quinta-feira, 23 de junho de 2022

Um tema de apetite


Em que a anuência na crítica é geral. De resto, ouviram-se hoje, no Parlamento, uma Marta temido de feições desfeitas, mas o seu cavaleiro A. Costa defendendo-a, responsabilizando-se pelo fracasso dos SNS. À suivre.

A geringonça liquidou o SNS

A manutenção de Marta Temido é útil para o PS por funcionar como uma espécie de escudo humano político. Mais cedo ou mais tarde, é provável que seja sacrificada. Mas os problemas no SNS permanecerão.

ANDRÉ AZEVEDO ALVES, Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa

OBSERVADOR, 22 jun 2022, 00:1332

Ninguém fez tanto como a geringonça para degradar o SNS e estimular o crescimento do sector privado na saúde em Portugal. Apesar de contar com a dedicação de muitos excelentes profissionais, o SNS sofre desde a sua concepção de problemas estruturais próprios de um sistema estatizado, ultra-burocrático, centralizado e sem mecanismos internos de concorrência. Mas foi a governação socialista no período da geringonça que lançou o SNS no caos e lamentável estado de degradação em que se encontra agora. Por extremismo e obsessão ideológica, as PPP na saúde foram liquidadas uma por uma – incluindo casos como o do Hospital de Braga que, com o fim da PPP, passou de ter excelentes indicadores para uma situação de notória desorganização e degradação dos serviços. E tudo isto enquanto se gastam mais recursos: não é caso único, mas vale a pena salientar também que apenas três anos depois do fim da PPP, o Hospital de Braga se encontra em situação de falência técnica.

As responsabilidades políticas da geringonça no descalabro do SNS não se esgotam no entanto na cegueira ideológica que ditou o fim das PPP em detrimento da qualidade dos cuidados de saúde prestados aos portugueses. Também a reversão da aplicação em condições de igualdade com o sector privado das 40 horas de trabalho semanal agravou os problemas de funcionamento do SNS e ditou a subida de custos do sistema.

Essa foi aliás uma entre várias medidas populistas que o governo socialista, sustentado no Parlamento por bloquistas e comunistas, tomou, revertendo medidas de racionalização e promoção de eficiência no uso de recursos no SNS que, ainda que de forma tímida e incompleta, tinham sido iniciadas no governo liderado por Pedro Passos Coelho. O caminho de racionalização e reorganização do SNS, que deu nesses anos os primeiros passos em condições muito difíceis, foi rapidamente abandonado por razões ideológicas e para a satisfação de vários grupos de interesses ligados ao sector.

Esgotada a desculpa pandémica (e agravados muitos dos problemas no acesso à saúde pelos erros cometidos também nesse período), é hoje infelizmente claro o estado de colapso a que a combinação de obsessão ideológica com captura por grupos de interesses conduziu o SNS. Apesar de o sistema consumir cada vez mais recursos, os indicadores são cada vez piores: o caos e encerramentos nas urgências são recorrentes, muitos serviços de obstetrícia são incapazes de assegurar o seu próprio funcionamento regular, o número de portugueses sem médico de família aumentou, as listas de espera agravam-se, a inadequação do acompanhamento de doentes oncológicos é preocupante (tal como recentemente documentado pelo Tribunal de Contas), a mortalidade materna dispara para os valores mais altos desde há quase quatro décadas e até a mortalidade global aumenta significativamente sem explicação evidente para o efeito.

Em resumo, apesar de consumir cada vez mais recursos, temos um SNS cada vez mais mal gerido e mais degradado. Daí que não surpreenda que cada vez mais portugueses (entre os que têm essa possibilidade), recorram a seguros de saúde privados, ao mesmo tempo que os impostos que pagam não lhes garantem o desejado e atempado acesso a cuidados de saúde. A este respeito, é muito oportuno e acertado o diagnóstico realizado por Rui Rocha:

“Aqui chegados, e como sucede em qualquer doença, é fundamental não ficar pela identificação dos sintomas. Importa conhecer as causas para, depois, aplicar as terapêuticas. Ora, o mal que atormenta o SNS é aquilo a que poderíamos chamar de socialismo selvagem. Foi o socialismo selvagem que impôs o dogma de que os serviços de saúde públicos têm obrigatoriamente de ser prestados por entidades públicas. Foi o socialismo selvagem protagonizado por PCP, Bloco de Esquerda e PS que levou à extinção das PPP da saúde, soluções que funcionavam em termos de qualidade e eficiência, como foi reconhecido pelo Tribunal de Contas. É o socialismo selvagem que afasta qualquer lógica de concorrência entre diferentes unidades de saúde. É o socialismo selvagem que impede que os princípios de gestão e os indicadores de desempenho das unidades de saúde sejam definidos e monitorizados com rigor (como acontecia, aliás, nas PPP). Foi o socialismo selvagem que impôs a natureza absolutamente excecional do recurso a PPP na nova Lei de Bases da Saúde.”

Perante esta situação não basta pedir a demissão da Ministra da Saúde Marta Temido. Como bem salienta Joaquim Miranda Sarmento, importa não esquecer que é o primeiro-ministro, enquanto líder do governo, o responsável pelo cada vez mais notório caos dos serviços públicos e em particular pela situação desastrosa do SNS. A manutenção de Marta Temido em funções no actual contexto é aliás útil para António Costa e para o PS por funcionar como uma espécie de escudo humano político que absorve as críticas pelo estado do SNS. Mais cedo ou mais tarde, é provável que Temido seja sacrificada. Quando esgotar a sua utilidade política ou quando a própria (compreensivelmente) decidir sair devido ao desgaste acumulado. Mas os problemas no SNS infelizmente permanecerão com graves consequências para a saúde dos portugueses. E o primeiro passo para os tratar é reconhecer que esses graves problemas resultam das políticas erradas seguidas pela geringonça e são por isso, em última instância, responsabilidade da governação socialista.

SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE  PAÍS  PARCERIAS PÚBLICO PRIVADAS  POLÍTICA  ANTÓNIO COSTA

COMENTÁRIOS

Luís Abrantes: A geringonça liquidou o SNS porque também liquidou as PPP’s… O resto dos serviços públicos também estão a ser desgraçadamente liquidados…!!!              Pontifex Maximus: Após seis anos de governo proto e neo comunista em Portugal e um acréscimo de quase 40.000 (quarenta mil) funcionários no SNS e um ministro das finanças durante cinco desses seis anos ter vindo dizer que o problema não é a falta de pessoal médico etc. mas de organização, pergunto: o que leva a maioria dos cidadãos a votar nesta gente?          Tiago T > Pontifex Maximus: Mentalidade tosca e poucochinha. Os portugueses são pequenos. Uma farsa de político acena-lhes com 10 euros na pensão e uns apoios sociais da treta e eles, como iletrados financeiros que são, não fazem contas a mais nada e correm a votar em massa. A direita é que é má.            Filipe Costa: EU ainda gostava de entender porque é que estes problemas não foram evidenciados antes das eleições. Merecia uma investigação jornalística.             antónio carvalho: Os coveiros do SNS - PS-PC-BE-PM-Ministra Saúde- ficam gravados na lápide da sepultura -bem funda- do SNS como autores efectivos da destruição do SNS. A História jamais os esquecerá como os autores de milhares de mortes ocorridas pelo barramento do acesso ao SNS por parte de utentes sem posses para recorrer ao serviço privado..A História jamais os esquecerá!           Carlos Chaves: Caríssimo André Azevedo Alves, concordo em absoluto consigo, o verdadeiro culpado pela situação do SNS (e não só) é o Primeiro Ministro António Costa. Tal como eu, muitos Portugueses se interrogam como é possível estarmos todos a assistir à derrocada do SNS (e não só) e não haver um levantamento social generalizado apesar do silêncio criminoso da maioria da comunicação social, silêncio da oposição (salvo raríssimas excepções) e do papel patético de um Presidente da República com síndrome da bruxa do espelho da Branca de Neve (não pela beleza, mas pelo desejo de ser o mais amado). Lembram-se do movimento de defesa da caduca Maternidade Alfredo da Costa no tempo do governo do Passos Coelho? Os jornalistas pareciam urubus na carniça….. Onde é que eles estão agora, quando temos n emergências de obstetrícia fechadas? Não têm vergonha estes vermes jornalísticos e políticos da oposição? Não percebem o mal que estão a fazer à sociedade? Estamos todos a assistir em tempo real para onde estamos a ir… mas ainda há quem defenda esta choldra.       André Silva: Os Portugueses, as Portuguesas e @s Portugues@s só têm aquilo que a maioria deles, delas e del@s pediu e por isso que merecem. Agora? Agora inchem!            MANUEL OLIVEIRA: E o problema maior é que os portugueses com a sua habitual ignorância ao nível político e económico vão deixando as coisas andar para o abismo. Eu temo muito pelo futuro das m filhas e dos 2 netos que me dão ânimo no dia a dia. Vamos esperar que a nova oposição seja realmente nova e diferente.            Gabriel Pensador > MANUEL OLIVEIRA: Mas o objectivo do socialismo é mesmo esse. Empobrecer a população para a subsidio-dependencia e assim controlar essa mesma população empobrecida, enquanto a elite vive com todas as mordomias. Temos exemplos disso pelo mundo fora. Esperemos que as coisas mudem para as gerações futuras.             Fernando CE: Quem liquidou o SNS foi o Costa que, para chegar ao poder e a PM , vendeu a alma ao diabo !            Carminda Damiao: A culpa da degradação do SNS é o PS, BE e PCP. Na educação, o caos também já se torna evidente.          João Ramos: Costa e a sua geringonça foi talvez a pior coisa que aconteceu em Portugal desde a tal revolução dos cravos e vai e já está a sair-nos muito caro…            João Afonso: A esquerda liquidou o SNS, liquidou a escola pública, liquidou a economia, liquidou a segurança interna e externa, liquidou as finanças públicas. Enfim, a esquerda (e não só o BE e o PCP), com especial responsabilidade de António Costa, liquidaram Portugal. Quem vê o nosso PM, com ar boçal de tasqueiro do estado novo de mão estendida a segurar o cheque que a srª Ursula Leyen lhe dá, como quem dá uma esmola a um indigente, é demais para qualquer português que se preze. Censurado sem razão: A geringonça liquidou Portugal. Embalou a populaça com a cantiga do grátis, dos aumentos extraordinários de pensões, de que vamos ser todos, um dia, funcionários públicos, nos 4 dias de trabalho semanais e que, em última instância, não precisaremos mais de trabalhar para ter o nível de vida dos países do norte da Europa. Acreditar nisto e dar maioria absoluta aos vendilhões da banha da cobra, diz bem quem é o culpado disto. Aposto que se fossem a eleições agora reforçariam a maioria absoluta.            El Congro: Credo... a fotografia deste sujeito parece saída do seu próprio obituário, lápide ou jazigo. Estes tipos parecem que já nascem falecidos por dentro e por fora. Muito apropriado nos tempos actuais.          Alberto Rei: O SNS, "tem um problema estrutural" bento guerra > Alberto Rei: No S, de Saúde              João Afonso > Alberto Rei: Tem, tem. É gerido por comissários políticos para quem a economia e a gestão são coisas tecnocráticas e economicistas. E também sabem que, seja qual for o custo, podem ir sacar o graveto aos bolsos do "contribuinte".           Gustavo Lopes: Acha mesmo que eles algum dia perceberão isso?     Manuel Rodrigues: Foi a geringonça que: Induziu o harakiri ao SNS estimulou a confiança na Saúde Privada. Provocou: fecho de serviços e urgências hospitalares custos incomportáveis de funcionamento produtividades mínimas situações de incúria e de negligência frequentes perda de confiança em 40% da população que compreensivelmente foram subscrever seguros de saúde Ser gratuito ( ? ) para o utilizador é uma coisa. Conquistar a confiança do utente é tarefa hercúlea e ciclópica.            Sérgio: Certíssimo.             Antonio Silva: SNS : a produtividade, de 2016 a 2021, baixou 100 pontos (a média de serviços por profissional passou de 400 para 300) apesar do aumento brutal do efectivo! Aqui há tempos um polícia confidenciava-me que com o reforço do efectivo iria ter mais folgas...            Antonio Silva: Em 6 anos (2016-2022) no SNS entraram mais 4.131 Médicos e, ainda mais 11.377 Enfermeiros e, ainda, mais 6.599 Assistentes Operacionais ou seja, em 6 anos o efectivo de pessoal do SNS foi reforçado com mais 22.107 profissionais. Em Março do ano corrente, o efectivo total de Médicos, Enfermeiros e Assistentes Operacionais atingiu o número de 103.027 profissionais. Comparando este número com o efectivo de 23.347 militares existente em 31 de Dezembro de 2021 no conjunto do Exército, Marinha e Força Aérea o actual SNS tem 4.4 vezes mais efectivo que as Forças Armadas!E não é que me dizem todos os dias que é preciso mais pessoal para o SNS?! Vivemos numa nave de loucos incompetentes.           bento guerra: Não temos capacidade intelectual e humana, para gerir bem o SNS. Aliás a própria Inglaterra ,"mãe" do Health System, também deixou degradar a coisa. Ouvi, ontem, na RTP1 o que foi o aumento escandaloso do número de funcionários à pala do Covid. Aquela gente vai resistir a mudanças e prefere ganhar mal e fazer biscates           J. Tavares: Quem matou o SNS foi a troika, e nós deixámos. O Costa e a geringonça, foram incapazes de o perceber e de recuperar a situação anterior. Mais, a única coisa que fizeram foi piorar a situação com as cativações do Centeno. Temos os políticos que merecemos!             Pedro Ferreira > J. Tavares: Que eu me lembre no tempo da Troika não havia urgências fechadas nem grávidas a morrer por falta de assistência médica.          Valquíria > J. Tavares: E eu a pensar que tinha sido Sócrates e sus muchachos que deixaram o país de joelhos perante a Europa. As coisas que aprendemos aqui           João Duarte > J. Tavares: A troika e o coelho até podem ter causado muito dano. Mas apos 6 anos de governação, em condições de ventos favoráveis à navegação, com uma governação completa de 4 anos sem stress, e então? A culpa foi da pandemia, já sei!                         LJ ®: Marta Temido, sem querer, poderá vir a ser a salvação do SNS. Um SNS maioritariamente composto por entidades de gestão privada, com objectivos e custos bem balizados, e em que cada utente terá liberdade de escolha para se dirigir onde quiser para receber tratamento. A seguir será a educação. Denomina-se isto de “retorno ao equilíbrio “. À destruição acelerada corresponderá uma reconstrução também acelerada. Só que sem dinheiro.

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