sábado, 4 de junho de 2022

O coração tem razões


Teresa de Sousa é uma pessoa bem formada que sempre gostei de ler, e julgo que li o tal artigo, de que trata o Sr. Embaixador, embora distraidamente, por a minha cultura política ser de bárbara qualidade e prestação, mais votada ao romanesco da criação literária, embora também essa só por grande apego, que a preguiça bastas vezes descarta. O Sr. Embaixador Luís Soares de Oliveira, que sabe de política, como Embaixador que foi, dá-nos uma lição, com a sua ponta de ironia contra a tese de TS sobre Kissinger que, certamente vai contra os patriotismos dos Ucranianos, ao impor-lhes a cedência de alguns territórios, para bem deles e do resto do mundo, ansioso por que “o Céu não lhe caia em cima”, tal como, se bem me lembro, receava o chefe dos Gauleses, Abraracourcix, e que se torna um perigo cada vez mais temível. 

BATER NO VELHINHO

LUIS SOARES DE OLIVEIRA

FACEBOOK, 31 de maio às 18:55

A turma do discurso dito «correcto» decidiu dar cabo do velho Professor - agora com 99 anos - Henry Kissinger, acusando-o de traidor e isto por mor da proposta de caminho para a paz na Europa que este apresentou em Davos (rendez-vous dos ricos) em 18 de Maio último. Teve ele a ousadia de recomendar a cedência de território Ucraniano para matar a fome ao terrível Putin da Moscóvia e recomendar para a Ucrânia o destino de «estado tampão» neutro (esquece a NATO) ou seja, o regresso ao statu quo ante invasão russa (castigos «para depois») .

Encabeçou a ofensiva castigadora de Kissinger Teresa de Sousa- nem mais nem menos. A senhora que sempre tratei por Teresa Sábia. Hoje, no Público, Teresa foi secundada por um tal Loff (consoante final dobrada) senhor de discurso enviesado difícil de entender. Queixam-se os «bem-falantes» do pragmatismo do velho Professor que ora está com eles, ora está contra eles.

Isto, acontece - e teria que acontecer - por que os «correctos» vêem - quando vêem - o facto isolado e o Professor vê também os efeitos mundiais do mesmo. O Prof. sabe que o conflito prolongado e vacilante provoca por toda a parte a corrida às armas, inspira populismos beligerantes, escassez má conselheira, inflação desesperante e precipita inexoravelmente o caos mundial. Os bem-falantes não sabem nada disto e entrincheiram-se na ética. Confirma-se: - a moral é o único refúgio da ignorância.

Teresa vai mais longe e tenta desacreditar a acção de Kissinger na política externa americana nos últimos 50 anos. Acusa-o de vários erros e até de alguns crimes. Vai ao ponto de dizer que, em 77, a nomeação de Carlucci como embaixador em Lisboa - o diplomata que nos livrou das garras de Cunhal e Brezhnev - foi produto do acaso, quando ela sabe - como eu sei - que tal nomeação foi produto de séria congeminação e nela teve importante papel um distinto diplomata português João Themido que Mário Soares deixou ficar em Washington, também não por acaso. Pois fique a saber D.ª Teresa Sábia - se é que não sabia já - que no mundo da diplomacia nada - ou quase nada -acontece por acaso.

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