domingo, 12 de junho de 2022

Problemáticas

 

Em torno de cobardias e sustos, e timidezes, enfim - ante os polifemos à porta da nossa caverna, nem sequer acudiu ao nosso novo Ulisses, o fazerem-se sair da caverna – ele e os seus companheiros - agarrados à barriga das ovelhas, cujo dorso era apalpado por Polifemo, fora da caverna, que Ulisses cegara. O nosso Ulisses prefere ficar dentro da caverna, a ter que arrostar o Polifemo cego daquele seu único olho, ainda assim bem aterrador. É o que nos diz a indignação trocista de HELENA MATOS, a respeito da ciclovia discutível e outros absurdos resultantes do orgulho fazedor de novas leis, da geringonça antiga. Uma nova geringonça – desta vez mais centrista. conquanto dispensável - é o que dá a entender a atitude timorata do representante Moedas, do PSD, de fabrico rioista, no exercício submisso do seu poder camarário, por puro engano eleitoral, está a ver-se.

Carlos Moedas, temos um problema

Carlos Moedas anunciou que vai dar dar um passo ao lado na questão da ciclovia da Almirante Reis. Moedas acaba de trair o seu eleitorado. Vai acabar ao pé coxinho.

OBSERVADOR, 12 jun 2022, 00:2178

 “Continuo a acreditar que a solução que apresentei é a correcta mas neste caso é melhor para todos dar um passo ao lado para garantir uma prudente e uma fundamental serenidade nas discussões importantes para a cidade. Vamos continuar a trabalhar para repensar uma intervenção na Avenida Almirante Reis para todos. –Carlos Moedas ao anunciar que retirava a sua proposta sobre a ciclovia da Almirante Reis em Lisboa para evitar “jogos partidários”.

Carlos Moedas foi eleito com a promessa de acabar com a ciclovia da Almirante Reis. Uma vez eleito e após ter enfrentado os primeiros sinais de contestação, o que faz essa espécie de dom Sebastião da direita portuguesa? Anuncia um passo ao lado. Sim, ao lado. Como os caranguejos!!! Já agora para que lado: esquerdo? Direito? Pense bem antes de responder pois não tarda que venham dizer que deu um passo para a direita e consequentemente vai levar o tempo que lhe falta como autarca a justificar o sentido do tal passo.

Não me engano muito se antecipar que a próxima declaração de Carlos Moedas será mais ou menos assim: “Continuo a acreditar que a solução que apresentei – dar um passo ao lado – é a correcta mas neste caso é melhor para todos optar pelo pé-coxinho para garantir uma prudente e uma fundamental serenidade nas discussões importantes para a cidade.

Esta decisão de Carlos Moedas em relação à ciclovia da Almirante Reis é tão mais grave quanto é protagonizada pela pessoa que deu uma rara vitória aos não socialistas, para mais num terreno que estes últimos consideravam seu: a autarquia de Lisboa. “Chega de manipular e bipolarizar a cidade. O tema é demasiado relevante para jogos partidários” – declara Carlos Moedas para justificar a sua decisão de deixar cair a sua proposta para a Almirante Reis. Sim, é mesmo isto: para combater a manipulação e a bipolarização (feitas por quem?) Carlos Moedas desiste. Nunca melhor lembrado! Quando a direita, ou, melhor dizendo, a não esquerda (dito assim para não enervar Carlos Moedas), consegue alguma vitória apressa-se a desistir dos seus projectos – para não bipolarizar – e rapidamente se cai na normalidade ou seja naquela situação em que a esquerda na oposição manda mais que a direita no poder.

Não admira que as recentes intervenções de Cavaco Silva tenham gerado à esquerda e à direita tal sururu: afinal aquilo que o retirado Cavaco veio lembrar é que houve um tempo em que fazer oposição ao PS era o objectivo dos líderes do PSD. Agora não só isso está esquecido como o desígnio do PSD se tornou precisamente não fazer oposição. Rui Rio não foi uma excepção. Foi sim o sinal dessa reforma estrutural (a única que de facto aconteceu em Portugal): o espaço à direita do PS não só não tem um projecto para país como, independentemente dos votos que obtém, não se considera legitimado para exercer o poder. Tem sim um programa de articulação dentro da hegemonia socialista. Aliás, como bem se percebe nas palavras de Carlos Moedas, já não conseguem sequer pensar de forma autónoma.

Não por acaso, os portugueses vivem sob a bipolarização e a manipulação imposta por uma esquerda que começou por sacrificar os mais elementares princípios da racionalidade à sua cegueira ideológica: num dia temos de fazer de conta que a bicicleta é o meio ideal de transporte para novos e velhos, seja nas avenidas Novas em Lisboa, Abrantes ou Portalegre (contestar isto é polarizar!); no outro temos de compreender que não vamos importunar o senhor primeiro-ministro com perguntas inconvenientes sobre a trapalhada da lei dos metadados, trapalhada essa que está a pôr em liberdade criminosos condenados; no outro ainda, que não se deve perguntar para onde vão os 41,8 por cento dos rendimentos que enquanto trabalhadores entregamos ao estado e temos ainda de reservar tempo para fixar que as mulheres têm pénis e que os homens também são mães (contrariar esta ficção implica o ostracismo e é definido como radicalização).

Não foi apenas o PS mas também a falta de oposição à direita que nos trouxeram para a tragédia distópica que marca o Dia de Portugal deste ano de 2022: enquanto no parlamento, os deputados, num desatinado assanhamento ideológico, se preparavam para aprovar a eutanásia (assunto que só interessa a eles mesmos senhores deputados) num hospital localizado a menos de cem quilómetros desse parlamento, um bebé morria após uma cesariana de urgência que pusera fim a um trabalho de parto marcado pela falta de médicos (Note-se que o acontecido agora em Junho de 2022 é mais um facto trágico a acrescentar ao que os dados do INE tinham revelado em Maio: há 38 anos que o nível de mortalidade materna não era tão elevado,). Onde andarão agora os activistas da campanha de abraços à MAC (Maternidade Alfredo da Costa) do ano de 2012? Sim, agora que as grávidas andam de hospital em hospital à procura de uma urgência que as atenda já ninguém se interessa pelas urgências de obstetrícia? Provavelmente os activistas transferiram a sua pulsão abraçante para as ciclovias e agora abraçam as bicicletas, pelo menos até que o executivo lisboeta volte a ser socialista.

Não se esperava que Carlos Moedas resolvesse nada disto, ele foi eleito presidente da CML e não primeiro-ministro, mas tinha-se a expectativa de que pelo menos se esforçasse para provar que é possível governar doutro modo. Porque era e é muito mais que uma ciclovia que está em causa. Era sim a coragem de reivindicar a legitimidade do poder à direita, assumir que em Portugal não existem eleitores de primeira e de segunda. Se Carlos Moedas não percebeu isto não percebe mesmo nada.

Por fim, uma pergunta. Ou duas. Ou três que tudo isto é de estarrecer: porque se candidatou Carlos Moedas à CML? Se a sua ambição era pôr-se a andar de lado ao primeiro sinal de dificuldades podia ter-se inscrito nas danças de salão, mais precisamente no cha cha cha que sempre é uma forma de andar de lado mas com graça. Agora muito francamente, o que lhe passou pela cabeça para aparecer por aí com o desígnio de ser candidato à CML? Mais a mais com os seus apoiantes frisando a determinação do candidato com o argumento de que Carlos Moedas renunciava à mais que provável presidência da Gulbenkian (durante muitos anos considerado o melhor emprego de Portugal!), para depois de ganhar a autarquia!

Se a intenção era destratar o seu eleitorado e acobardar-se ao primeiro picnic organizado pelo BE, desculpe que lhe diga mas para isso já havia cá muita gente que ao menos nos poupa àquela imagem constrangedora do andar de lado. Francamente não entendo e por isso pergunto o óbvio: acha Carlos Moedas que quem votou em si em 2021 vai voltar a por a cruz à frente do seu nome ou vai fazer deslizar a caneta para o lado?
CARLOS MOEDAS
  PAÍS  CÂMARA MUNICIPAL LISBOA  LISBOA

COMENTÁRIOS:

João Lencastre: Grande artigo! A desilusão não foi grande porque a expectativa era mto baixinha… A tentativa de elevar Moedas a um nível q nunca foi o seu teve vida curta… Triste País….           José Rego: Que maravilha! O meu conselho para o Moedas: grow a pair…        Marcelo Teixeira: Enquanto Lisboa se dá ao luxo de trocar o ladrilho a cada meia dúzia de anos, ou menos, o resto do país anda a contar os tostões. A comunicação social, toda concentrada em Lisboa, não é alheia. Tanto amesquinham a CMTV, mas a verdade é que está presente e traz notícias de todo o país.           Manuel Martins: Concordo com o teor, mas provavelmente não terá toda a informação quanto à postura do Moedas. Ele prometeu governar com diálogo, e se efectivamente tal significa prescindir de uma bandeira eleitoral, será que este passo não evita novas eleições e prejuízo para os munícipes? Não sei, mas obviamente que está manietado...            Libertário Português: também recuou na vergonhosa caça à multa que a esquerda woke tornou aceitável e permanente. E o mesmo no AL. é igual aos outros, só quer é tacho.         André Silva; ”passo ao lado”, “prudente”, “serenidade” tudo eufemismos para “nada se fazer”, “medo e cobardia”, “empurrar com a barriga”. Aquilo em que este país de maioria comunista-socialista e de esmagadora maioria comunista-socialista em mentalidade é verdadeiramente um dos melhores do mundo.           Laurentino Cerdeira: Excelente, como sempre. Carlos Moedas tem aspecto de “queque”, como tal age medroso e inseguro e não vai melhorar o município de Lisboa! Em suma, se era ele a cereja no topo do bolo do PSD e a última Coca-Cola no deserto para um futuro primeiro-ministro capaz de nos tirar deste pântano, esqueçam...          Clavedesol: Partilho a desilusão da Dra. Helena Matos com Carlos Moedas. O complexo de esquerda apoderou-se deste País. Não admira que a mexicanização do regime se venha a consolidar quase diariamente! Entretanto, O Insolente com amparo presidencial, goza à brava com tudo isto e não há crise que lhe resista! Como ele diz, é uma questão de tempo, depois passa! E tem razão! É assim desde Pedrógão, ou melhor, desde que o conheço! Saravá Dra.Helena Matos!!           helder carvalho: Ao ler este texto veio-nos à memória o que se passou com Santana Lopes e o túnel do Marquês/Amoreiras. Estando muito distante de Santana Lopes, sempre lhe reconheci a coragem de não ter desistido desta construção apesar dos entraves que lhe foram levantados. Também ele foi eleito com a promessa de construir esse túnel. Durante a campanha das autárquicas esteve afixado, nas Amoreiras, um grande painel publicitário que dizia, aqui vai ser construído um túnel. Ainda que a construção do túnel fosse uma má opção foi uma promessa eleitoral que Santana Lopes teve a coragem de cumprir. Consideramos lamentável que Carlos Moedas se "encolha" perante a oposição. Devia avançar, ainda que essa decisão pudesse levar a eleições antecipadas em Lisboa.          André Silva: O Carlos Moedas é o protótipo do país e povo que temos: é um FRACO. Já aquando da recepção à equipa feminina de futebol do Benfica aquilo foi de tal forma confrangedor e constrangedor que depois disso nem seria necessário ver ou ouvir mais nada do personagem para se aquilatar do seu calibre. Aliás, basta ter sido apoiado pelo Rui Rio para se perceber isso.           josé costa: Carlos Moedas é alentejano no seu típico procedimento "À sombra da azinheira" não tem coragem de enfrentar as esquerdas e partir a loiça toda que é o que este país está a precisar para selfies já chega o de Belém                Maria José Varela: Fantástico artigo!!           Carlos Chaves: Caríssima Helena, muito obrigado por esta sua crónica sobre esta incompreensível decisão de Carlos Moedas, especialmente por tocar num ponto importantíssimo (entre muitos outros) que é sobre o papel que a direita deve ter no funcionamento da nossa democracia. A direita, entenda-se direita de uma forma muito simplista, direita como liberal na economia mas conservadora nos valores. Tenho muitas dúvidas de que esta direita exista com força suficiente em Portugal para contrariar estas agendas políticas dos socialistas e das esquerdas fofinhas. Não podemos nem devemos exigir às pessoas aquilo que elas não podem dar, Carlos Moedas definitivamente não é um político de direita, não é socialista mas também não é de direita. É um social democrata que procura consensos (até porque não têm maioria na CML) e não diferenciação e ruptura, isto para mal dos nossos pecados. Claro que nada disto justifica a inaceitável quebra de promessas eleitorais a não ser que tenha dado um passo atrás para depois dar dois passos para a frente, ou melhor, dar um passo ao lado para depois dar dois passos para frente. A sua alegoria do cha cha cha está deliciosa!        Ana Oliveira: grande dra Helena. muito obrigado bem haja            bento guerra; O chacha confirmou-se. A "ciclo obsessão"           Luís Abrantes: Moedas já devia ter pedido a demissão para forçar novas eleições… necessita de uma maioria… urgentemente…!!!            Quorthon: Bravo Helena. Obrigado. joaquim zacarias: Moedas, tal como AC e Medina, cresceram num ambiente politico familiar, que deixa marcas para toda a vida.         b Tiago Maymone: Dificilmente podia estar mais de acordo com a Helena Matos.         Gustavo Lopes: Políticos como Cavaco ou Passos Coelho há poucos… e Moedas acaba de provar que não é dessa estirpe!!! Desilusão… Afonso Soares: O problema não é  Carlos Moedas O problema é do País. Ninguém tem coragem de fazer as coisas bem-feitas mas sim deixar correr o marfim à espera que se resolvam. É assim vai este Portugal em que não sei se o defeito é dos eleitos ou dos eleitores. Tempos difíceis fazem pessoas fortes. Pessoas fortes fazem pessoas felizes. Pessoas felizes fazem pessoas fracas. Pessoas fracas fazem tempos difíceis e tempos difíceis fazem pessoas fortes e assim sucessivamente ao longo dos tempos. Sejamos responsáveis.            João Ramos: Carlos Moedas será talvez um bom técnico da era digital e como tal terá feito um bom lugar na Comissão Europeia, mas isso nada indica que seria um bom político e como se vê não é nada mesmo, a luta hoje entre direita e esquerda não se pode fazer com falinhas mansas, há que se dizer ao que se vem e onde se quer chegar e isto sem medo, pois a esquerda já perdeu o medo há muito tempo e se à direita não se perder o tal medo este país está condenado à ruína e à irrelevância!              Fernando Marques: É uma pana estes bons artigos serem sermões de Santo António aos peixes, a realidade é que é um pais de esquerda, um povo de esquerda, e consequentemente políticos e governantes de esquerda, e não há nada a fazer. Porque o contrário de esquerda é respeito, liberdade e construção, e isso por aqui não existe.           Seknevasse: Talvez seja de lembrar aqui/agora que Moedas foi uma escolha de Rui Rio... Mais uma...               Martins Almeida: A avaliação de um autarca, como de qualquer político democraticamente eleito, faz-se no fim do seu mandato.Por vezes é necessário estrategicamente recuarmos, para mais tarde investirmos com sucesso, por isso as avaliações não devem ser imediatistas e de circunstância. Tanto quanto sei, está prevista uma intervenção mais alargada na Almirante Reis a partir de Setembro próximo, por isso vi de forma negativa uma intervenção agora para algo que vai ser mudado em poucos meses, seria um gasto pouco inteligente dos recursos da autarquia.             Carlos Quartel: Excelente para um jornal regional, ou alguma folha de uma qualquer freguesia lisboeta. Indesculpável para um jornal com pretensões a nacional e para uma cronista com pretensões ideológicas, de mais largo alcance. Essas ciclovias são um fenómeno de moda, excelentes para os vendedores de bicicletas, capacetes, luvas e demais artecfactos próprios da arte.. Impróprios para a maioria das cidades portuguesas, construídas em colinas, cheias de subidas e descidas, curvas e contracurvas. O mais próximo que estive de ser atropelado foi por um grupo de ciclistas que não respeitou a passagem para peões e me passou a centímetros. Gabam-se holandeses e dinamarqueses por andarem muito de bicicletas, mas raramente é referido que se trata de países planos, onde andar de bicicleta não é assunto para atletas. Uma pessoa com 80 anos pode andar ............. assunto de paróquia, de qualquer modo, especialmente agora, com misseis e bombas a cair à porta ..........................................................................      josé maria: Para a direita portuguesa, não há questão mais importante do que discutir a questão de uma ciclovia... Diz tudo sobre o seu deserto de ideias...          Vitor Batista > josé maria: E bébés a morrerem por falta de meios e tudo e mais alguma coisa?tens idéias ou assobias para o lado a cantarolar a internacional?..... Bem me parecia...

 

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