Mais cultos, menos cultos, afinal, lá
como cá, os problemas põem-se da mesma forma – o que aponta para a igualdade de
comportamentos dos humanos. Uma desilusão! Passos
Coelho, por cá, não teve
saída, Macron, por lá,
também parece não ter, embora aparente poder aliar-se aos Republicanos – ao menos esses! Mas nem o amor da
pátria conta já. O interesse próprio supera qualquer outro. Lá como cá. Passos Coelho não foi, todavia, desses. Por isso
perdeu, não incluído na síntese global camoniana “Porque
sempre por via irá direita Quem do oportuno tempo se aproveita” (I,76) que tão bem se aplicou aos seus
sucessores. Oxalá Macron, não crie uma tal Geringonça pecaminosa -
lá como cá, certamente.
O tempo das maiorias absolutas acabou. Agora, Macron precisa de negociar
Mélenchon e Le Pen conseguiram
resultados históricos, enquanto o Presidente perdeu a maioria absoluta.
Macronistas invocam exemplo de Mitterrand — mas Republicanos não estão
garantidos.
CÁTIA BRUNO: Texto
OBSERVADOR, 20
jun 2022, 00:3135
Índice
As derrotas dos aliados de Macron e um partido sem atender
o telefone
Mélenchon e Le Pen, os vencedores de uma noite em que os
extremos subiram
Macron quer evitar a dependência dos (divididos) Republicanos
Uma vitória com amargo de boca. Era esta a principal sensação para Emmanuel Macron e
a sua equipa no final da noite deste domingo, em que a coligação Ensemble!
acabou por ser a mais votada, mas o Presidente perdeu a maioria absoluta que
lhe permitiu governar confortavelmente durante o primeiro mandato. Agora, em
vez dos 314 deputados do En Marche! — a que se somavam outros 47 do MoDem —,
Macron contará apenas com 246 parlamentares (com 100% dos votos apurados) na
Assembleia Nacional. Um número muito aquém dos 289 necessários para ter o
domínio total da câmara.
É a
primeira vez desde 1988 que um Presidente francês não consegue reforçar a sua
presidência com uma maioria absoluta. E a experiência dessa altura foi de
imediato apontada esta noite pelos círculos macronistas como um sinal de que é
possível a um Presidente governar com maioria relativa: “François
Mitterrand
encontrou-se na mesma situação em 1988
e isso não o impediu de levar a cabo
reforma emblemáticas”, comentou um
conselheiro do grupo parlamentar do En Marche!
▲Michel Rocard
e François Mitterrand tiveram o último governo minoritário em França, em 1988 GAMMA-RAPHO
VIA GETTY IMAGES
Faltou,
porém, apontar como os tempos agora são outros: em finais da década de 1980, o primeiro-ministro Michel Rocard conseguiu
aprovar várias leis graças ao artigo 49-3 da Constituição, que permitia uma
promulgação directa do governo, sem o projecto ter de ser aprovado na
Assembleia — hoje, tal
só pode ser usado uma vez, com exceção das matérias financeiras, como relembra o Le Monde. O
jornal avisa que Macron terá de adoptar uma “cultura de compromisso”, à
qual não está habituado.
Em 1988, Mitterrand vaticinou que “não é saudável que
apenas um único partido governe”. O
primeiro-ministro Rocard procuraria, por isso, entendimentos com o centro-direita
da UDF. O acordo durou três anos.
As
derrotas dos aliados de Macron e um partido sem atender o telefone
O macronismo sabe que a situação está longe de ser a
ideal para os seus propósitos. A primeira-ministra, Elisabeth Borne, discursou tarde, enquanto o partido fazia contas à
vida. Falou numa “situação inédita” e
alertou para o “risco” da situação actual.
Em privado, os aliados eram ainda mais
pessimistas: “Catastrófico”, resumiu um
conselheiro de um ministério ao Libération, que notava como “muito poucos macronistas atendiam o
telemóvel este domingo, a partir das 18h”.
Os
números deram à Ensemble! o
primeiro lugar — 38,57% dos votos, perdendo
uma dezena de pontos percentuais e 105 deputados em relação às
legislativas de 2017 —, mas as notícias que se iam sucedendo não eram
animadoras. Richard
Ferrand e Christophe Castaner, o presidente da Assembleia Nacional e o líder
parlamentar do En Marche!, perderam os seus lugares no Parlamento. Ambos tidos
como homens muito próximos do Presidente, eram figuras do macronismo que
oleavam a máquina parlamentar nos bastidores e, agora, estão fora.
Não
são os únicos. As ministras da Saúde (Brigitte Bourgignon) e da Transição
Ecológica (Amélie de Montchalin) perderam nos seus círculos eleitorais e terão
agora de se demitir do governo, segundo a indicação prévia dada pelo próprio
Macron. Outros membros do Conselho de Ministros foram reeleitos, mas por uma
unha negra: Stanislas Guerini (ministro da Transformação Pública) derrotou a
candidata da NUPES com apenas 51% dos votos e Clément Beaune (ministro da
Europa) ganhou com apenas 658 votos de vantagem.
Richard
Ferrand e Christophe Castaner, o presidente da Assembleia Nacional e o líder
parlamentar do En Marche!, perderam os seus lugares no Parlamento. Ambos tidos
como homens muito próximos do Presidente, eram figuras do macronismo que
oleavam a máquina parlamentar nos bastidores e, agora, estão fora.
O eleitorado parecia estar a enviar uma mensagem clara
a Emmanuel Macron: pode ter renovado o mandato presidencial em abril, mas nem
por isso terá a vida facilitada nos próximos cinco anos. A rejeição de alguns dos rostos mais conhecidos
do macronismo é um sinal de que os franceses querem mudança.
Mélenchon e Le Pen, os vencedores de uma noite em que os extremos subiram
Jean-Luc
Mélenchon, o líder da aliança de esquerda
que juntou socialistas, comunistas e ecologistas à sua França Insubmissa, sabe disso e aproveitou para o
mencionar no seu discurso da noite: “Boa viagem”, decretou, “a Jean-Michel
Blanquer na primeira volta, ao podador Castaner, à insultuosa Montchalin”
(ministros que vão ter de abandonar o governo). O resultado destas legislativas,
diz, é o resultado “do falhanço moral
das pessoas que dão lições a todos constantemente, que dizem ser a
barragem à extrema-direita, mas acabam por reforçar as suas bancadas”.
O candidato da esquerda que em abril, nas
presidenciais, não conseguiu ultrapassar Marine Le Pen, celebrou o resultado da
noite em que a NUPES conseguiu ficar à
frente da extrema-direita, com 142 deputados contra 90 da União
Nacional, reclamando para si o roubo da maioria absoluta a Macron: “É uma situação totalmente inesperada, nunca ouvida, a derrota do partido
presidencial é total”, decretou Mélenchon.
Mélenchon pode
cantar vitória por ter conseguido orquestrar uma maior presença da esquerda na
Assembleia Nacional. Se em 2017,
quando estava representada em três grupos parlamentares (os socialistas na Nova
Esquerda, a França Insubmissa e a Esquerda Democrata e Republicana), a esquerda
não ia além dos 64 deputados, agora terá dado o salto para mais do dobro. Mas a tentativa de vencer as eleições e impor uma
“coabitação” forçada a Macron com um primeiro-ministro da esquerda saiu gorada.
E Mélenchon, que
decidiu não se candidatar à Assembleia e colocou todas as fichas em ser nomeado
primeiro-ministro, fica agora numa posição incerta dentro da coligação. “É difícil imaginá-lo a retirar-se numa altura em que
a esquerda conseguiu um regresso espectacular na Assembleia”, sugere o Les Echos. Mélenchon garantiu
esta noite que está a alterar a sua “posição de combate”, mas garantiu que
continuará “nas fileiras da frente”
Quem também pôde cantar de galo foi Marine Le Pen, que alcançou uma vitória
histórica para a União Nacional: 89 deputados, um resultado histórico para quem
tinha apenas 7 na legislatura anterior e o melhor de sempre para o partido.
“A União Nacional é agora mais nacional do que nunca”, vaticinou a líder da extrema-direita,
destacando que a votação permite à UN
formar um grupo parlamentar — ou seja, pode agora apresentar moções de
censura e enviar projectos de lei para o Tribunal Constitucional, por exemplo
“Será o mais numeroso [grupo parlamentar] em toda a História da nossa
família política”, relembrou Le Pen, que solidifica uma vez mais a sua liderança por
comparação com o legado do pai, Jean-Marie Le Pen. O melhor resultado da
Frente Nacional em legislativas tinha sido de 35 deputados, nas legislativas de
1986, mas esse score deveu-se
em grande parte às mudanças na lei eleitoral, que permitiram à altura a
representação proporcional no Parlamento. Desta vez, sem beneficiar dessa
vantagem, Le Pen não se limitou a igualar o feito do pai — ultrapassou-o em larga
escala.
Macron
quer evitar a dependência dos (divididos) Republicanos
Com
os extremos a alcançarem vitórias históricas, a única hipótese que resta ao macronismo para governar
ao centro é formar uma coligação com os Republicanos (LR). Mas ambas as partes pareceram afastar esse cenário
ao longo da noite.
Primeiro,
a porta-voz do governo, Olivia
Grégoire, preferiu estender o convite para a governação “a todos
os que queiram fazer avançar o país”, incluindo “moderados da esquerda e da
direita”. A ideia
foi reforçada algumas horas depois pelo ministro da Economia, Bruno Le Maire:
no France 2, sugeriu aos deputados da oposição que apoiem a maioria do
governo “de forma responsável. “Deve
haver um compromisso entre todos os que partilhem os valores fundamentais do
grupo da maioria presidencial”, afirmou.
A
estratégia é a de tentar não ficar refém do apoio do LR à direita e manter
pontes à esquerda, tentando possivelmente minar o NUPES, se alguns dos
deputados mais moderados como os socialistas apoiarem pontualmente algumas das
medidas do governo.
Até porque os macronistas sabem bem
que o apoio dos Republicanos está longe de ser estável e incondicional. Os sinais de divisão surgiram logo ao longo da noite
da eleição: Jean-François Copé, autarca de Meaux, pediu um “pacto
governamental” do seu partido com o Ensemble!; o líder do LR, Christian
Jacob, apressou-se a esclarecer que os Republicanos continuarão “na
oposição”, afastando esse cenário.
Jacob
sublinhou, porém, que quer uma “oposição construtiva” — uma ideia
semelhante à que tem defendido nas últimas semanas, com o LR disponível para
“corrigir propostas de lei”, “avançar propostas de lei” e “reformar o país”. Difícil, contudo, é garantir que todos os
Republicanos apoiam essa ideia. Nos últimas dias, relembra o Le Figaro, várias figuras do partido contestaram
essa posição: Aurélien Pradié disse não haver razão para o partido
“salvar a pele política de Emmanuel Macron” e Éric Ciotti defendeu que o LR não deve ser “a roda
sobressalente do macronismo”. Ambos foram
reeleitos deputados esta noite e estarão na Assembleia Nacional nos próximos
cinco anos.
A
estas posições soma-se a de Laurent Wauquiez, tido por muitos como possível
candidato à liderança do partido, que dificilmente apoiaria um grupo
parlamentar que ajude Macron, mesmo que pontualmente.
Nas fileiras dos que apoiam o
Presidente há consciência de que a situação é aguda. Quando a primeira-ministra Elizabeth Borne finalmente
reagiu aos resultados, por volta das 22h30 (hora de Paris), colocou a bola do
lado dos deputados de outros partidos, pedindo
uma “maioria de acção”. “Não há
alternativas à união para garantir a estabilidade e conduzir as reformas
necessárias”, afirmou, acrescentando que “as sensibilidades múltiplas” devem
ser colocadas “ao serviço do país”. Atirar
a toalha ao chão, por agora, parece estar fora de questão.
O plano era o de liderar o país com um
governo minoritário, que aprove leis “caso a caso”, segundo
explicou uma fonte do En Marche! ao Le Monde. Mas os resultados da noite
deste domingo complicam as contas para Emmanuel Macron. “É impossível comprar os
Republicanos, estão entrincheirados na oposição”, admitiu outro macronista ao
mesmo jornal. Em cima da mesa já está uma hipótese radical: a de dissolver a Assembleia e
convocar novas eleições. A Constituição, contudo, prevê que tal não possa ser feito durante o
primeiro ano de mandato, o que indicia que os próximos tempos possam ser de
paralisia.
Emmanuel Macron já tinha de lidar com o apoio negociado dentro das
suas próprias fileiras. Édouard Philippe, líder do Horizonte, e François Bayrou, do MoDem, não escondem as suas ambições
políticas e podem bem fazer valer caro o apoio das suas forças políticas ao
Presidente. “Tenho a certeza que nos vão chatear daqui a
cinco anos”, desabafava esta noite um aliado de Macron à BMFTV.
Agora, tornam-se ainda mais indispensáveis ao
Presidente, que tem de fazer a circulatura do quadrado e conseguir avançar com
um governo minoritário. Em 1988, Miterrand conseguiu — mas na ressaca dessa
experiência, os socialistas acabaram por ter o pior resultado de sempre desde a
década de 1960 nas legislativas seguintes, em 1993. Conseguirá Macron evitar o mesmo destino?
COMENTÁRIOS
vitor Manuel: Entre o mon ami do outro Miterrand que defendia a tese do "antes
comunas que mortos" e agora este Macron a querer que a Rússia não seja
humilhada, venha o capeta e escolha... PENSADOR: Macron se não tivesse sido
cínico e aldrabão relativamente à invasão da Ucrânia, não tinha sido esmagado
nestas eleições. Isto de proteger as empresas francesas promovendo
negociatas com os russos, foi penalizado pela população, e bem. Macron: já
foste! Luís
Abrantes: Não me parece… Da Grreite Rizete: Macron, um dos muitos
"fantoches" dos globalistas, ou não fosse ele um "produto"
dos Young Global Leaders do WEF. “You´ll own nothing and you´ll be happy!” Esta
e as outras previsões do WEF para 2030, escarrapachadas no respectivo “site”,
não são meros prenúncios. São, na realidade, as metas que essa oligarquia de
psicopatas pre00tende atingir. E ainda há quem pense que isto são meras teorias
da conspiração. Os ignorantes, se quiserem, podem deixar de o ser. Os e
stúpidos, que acreditam nas boas intenções desses “filantropos”, admiradores do
Crédito Social chinês, obviamente serão sempre… estúpidos. Não comecem a agir
imediatamente que não é preciso. Ou querem que os vossos filhos e netos sejam
servos numa distopia e se lembrem de vós como um bando de cobardes que nada fez
por eles? É como diz Orwell: “Se queres uma imagem do futuro, imagina uma bota
no teu pescoço… para sempre.”
António Gallego: Em Portugal já entrámos no
nível seguinte que é “Eu não votei PS”. É só passaram um meses… advoga diabo: Conspirativas teorias do caos,
desejos, inconfessáveis de interesseiros e crápulas, e ingénuas de ignorantes,
terminarão quando os republicanos derem maioria confortável a Macron. Lá, como
cá, não aprendem! António Cabrita Costa: Talvez ainda mais
impressionante que a humilhante vitória de Macron (era preferível ter perdido!)
são os resultados eleitorais na Colômbia! Tempos conturbados se adivinham no
continente Sul-americano com a Colômbia, pela primeira vez, a eleger um
presidente vincadamente da esquerda identitária. Joao Paulo
Macedo Lima: Começa a desmoronar o globalismo tal como o
conhecemos, Macron, ainda não caiu porque poderá fazer acordos com os
republicanos mas já é um indício do que aí vem. A seguir vai ser o Biden,
depois o Boris, depois Trudeau e depois o banana do Scholz. Não acabem rápido
com a guerra e em 5 anos teremos a Europa virada do avesso com governações
extremistas e nacionalistas. Bem vindos ao caos… Tiago Figueiredo: O tempo das maiorias absolutas
acabou. Agora, Macron precisa de negociar. Caso para dizer, casa roubada, (des)trancas à porta. Não
foi por falta de aviso. António
Cabrita Costa: Vamos lá ver quantos destes líderes que garantiram que
o Putin não passava das férias de Verão chega ao Natal… Paulo S > António Cabrita Costa:
Conversa de m....
os lideres ocidentais estão sujeitos a uma coisa que o anão fascista não está,
eleições livres. No ocidente existe alternância democrática, na Rússia existe
uma ditadura.
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