quinta-feira, 14 de abril de 2022

Guerra e Paz


O Mal e o Bem, o Ódio e o Amor, le Diable et le bon Dieu, o Ser e o Nada, toda uma sociedade de princípios contrastantes, de defeitos e respectivas virtudes opostas… Um texto do facebook da Rosinha, captado por email, texto de Eugénio Lisboa, versando com o habitual brilho referencial a temática da Guerra, na visão – utópica, certamente – dos muitos contestatários que a intelectualidade e o muito saber de E.Lisboa faz jorrar sobre a nossa ignorância não utópica essa, infelizmente. Afirmações certeiras sobre a carnificina das guerras, negativas sobre a capacidade de aquisição desses saberes filosóficos, pelos estudantes de todas as épocas, afinal, já que tratadas de há muito, por todos os filósofos de que E. Lisboa se faz eco.

Porque, por muito que se refute e condene, as guerras não são mais que o resultado das características negativas do espírito humano, invejas, raivas, ambições, vaidades, crueldades, acrescidas das suas suposições – temporárias, sempre - de forças concretas, de poderio absoluto. Vimo-lo na história e na lenda, a crueldade manifesta com cada vez maior arreganho, à medida da cada vez maior eficiência tecnológica destruidora, compatível, naturalmente, com a cada vez maior ambição e crueldade demolidoras, transformando os chefes mandatários, como Putin, em bichos repelentes e tenebrosos, como cobras viscosas de línguas a dar a dar, para tudo recolher, sem dó nem piedade.

Rosa Coutinho Júlio

2 de abril às 10:47

Eugénio Lisboa - A guerra vista por grandes figuras

TÃO BELOS PENSAMENTOS!/TÃO POUCA APRENDIZAGEM!

Tudo o que o homem aprendeu com a História é que não aprendeu nada. Albert Einstein

Que pena as nossas escolas ensinarem tudo menos um pouco de sabedoria de viver! Que pena os estudantes abandonarem as escolas, com um punhado de certezas duvidosas e uma quase incapacidade de pensar. Que pena a filosofia ser uma filha bastarda do nosso ensino e os nossos jovens não terem o prazer e o proveito de fruir tanto pensamento cintilante e tão elegantemente formulado, que os incitasse a uma saudável rebeldia, quando os que decidem o fazem tão mal! Se os estudantes fossem expostos, neste mundo de conflitos insensatos e suicidas, às nobres palavras de Platão (“Só os mortos conhecem o fim da guerra”), ou de Sólon (“A igualdade não gera guerras”), ou de Cícero (“Prefiro a paz mais injusta à mais justa das guerras”), ou do grande Spinoza, que nós perdemos, dando-o à Holanda (“Paz não é a ausência de guerra; é uma virtude, um estado mental, uma disposição para a benevolência, confiança e justiça”). Reparem: “disposição para a benevolência, confiança e justiça”. Não serão melhores instrumentos para se resolverem discórdias, do que o infame poder destrutivo de tanques de guerra, canhões potentes, mísseis estupidamente sofisticados, países destruídos, crianças mortas e mutiladas ou mulheres enviuvadas e velhos desamparados no meio de ruínas? Haverá, num homem como Putin, demagogo, insensível, iletrado, boçal, alguma migalha mínima de sabedoria que o possa redimir? Será ele mentalmente adulto? Como reagiria ele a esta verificação devastadora do grande Melville, o autor de Moby Dick: “Todas as guerras são infantis e desencadeadas por crianças”? Crianças, sim, em termos de crescimento mental, mas de corpo de adulto, insuficientemente oxigenado, no topo. Não faria alguma impressão benfazeja, não criaria algum saudável desassossego visitar a sabedoria de tantos grandes homens que tanto enriqueceram o nosso património intelectual e emocional? Homens como Thomas Mann (“A guerra é a saída cobarde para os problemas da paz”) ou como o autor dessa pérola imortal – O Pequeno Príncipe – (“A guerra é uma doença, como o tifo”), ou como George Orwell (“… o objectivo de travar uma guerra é sempre estar em melhor posição para travar outra guerra”), ou como Gandhi (“Olho por olho e o mundo acabará cego”), ou como Karl Marx, que Putin, pelos vistos, não frequentou (“O povo que subjuga outro povo forja as suas próprias cadeias”), ou o eloquentíssimo e bem humorado John Lennon (“Lutar pela paz é como fazer amor pela virgindade”) ou, já agora, como Jean-Paul Sartre, que não estimo particularmente, mas que disse esta coisa muito verdadeira: “Quando se conhecem os pormenores da vitória, é difícil distingui-la da derrota”. Mas a pérola das pérolas veio-nos, paradoxalmente de Audie Murphy, o soldado americano mais condecorado da segunda guerra mundial: “Nenhum soldado sobrevive realmente a uma guerra”. E terminarei este acervo de sabedoria, com o muito corajoso e subversivo conselho do cientista, explorador polar, aventureiro e político norueguês, que recebeu, em 1922, o Prémio Nobel da Paz: “A guerra acabará quando os homens se recusarem a lutar.” Já os tem havido, como o grande Gandhi e seus seguidores ou o escritor francês Jean Giono, que pagou com a prisão o seu pacifismo irredutível ou o hoje famoso soldado americano, Slovick que, na segunda guerra mundial, preferiu morrer à frente de um pelotão de execução a disparar um tiro. Foi, aliás, o único soldado americano executado por “deserção em frente do inimigo”, embora muitos milhares de outros tenham sido julgados pelo mesmo “crime”.

O problema é que não estou muito certo de que haja muitos governos, democráticos ou não, que achem muito aconselhável os alunos visitarem empenhadamente as mais acutilantes pérolas de sabedoria que, contra a guerra, se escreveram. Talvez um dia lá cheguemos, quando a guerra puder ser considerada um crime, punido por uma lei internacional e for internacionalmente intervencionado o país que se atrever a dar início a uma. Utópico? Eu sei: os seres humanos sempre acharam difícil fazer as coisas mais lógicas e mais simples. O enviesado ganha sempre. E a estupidez sempre teve mais crédito do que a inteligência.

Eugénio Lisboa

 

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