Os interesses próprios, ideológicos ou
pessoais, podem justificar muitas das anomalias políticas, como refere o Dr. Salles da Fonseca – como o
fez Salazar, ao que parece, com ucranianos fugidos ao seu regime de esquerda, ao
colher deles informações a respeito desses enigmáticos ledores da cartilha
comunista do seu tempo e do seu país, na sua impaciência de construtor de um
país que amava, certamente, e defendia, dentro dos seus princípios autocráticos
que julgou os certos, quando se propôs erguê-lo da depressão e da dívida,
deixada pela anarquia da primeira República revoltosa e tosca. Os fins
justificam os meios, já também reis nossos o tinham mostrado, quer desafiando a
mãe, como Afonso Henriques, quer desafiando o filho, como Afonso IV, o que deu o
seu brado, a bem da arte, neste último caso. Também o Diabo desafiou Cristo no
deserto, que não se escusou a responder-lhe adequadamente, com a altivez do seu
saber. Mas o PC, pelos vistos, não cai nessas esparrelas de que se servem os
inteligentes – nem mesmo para condenar um acto repugnante que brada ao Céu, e
julgo que o próprio Inferno condenará, sem lhe encontrar justificação que valha.
Não, o PC, na esteira do seu chefe primeiro, um Cunhal de discurso e visão monocordicamente
votados a uma cartilha revolucionária sem entraves de espécie alguma, recusa-se
a apoiar Zelensky. E todavia, Jerónimo de Sousa não parece má pessoa, apenas
enferrujado nas articulações. Ao contrário de Cunhal, de resto, que sempre a
mim me pareceu, como tantos outros, Pacheco Pereira sendo um desses, de
preferência cínico Tartufo que a ninguém engana - fora os basbaques, que
também não .
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 20.04.22
O
título deste texto esteve para ser «A atracção dos opostos»
mas, pensando mais um pouco, achei que a essência do Poder autocrático gera
solidariedades curiosas. Em alternativa, parece melhor enquadrar o texto
num conjunto a que chamo «Curiosidades
da História».
Então,
o facto histórico que recentemente me foi contado por quem «in illo tempore»
teve acesso à correspondente informação no exercício das suas funções quando
cumpriu o Serviço Militar Obrigatório, consistiu na vigilância
que os Serviços Secretos portugueses antes de Abril de 1974, a PIDE, exerciam
sobre certos refugiados lestian em Portugal (opositores
ao comunismo no seu país) a troco
de informações dos correspondentes serviços secretos lestianos sobre os
movimentos do Dr. Cunhal e de outros comunistas portugueses que andassem refugiados pelo lado de lá da Cortina de Ferro.
Não
teço agora comentários à qualidade das informações transmitidas de lado a lado
nem sobre a relevância que cada receptor (e inerente tratamento) deu às ditas
informações. Apenas
constato que umas não impediram a passagem do Império Português para a tutela
do homólogo soviético assim como, no sentido contrário, não impediram a queda
da Cortina de Ferro. O que me
interessa, isso sim, é constatar uma colaboração – que
considero totalmente absurda – entre
serviços secretos de lados opostos da «barricada». E o que me causa maior
espanto foi ter havido troca de informações entre os Regimes do «ultrarradical
de esquerda» Jivkove do «ultra
radical de direita» Salazar. Só consigo entender esta realidade como uma
tentativa de cada um dos autocratas se manter no poder garantindo o máximo de
«status quo». Ou seja,
algo como uma solidariedade
estabelecida sobre um estilo de exercício do poder – neste caso, o autocrata -
e nada tendo a ver com as causas estratégicas, económicas ou sociais defendidas
por cada um. Ainda admito
uma outra hipótese: que exista uma solidariedade corporativa mundial entre
os agentes secretos de modo a que todos tenham as «barbas de molho» quando o
seu lado ruir. Será então verdade que, na queda de Ceaucescu, os
chefes da «Securitate» se passaram directa e rapidamente para os serviços
secretos de um país levantino amigo do Ocidente?
Diz-se,
diz-se… mas se, por acaso, tiverem alguma ponta de verdade, imaginemos
a distância que deve existir entre as conversações que realmente existem entre
a Rússia e a Ucrânia e aquilo que nos é transmitido pelos noticiários, os que se dizem defensores da verdade.
Quem tal diria…???
Mas, nesse espaço entre a verdade e a
fantasia do que os «negociadores» atiram cá para fora, morre muita gente.
Lisboa, 19 de Abril de 2022
COMENTÁRIO
Francisco G. de
Amorim 20.04.2022 14:53: Distribui o bodo, mas a mim primeiro!
Adriano Miranda Lima 22.04.2022 18:22: Entre o que "é
verdade e o que é fantasia" daquilo que nos chega, acabei de saber,
através de noticiário televisivo, que a Rússia quer abocanhar todo o litoral do
Mar Negro até à Moldávia, sendo que, provavelmente, esta não vai ter futuro
como país autónomo. E neste cenário, a Ucrânia será um país interior, sem
acesso ao mar, e as repúblicas do Báltico terão também os dias contados. A
menos que se deflagre a guerra mundial que acredito vai ser difícil de evitar,
ou que se mate o tirano do Kremlin. Esta última é que será a solução justa e a
bem da humanidade.
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