segunda-feira, 20 de junho de 2022

Refúgio


Um texto de Helena Matos que mereceria duzentos comentários, nem todos, é certo, adequados ao assunto. Já tudo foi dito. Eu refugio-me, em termos de equiparação ardente – ou de fuga reconfortante - em “Le Baiser” de Rodin.

O beijo

De Pedrogão em 2017 às urgências em 2022: Marcelo beija, Costa diz que na semana seguinte estará tudo resolvido. O beijo de Marcelo é o símbolo do regime a que estamos entregues: o patético-socialismo

HELENA MATOS

OBSERVADOR, 19 jun 2022

Portugal já teve governantes com piores características que Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa. O que nunca teve foi esta conjugação em simultâneo de os dois máximos responsáveis do país partilharem uma tal fobia à responsabilidade. Marcelo, um egocêntrico fútil, tornou-se refém da sua própria popularidade. Costa, um tacticista que enquanto governante acabou aprisionado pela sua habilidade na gestão política. É o reflexo grotesco da conjugação entre estes dois homens que encontramos quando nos confrontamos com a sequência quase ritual cumprida por eles após cada momento em que pressentem que podem ser postos em causa.

Primeiro, o PR apressa-se de imediato a menorizar o acontecido e a afastar cenários de eventuais responsabilizações: O que se fez foi o máximo que se podia fazer” (Marcelo a propósito dos incêndios em Pedrogão Grande, 2017), “é um ponto crítico específico” (Marcelo acerca do fecho das urgências hospitalares, em 2022). De seguida, o primeiro-ministro anuncia a mudança-milagre que vai resolver tudo e invariavelmente transfere as culpas para o passado e a solução para o futuro: Este é o momento para fazermos a reforma há muito adiada da floresta” (António Costa, após os incêndios de Pedrogão Grande), primeiro-ministro promete “uma resposta estrutural para os desafios do SNS” (António Costa, agora em Junho de 2022, em plena crise das urgências hospitalares).

Entretanto, o ministro na berlinda passa de uma conferência de imprensa para outra com o ar de quem se sente vítima de uma injustiça. Agora é Marta Temido, funesta sucessora da ministra Constança dos incêndios de 2017, que anuncia planos de contingência aos pares, esperando certamente que ninguém se lembre que já em 2019 anunciara outros planos para outras urgências.

Pelo meio temos a inevitável foto esperpêntica de Marcelo e as não menos inevitáveis declarações arruaceiro-desafiantes de Costa. Tudo para jornalista ver.

Por fim, as atenções e as culpas serão fulanizadas. Criam-se bodes expiatórios, como aconteceu com os eucaliptos nos incêndios de 2017. Quanto a 2022, não é difícil antever que dentro de algum tempo a culpa será da Ordem dos Médicos porque estabelece critérios muito exigentes para o funcionamento das urgências. Ou das empresas de tarefeiros que, como enfatiza o BE, dão lucro aos privados (ironicamente a cegueira ideológica do governo de António Costa ao acabar com as PPP nos hospitais de Braga, Amadora e Odivelas acentuou o descalabro nos hospitais públicos, tornando-os ainda mais dependentes destas empresas privadas).

Os dois anos de pandemia adiaram o momento em que Marcelo e Costa chocariam com a realidade. Durante dois anos Marcelo e Costa foram poupados à responsabilização pelo estado de excepção que a pandemia trouxe às nossas vidas. Tudo era adiável. Os portugueses confinaram e a vida real também. Protelar tornou-se uma forma de fazer política com sucesso. Em Portugal, evidentemente.

Quando finalmente nos libertámos dos estados de emergência, catástrofe e demais excepções, não tanto porque o vírus tenha desaparecido mas simplesmente porque se tornou evidente que íamos viver com ele, começaram a cair dados que dão conta dessa degradação das nossas vidas: em 2020, a taxa de mortalidade materna atingiu os 20,1 óbitos por 110 mil nascimentos devido a complicações da gravidez, parto ou puerpério. É o nível de mortalidade materna mais elevado em 38 anos. O peso dos impostos nos salários sobe para 41,8% em Portugal, apesar de ter descido na média da OCDE. Os alunos portugueses foram dos que mais tempo estiveram sem aulas durante a pandemia e dos que menos se sabe ou procura saber sobre a recuperação desse tempo perdido. (Não por acaso, no ano lectivo de 2020-21 o ensino público perdeu quase 31 mil alunos, enquanto o privado viu aumentar em 6 mil o número de matriculados.)

A enumeração podia prosseguir. Mas passemos à pergunta que se impõe: o que é de diferente agora? Algo tão velho quanto a vida, ou seja, o carácter inadiável dos partos. Os partos que não se podem agendar para daí a um mês, ou três ou quatro, tornaram óbvio o que a anomia instalada e a propaganda constante têm iludido: o populismo de Marcelo e o estatismo autocrático de Costa colocaram o estado social à beira da ruptura.

MARCELO REBELO DE SOUSA  PRESIDENTE DA REPÚBLICA  POLÍTICA  ANTÓNIO COSTA

COMENTÁRIOS:

Carlos Vito: Excelente título de crónica. É isso mesmo, o "patético-socialismo". O "patético"  anestesista é incapaz de contrariar o governo, de exigir seja o que for ao (des)governo. Desvaloriza, contemporiza, sonha e devaneia. Um poeta sem poesia.             jorge espinha: brilhante como sempre. Mas, também como sempre, prega para a congregação. O bom povo do partido do estado, está remediado e não se preocupa com massacres como o de Pedrógão, preocupa-se sim que o vizinho do terceiro esquerda receba uma benesse indevida ou um chico esperto se aproprie indevidamente das verbas de Pedrógão.            Da Grreite Rizete: O “Narciso” gosta de enganar os néscios fazendo-os crer que é um homem do Povo. Como se um “Tio” de Cascais criado em “berço de ouro” por colaboradores do Estado Novo, que fazia férias no iate daquele que agora tem “Alzheimer” e que trata os filhos, não por Tu, mas por Você, alguma vez fosse do Povo. Mas o que eu quero mesmo ver é se esse pseudoconstitucionalista vai, pelo menos por uma vez, deixar de ser o “mordomo” do governo e cumprir a promessa de remeter esse aborto de projecto-lei designado por Lei de Protecção em Emergência de Saúde Pública, que é claramente inconstitucional, para o TC. Mas duvido que o faça pois já veio dizer que concorda com essa “Lei” abjecta. E, sejamos claros, quem se baba na presença de ditadores e se orgulha de ter Ricardo $algado no seu círculo de amizades, também facilmente $€ tornará amigo dos bilionários globalistas do gangue de Davos, servindo a sua agenda sinistra.           josé maria: Com licença: A Helena Matos é avessa a exprimir qualquer acto de sensibilidade, nota-se bem pelo conjunto insensível dos seus textos. E, portanto, não é capaz de empatizar com a dor e a desgraça humanas. Se MRS o faz, ela vai projectar no presidente as suas próprias insuficiências humanas e incapacidades. Por isso é natural que aqueles e aquelas que também não são capazes de se comoverem com a desdita alheia, acham que quem possui essa capacidade humana, como MRS efectivamente tem, o faz com propósitos populistas, interesseiros e dissimulados. Em psicologia, esse processo tem, o nome de projecção. Os hipócritas, os falsos, os insensíveis, os maldosos e os dissimulados só projectam nos actos de terceiros o seu próprio carácter.           Manuel Fernandes > josé maria: O maria não é socialista. É um mercenário sem coluna vertebral, pago à linha e que agradece ao Kosta, de joelhos e babado, não o deixar morrer de fome, embora para isso acontecer, ele rasteje e se prostitua (metaforicamente falando, claro...). Parafraseando o Almada: Pum para o Maria!            Margarida Frazão: A cobardia e a egopatia de Rebelo Sousa estão há muito estabelecidas e quando isso coincidiu com uma personalidade tenebrosa e eivada de sociopatia como Costa, que está na política e a entende como esquemas para ocupar e estar no poder, foi mesmo a última tragédia que faltava à condenação irreversível de Portugal à indignidade e à desonra como futuro único possível. Isto certo, em relação a Sousa, tem-se vindo a assistir a um crescendo galopante de bizarria, de falta de ponderação e de desequilíbrio, que não é só a já consumada destruição da instituição Presidência que está em causa. Outrossim, suscita-me as mais graves dúvidas e preocupações ao nível de saúde mental no seu sentido mais estrito. Em todo caso, caso as mesmas ainda não existam ou não estejam a ser exercidas, torna-se manifesta a necessidade de criar leis e mecanismos que, com total protecção e salvaguarda da dignidade humana e da intimidade da vida privada, permitam aferir da sanidade mental de políticos candidatos à tomada de posse como PR, PM, deputados, etc, e, uma vez eleitos, à sua remoção por incapacidade superveniente.         André Mesquita:-Tanta conversa por causa de um simples gesto do presidente. Foi apenas Marcelo a ser Marcelo, uma pessoa afectuosa, não entendo os comentários de quem critica.          4 anos depois ....: Imagino o quanto deve ser fácil escrever sobre este tipo de temas que dão matéria de sobra, da mesma forma que imagino o quão frustrante deve ser escrever sobre estes mesmos temas. Pessoalmente é tão óbvia a decadência a que chegamos, que se amanhã aparecer mais um Salazar da vida, provavelmente lhe darei meu voto (e dizer que há 30 anos atrás tal ideia nem me passava pela cabeça, ao contrário).                 Clavedesol: "De Pedrogão em 2017 às urgências em 2022: Marcelo beija, Costa diz que na semana seguinte estará tudo resolvido. O beijo de Marcelo é o símbolo do regime a que estamos entregues: o patético-socialismo" Verdade mais verdadeira não há! Marcelo é portador de um sentimento de culpa social incompreensível...p´ra ele! Ainda não percebeu que "todos" nos orgulhamos de ser filho de quem é e ser o que é!!!!! Não percebeu ainda que não vale a pena tentar converter a esquerdalhada!!! Costa, O Insolente, faz por cumprir as promessas e teima em manter o PCP à tona. Tal como Ricardo Araújo Pereira, está-lhes no sangue!! Tenho pena que a Drª. Helena Matos não se imponha nos debates televisivos da mesma forma que o faz nos seus escritos. Não pode haver contemplações pela dita esquerda ! Nesta altura todos os xuxas que vão aos debates e à falta de argumentos, tentam pelo ruido e sobreposição anular os argumentos dos interlocutores, tal como aconteceu (CNN) com a deputada do PS, cuja deplorável falta de argumentação era evidente quando teimava em atribuir aos feriados e pontes os contratempos no SNS. Uma Vergonha! Nunca tive nem tenho a mania da perseguição, mas alguém já imaginou uma situação destas no tempo de Passos por ex.? Como estariam a reagir as esquerdas e esquerdalhas ????? Teríamos as ruas invadidas por Mortáguas, Catarinas, Jerónimos, Louçãs, Tavares, Ascensos, Simões, Temidas/os, Isabeis e por aí fora!! Ou não???? Saravá Helena Matos!!!!!!

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