Na sua afirmação agarotada, de que a
Rússia tinha barcos apenas para serem afundados. Na desolação geral, das destruições
sucessivas de um país, - e não se ficará por esse, flagelo de uma atrocidade
que só não espanta (e parece mesmo regozijar) os seus vários apoiantes, mergulhados
em inefáveis alegrias seráficas, tais os incendiários das actuais florestas, por
vocação artística, de certeza – na desolação geral, repito, impôs-se, pelo
inesperado humor, a afirmação agarotada de Zelensky, o Homem do momento, herói
acirrado por nobreza de ideais pátrios e revolta contra a prepotência, em
discursos como há muito se não ouviam, pelo menos nós, por cá, mergulhados em
afazeres de um mercantilismo em grande parte de empréstimo. Bravo, Zelensky!
Aquiles dos novos tempos, que o teu calcanhar seja preservado por longos anos
mais, para poderes reconstruir os espaços da vossa nação, com esse heróico povo, que te merece.
Henrique Salles da Fonseca não parece,
todavia, tão optimista, conhecedor que é, dos muitos “calcanhares” que se
avolumam no complexo mundo. A ver.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 17.04.22
O «caldo» de Putin está a azedar
e desta vez foi a pique mais um dos seus navios lançadores de mísseis a partir
do Mar Negro. Era o «Navio Almirante» da Esquadra sedeada em Sebastopol e
parece que era a sua «joia mais valiosa». E o homem zangou-se porque não deve
conhecer o ditado que reza que «quem vai à guerra dá e leva». Para quem achava
que a reapropriação da Ucrânia era como faca a cortar manteiga no Verão…
Não auguro nada de bom. A ver…
Mas não sou repórter de guerra
(nem quero ser) e passo a outro tema que me tem suscitado alguma meditação, o
da 5ª coluna com que Putin conta no Ocidente. E a esta, sim, convém que
prestemos mais atenção para não sermos apanhados desprevenidos numa qualquer
marosca que nos seja aprontada.
Ao contrário dos filmes
policiais, começo por identificar os «maus da fita» para depois lhes encontrar
as motivações e podermos
arregimentar a melhor contra argumentação: a 5ª coluna com que Putin
conta no Ocidente é constituída por comunistas e por direitistas radicais.
Trata-se duma constatação
empírica que nos vem sendo transmitida pelos noticiários: quando Zelenski falou
em certos Parlamentos por essa Europa além, os respectivos deputados comunistas
não aplaudiram o discurso do Presidente ucraniano e, nalguns casos, os comunistas ausentaram-se do
hemiciclo; na actual campanha presidencial em França, o empenho jornalístico
pró-Mácron na divulgação das simpatias putinescas de Marine Le Pen.
E a questão é: como é possível meter
comunistas e radicais de direita no mesmo saco?
Numa das primeiras eleições
legislativas em Portugal depois do 25 de Abril de 1974, os comunistas tinham um
cartaz em que se referiam à URSS/Rússia como «o Sol da Europa» (ou do
Mundo?). Para eles, era aquele o centro do Universo. Vai daí, quando
a URSS colapsou, os comunistas passaram a endeusar a Rússia e se o sonho da
sovietização do planeta deixara de ser possível, passaram para o modelo
imperialista russo mesmo que isso os obrigasse a engolir alguns oligarcas
vivos. Eis como Putin passou a ser o homem deles com a vantagem de
permitir aos comunistas russos assento controlado) na Duma a fingir democracia.
Os radicais de direita tendem a irritar-se com o parlamentarismo e,
daí, a propensão para algum autoritarismo. Sem negarem a democracia, preferem regimes fortes, não
dependentes de discussões permanentes. E aí estão eles a não olhar de esguelha
para Putin.
Trata-se, claro está, de uma
aliança «contra natura» mas que pode causar-nos engulhos se a ignorarmos.
Como alguém disse numa televisão,
«prognósticos só no fim do jogo» e, portanto, devemos admitir várias
hipóteses até o árbitro dar o apito final. Em primeiro lugar, resta saber se
há apito e sequer se há árbitro e, quanto ao desenlace das operações, é para
mim óbvio que a Nação Russa não pode continuar a ser humilhada como o vem sendo.
Ou seja, o pecado não é russo, é de Putin. Porque uma coisa é evidente: moral
e politicamente, Putin já perdeu esta guerra e mesmo que destrua tudo
militarmente, a questão política da Crimeia e do Donbass voltou à estaca zero,
vão seguir-se conversações plurilaterais e nós, Ocidente, não podemos ser
tolhidos por 5ª coluna de apoiantes do inimigo. A menos que Milosevic o chame.
E que o Senhor ressuscitado nos
liberte desses demónios que por aí pululam!
No extremo ferroviário oposto a
Vladivostok, Domingo de Páscoa de 2022
Henrique Salles da Fonseca
Tags:; política
nacional
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