (1993) e Manter o Rumo (1995). As intervenções mais importantes como presidente da República encontram-se reunidas nos livros Roteiro para a Inclusão — 2006, Roteiros I — 2006/2007; Roteiros II — 2007/2008 e Roteiros III — 2008/2009.

Cavaco Silva é Doutor Honoris Causa pelas universidades de York (Reino Unido), Corunha (Espanha), Goa (Índia), Leão (Espanha) e Heriot-Watt (Escócia), membro da Real Academia de Ciências Morais e Políticas de Espanha, do Clube de Madrid e da Global Leadership Foundation. Em julho de 2017, foi galardoado com a Medalha de Ouro da Galiza pela Junta da Galiza em Espanha.

Fica, ainda, para a história como o Presidente com a mais baixa popularidade de sempre.

 

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