segunda-feira, 27 de junho de 2022

Breve apoio a uma análise literária primorosa


Como a Luís Soares de Oliveira, também me encantou a excelente análise literária feita por José António Barreiros ao livro “O BARÃO” de Branquinho da Fonseca, que também a mim provocara, em tempos, idêntico fascínio de leitura, pela magia de um inesperado universo de irrealidade mediévica, como um dia igualmente escrevi no meu blog, de que transcrevo o final desse texto, a recordá-lo:

“Um conto oscilando entre o real e o fantástico, numa atmosfera mediévica, de castelo sombrio, de acções e personagens disformes, mas dissertando sobre sentimentos e vivências, agindo sob o efeito da bebedeira, deixando, como imagem de graciosidade a marca do amor e da beleza na rosa que uma escalada difícil conseguiu apor na beira da janela, em metáfora simbólica desta história de “amor contrariado”, e em que o tiro ao Barão contribui para a irrealidade e a poeticidade do mistério policial não resolvido.”

JOSÉ ANTÓNIO BARREIROS soube bem recriar a estranheza de uma pequena obra de um poderoso universo de magia, inabitual na nossa literatura. E fê-lo numa excelência de análise igualmente literária, que nos encanta. Também eu, como Luís Soares de Oliveira lhe fico agradecida por isso, mesmo sem ser da família do escritor, caso do Sr. Embaixador.

 

LUIS SOARES DE OLIVEIRA

Agradecido a J José António Barreiros

José António Barreiros

19 de abril

«Li "O Barão" e já não fui capaz de ler os dois contos que com esta novela completam o livro. Edição pobre, papel amarelecido, formato bolso, corpo felizmente largo para ajudar à leitura, o que não seria necessário porque neste fim de tarde de Domingo comecei e consegui chegar ao fim ansioso por regressar. E leio pausadamente.

A escrita é torrencial na sua cadência por locais oníricos, a cena em crescendo de enigma a ter o seu epígono numa noite alcoolizada, a trama a crescer e sem caminhar definido por onde segue, viagem em busca da memória do amor idealizado, o amor retraído.

O que seria a narrativa de uma visita oficial de um sorumbático inspector escolar a uma remota aldeia pelas terras do Barroso dá um viagem fantasmagórica pelo enigma e pela luxúria, longos corredores vazios e seu silêncio, o solar decadente onde a vida de há muito decaiu, correrias pelos esconsos do medo e enfim, a queda e a fractura, a morte, os caminhos sombrios do sonho e da loucura, o barão carnívoro insaciado, a desbragar-se em aviltamento e afinal em sofrida carência de companhia.

António José Branquinho da Fonseca, filho do escritor Tomás da Fonseca. Licenciou-se em Direito mas foi do mesmo escasso praticante para além de funções públicas a desaguarem, porém, no serviço cívico a que deu vida, o das Bibliotecas Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que tanta oportunidade deu a que se lesse onde, ao tempo, a leitura não chegava.

Fundara a "Presença", dela sairia com Miguel Torga. Ao chegar à Fundação em 1958 não mais publicaria. O seu livro "Bandeira Preta" é de 1956.

Dir-se-ia que o escritor se sublima aqui e se redime do pecado do convencional.

A capa do pequeno volume, desenhada em boleadas curvas languescentes, não vem assinada e é pena. Está ali, num traço, a lascívia do lugar e a que caminha ondulante e deixa atrás de si o momento de silêncio: Idalina, serva e dona, um breve instante, a ambiguidade provocante do quase.» [publicado há pouco no meu blog "A Fantástica Livraria"]

Nenhum comentário: