sexta-feira, 24 de junho de 2022

Viajando


Com o Dr. Salles, que não se coíbe de cumprir a sua bela missão orientadora daqueles a quem outras tendências ou entraves não permitem uma tão generosa arte de expansão pelo mundo real, sem sobrecarga exaustiva de dados, mas com a leveza crítica e recatadamente orientadora que sempre lhe reconhecemos. Só podemos afincadamente esperar pelas páginas seguintes. Entretanto, na Internet vamos buscar a resposta aos seus desafios, complementando os seus textos com a revisão histórica de cunho brasileiro.

III -VIKINGS - 3

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 23.06.22

Os meus leitores sabem perfeitamente o que foi a Liga Hanseática pelo que não se justifica eu vir aqui «ensinar o “Pai Nosso” ao Vigário» mas, mesmo assim, permito-me sugerir uma visita à Wikipédia a quem queira refrescar a memória. E refiro a dita Liga porque Hamburgo foi uma das suas principais cidades e porque ao longo da nossa viagem visitaríamos outras cidades hanseáticas.

O nome oficial da cidade é «Frei Hansastadt Hamburg» que traduzo por «cidade hanseática livre de Hamburgo». E porquê livre? Porque sempre se valeu por si própria, nunca pertenceu a um Principado ou «coisa» do género e ainda hoje está entre dois Estados da Federação mas não se integra em nenhum deles. Tanto quanto consegui apurar, tem representação autónoma a nível federal.

O binómio cidade<>porto (fluvial) é, como manda o conceito, indissociável e se a cidade é importante por si própria, a actividade portuária dá serventia a uma das regiões económicas mais desenvolvidas a nível mundial.

E assim foi que nos levaram por ali fora… até ao MSC «Magnifica» que estava ali todo vaidoso a exibir a sua imponente magnificência.

São «só» 95 mil toneladas de navio e mais não digo pois a Internet diz tudo, Apenas confesso que, quando lhe vi a proa – que é por onde os barcos falam – fiquei «bouche bée».

Gostei da decoração interior e fizemos o «check in» ao som de um duo ao vivo de piano e violino que nos recebeu com o «Canon» de Pachelbel, com a «Avé Maria» de Schubert e com outras suavidades que não identifiquei.

Camarote no deck 11, a bombordo, deu para nos instalarmos nas cadeiras de palhinha da varanda e irmos vendo aqueles cem quilómetros da margem esquerda do Elba até à foz. Já fora da malha urbana e industrial, uma floresta ornamentada por mansões de quem é tributado pelos escalões mais altos.

E foi a pensar na lógica e na justiça da fiscalidade directa que, já noite, nos fizemos ao Mar do Norte que nos recebeu chão.

(continua)

Henrique Salles da Fonseca

Tags: viagens

COMENTÁRIOS:

Anónimo 23.06.2022 16:22: Que interessante! Obrigada!

Anónimo 23.06.2022 17:11: Gute raisen

NOTAS DA INTERNET:

HISTÓRIA

Liga Hanseática

A “Liga Hanseática” ou “Hansa Germânica” (em alemão, "Die Hanse") foi uma organização político-econômica criada em finais do século XII na Alemanha, representada pela aliança entre as cidades livres mercantis do norte europeu sobretudo, próximas ao Mar do Norte e Mar Báltico, ou seja, das rotas comerciais.

Resumo

Considerada uma das mais importantes Hansas do período do Renascimento (final da Idade Média e início da Idade Moderna), a Liga Hanseática surgiu em finais do século XII e durou até o começo da Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), no século XV.

A Liga Hanseática, criou e organizou um sistema de leis marítimas e comerciais as quais influenciaram diretamente o sistema econômico europeu da época, sendo propiciada pelo desenvolvimento do comércio e das cidades (Renascimento Urbano-Comercial), abertura e surgimento de novas rotas comerciais, bem como o declínio do sistema imperial na Alemanha.

Os membros da Liga Hanseática, formado principalmente por comerciantes, estavam pautados no sistema de monopólio comercial, da mesma forma que compartilhavam interesses em comum, além de todos os privilégios mercantis, desde direitos de entradas e saída de mercadorias e segurança.

Lubeck, na Alemanha, era a capital de fundação da Hansa, posto que estava localizada estrategicamente na rota comercial hanseática; embora Bremen, Colônia e Hamburgo foram cidades centrais mercantis que permaneceram unidas à Hansa durante muitos anos. Tão forte foi a Liga Hanseática que no século XIV estava composta por aproximadamente cem cidades, das quais a maioria era alemã.

No entanto, além das cidades alemãs, outros centros que fizeram parte da Liga hanseática foram: Londres (Reino Unido), Bordeaux e Nantes (França), Bergen (Noruega), Bruges (Bélgica), Cracóvia e Varsóvia (Polônia), Groningen (Países Baixos), Novgorod (Rússia), Praga (República Tcheca), Reval (Estônia), Riga (Letônia), Veneza (Itália).

A grosso modo, junto às Guildas Medievais e as Corporações de Oficio, as Hansas, associações de mercadores que tratavam dos assuntos relacionadas aos desenvolvimentos das profissões e do comércio, fortaleceram e organizaram as relações comerciais e econômicas europeias.

No século XIV, alguns países estavam insatisfeitos com os boicotes e monopólio comercial da Liga Hanseática, de forma que em 1370, o rei dinamarquês fechou o canal do Mar Báltico. Esse ato, não resultou na contenda entre as partes, visto que foi assinado um Tratado de Paz com a Dinamarca, evitando o confronto.

 

II- VIKINGS - 2

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 22.06.22

Ainda não tínhamos recolhido as malas no aeroporto de Hamburgo e já eu me lembrava de Lutero que disse que «a salvação se consegue pelo trabalho» (Deus não quer madraços no Céu), de Kant cujo «imperativo categórico» afirma que toda a gente tem a obrigação ética de contribuir para o bem-comum do seu grupo social, da sua Nação e lembrei-me também de Max Weber (o «pai» da Sociologia) que pegou naqueles ditames e, conjugando-os, escreveu um livro que tenho por fundamental para se perceber os alemães, «A ética protestante e o espírito do capitalismo». Os meus leitores sabem perfeitamente conjugar estas três referências, prescindem de explicações. Lembrei-me também dos resultados obtidos por políticas benignas quando aplicadas a uma parte dessa Nação quando comparados com os homólogos resultantes da aplicação de políticas malignas à outra parte.

E assim foi que, sem saber exactamente por onde nos levavam, almoçámos numa margem do rio Auster por ali canalizado entre prédios de afável compostura.

Depois do almoço fomos dar uma volta pela cidade (que não reconheci de quando lá fui em 1959 e em 1961) e visitámos a Igreja de S. Miguel.

Um espanto, caiu-me o queixo!

Relativamente modesta por fora mas magnífica por dentro com sete órgãos de tubos (cinco visíveis e dois em segundo plano); como igreja luterana, ali apenas se veneram Deus e Jesus Cristo pelo que nem Nossa Senhora é venerada – total ausência de iconografia. Mas se disto eu já esperava, o meu espanto teve a ver, obviamente, com o que eu não esperava: na cripta repousa «apenas» Georg Friedrich Telemann, Carl Emmanuel Bach e Johannes Brahms. Caramba, um ptotopanteão da música alemã!

Mas o que mais me espantou foi aquela igreja ter como orago o «nosso» Arcanjo S. Miguel, o Protector de Portugal.

Duvido que os frequentadores habituais daquela igreja conheçam a história de S. Miguel mas daqui lhes agradeço a simpática devoção.

Nos tempos megalíticos em que ao nosso território, Portugal, se chamava Ofiuza (a terra da serpente, símbolo da sabedoria), a cultura druídica instituiu a veneração a Endovélico cujo culto perdurou até aos tempos de Viriato. Com a chegada dos romanos, o deus Endovélico foi redenominado Zéfiro e com a cristianização, àquele espírito foi reconhecido o estatuto de Arcanjo sendo então denominado Miguel. Eis a história de S. Miguel Arcanjo a cuja protecção Portugal se guarda.

Mas esta crónica já vai longa e, assim, por aqui me fico. Amanhã há mais…

(continua)

Henrique Salles da Fonseca

Tags: viagens

COMENTÁRIOS:

Antonio Fonseca 22.06.2022 20:01:Mesmo em férias não deixa de nos brindar com as suas crónicas, Doutor Henrique Sales da Fonseca. Como sempre, em cada uma delas, tenho algo a aprender de novo. Muito obrigado e Boas Férias.

Henrique Salles da Fonseca 23.06.2022 08:51: Mais uma bela crónica...mas Portugal tem um Anjo ...sendo a liturgia própria do Anjo de Portugal celebrada em 10 de Junho. Maria João Botelho

I - VIKINGS - 1

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 21.06.22

Alguma vez seria a primeira em que me saberia pilotado por um fiel de Mafamede mas o Comandante Maomé lá nos levou até Hamburgo sem nos obrigar a quaisquer salamaleques no azimute de (da?) Meca.

Uma TAP «low cost style» com bancos hirtos e sem esse vício burguês do almoço ou jantar incluído no preço do bilhete. Redução à dimensão conveniente de um «elefante branco» que vivia pendurado nos sonhos imperiais e à ordem de Sindicatos que tudo chupavam mesmo para além do tutano. Temo que, não fora o Covid e a megalomania e o regabofe continuariam a imperar por aquela TAP adentro. Havia muito que não voava na TAP e notei grandes diferenças no sentido da razoabilidade necessária. Mas é claro que também eu preferia as antigas poltronas reclináveis aos actuais bancos de sumapau, as refeições servidas com talheres de Christofle em vez das actuais «sandes de coiratos»… Mas chegámos ao destino com a sensação de total segurança e isso, sim, era o que mais importava. Como em tudo o mais neste jardim à beira mar plantado, a ver vamos se conseguimos construir melhores dias. E isso dependerá sobretudo de nós, portugueses e só marginalmente dependerá de outros.

E assim foi que, por obra e arte de mãos orantes a Mafamede, aterrámos em terras de Lutero. Deixado o talionismo lá no «cockpit», regressámos à filosofia do perdão e iniciámos uma visita rápida a Hamburgo

(continua)

Henrique Salles da Fonseca

COMENTÁRIOS:

Rui Bravo Martins  22.06.2022 09:30: Bom dia mesmo cinzento! Esta "foto" literária da actual TAP é muito bem "apanhada" e, infelizmente, para todos os portugueses, aplica-se a tudo o que é serviços do estado, com honrosas, poucas, excepções. <<<Uma TAP «low cost style» com bancos hirtos e sem esse vício burguês do almoço ou jantar incluído no preço do bilhete. Redução à dimensão conveniente de um «elefante branco» que vivia pendurado nos sonhos imperiais e à ordem de Sindicatos que tudo chupavam mesmo para além do tutano.>>> Desejoso de ler " a foto" do relato do vosso retorno!!! Abraço Rui Bravo Martins

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