Sim, o Dr. Salles vai viajando pelo
mundo e reconstruindo a vida – por esse mundo, pelo nosso, por todo o mundo
passado, presente, com prevenções sobre o futuro, de um cepticismo malicioso ou
severo, mas dando sempre que pensar. Afinal, foi o que fez tantas vezes, que
resultou nos seus livros de amor pelo mundo, de amor pela sua pátria. Hoje,
apesar das dificuldades de saúde, e devem ser tamanhas, não fica parado no
tempo. E continua a viajar, que o pode fazer – economicamente falando – e também
em termos de companheirismo familiar, coisa agradável de se imaginar. E os
leitores encantam-se. Generosidade, sim. E saber. E humor, que se traduz nas
tiradas de uma ironia de sensibilidade sã. Creio que deviam ser enviadas ao
Putin, que poderia reflectir por elas sobre a generosidade desses povos
europeus contra quem ambiciosamente se quer insurgir hoje e que tantas vezes
foram auxiliares nas campanhas da sua pátria. Bem haja ao Dr. Salles, bem haja
à Internet, que o e nos apoia.
HENRIQUE SALLES DA FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 26.06.22
Recordatória
– estas crónicas de viagem não são um «diário de bordo» pelo que uma etapa pode
dar origem a várias crónicas e uma crónica englobar várias etapas.
*
* *
Iniciado
o regresso e passando o Cabo Norte a bombordo, lembrei-me de que aquelas águas,
se falassem, teriam muito que contar. E no Museu do Cabo lá está a
história do comboio de navios aliados que durante a segunda guerra mundial
furou a guarda nazi daquela rota para ir a Murmansk levar o apoio de que a URSS
então precisava para atacar a Alemanha pelo Leste. Lembrei-me do Polígono Acústico dos
Açores que, durante a guerra fria
controlava o movimento dos submarinos soviéticos na sua passagem de Murmansk
para o Atlântico e pensei no stress a que Putin está a sujeitar o mundo para,
no final, ficar com uma passagem para o Mar Egeu entre a cozinha da Senhora Yasmina
que mora ao lado do estádio do Galatasarai e a retrete do Senhor Yussuf que
mora naquela zona a que os gregos chamavam Calzedónia. Tanto sarilho por
causa dum caneiro sujo…! E lembrei-me de Vladivostok, de Kalininegrad e dos
mais incómodos que nos podem esperar só porque as costas marítimas russas são
inoperacionais.
Passado
o Cabo e entrados no Mar do Norte, entrámos em alguns fjords imponentes mas
cujas cidades pouco tinham para mostrar além de um evidente nível de
conforto das populações. Umas com mais bacalhau, outras com menos; umas com
mais indústria de apoio à pesca e à navegação do que outras. Mas todas
a trabalhar e ninguém encostado à caridade.
Desta
correnteza de visitas só aqui trago Bergen, também ela de génese
hanseática e, daí, o seu nome alemão que significa montes. E,
realmente, à sua volta e ela própria, tudo são montes que mergulham a pique nas
águas do fjord.
Esta foi capital da Noruega até que
alguém a fez mudar para Oslo. De notar
que, aquando do referendo ao Regime, Bergen votou pela República e, daí, (a
confirmar, p. f.), a Monarquia vencedora se tenha sentido mais confortável dali
para fora.
Ser
cidade com Universidade é perfeitamente banal naquele país mas fizeram-nos
notar que os estudantes (do superior, presumo) correspondem a 10 % da sua
população (residente, transumante? Não perguntei). Seria interessante fazer uma
comparação com o que se passa entre nós. Aqui fica a sugestão/pedido a quem
tenha interesse por estes temas do desenvolvimento e olhos mais operacionais
que os meus.
À
saída de Bergen, antes mesmo de chegarmos ao mar aberto, as nossas 95 mil
toneladas baloiçaram bem e nós, à saída do restaurante, parecíamos etilizados. Mesmo quem só tinha bebido água. Afinal. O balancé
foi benigno para o sono e na manhã seguinte o mar voltou a estar chão.
Avistámos
uma ou outra plataforma petrolífera e, já em águas dinamarquesas, alguns
parques (flutuantes???) de geradoras eólicas (centenas???).
Seguiu-se
navegação serena Elba acima, desembarque e tomada do voo de Hamburgo até
Lisboa.
Mas
amanhã ainda haverá uma crónica-surpresa.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
Tags: viagens
COMENTÁRIOS:
Adriano Miranda Lima 26.06.2022 22:54: Percebe-se,
e sente-se, que nas paragens nórdicas visitadas está radicado o progresso, de
mãos dadas com a democracia e a vida calma. Penso que idealizaríamos implantar
entre nós os seus modelos ou sistemas económicos e sociais, mas como imprimir a
um português, por exemplo, a disciplina fiscal do norueguês? E quem diz isto
dirá de um leque de hábitos e comportamentos cívicos enraizados nos espíritos
de alto a baixo. É sempre um enorme gosto partilhar estes relatos de viagem.
HENRIQUE SALLES DA
FONSECA
A BEM DA NAÇÃO, 26.06.22
Do
liceu, recordo que o mapa pendurado na aula de geografia mostrava que a Noruega
ia por ali a cima e que, lá no alto onde acaba a terra e começa o Oceano
Ártico, virava à direita até chocar com a Rússia. Também me lembro de a
professora dizer que nos tempos das grandes convulsões geológicas, aquele
maciço montanhoso se ter afundado e os vales terem sido invadidos pelo mar
formando os actuais fjords. Se não é verdade, está bem imaginado.
Assim,
saindo do fjord de Alesund (Olesund), rumámos a norte durante dois dias e duas
noites, cruzámos algures o Círculo Polar Árctico (que alguém escondeu
pois não o vimos),virámos à direita como mandava o mapa da professora, vimos o Cabo
Norte à nossa direita e aportámos a Honningsvag (Honningsvog por causa do tal
º sobre o a que o meu teclado não tem) depois de termos avistado o repuxo de
uma ou duas baleias e alguns barcos de pesca miúda. Outro navio de cruzeiros
(um «Costa») fundeara ao largo e o cais foi para nós.
Naquele
Verão setentrional e bem para lá dos famosos hiperbóreos (como os gregos
chamavam aos frios povos germânicos), a temperatura máxima do ar estava nos 7º
C, a mínima nos 6º e a brisa encarregava-se de pôr tudo a 1º C. E, mesmo assim,
há venezuelanos que preferem aquilo a terem que suportar o ditador Maduro. Sim,
um motorista de autocarro e uma guia eram venezuelanos. Por aqui se imagina o
que seja o actual inferno na Venezuela. Mas isto foi um àparte e retomemos o
fio à meada ultrahiperbórea.
Estávamos
a alguns minutos e segundos para além dos 71º de latitude norte e isso fez-me
pensar na responsabilidade de toda a Humanidade estar dali para baixo.
Desembarcámos
pelas dez da noite para irmos ao Cabo Norte assistir ao espectáculo do «Sol da
meia noite». Percurso duma trintena de quilómetros sempre a subir… renas por
toda a parte, árvores por parte nenhuma. Contudo, a maior parte das casas são
de madeira. A meio da subida… um parque de campismo cheio de autocaravanas.
Junto ao parque de estacionamento do Museu do Cabo, outro parque de campismo
ainda maior que o anterior. Eu, estupefacto; eles, caravanistas, talvez
congelados.
É
do miradoiro do Museu que, sobranceiro ao promontório do Cabo, supostamente se
pode ver a imensidão do Oceano Ártico e o espectáculo do «Sol da meia noite».
Desde que aquele banco de nevoeiro o permitisse. Não permitiu e voltámos para
dentro do Museu onde as lojas de bugigangas eram assediadas por turistas
descoroçoados pela míngua do espectáculo natural. Nós, os avisados, fomos ao
cinema ver o que o nevoeiro nos negara.
Regressámos
ao navio pelas duas da manhã e ao longo do percurso de volta, os pássaros
voavam, as renas pastavam e só os caravanistas dormiam à espera do Solstício de
Verão que seria daí a dois dias. Fiquei sem saber se se estava a preparar
alguma cerimónia druídica que justificasse tanto caravanista. Não fiz perguntas
pois o pessoal venezuelano de serviço naquele autocarro não devia saber o que é
um druida.
Zarpámos
pelas três da manhã e demos início à viagem de regresso que nos traria do topo
do mundo até às cercanias da Baixa da Banheira.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
Tags: viagens
COMENTÁRIOS:
Henrique Salles da Fonseca 26.06.2022 10:35: Great morning reading,,,, thank you so so much and delighted to know you had a great trip,,, Ellý Osullivan
Anónimo 26.06.2022 11:29: BOM
DIA. MAIS UMA VEZ, FUI TRANSPORTADA, PARA A NOSSA VIAGEM EM COMUM. É BOM
RECORDAR (PRINCIPALMENTE, QUANDO O NARRADOR, TEM O DOM, QUAL MÁQUINA DO TEMPO,
DE NOS PÔR NOVAMENTE A VIAJAR, PORQUE, RECORDAR É VIVER.... 🙏🙏🙏 FICAMOS A AGUARDAR, COMO SEMPRE, COM AS MAIORES
ESPECTACTIVAS.
Henrique
Salles da Fonseca
26.06.2022 12:04: Com os teus
pensamentos dedicados aos druidas lá me apareceu nos escaninhos da memória a
Norma a trinar a "Casta diva" 😌 Maria João Botelho
Anónimo 26.06.2022 14:00:
Adoro estas crónicas de viagem!
Adriano Miranda Lima 26.06.2022 14:10:
As viagens turísticas do Dr. Salles da Fonseca têm essa virtude de proporcionar
ao leitor peças literárias primorosamente escritas. Quem não tiver esta
oportunidade de viajar até ao "topo do mundo", pelo menos fica a
saber o que lá vai encontrar e o que poderá "não" encontrar. Mas
creio que mesmo sem conseguir ver o espectáculo do sol à meia-noite, vale a
pena, podendo, ir até àquela geografia longínqua.
NOTAS DA INTERNET:
Bergen
Origem: Wikipédia, a
enciclopédia livre.
Coordenadas: 60°
23' 22" N 5° 19' 48" E
Bergen
(ouça a
pronúncia) ou Berga (historicamenteBjørgvin) é a segunda maior cidade da
Noruega,
com uma população de aproximadamente 250 mil habitantes. A cidade está
cercada por sete montanhas, o que lhe confere uma bela paisagem, mas
também altos índices de precipitação, já que as montanhas servem como barreira
natural para as nuvens do Mar do
Norte.
Bergen é um centro de cultura, comércio e estudos universitários na
costa oeste da Noruega. O
compositor Edvard Grieg nasceu
e viveu na cidade e lá compôs várias de suas mundialmente famosas peças.
É
uma cidade muito popular quer para turistas noruegueses, quer para turistas
estrangeiros, sendo um do principais pontos de paragens dos cruzeiros dos mares
do norte da Europa. É o ponto de partida da linha marítima Hurtigruten,
cujos navios circundam a costa norueguesa entre Bergen e Kirkenes. E é
também a estação final da linha ferroviária de Bergen (Bergensbanen), que a liga a Oslo, através de
paisagens de grande beleza natural. É servida pelo Aeroporto de Bergen, Flesland.
A Universidade de Bergen faz parte do Grupo
Coimbra, a contar hoje com cerca de 17 000 estudantes.
A
montanha Ulriken é a mais alta
das sete montanhas que rodeiam a cidade, com 643 metros de altitude.
Bergen
foi fundada em 1070,
por Olavo
Kyrre, tendo sido a capital da Noruega até 1299, quando Oslo obteve o posto. Ainda assim, continuou a ser a maior
cidade da Noruega até à década de 1830. Entre 1350 e 1750
pertenceu à Liga Hanseática. Esteve sob domínio da Alemanha
Nazista entre abril de 1940 até maio de 1945.
A
parte antiga da cidade – chamada Bryggen- está ligada à baía, e é circundada por casas a datar
do tempo da Liga Hanseática. Em 1979, passou a
integrar a lista do património da humanidade da Unesco.
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