Da actual pedagogia dos afectos, que
consiste também em promover os corpos e os egos, coisa de visibilidade e de
regozijo próprio e imediato, mais do que em preparar os espíritos para as
artimanhas da ciência, que exige inteligência e memória, menos atractivas
porque mais cansativas, na sua invisibilidade e abstracção. Sim, a idiotia dos
programadores do ensino, neste tipo de exibicionismo sobre a sexualidade de
cada um, terá consequências funestas sobre a educação, e por consequência,
sobre a “deformação” social. Alberto
Gonçalves bem se esforça por advertir, mas os seus “alunos” leitores serão cada
vez mais resistentes, impregnados das sabedorias trazidas pela virtude da
solidariedade e dos afectos, quantas vezes de puro exibicionismo e malandrice.
Tudo sobre a minha heterossexualidade
O problema não é a presunção,
discutível, de que certas “correntes educativas” querem produzir gays. O maior
risco é o de produzirem idiotas.
ALBERTO GONÇALVES
OBSERVADOR, 09 abr 2022, 00:21
Um
destes dias, circulou por aí um questionário que anda a ser feito aos alunos
das escolas públicas. As perguntas incluem: “Quando é que decidiste que eras
heterossexual?”. E: “Se a heterossexualidade é normal porque é que
existem tantos doentes mentais heterossexuais?”. E mais meia dúzia de
calibre idêntico. Num instante, as “redes sociais” indignaram-se. No instante
seguinte, alguém divulgou o verso da página, que continha o “contexto” do
inquérito. Afinal, o objectivo passava por ridicularizar o tipo de
perguntas que se fazem “com frequência” (cito) a homossexuais e a bissexuais. A
indignação moderou-se.
Não
devia. O problema nem é o inquérito, apenas tonto e um pouco alucinado: onde é
que questões daquelas são feitas, e “com frequência”, a homossexuais? Decerto
na Palestina e no Irão. O problema
é o inquérito ser português, e estar incluído num longo Caderno de educação
sexual produzido pela ARS Norte e adoptado pelo ministério da Educação para o
7º, o 8º e o 9º anos. O problema é o Caderno, as dezenas de páginas dele,
ser um monumento à indigência mental. O problema é
um país em que a indigência mental merece cargos de decisão e influência. Muitos queixam-se de que o ensino da sexualidade
perverte as criancinhas, mas poucos falam do ensino da imbecilidade que as
retarda. O problema, em suma, não é a presunção – discutível – de que certas
“correntes educativas” querem produzir gays. O maior
risco é o de produzirem idiotas.
Há aqui graves chatices de princípio,
de forma e de conteúdo. Comece-se
pelo princípio. Sob que
pretexto a escola deve educar sexual ou até socialmente os petizes? Não me
ocorre nenhum, excepto a presunção beata de que as salas de aula são espaços de
catequismo para os fervores do momento. Durante o
Salazarismo, os manuais escolares estavam repletos de exaltações “patrióticas”.
Agora é a tralha da “tolerância” e do “género”. Mudou a tralha, não mudou a
tendência evangelizadora de uma instituição em teoria destinada a habilitar
fedelhos no português e na matemática. Na
prática, habilitam-se os pais, os que têm menos meios de corrigir o desastre, a
levar com os filhos em situação de analfabetismo radical e permanente.
Em abono da democratização do ensino,
analfabetismo também não falta aos autores do Caderno da ARS Norte. Aquilo é dirigido a alunos de 12, 13, 14, 15 anos.
Parece pensado para “utentes” do infantário. E parece produzido por “utentes”
do infantário, com a agravante de a linguagem utilizada descer aos abismos de
um “eduquês” temperado por adaptações livres do léxico e da gramática.
O
Caderno tem três temas (eles dizem “áreas temáticas”): O conhecimento e valorização do corpo; Saúde sexual e
reprodutiva; Expressões de sexualidade e diversidade. Pelo meio, há desenhos infantis, textos infantis,
“actividades” infantis (jogos promissores, como o “Corta e cola na minha
autoestima” e o “E mais??? Outras coisas que tais...”) e toda a sorte de
expedientes capazes de dispensar a rapaziada de aprender equações de 2º grau
mas ficar esclarecida acerca de anéis vaginais e gonorreia.
A
título de exemplo, uma das “actividades” intitula-se “As
mulheres percebem de futebol??” (e logo demonstra que os autores do Caderno não
percebem de pontuação). Consiste em
dividir a turma em grupos de rapazes e raparigas e pô-los a discutir um texto
sobre dois comentadores da Sky Sports demitidos por afirmarem, em
“off”, que as mulheres não entendem o fora-de-jogo. O objectivo da “actividade”
é “promover a diminuição de estereótipos de género”, leia-se aplaudir a
demissão dos comentadores. Não admira que inúmeros alunos cheguem ao
secundário unicamente especializados em fazer caretas no Tik Tok. E aposto que
no fim da rábula as raparigas continuaram sem entender o fora-de-jogo!!!
Às
vezes, o Caderno tem graça. Ri-me com a referência repetida a “Eva e Adão”, uma
inversão da convenção que, em cabeças cheias de vento, passa por espectacular
afirmação de feminismo. A maioria
das vezes, porém, o Caderno deprime. Nele, o sexo é só uma via para falar
obsessivamente de dois assuntos: o corpo e a “autoestima” (amor-próprio, em
língua de gente).
Ou
seja, o Caderno derrama nas crianças o tipo de patetices abundantes no Disney
Channel e no Instagram de pategos: a ilusão de que todos somos especiais e
dignos de intensa admiração. Somos lindos mesmo que pesemos 10 arrobas. Somos
esclarecidos mesmo que nos apeteça trocar de sexo dez minutos após entrar na
puberdade. Somos espertíssimos mesmo que o nosso QI se aproxime do QI dos
criadores de material educativo para a ARS Norte. Somos princesas e príncipes,
guerreiras e guerreiros, campeãs e campeões. E ai do mundo que não reconheça
semelhantes atributos em criaturas reduzidas à superfície, e convencidas a
“identificar-se” e “afirmar-se” em cima de nada. O grande
objectivo do Caderno, e de boa parte da contemporaneidade, é formar choninhas
amadores e vítimas profissionais.
Embora
falar de sexo com professores seja de um bom gosto equivalente a debater uma
gastroenterite com a porteira do multiusos, e embora a educação sexual precise
tanto do ministério quanto um idoso de uma anca deslocada, tenciono provar a
minha abertura nesses domínios. Ainda que já tenha concluído o ensino básico há
um par de anitos, passo a responder ao questionário referido no início da
crónica:
1)
O que é que achas que causou a tua heterossexualidade? A Agnetha dos Abba, por alturas do álbum Voulez-Vous.
2)
Quando é que decidiste que eras heterossexual? Quando, para aí com 9 anos, os meus pais me deram
dinheiro para comprar o Voulez-Vous. E ainda dizem que os Abba são música
efeminada!
3)
É possível que a heterossexualidade seja apenas uma fase que passe quando
cresceres mais um pouco?
É possível, sim (mal atinja 1,88m
pensarei nisso). Em miúdo também pensava que ia ser benfiquista e depois
viu-se.
4)
É possível que sejas heterossexual por sentires medo de pessoas do mesmo
sexo que o teu?
Claro que é. Na infância, joguei à bola
contra um vizinho que tinha o dobro do meu tamanho e a misteriosa alcunha de
“Grua”. Sentia pavor dele, a ponto de nunca me passar pela cabeça pedi-lo em
namoro.
5)
Se a heterossexualidade é normal porque é que existem tantos doentes
mentais heterossexuais?
Não sei se a heterossexualidade é normal.
Anormal seria existirem poucos doentes mentais nos “workshops” de economia do
dr. Louçã e de uma das Mortáguas.
6)
Porque é que tens de “anunciar a todos” a tua heterossexualidade? Não
podes apenas ser quem és sem falares muito sobre isso? Nunca “anunciei” a minha heterossexualidade a ninguém.
Até hoje, aliás, acho que nunca falara em público a respeito. Ao contrário da
crendice estabelecida, é ridículo desabafar.
7)
A maioria dos abusadores de menores é heterossexual. Achas que é seguro
expor as crianças a educadores heterossexuais? Acho altamente inseguro é expor educadores,
heterossexuais ou não, a crianças.
8)
O número de divórcios entre pessoas heterossexuais é muito elevado.
Porque é que as relações amorosas entre pessoas heterossexuais são tão
instáveis? Porque há
muitas Agnethas na Terra. E muitos Gruas, suponho.
Nota: Alberto Gonçalves estará de férias na
próxima semana. A crónica regressa no dia 23 de Abril.
IDENTIDADE DE
GÉNERO SOCIEDADE
COMENTÁRIOS:
José Manuel Pereira: E pronto, não consigo parar de rir... Quando fico mais sério lembro-me da
Agnetha dos ABBA e do Grua e desato à gargalhada... josé maria: O problema não é a presunção,
discutível, de que certas “correntes educativas” querem produzir gays. O maior risco é o de produzirem idiotas. Alberto a falar dele próprio,
sem necessidade de ser produzido. É o que se chama de beócio chapado, que só
consegue ser admirado e aplaudido por muitos beócios como ele... Maria
Augusta > josé maria: Por falar em idiotas, um bom
Sábado para ti, camarada zézito! Joao Figueiredo
> josé maria: ou incompreendido por muitos beócios como tu... Elvis
Wayne > josé maria: E você "zé"? Saiu finalmente do armário do
Largo, para poder nos vir presentear com tão excelso comentário? Alexandre
Areias: Um bando de idiotas pagos com o
dinheiro dos nossos impostos que ainda para mais se acham iluminados e
destinados como educadores do povo. O socialismo terceiro-mundista no seu
esplendor miserável, medíocre e desonesto. Quase 50 anos a esmifrar e a chular Rui
Garcia Garcia: Parabéns pelo magnífico texto! Óscar Alhão 69 É
Bão: Penso que pela
primeira vez estou em desacordo com AG. Não há risco algum de produzir idi0tas pelo simples
motivo de que isso é uma certeza absoluta. É só ver por aqui os habituais
precisamente idi0tas úteis de serviço e ao serviço da esquerda. Dispenso-me de os nomear um a um para não ser
alvo de censura pelos seus correligionários não menos idi0tas no Obs. Vergonha
Alheira: Enorme, como sempre. Não passarão! FME: Ainda sou do tempo em que os
homossexuais eram chamados por outro nome. Nessa altura os homossexuais que
eram chamados por outro nome, eram caracterizados por gostarem de levar no
rabiosque. Confesso, que na altura era um troll que gozava e fazia bullying aos
homossexuais que eram chamados por outro nome. Nesses longínquos tempos era uma
prática corrente marginalizar os indivíduos efeminados. Curiosamente as
mulheres gay - que também eram chamadas por outro nome - despertavam mais
curiosidade e também a libido e não eram muito marginalizadas. Hoje,
felizmente, tudo mudou. Um grande avanço civilizacional nas democracias
ocidentais. Estou convicto que já ninguém quer saber da homossexualidade para
nada. É praticamente uma coisa normal. Cada um pode ter as relações que muito
bem entender desde que não chateiem os outros. Todos temos um familiar, um
vizinho, um amigo ou um conhecido homossexual. Deixou de existir estigma na
homossexualidade. Mas é precisamente em não
chatear os outros que reside o actual problema. Algo semelhante ao que se
passava nos anos oitenta, só que desta vez o bullying é sobre os
heterossexuais. Nas autocracias o problema da homossexualidade continua.
Rússia, países árabes e muitos países africanos o bullying aos homossexuais é
prática corrente, pior anda, existe perseguição. Na China não faço ideia da
relação do regime com a homossexualidade. Temos vários mundos dentro do nosso mundo
Terra. Na minha opinião, dentro de
300 anos o conceito de homem e mulher desaparece, mesmo a componente biológica.
Todos vamos poder escolher uma coisa de 22 cm, ou cortá-la e fazer um buraco.
Os bebés serão produzidos em laboratórios com características previamente
escolhidas. Talvez nessa altura, o planeta 🌎 esteja mais uniformizado. Paul
C. Rosado: Desta vez
concordo com a análise. O tema é sério. Nota-se uma vontade muito estranha de
"sexualizar" as crianças e colocá-las a falar de sexo com os adultos
na escola. Se isto não é assustador, não sei o que será. Pais, acordem de uma
vez e olhem bem para a gente que manda nisto! Perguntem-lhes o que é que eles
querem mesmo com isto. Paulo C.: Achei espectacular o
texto. Sérgio Correia: Se isto não fosse real era
humor ao nível dos tempos áureos do gato fedorento.
Mas é real, e importa salientar que chamamos a este ponto porque ao
contrário da crença que os esquerdoides são tolerantes, isto só é possível
porque fomos demasiado tolerantes durante demasiado tempo com estes danados. Agora eles controlam tudo na nossa sociedade e
desparasitar o estado, as instituições, a CS, a sociedade em geral só vai ser
possível com ratax. "Para o triunfo do
mal só é preciso que os bons homens não façam nada." Um gajo qualquer Eduardo
David: Muito bom! Maria Reisinho: O que eu ri com o seu texto.
Demais!! Jose
Luis dos Santos Ferreira: Fabuloso texto!! Obrigado Manuel Rodrigues Estamos entregues à bicharada e ainda por cima
roubam-nos !!! José
Barros Excelente. Boas férias, Alberto
Gonçalves. Simão Cabanit:
O que eu me ri com este inquérito woke..... Hipo
Tanso: Uma das maiores
gargalhadas da minha vida! Obrigado, AG. advoga
diabo: Há duas
maneiras de encarar problemas, varrê-los para debaixo do tapete e ficar no
armário na expectativa, ou, sair do dito e enfrentá-los, apesar dos problemas
que isso possa trazer. AG continua no escuro!
Maria Augusta advoga diabo Parabén,s camarada xuxo-comuna E como é sair do armário? Sentes-te mais solto? Alberico Lopes:
Ao que chegámos! Agostinho
Fernandes: muito bom, haja
alguém com lucidez e atento. Abraço MF A: Boas férias! Bem merecidas, depois das gargalhadas que
me fez dar! klaus muller
> MF A Subscrevo. José Manuel
Pereira Excelente, completamente
hilariante. Não parei de rir... Andre Vidigal: Ge-ni-al!, O episódio do fora
de jogo é hilariante. Teria mais graça se não fosse real, porque se foram
dispensados por isto, é realmente preocupante. Jose Barros: Está tudo em curso para o Grand
Reset e reduzir os humanos a idiotas não pensantes que "não possuirão nada
e serão felizes". O comunismo ao serviço das elites. António Queirós Somos "liderados" por
imbecis, perigosos e parasitas. Obrigado, Alberto Gonçalves. O seu sarcasmo é
muito refrescante e indispensável. Mas, enfim, descanse lá um pouco que a
exposição excessiva a esta gente pode moer... Maria Nunes Patético e deprimente. Estamos
em acelerada decadência. Fico estupefacta como a sociedade se modificou em tão
pouco tempo. Maria Tubucci:
Bom dia. Assunto muito
“pertinente”! Cidadanices, tão queridas ao
novo ministro da educação e insanos afins. A escola que deveria ensinar,
transmite ideologia e produz idiotas, mas tudo para os filhos do povo, porque
os filhos deles estão em colégios privados com ensino rigoroso. Meio
Vazio: Boas férias, AG.
Despede-se em grande.
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