Entre o destemor sério de Zelensky, como jovem acordado para responsabilidades governativas
de um patriotismo exemplar, e as baboseiras a pretender ironia, e a
esconder frustrações ou desequilíbrios mentais de pseudo-comentadores como Bento
Guerra ou de sofismadores
politiqueiros em rasteira subserviência a ideais de cobarde arrogância, como se
revela Jerónimo de Sousa, nas
suas escusas a ouvir Zelensky…
Numa estação de metro, com dezenas de jornalistas, Zelensky destemido na
primeira conferência de imprensa. “Não tenho direito de ter medo”
Ao 59º dia de guerra, na sua primeira conferência
de imprensa, Zelensky anunciou a visita do secretário de Estado dos EUA e
prometeu mostrar a António Guterres "onde os ucranianos foram
mortos".
OBSERVADOR, 23
abr 2022, 23:14 3
A conferência de imprensa estava a chegar ao fim. Um
jornalista polaco lança uma pergunta — foram dezenas, ao longo das quase duas
horas em que esteve a falar sobre a guerra, sobre a Rússia e sobre o futuro da
Ucrânia — e, no fim, Zelensky deixa cair a expressão dura com que se tem
mostrado quase sempre perante as câmaras. “Nunca pensei que fosse necessário
desejar saúde e uma longa vida às crianças”, começa por dizer. A guerra
mudou por completo essa ideia. “Partilho a dor de todos os que perderam os seus
filhos”, desabafa o Presidente da Ucrânia, já visivelmente emocionado.
Foi numa estação subterrânea do metro de Kiev — segundo alguns relatos não
confirmados, na estação da Praça da Independência — que o Presidente ucraniano
deu a sua primeira conferência de imprensa desde que a guerra começou.
Durante quase duas horas, Volodymyr Zelensky respondeu às perguntas de uma
multidão de jornalistas, de vários pontos do mundo, e, mais uma vez,
apresentou-se como um líder sem medo do gigante russo.
Um bom líder não tem direito de ter medo quando se trata de uma questão
de soberania e independência de um país”, afirmou, quando questionado sobre um
possível encontro com o Presidente russo, algo que há muito tem vindo a pedir.
“Eu não tenho
medo do encontro com o Presidente [Putin]. Não tenho direito de ter medo porque o nosso povo demonstrou que
não tem medo de nada, não tem medo das técnicas da Rússia. As nossas forças
armadas, bem como os nossos militares, não têm medo”, disse, sentado numa
cadeira colocada num estrado e ladeado por duas enormes bandeiras ucranianas — toda
a plataforma foi, aliás, ornamentada com bandeiras da Ucrânia, formando um
longo corredor preenchido com as cores azul e amarelo por detrás do Presidente
ucraniano.
Zelensky continuou a projectar confiança
ao dizer que a Ucrânia pode muito rapidamente tomar controlo de todas as zonas
ocupadas pelas forças russas, desde que tenha acesso a armamento pesado — algo
que, recentemente, vários países ocidentais se comprometeram a fornecer.
“Quando tivermos as armas, conseguiremos libertar o
território que está agora ocupado. Mesmo a região em Kharkiv e o leste a
Ucrânia. Com armamento pesado conseguimos libertar as áreas nessa mesma noite ou no
dia seguinte. Quando não temos este apoio de
armas, não conseguimos libertar tão rapidamente os territórios”, garantiu.
Dizendo-se apologista de uma solução diplomática para
o conflito com a Rússia, Zelensky afirmou, no entanto, que a sua
disponibilidade para negociações de paz tem limites, e um deles é a
realização de referendos sobre a
autonomia de partes do território da Ucrânia. Referiu-se em concreto
a Kherson, onde as autoridades
ucranianas dizem que a Rússia tem intenções de organizar um referendo semelhante ao da
Crimeia em 2014, no qual um número esmagador de moradores terá votado pela adesão à
federação russa — uma consulta popular que não obteve o reconhecimento (ou
validação) internacional.
“Se este pseudo-referendo declara uma República
Popular de Kherson, a Ucrânia vai sair
de qualquer processo de negociação”, avisou, alertando quem está nesta zona
do país para que não apoie as forças russas. “As pessoas devem saber sobre a situação real e
não podem ajudar os ocupadores”, frisou.
Blinken no domingo, Guterres na quinta-feira
Nesta conferência de imprensa, Zelensky colocou
ênfase na importância do apoio dos aliados e, em particular, nas visitas de
líderes internacionais a Kiev. Na próxima quinta-feira, vai receber o
secretário-geral da ONU e já tem o programa definido: “Penso que quando o
secretário-geral chegar, vamos mostrar
as nossas cidades, onde os ucranianos foram mortos. Penso que é muito
importante perceber o que se passa aqui.”
“Esperamos o apoio a 100% [de António Guterres], uma
vez que temos 100% de razão”, comentou. Espera apoio, mas também deixa
recados: para Zelensky, a agenda de António Guterres, nas duas deslocações
que fará na próxima semana à região, tem um problema de fundo: a agenda
prevê que o secretário-geral das Nações Unidas vá, primeiro, a Moscovo e só
depois a Kiev mas, para o líder ucraniano, a ordem devia ser exactamente a
contrária.
Não tem lógica”,
atirou Zelensky.
“É errado ir primeiro à Rússia e vir depois à Ucrânia.
Não há justiça nem lógica nessa ordem” porque, considera, o encontro com Putin
só deveria acontecer depois de Guterres testemunhar pessoalmente a marca que a
invasão russa está a deixar no território e na população ucranianos.
Mas as visitas de alto nível não terminam por aí.
Começam, aliás, com outro protagonista de peso. Já este domingo, será a vez de
o secretário de Estado
norte-americano, Antony Blinken, visitar Kiev. A deslocação de Blinken à capital ucraniana,
anunciada durante a conferência de imprensa, representa a visita da mais alta
figura do governo dos Estados Unidos em território ucraniano desde o início do
conflito, há quase dois meses.
A Casa Branca tinha afastado, pelo menos para já, a
possibilidade de Joe Biden deslocar-se a Kiev. “Não há planos para o Presidente
Biden viajar até à Ucrânia”, esclareceu a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki,
numa conferência de imprensa no início da semana, indicando, no entanto, que um
alto-responsável do governo norte-americano estaria em breve em Kiev.
Pode a Rússia usar armas nucleares? “Pode. Mas
não quero acreditar nisso”
O chefe de
Estado ucraniano listou as várias ameaças que as forças russas representam
neste momento, e disse mesmo acreditar que o Kremlin pode vir a recorrer a armas nucleares, ainda que isso
refletisse que os líderes russos “perderem total ligação à realidade”.
“Vou responder à sua pergunta sobre se pode acontecer:
pode. Mas não quero acreditar nisso”, afirmou, em resposta a um jornalista.
Zelensky disse ser totalmente contra o uso de armamento nuclear, mas admitiu,
ao mesmo tempo, que seria benéfico que a Ucrânia as tivesse: “Se tivéssemos armas nucleares acho que os
riscos de uma guerra com a Rússia seriam minimizados, é aquilo em que
acredito”.
Questionado
sobre o número de ucranianos levados à força para a Rússia — algo para que as
autoridades de Kiev têm vindo a alertar —, o Presidente ucraniano disse ter
conhecimento de pelo menos 500 mil
pessoas nessa situação, que ou foram levadas para a Rússia, ou para os
territórios de Donetsk e Lugansk, zonas ocupadas no leste da Ucrânia.
O número que temos é que meio milhão de pessoas foram deportadas de
diferentes partes da Ucrânia para a Federação Russa ou para zonas ocupadas do
leste da Ucrânia”, afirmou. Destas, cerca de cinco mil são crianças, mas
Zelensky disse não estar certo deste número.
Sobre Mariupol, cidade controlada pelos russos
com excepção do enorme complexo industrial de Azovstal, o líder ucraniano alertou que as forças inimigas vão
avançar com novo ataque. “As forças russas estão a atingir a
cidade de Mariupol pelo mar, pelo ar, pela terra. Há uma hora recebi informação
de militares que estão lá de que a Rússia está a planear mais um ataque”,
avançou.
Zelensky disse que, apesar de a Rússia ter dito que “a bola
está do lado da Ucrânia” em relação a Mariupol, “isso não corresponde à
verdade”, já que Kiev tem proposto troca de prisioneiros e corredores
humanitários para poder tirar civis do complexo de Azovstal, propostas essas
que não têm sido aceites. Estima-se que cerca de mil civis estejam refugiados
na fábrica.
Pelo que acredita serem crimes de guerra, Zelensky
disse esperar que o Kremlin seja julgado e condenado, a nível internacional. “Se é Haia, ou outro sítio
na Ucrânia, sinceramente, não é o nome que me importa. O que importa é quantas
pessoas vão ser presas e por quantos anos”, afirmou. Zelensky mostrou-se
confiante num resultado positivo no Tribunal Penal Internacional, dizendo que
tem contado com o apoio de vários líderes europeus. “Toda a gente percebe quem
é culpado”, comentou.
Zelensky agradece aos ucranianos — e aos russos
também
Já na fase final da conferência de imprensa, o
Presidente ucraniano afastou-se das questões mais concretas e dedicou-se ao
lado mais humano da guerra. E os agradecimentos de Zelensky
não foram apenas dirigidos aos ucranianos ou aos países aliados, mas também aos
russos — não aos que lutam no exército, mas também aos que protestam contra a
guerra nas ruas do seu país.
Na Rússia não há muitas pessoas a
sair para as ruas, para as praças, é muito difícil [para elas]. Imaginem só, um
poder nuclear que tem medo de pessoas que sozinhas saem para a rua. Agradecemos
a estas pessoas, e desejo-lhes boa saúde”, comentou.
Mas foi a falar ao seu próprio povo que Zelensky se
emocionou, e causou emoção. Numa referência ao conflito em curso nas cidades da
Ucrânia, disse que, antes de ter tido início a guerra no seu país, nunca pensou
que “fosse necessário desejar longa vida às crianças”. “Mas, por causa desta
guerra, eu desejo que todos os nossos [concidadãos] protejam os seus filhos o
mais possível”, afirmou.
Foi neste momento que se viu obrigado a uma breve
pausa, para depois concluir, já de olhos humedecidos: “Mais importante: eu
partilho da dor de todos os que perderam os seus filhos.” A mudança de plano da
câmara revela que não só Zelensky se emocionou: na audiência, uma jornalista
limpava as lágrimas.
GUERRA NA
UCRÂNIA UCRÂNIA EUROPA MUNDO
COMENTÁRIOS:
bento guerra: Conversas para
a imprensa, no metro de Kiev. Mais uma encenação e está a apertar os tin-tins
do Guterres. Lá tem de ir ver os cadáveres Alex Russo > bento guerra: Ou
preferes que veja as velhinhas a benzer os urssos? Hoyo de Monterrey > bento guerra: Já
se mudou para a Rússia? Não perca a oportunidade de ir e ser feliz. É que num
país ocidental V. Exa. nunca será uma pessoa realizada.
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