sábado, 9 de abril de 2022

Faz parte


Da actual pedagogia dos afectos, que consiste também em promover os corpos e os egos, coisa de visibilidade e de regozijo próprio e imediato, mais do que em preparar os espíritos para as artimanhas da ciência, que exige inteligência e memória, menos atractivas porque mais cansativas, na sua invisibilidade e abstracção. Sim, a idiotia dos programadores do ensino, neste tipo de exibicionismo sobre a sexualidade de cada um, terá consequências funestas sobre a educação, e por consequência, sobre a “deformação” social. Alberto Gonçalves bem se esforça por advertir, mas os seus “alunos” leitores serão cada vez mais resistentes, impregnados das sabedorias trazidas pela virtude da solidariedade e dos afectos, quantas vezes de puro exibicionismo e malandrice.

Tudo sobre a minha heterossexualidade

O problema não é a presunção, discutível, de que certas “correntes educativas” querem produzir gays. O maior risco é o de produzirem idiotas.

ALBERTO GONÇALVES

OBSERVADOR, 09 abr 2022, 00:21

Um destes dias, circulou por aí um questionário que anda a ser feito aos alunos das escolas públicas. As perguntas incluem: “Quando é que decidiste que eras heterossexual?”. E: “Se a heterossexualidade é normal porque é que existem tantos doentes mentais heterossexuais?”. E mais meia dúzia de calibre idêntico. Num instante, as “redes sociais” indignaram-se. No instante seguinte, alguém divulgou o verso da página, que continha o “contexto” do inquérito. Afinal, o objectivo passava por ridicularizar o tipo de perguntas que se fazem “com frequência” (cito) a homossexuais e a bissexuais. A indignação moderou-se.

Não devia. O problema nem é o inquérito, apenas tonto e um pouco alucinado: onde é que questões daquelas são feitas, e “com frequência”, a homossexuais? Decerto na Palestina e no Irão. O problema é o inquérito ser português, e estar incluído num longo Caderno de educação sexual produzido pela ARS Norte e adoptado pelo ministério da Educação para o 7º, o 8º e o 9º anos. O problema é o Caderno, as dezenas de páginas dele, ser um monumento à indigência mental. O problema é um país em que a indigência mental merece cargos de decisão e influência. Muitos queixam-se de que o ensino da sexualidade perverte as criancinhas, mas poucos falam do ensino da imbecilidade que as retarda. O problema, em suma, não é a presunção – discutível – de que certas “correntes educativas” querem produzir gays. O maior risco é o de produzirem idiotas.

Há aqui graves chatices de princípio, de forma e de conteúdo. Comece-se pelo princípio. Sob que pretexto a escola deve educar sexual ou até socialmente os petizes? Não me ocorre nenhum, excepto a presunção beata de que as salas de aula são espaços de catequismo para os fervores do momento. Durante o Salazarismo, os manuais escolares estavam repletos de exaltações “patrióticas”. Agora é a tralha da “tolerância” e do “género”. Mudou a tralha, não mudou a tendência evangelizadora de uma instituição em teoria destinada a habilitar fedelhos no português e na matemática. Na prática, habilitam-se os pais, os que têm menos meios de corrigir o desastre, a levar com os filhos em situação de analfabetismo radical e permanente.

Em abono da democratização do ensino, analfabetismo também não falta aos autores do Caderno da ARS Norte. Aquilo é dirigido a alunos de 12, 13, 14, 15 anos. Parece pensado para “utentes” do infantário. E parece produzido por “utentes” do infantário, com a agravante de a linguagem utilizada descer aos abismos de um “eduquês” temperado por adaptações livres do léxico e da gramática.

O Caderno tem três temas (eles dizem “áreas temáticas”): O conhecimento e valorização do corpo; Saúde sexual e reprodutiva; Expressões de sexualidade e diversidade. Pelo meio, há desenhos infantis, textos infantis, “actividades” infantis (jogos promissores, como o “Corta e cola na minha autoestima” e o “E mais??? Outras coisas que tais...”) e toda a sorte de expedientes capazes de dispensar a rapaziada de aprender equações de 2º grau mas ficar esclarecida acerca de anéis vaginais e gonorreia.

A título de exemplo, uma das “actividades” intitula-se “As mulheres percebem de futebol??” (e logo demonstra que os autores do Caderno não percebem de pontuação). Consiste em dividir a turma em grupos de rapazes e raparigas e pô-los a discutir um texto sobre dois comentadores da Sky Sports demitidos por afirmarem, em “off”, que as mulheres não entendem o fora-de-jogo. O objectivo da “actividade” é “promover a diminuição de estereótipos de género”, leia-se aplaudir a demissão dos comentadores. Não admira que inúmeros alunos cheguem ao secundário unicamente especializados em fazer caretas no Tik Tok. E aposto que no fim da rábula as raparigas continuaram sem entender o fora-de-jogo!!!

Às vezes, o Caderno tem graça. Ri-me com a referência repetida a “Eva e Adão”, uma inversão da convenção que, em cabeças cheias de vento, passa por espectacular afirmação de feminismo. A maioria das vezes, porém, o Caderno deprime. Nele, o sexo é só uma via para falar obsessivamente de dois assuntos: o corpo e a “autoestima” (amor-próprio, em língua de gente).

Ou seja, o Caderno derrama nas crianças o tipo de patetices abundantes no Disney Channel e no Instagram de pategos: a ilusão de que todos somos especiais e dignos de intensa admiração. Somos lindos mesmo que pesemos 10 arrobas. Somos esclarecidos mesmo que nos apeteça trocar de sexo dez minutos após entrar na puberdade. Somos espertíssimos mesmo que o nosso QI se aproxime do QI dos criadores de material educativo para a ARS Norte. Somos princesas e príncipes, guerreiras e guerreiros, campeãs e campeões. E ai do mundo que não reconheça semelhantes atributos em criaturas reduzidas à superfície, e convencidas a “identificar-se” e “afirmar-se” em cima de nada. O grande objectivo do Caderno, e de boa parte da contemporaneidade, é formar choninhas amadores e vítimas profissionais.

Embora falar de sexo com professores seja de um bom gosto equivalente a debater uma gastroenterite com a porteira do multiusos, e embora a educação sexual precise tanto do ministério quanto um idoso de uma anca deslocada, tenciono provar a minha abertura nesses domínios. Ainda que já tenha concluído o ensino básico há um par de anitos, passo a responder ao questionário referido no início da crónica:

1) O que é que achas que causou a tua heterossexualidade? A Agnetha dos Abba, por alturas do álbum Voulez-Vous.

2) Quando é que decidiste que eras heterossexual? Quando, para aí com 9 anos, os meus pais me deram dinheiro para comprar o Voulez-Vous. E ainda dizem que os Abba são música efeminada!

3) É possível que a heterossexualidade seja apenas uma fase que passe quando cresceres mais um pouco?
É possível, sim (mal atinja 1,88m pensarei nisso). Em miúdo também pensava que ia ser benfiquista e depois viu-se.

4) É possível que sejas heterossexual por sentires medo de pessoas do mesmo sexo que o teu?
Claro que é. Na infância, joguei à bola contra um vizinho que tinha o dobro do meu tamanho e a misteriosa alcunha de “Grua”. Sentia pavor dele, a ponto de nunca me passar pela cabeça pedi-lo em namoro.

5) Se a heterossexualidade é normal porque é que existem tantos doentes mentais heterossexuais?
Não sei se a heterossexualidade é normal. Anormal seria existirem poucos doentes mentais nos “workshops” de economia do dr. Louçã e de uma das Mortáguas.

6) Porque é que tens de “anunciar a todos” a tua heterossexualidade? Não podes apenas ser quem és sem falares muito sobre isso? Nunca “anunciei” a minha heterossexualidade a ninguém. Até hoje, aliás, acho que nunca falara em público a respeito. Ao contrário da crendice estabelecida, é ridículo desabafar.

7) A maioria dos abusadores de menores é heterossexual. Achas que é seguro expor as crianças a educadores heterossexuais? Acho altamente inseguro é expor educadores, heterossexuais ou não, a crianças.

8) O número de divórcios entre pessoas heterossexuais é muito elevado. Porque é que as relações amorosas entre pessoas heterossexuais são tão instáveis? Porque há muitas Agnethas na Terra. E muitos Gruas, suponho.

Nota: Alberto Gonçalves estará de férias na próxima semana. A crónica regressa no dia 23 de Abril.

IDENTIDADE DE GÉNERO   SOCIEDADE

COMENTÁRIOS:

José Manuel Pereira: E pronto, não consigo parar de rir... Quando fico mais sério lembro-me da Agnetha dos ABBA e do Grua e desato à gargalhada...              josé maria: O problema não é a presunção, discutível, de que certas “correntes educativas” querem produzir gays. O maior risco é o de produzirem idiotas. Alberto a falar dele próprio, sem necessidade de ser produzido. É o que se chama de beócio chapado, que só consegue ser admirado e aplaudido por muitos beócios como ele...          Maria Augusta > josé maria: Por falar em idiotas, um bom Sábado para ti, camarada zézito!           Joao Figueiredo > josé maria: ou incompreendido por muitos beócios como tu...            Elvis Wayne > josé maria: E você "zé"? Saiu finalmente do armário do Largo, para poder nos vir presentear com tão excelso comentário?           Alexandre Areias: Um bando de idiotas pagos com o dinheiro dos nossos impostos que ainda para mais se acham iluminados e destinados como educadores do povo. O socialismo terceiro-mundista no seu esplendor miserável, medíocre e desonesto. Quase 50 anos a esmifrar e a chular            Rui Garcia Garcia: Parabéns pelo magnífico texto!          Óscar Alhão 69 É Bão: Penso que pela primeira vez estou em desacordo com AG. Não há risco algum de produzir idi0tas pelo simples motivo de que isso é uma certeza absoluta. É só ver por aqui os habituais precisamente idi0tas úteis de serviço e ao serviço da esquerda. Dispenso-me de os nomear um a um para não ser alvo de censura pelos seus correligionários não menos idi0tas no Obs.           Vergonha Alheira: Enorme, como sempre. Não passarão! FME: Ainda sou do tempo em que os homossexuais eram chamados por outro nome. Nessa altura os homossexuais que eram chamados por outro nome, eram caracterizados por gostarem de levar no rabiosque. Confesso, que na altura era um troll que gozava e fazia bullying aos homossexuais que eram chamados por outro nome. Nesses longínquos tempos era uma prática corrente marginalizar os indivíduos efeminados. Curiosamente as mulheres gay - que também eram chamadas por outro nome - despertavam mais curiosidade e também a libido e não eram muito marginalizadas. Hoje, felizmente, tudo mudou. Um grande avanço civilizacional nas democracias ocidentais. Estou convicto que já ninguém quer saber da homossexualidade para nada. É praticamente uma coisa normal. Cada um pode ter as relações que muito bem entender desde que não chateiem os outros. Todos temos um familiar, um vizinho, um amigo ou um conhecido homossexual. Deixou de existir estigma na homossexualidade. Mas é precisamente em não chatear os outros que reside o actual problema. Algo semelhante ao que se passava nos anos oitenta, só que desta vez o bullying é sobre os heterossexuais.  Nas autocracias o problema da homossexualidade continua. Rússia, países árabes e muitos países africanos o bullying aos homossexuais é prática corrente, pior anda, existe perseguição. Na China não faço ideia da relação do regime com a homossexualidade. Temos vários mundos dentro do nosso mundo Terra.  Na minha opinião, dentro de 300 anos o conceito de homem e mulher desaparece, mesmo a componente biológica. Todos vamos poder escolher uma coisa de 22 cm, ou cortá-la e fazer um buraco. Os bebés serão produzidos em laboratórios com características previamente escolhidas. Talvez nessa altura, o planeta 🌎 esteja mais uniformizado.           Paul C. Rosado: Desta vez concordo com a análise. O tema é sério. Nota-se uma vontade muito estranha de "sexualizar" as crianças e colocá-las a falar de sexo com os adultos na escola. Se isto não é assustador, não sei o que será. Pais, acordem de uma vez e olhem bem para a gente que manda nisto! Perguntem-lhes o que é que eles querem mesmo com isto.           Paulo C.: Achei espectacular o texto.           Sérgio Correia: Se isto não fosse real era humor ao nível dos tempos áureos do gato fedorento. Mas é real, e importa salientar que chamamos a este ponto porque ao contrário da crença que os esquerdoides são tolerantes, isto só é possível porque fomos demasiado tolerantes durante demasiado tempo com estes danados. Agora eles controlam tudo na nossa sociedade e desparasitar o estado, as instituições, a CS, a sociedade em geral só vai ser possível com ratax. "Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada." Um gajo qualquer            Eduardo David: Muito bom!            Maria Reisinho: O que eu ri com o seu texto. Demais!!            Jose Luis dos Santos Ferreira: Fabuloso texto!! Obrigado           Manuel Rodrigues         Estamos entregues à bicharada e ainda por cima roubam-nos   !!!           José Barros Excelente. Boas férias, Alberto Gonçalves.           Simão Cabanit:  O que eu me ri com este inquérito woke.....           Hipo Tanso: Uma das maiores gargalhadas da minha vida! Obrigado, AG.            advoga diabo: Há duas maneiras de encarar problemas, varrê-los para debaixo do tapete e ficar no armário na expectativa, ou, sair do dito e enfrentá-los, apesar dos problemas que isso possa trazer.  AG continua no escuro! Maria Augusta advoga diabo Parabén,s camarada xuxo-comuna  E como é sair do armário? Sentes-te mais solto?           Alberico Lopes: Ao que chegámos!           Agostinho Fernandes: muito bom, haja alguém com lucidez e atento. Abraço            MF A:  Boas férias! Bem merecidas, depois das gargalhadas que me fez dar!              klaus muller > MF A Subscrevo.           José Manuel Pereira Excelente, completamente hilariante. Não parei de rir...            Andre Vidigal: Ge-ni-al!, O episódio do fora de jogo é hilariante. Teria mais graça se não fosse real, porque se foram dispensados por isto, é realmente preocupante.           Jose Barros: Está tudo em curso para o Grand Reset e reduzir os humanos a idiotas não pensantes que "não possuirão nada e serão felizes". O comunismo ao serviço das elites.            António Queirós Somos "liderados" por imbecis, perigosos e parasitas. Obrigado, Alberto Gonçalves. O seu sarcasmo é muito refrescante e indispensável. Mas, enfim, descanse lá um pouco que a exposição excessiva a esta gente pode moer...           Maria Nunes Patético e deprimente. Estamos em acelerada decadência. Fico estupefacta como a sociedade se modificou em tão pouco tempo.              Maria Tubucci: Bom dia. Assunto muito “pertinente”! Cidadanices, tão queridas ao novo ministro da educação e insanos afins. A escola que deveria ensinar, transmite ideologia e produz idiotas, mas tudo para os filhos do povo, porque os filhos deles estão em colégios privados com ensino rigoroso.          Meio Vazio: Boas férias, AG. Despede-se em grande.


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