sábado, 25 de junho de 2022

Importância do lastro térreo


Para a construção de um cemitério norueguês. O que se aprende de um estranho mundo, onde um iletrado causa a queda de governo! Julgara eu que o mesmo se poderia passar por cá com as pretensões dos Tinos da nossa acessibilidade eleitoral, mas por cá o que conta é a fraternidade supostamente igualitária, e o desprezo pela nação implica que basta um qualquer cidadão “com capacidade eleitoral activa e que seja maior de 35 anos” para ter acesso à presidência da R. Comilões somos, como se vê nessa questão do lastro – terroso para lá, piscoso para cá. Mas terra da boa, a que mandávamos, certamente, sem calhaus, que o nosso propósito era o da deglutição pura, nada de ambições putinistas malignas. Se por cá, até damos valor à terra! A terra a quem a trabalha, dizemos nós agora. Mas já dantes o sentíamos, como se vê pelo lastro dos barcos a caminho dos Vikings das terras geladas. E por isso a mandávamos com fraternal carinho, em troca do bacalhau. Só o Dr. Salles para nos envergonhar assim, com as histórias das suas viagens mundanais!

VIKINGS - 4

HENRIQUE SALLES DA FONSECA

A BEM DA NAÇÃO, 24.06.22

Deixados os prolegómenos lá pela foz do Elba, eis-nos a navegar em total calmaria rumo a Norte… comigo sempre à espera de um daqueles vagalhões que alguém me dissera que aparecem vindos do nada e fazem trinta por uma linha. Mas Neptuno foi benigno e, depois de um dia e duas noites a navegar, aportámos à simpática Alesund (diga-se Olesund por causa do º sobre o A que o meu teclado não inclui) que se intitula a «capital do bacalhau».

Volta pela cidade e redondezas mas a guia, sabendo que alguns dos visitantes eram portugueses, mandou o motorista do autocarro parar junto à igreja local e começou por contar a história de que o Kaiser Guilherme II (da Alemanha, claro está) gostava muito de ir até ali gozar umas férias e que, após a cidade ter sido arrasada por um incêndio, ele contribuiu para a reconstrução mandando colocar no interior daquela igreja a sua bandeira com a águia bicéfala para memória futura da sua ajuda. Interessante, sim, mas pouco nos motivou qualquer sentimento especial. E foi então que a simpática guia nos sugeriu que rodássemos sobre os calcanhares e que reparássemos no pequeno cemitério que assim passava a estar à nossa frente. Muito bem ajardinado, não muito mais do que meia centena de sepulturas muito bem conservadas… E foi então que a guia nos contou solenemente que durante séculos, os barcos portugueses (e espanhois) vinham a Alesund pescar e comprar bacalhau e que o lastro na vinda era terra portuguesa (e espanhola) a qual era descarregada naquele local para que na viagem de regresso o lastro fosse o carregamento de bacalhau. Eis como em Alesund a terra sagrada do cemitério… é portuguesa (e espanhola). Nada consta sobre se naquele pequeno e bonito cemitério está sepultado algum português (ou espanhol) mas, esta sim, foi história que ouvi com a mesma solenidade de quem a contou.

Não é importante mas achei giro.

Nota final sobre este primeiro encontro «in loco» com os vikings: as mulheres não se nos apresentaram com aquelas tranças loiras das míticas personagens do Walhala nem os homens com capacetes de ferro ornamentados de armentío. Pelo contrário, apresentam-se com uma das mais elevadas taxas de escolaridade a nível mundial e consta que, quando nos anos 20 do século XX se encontrou um adulto analfabeto que vivia quase isolado num recanto longínquo de um destes fjords, o escândalo foi tal que o Governo caiu. Em Alesund, cidade que me pareceu relativamente pequena, há três escolas em que se ministra o secundário superior e a Universidade localiza-se a seguir ao túnel submerso que liga esta ilha ao continente.

Foi à chegada a Alesund que me lembrei de que a Noruega saudou a chegada de Portugal ao mundo da democracia oferecendo-nos um navio totalmente equipado para que pudéssemos estudar as nossas pescas: o «Noruega» que tão importante tem sido para sairmos da então reinante boçalidade. Mas os equipamentos electrónicos de apoio à pesca e à navegação continuam a ser fabricados na Noruega e não em Portugal. Porquê? Porque em Portugal os Governos não caem quando aparece um adulto analfabeto.

(continua)

Henrique Salles da Fonseca

Tags: viagens

COMENTÁRIOS:

Anónimo 24.06.2022 13:41: Gostei, como sempre, sobretudo do comentário final

Henrique Salles da Fonseca 24.06.2022 15:38: Boa tarde Obrigada por este seu "relembrar" da nossa viagem. Por momentos, somos atirados de volta, para aquelas terras longínquas. Aguardo com expectativa, o seguimento da nossa AVENTURA, por terras Viking.  Clotijd3 e Diamantino Cordeiro Um abraço para ambos 🌹

NOTAS DA INTERNET

Ålesund

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Ålesund é uma comuna da Noruega, com 98 km² de área e ca. 40 000 habitantes (censo dem2003).

Ålesund foi totalmente destruída por um incêndio, no início do século XX, mais precisamente num sábado, dia 23 de janeiro de 1904, mas depois foi reconstruída através do processo moderno de Art Nouveau (Arte Nova), um estilo arquitet«nico moderno de construção.

Actualmente, Ålesund é considerada a capital mundial do bacalhau, com várias indústrias de beneficiamento do bacalhau, sendo feito esse processo de forma totalmente manual, fazendo do bacalhau uma das iguarias mais nobres do mundo.

Cidade de Ålesund

A cidade de Ålesund (/ôlesund/) é a 11ª cidade da Noruega.

É o maior porto de pesca, o terceiro maior porto de contentores e o quarto maior porto de exportação do país. As indústrias de peixe empregam 33% da mão de obra e a construção e reparação naval 27%.

A pesca do bacalhau tem tradições em Ålesund.

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