Como a Luís Soares de Oliveira, também me encantou a excelente
análise literária feita por José António
Barreiros ao livro “O BARÃO” de Branquinho da Fonseca, que também a mim provocara, em tempos, idêntico
fascínio de leitura, pela magia de um inesperado universo de irrealidade
mediévica, como um dia igualmente escrevi no meu blog, de que transcrevo o final
desse texto, a recordá-lo:
“Um conto oscilando entre o real e o fantástico, numa
atmosfera mediévica, de castelo sombrio, de acções e personagens disformes, mas
dissertando sobre sentimentos e vivências, agindo sob o efeito da bebedeira,
deixando, como imagem de graciosidade a marca do amor e da beleza na rosa que uma escalada difícil conseguiu apor na beira da janela,
em metáfora simbólica desta história de “amor contrariado”, e em que o tiro ao Barão contribui
para a irrealidade e a poeticidade do mistério policial não resolvido.”
JOSÉ ANTÓNIO BARREIROS soube bem recriar a
estranheza de uma pequena obra de um poderoso universo de magia, inabitual na
nossa literatura. E fê-lo numa excelência de análise igualmente literária, que
nos encanta. Também eu, como Luís Soares de Oliveira lhe fico agradecida
por isso, mesmo sem ser da família do escritor, caso do Sr. Embaixador.
Agradecido
a J José António
Barreiros
«Li
"O Barão" e já não fui capaz de ler os dois contos que com esta
novela completam o livro. Edição pobre, papel amarelecido, formato bolso, corpo
felizmente largo para ajudar à leitura, o que não seria necessário porque neste
fim de tarde de Domingo comecei e consegui chegar ao fim ansioso por regressar.
E leio pausadamente.
A
escrita é torrencial na sua cadência por locais oníricos, a cena em crescendo
de enigma a ter o seu epígono numa noite alcoolizada, a trama a crescer e sem
caminhar definido por onde segue, viagem em busca da memória do amor
idealizado, o amor retraído.
O
que seria a narrativa de uma visita oficial de um sorumbático inspector escolar
a uma remota aldeia pelas terras do Barroso dá um viagem fantasmagórica pelo
enigma e pela luxúria, longos corredores vazios e seu silêncio, o solar
decadente onde a vida de há muito decaiu, correrias pelos esconsos do medo e
enfim, a queda e a fractura, a morte, os caminhos sombrios do sonho e da
loucura, o barão carnívoro insaciado, a desbragar-se em aviltamento e afinal em
sofrida carência de companhia.
António José Branquinho da Fonseca, filho do escritor Tomás da Fonseca. Licenciou-se em
Direito mas foi do mesmo escasso praticante para além de funções públicas a
desaguarem, porém, no serviço cívico a que deu vida, o das Bibliotecas
Itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian que tanta oportunidade deu a que se
lesse onde, ao tempo, a leitura não chegava.
Fundara
a "Presença", dela sairia com Miguel Torga. Ao chegar à Fundação em
1958 não mais publicaria. O seu livro "Bandeira Preta" é de 1956.
Dir-se-ia
que o escritor se sublima aqui e se redime do pecado do convencional.
A
capa do pequeno volume, desenhada em boleadas curvas languescentes, não vem
assinada e é pena. Está ali, num traço, a lascívia do lugar e a que caminha
ondulante e deixa atrás de si o momento de silêncio: Idalina, serva e dona, um
breve instante, a ambiguidade provocante do quase.» [publicado há pouco no
meu blog "A Fantástica Livraria"]
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