“É a guerra aquele monstro”

Do face book de LUIS SOARES DE OLIVEIRA, Ontem (5/6)às 15:06:

Uma análise muito bem elaborada – não haverá mais na manga, ainda? – do Sr. Embaixador. Só nos resta reler – uma vez mais, para conforto espiritual - o descritivo do P. António Vieira, assustador mas abstracto, puro modo de recreação. Mas é de agradecer a tese, não bela mas aterradoramente realista e complexa, da pesquisa de LSO. 6/6/22

História do futuro

(o que me preocupa)

EFEITOS PREVISÍVEIS DO PROLONGAMENTO DA GUERRA NA UCRÂNIA

1. Multiplicação da capacidade destruidora dos engenhos usados pelos beligerantes em função inversa dos resultados obtidos no terreno. Perigo nuclear.

2. Colapso da ordem internacional estabelecida pelo Ocidente e formação do bloco Russia-China. Efeitos deletérios no relacionamento euro-africano. Probabilidade de novo «scramble for Africa». Rivalidades nas rotas polares.

3. O conflito violento torna-se quotidiano. Alargamento para Norte da área de conflito potencial. Suécia e Finlândia na NATO

4. Corrida às armas generalizada.

5. Retorno aos populismos, nacionalismos, e outros fanatismos religiosos e ideológicos.

6. Inflação, escassez de alimentos, fome.

 

DESENVOLVIMENTO

1’’. MULTIPLICAÇÃO da capacidade destruidora dos beligerantes em função inversa dos resultados obtidos no terreno. PERIGO NUCLEAR

Do que se sabe todas as ordens estabelecidas que resultaram de batalhas tiveram como propósito comum o castigo dos vencidos. Se Putin perder na guerra tem os seus dias contados como presidente da Rússia.

Como reagirá ele em tal caso ?

• Resignado. - Auto exílio ou morte?

• Raiva - Morra Sansão e todos que aqui estão?

O que se sabe de Putin (graças a Milhazes) é que cultiva o mito de Alexandre Nevsky o cabo de guerra eslavo que derrotou de uma só vez 4 poderosos inimigos da medieval Rus ( o Nuno Alvares de lá). Sabemos também que quem acredita em mitos não se preocupa com factos.

2. colapso da ordem estabelecida

Por ordem internacional entende-se o conjunto de regras e práticas voluntariamente aceites pelos Estados mais poderosos que permitem estabelecer em vastas áreas do mundo um equilíbrio estável entre poder e legitimidade.

Em termos actuais, poderíamos ser tentados a admitir que as instituições sociais têm por finalidade precípua compatibilizar a racionalidade individual com a colectiva. Nesta matéria, devemos contudo manter reservas. A ideia de que a racionalidade inspira o comportamento do homem moderno é duvidosa. Os antropólogos que estudaram o homem primitivo admitem que a diferença entre o selvagem e o civilizado nada mais seria do que mera camada de verniz que estala quando submetido a pressão.

NOTAS

(1). Se os novos valores da ordem resultam de imposições pela força provavelmente tal ordem não durará.

(2) A ordem da Roma imperial durou mais de 4 séculos porque os romanos souberam atrair individualmente os vencidos influentes com a promessa de cidadania romana. ( protecção do Estado)

 

3. BLOCO SINO-RUSSO.

Já está em processo de realização. China abandonaria a sua atitude pacifica e passaria a exigir obediência. Ocidente expulso da Ásia?

A ordem ocidental do pós IIGM favoreceu o comércio e o desenvolvimento económico. O que seria favorecido pela ordem sino-russa? Não esquecer que a China tem que alimentar diariamente 1,3 milhares de milhões de estômagos. A Rússia por seu turno nunca conheceu a autoridade; conhece apenas a força e a tirania.

6. Inflação, escassez e fome

Pontos de vista do Spiegel

Europe is waiting for inflation and price shock due to the new package of anti-Russian sanctions.

Europeans will soon begin to suffer from an even higher rise in resource prices.

Purchasing power will decrease, which will force the EU to reduce taxes and prices, and this will provoke an increase in public debts.

Russia will continue to sell oil to Asia and even to Europe, because sanctions abound with circumvention opportunities.

"It is still unclear who the sanctions will hit harder," says Guntram Wolf, head of the Bruegel research center. However, the expert is confident that the restrictions are unlikely to achieve their goals, and for the EU this is "the worst possible scenario."

 

INTERROGAÇÕES

O actual regime ucraniano foi decidido em 2014 pelos EUA, Alemanha, Polónia, e França, sem consulta às populações. Não seria mais do que tempo de consultar o povo? O que resultaria de plebiscitos aparcelados supervisionados pelas Nações Unidas?

Note-se que foram os signatários deste acordo - e não a NATO - que assumiram a responsabilidade de defender a independência da Ucrânia?

O tráfego entre a Rússia e portos do Mar Negro poderia ser assegurado por um túnel extra territorial (tipo Mancha), dispensando assim cedências territoriais?

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Sim, voltemos a Vieira, como conclusão:

[Lisboa, 1608-1697]
SERMÃO HISTÓRICO E PANEGÍRICO
NOS ANOS DA RAINHA D. MARIA FRANCISCA DE SABÓIA
[EXCERTO]

[…] É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre que leva os campos, as casas, as vilas, as cidades, os castelos, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que ou não se padeça ou não se tema, nem bem que seja próprio e seguro: – o pai não tem seguro o filho; o rico não tem segura a fazenda; o pobre não tem seguro o seu suor; o nobre não tem segura a sua honra; o eclesiástico não tem segura a imunidade; o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus, nos templos e nos sacrários, não está seguro. […]